A divulgação dos feriados nacionais que serão castrados ao calendário anual deve estar eminente. Partindo do princípio que considero esses dias de descanso, independentemente das suas origens e razões, um direito inalienável de todos os portugueses, ponderei acerca da pertinência da manutenção ou não de cada um desses feriados. Essa reflexão, obriga-me, desde logo, a declarar o meu respeito pelos portugueses e portuguesas que em cada uma destas datas vivênciam, experimentam e partilham as suas simbologias. Depois, obriga-me a afirmar que sejam eles de cariz religioso ou de cariz civil, todos eles representam muito, espacial e temporalmente, da nossa condição - do nosso ethos - enquanto país e seus nacionais. Por outro lado, importa reflectir sobre a verdadeira dimensão social desses dias na actualidade do nosso país.
O calendário anual tem treze dias (excluindo o Carnaval) considerados, desde há muitos anos, feriados nacionais, dos quais seis são de raiz civil e sete com motivações religiosas.
Os feriados civis:
1 de Janeiro - primeiro dia do ano, normalmente de ressaca nacional e, por isso, para o bem da salubridade e saúde públicas, intocável;
25 de Abril - último grande momento de refundação nacional e, por isso, ainda intocável;
1 de Maio - conquista civilizacional do povo que trabalha em todo o mundo e por isso, espera-se intocável;
10 de Junho - dia das comunidades da diáspora e da portugalidade globalizada e, por isso, simbolicamente intocável;
5 de Outubro - dia da nossa República que atingiu uma idade que já nenhuma memória alcança e, por isso, descartável;
1 de Dezembro - praticamente com a idade do mito sebastiânico, já ninguém consegue alcançar a importância da restauração da independência nacional e poucos saberão a razão da dedicação deste dia e, por isso, dispensável;
Os feriados religiosos:
6ª Feira Santa (Março ou Abril) - encostado a um fim-de-semana de referência para o universo cristão e não só, que assinala a crucificação de Jesus e por isso, jamais a Igreja e os cristãos aceitarão o seu desaparecimento;
Corpo de Deus (Maio ou Junho) - dia de exultação popular à Eucaristia, celebra-se no 60º dia após a Páscoa. Na actualidade sem grande expressão litúrgica, é sempre uma das pontes de eleição para rumar às praias do Sul do país e, por isso, dispensável;
15 de Agosto - dia em que a igreja católica celebra ou assinala a elevação de Maria em corpo e alma ao céu, mas aquilo que se percebe por todos o país é um dia de grandes festividades e arraiais populares, aproveitando o facto de ser o mês de retorno dos emigrantes e, por isso, já sendo tempo, maioritariamente, de férias seria facilmente descartável do calendário;
1 de Novembro - dia de todos os santos e defuntos fiéis. Provavelmente, o dia com maior adesão da população crente e não-crente e que motiva as maiores deslocações a nível nacional e, por isso, dificilmente se conseguiria acabar com ele;
8 de Dezembro - dia que a igreja católica dedica à Imaculada Conceição que é também a padroeira de Portugal. Em teoria seria um feriado directamente ligado ao ethos nacional, mas não me parece que já assim seja e, por isso, perfeitamente dispensável;
25 de Dezembro - Natal e, por isso, nada a dizer;
Portanto, já que é para mexer e é, vamos lá propor acabar com os feriados dos dias: Corpo de Deus, 15 de Agosto, 5 de Outubro, 1 de Dezembro e 8 de Dezembro. Eliminaríamos assim e com alguma razoabilidade cinco feriados ao calendário anual.
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