18 maio 2015

apresentação de livro...

No passado dia 14 de Maio à noite, no centro cultural de Macedo de Cavaleiros e inserido num espectáculo cultural, apresentei o meu livro. Num formato e ambiente diferentes do habitual para "apresentações de livros", estive à conversa com um jovem que fazia as honras da casa e que me foi colocando algumas questões sobre o livro. De improviso, aproveitei para passar a mensagem que importava.





75 anos de memória

Assinalaram-se, no passado dia 15 de Maio, os 75 anos do jornal Mensageiro de Bragança. Assinalável permanência no tempo, acompanhando toda a história contemporânea da região e da cidade de Bragança. Nos dias de agora, em que a efemeridade é paradigma, é de relevar a perenidade deste projecto. Parabéns. No âmbito deste aniversário, o jornal organizou um fórum: "Que futuro para o interior?". Apesar de convidado, por motivos profissionais não pude estar presente. Fica o programa desse evento e a promessa de um texto a enviar para publicação nas próximas edições do jornal.

15 maio 2015

instante urbano xxx

Chego a Bragança com o único propósito de negociar com um livreiro a venda do meu último livro. Telefono a dois amigos para um café enquanto a hora desse encontro não chega. Um e outro estão muito ocupados e não podem vir ter comigo, portanto, sento-me num café, bem no centro da cidade, onde bebo uma água bem fresca e me entretenho com a caixa de email e alguns rascunhos. Trata-se de um café com frequência regular de turistas que visitam o centro cívico e histórico de Bragança. No momento em que entro está praticamente vazio.
Passados alguns minutos, levanto o olhar e percebo que, na mesa em frente, está um casal com duas filhas, todos eles entretidos a saborear um gelado. A mãe está de frente para mim e quando cruzo o olhar com ela, instinto meu, baixo os olhos e abstraio-me novamente nos meus papeis. Passados outros tantos minutos, volto a levantar a cabeça e dou com essa mulher a olhar-me. Instintivamente baixo a cabeça, mas já não consigo ignorar o facto. Ela está fixada em mim e isso incomoda-me. Fosse eu outro e sei que existiria outra reacção, mas esta mulher está a invadir-me e eu não gosto. A solução é simples, ou sai ela ou saírei eu em breve. Saiu ela, não sem arrastar o olhar enquanto passa e abandona o estabelecimento.

12 maio 2015

agenda

É já depois de amanhã, 5ª feira, dia 14 de Maio, a partir das 21 horas. Irei a Macedo de Cavaleiros apresentar o livro "D. Manuel António Pires, história de vida de um missionário (1915-2015)", a convite de D. José Manuel Cordeiro, Bispo de Bragança, que também apresentará o seu último livro. Apareçam.

11 maio 2015

mediascape: shame on you!

"Conseguimos infligir um dano de 30 milhões de euros na companhia e penso que isso não devia ser desvalorizado pelo Governo".

Hélder Santinhos, responsável do Sindicato dos Pilotos da Aviação Civil (SPAC), em directo num qualquer canal de televisão, se não estou em erro, na passada 6ª feira, dia 8 de Maio, enquanto ainda decorria a greve dos pilotos da TAP.
Eu não sei, talvez seja um problema meu, mas ter a coragem de afirmar publicamente, com satisfação e orgulho, que o seu comportamento, a sua atitude provocou tal prejuízo à sua entidade patronal, deveria ser mais do que motivo para despedimento imediato. Dele e de toda a corja de privilegiados que se arrogam ao direito de destruir quem lhes paga o ordenado principesco.
Não quero saber da sua razão, não quero saber do real direito à greve. Neste caso, foi uma vergonha e deveria haver responsabilização e consequências drásticas para quem assim se comportou. Perderam a face e não tiveram coragem de o admitir e recuar nas suas posições, procurando sempre fugas para a frente com argumentário roto. Foi triste e infeliz a figura que este sr. piloto fez ao longo destes dez dias.


Shame on you Mr. Santinhos!

a quem interessar...

leitura de "fragmentos de unidade polifónica de Guerra Junqueiro"

No momento em que acabo de ler o livro de Henrique Manuel Pereira, recentemente lançado e que diz respeito à sua tese de doutoramento - ao qual já me referi aqui - resolvo verter para o papel algumas ideias que me assaltaram durante essa leitura.
Mas antes, quero começar por uma manifestação de condição: não conhecia, até ao presente, qualquer aspecto da vida ou obra deste ilustre transmontano de Freixo de Espada à Cinta. Este foi o primeiro contacto que fiz com o seu universo, mas posso afirmar, desde já, que não será o último e que apesar de não estar habilitado para ajuizar a obra, posso confessar que a sua leitura me motivou para conhecer melhor a personagem e procurar a sua obra.
Como é hábito nestas andanças e também pelo que atrás referi, não posso deixar de felicitar o autor, conhecido e reconhecido investigador do mundo Junqueiriano, pela obra realizada. Num trabalho de mais de 500 páginas e recheado de notas, referências e citações, somos conduzidos pela clara escrita do autor, com mestria no pormenor e/ou detalhe, com oportunismo nas etnografias e com bom gosto estético, ao longo da existência de Guerra Junqueiro. Parabéns Henrique.
Tal como já referi, não me atrevo sequer a comentar o que seja deste trabalho. No entanto, há um conjunto de ideias manifestadas e que, provavelmente, por ignorância, me chamaram a atenção e despertaram em mim aquela vontade de me pôr a caminho de...
É referida por mais do que uma vez a possibilidade de Guerra Junqueiro ser judeu. São apresentadas as opiniões de autores que ao longo dos anos reflectiram sobre essa possibilidade. Como é o caso de António Sardinha (p.245), que fazendo uma leitura ou interpretação da sua fisionomia (fenótipo), da sua moral e remetendo-o para a condição de "outro", tenta justificar a sua atitude anticlerical. O Henrique Manuel Pereira prefere relativizar a questão, pois não dispõe "de elementos probatórios que nos permitam afirmar ou negar o alegado semitismo de Guerra Junqueiro" (p.246), e logo a seguir: "sem declarada ligação aos genes..." (p.247). Associando esta dúvida aos referidos motes, chacotas, chistes, alcunhas, caricaturas ou nomeadas que visavam Guerra Junqueiro e o associavam a essa tipologia social, estereotipada, ao facto de ser oriundo de uma região que foi refúgio de várias gerações de judeus, expulsos de outros territórios, nomeadamente daquele que agora conhecemos por Espanha, não me parece de todo impossível haver uma ascendência judaica, depois convertida em Cristãos novos, vulgarmente conhecidos por Marranos, mas também por perros (dada a sua origem espanhola). Depois, acrescento a esta possibilidade a coincidente atitude "peliqueira" de Guerra Junqueiro, também característica desses povos e indivíduos Marranos (almocreves, negociantes, vendedores e regateadores nómadas que percorriam a região a comprar e a vender de tudo).
Tendo em conta a minha ignorância relativa ao universo de Junqueiro e o desconhecimento de outras obras biográficas dele, de momento não tenho como esclarecer esta questão. Pedindo desculpa pela ousadia deste raciocínio, felicito uma vez mais o meu amigo Henrique Manuel Pereira. Com a certeza que um dia destes, assim que se proporcionar, hei-de trocar estas impressões com ele.

Nota: a título informativo e para poderem conhecer melhor o universo de Guerra Junqueiro e do trabalho que o Henrique Manuel Pereira tem desenvolvido, visitem o blogue - (aqui), e o sítio web - (aqui).

05 maio 2015

mediascape: vandoma

Encontro hoje nas páginas do JN o protesto dos feirantes da feira da Vandoma junto da Câmara Municipal do Porto, contra o plano do executivo de transferir a Vandoma das Fontaínhas para a Alameda de Cartes, na zona do Cerco, em Campanhã. Leio as declarações do vereador responsável pelo departamento de Fiscalização, tentando justificar essa transferência, mas não me convencem, pois segundo as palavras desse responsável, trata-se de uma "visão abrangente de conciliar conflitos existentes". Curiosa forma de conciliação! Afastam-se os feirantes e a feira para bem longe do centro cívico e histórico da cidade, para as periferias da cidade, sem polarização e sem rede de transportes que sirvam o espaço e os feirantes. E entrega-se o espaço ao abandono?! Ou à especulação?! Durante décadas - eu sempre me lembro da feira naquele local - foi nas Fontaínhas que todos os Sábados, bem cedo e durante toda a manhã, se realizou esta feira, utilizada por muitos para comprar e vender objectos antigos, velhos ou roubados. Lembro-me de algumas histórias e episódios contados por amigos que, frequentemente, lá iam vender o que já não queriam ou servia. Tudo era objecto de venda e de compra. Tudo.
Ao saber desta ideia parva do município, vem-me ao pensamento a comparação da velha, porque antiga, feira da Vandoma e as modernas e desmaterializadas "feiras" virtuais, tipo OLX, onde tudo, mas tudo, pode também ser vendido e comprado. Não adianta lutar contra o tempo e contra a evolução dos hábitos e dos comportamentos, mas se a feira da Vandoma ainda tem feirantes - vendedores e compradores, porquê acabar com ela por decreto? Mal feito.

saber popular

Vasto conhecimento que advém da vivência quotidiana, da experimentação e que nem sempre chega a ser "senso comum", pois por várias razões não é conhecimento generalizado. Trata-se de um tipo de conhecimento muito específico e peculiar, transmitido oralmente e cujas fontes de saber estavam (e estão) na natureza, nos animais, na prática das artes e dos ofícios. Cada vez fico mais impressionado com a sabedoria daqueles que, aos olhos da actualidade letrada e burocrática, são ignorantes, analfabetos e info/tecno-excluídos.
Por estes dias, andava eu pelo monte, aproveitando os primeiros dias de luz primaveril, quando me apeteceu descansar um pouco à sombra de umas carrasqueiras no cimo de um lameiro já bem verde. Passados não muitos minutos chega-se a mim uma mulher que me cumprimenta, estranhando ver-me por ali, pergunta-me ao que ando. Respondo-lhe a todas as perguntas e já em jeito de despedida, disse-me para não ficar muito tempo assim no chão, pois posso ser mordido por um qualquer Biberon(?) ou Alicante(?). Admirado, pedi-lhe para me repetir o nome dos bichos, pois jamais ouvira falar de tais animais... Não adivinhando a sua vontade de falar, lá me explicou:
O Biberon(?) - não sei se é assim que se escreve e desconheço o seu nome certo ou técnico - é uma espécie de cobra pequena e delgada que morde com a cauda. A sua mordedura mata os animais e as pessoas, se não tiverem cuidado, também. Antigamente quando alguém era mordido, utilizava-se gordura de porco derretida com brasas sobre a mordedura e depois disso picava-se o local com agulhas, pregos ou outra coisa fina para tentar tirar o veneno. Mas era complicado, as pessoas viam-se aflitas. Todos os boieiros e pastores conheciam o perigo e tinham cuidado, mas mesmo assim, às vezes acontecia.
O Alicante(?) é uma espécie de gafanhoto e encontra-se debaixo das pedras. O seu veneno também é muito forte e atacava principalmente os animais que pastavam.
Por fim e sem me dar tempo a pegar num pedaço de papel e caneta, disse:
Se te morder o Biberon,
que te metam no caixão.
Se te morder o Lacraio
pegai na urna e levai-o.
Sempre a aprender.

28 abril 2015

mãe


Ele sabe muito bem descrever a figura que coloriu...

26 abril 2015

41º aniversário da revolução

Data importante que se assinalou ontem, mas que eu, por afazeres domésticos, parafernálicos, bricolágicos e afins, não pude aqui vir e registar. De qualquer forma, consciente da data, gostei de estar afastado e ausente do mediático e efémero registo da espuma do dia, pois sabia, sei, da inutilidade, do aborrecimento em que essas manifestações oficiais se transformaram. Aliás, durante oito anos (dois mandatos autárquicos), enquanto membro da Assembleia Municipal de Bragança, participei activamente nas celebrações do 25 de Abril, no concelho de Bragança e se nos primeiros anos eu ansiava pela data e pela oportunidade de discursar, reafirmando os valores da democracia e a primazia da liberdade, para mim valor supremo da condição humana; nos últimos anos era já com algum incómodo e aborrecimento que me via "obrigado" a repetir o discurso politicamente correcto de elegia à data e aos seus significados, pois aquilo que sentia (e sinto) no meu quotidiano é a prática de um esquecimento, de um branqueamento desses valores de Abril. Espero sempre que tudo isto possa ser definitivamente alterado e que eu possa estar equivocado, mas em todo o caso, lamento não vivermos, de facto, sob o desígnio desse momento refundador da nossa identidade nacional. 25 de Abril.

Guerra Junqueiro

Pois é verdade que não conheço a obra deste ilustre transmontano de Freixo de Espada à Cinta, mas a dedicação, a investigação, o gosto e o trabalho do amigo Henrique Manuel Pereira, que agora publicou em livro estes fragmentos, teve a virtude de me trazer a curiosidade de conhecer um pouco melhor a vida e a obra de Guerra Junqueiro.
Numa das badanas do livro podemos ler um excerto do prefácio assinado por Luís Machado de Abreu, da Universidade de Aveiro:
«Muitas são as vozes que, em diálogo, se fazem ouvir neste novo trabalho de Henrique Manuel Pereira. Leva-nos o autor em viagem diligente através da receção de Junqueiro, criador literário de exceção, que, por entre aplausos e repúdios, provocou paixões veementes e foi catalisador de virtudes e vícios tipicamente portugueses. [...] ao lado de páginas de documentação mal conhecida ou de todo ignorada e de luminosa hermenêutica textual, deparamos com a muito conveniente demolição de ideias feitas. Sempre em nome da restituição do rosto verdadeiro do homem e da herança literária que ele nos legou»
O lançamento aconteceu no passado dia 24 de Abril, pelas 19 horas, no auditório Carvalho Guerra da Universidade Católica, no Porto e a obra foi superiormente apresentada pelo Professor António Cândido Franco.
Resta-me referir, dar testemunho, da paixão do Henrique Manuel pela obra e vida de Guerra Junqueiro, pois desde há muitos anos - segundo ele desde 1991 - tem estudado, tem dedicado parte do seu tempo ao conhecimento do universo Junqueiriano.

23 abril 2015

baú da memória IX

Quando sei do desaparecimento de um velho amigo, recordo esses momentos de meninice em que convivi com ele e sua mulher. Conterrâneos e amigos de meus pais, era hábito encontrarem-se nas férias em Vila Boa, aproveitando esses dias de descanso para longos passeios e piqueniques no monte. Socorro-me do álbum de fotografias para o recordar e é com alguma nostalgia que revejo nele o homem simpático e brincalhão com as crianças que éramos. O Chico d'ó Cerdeiro vivia lá para os lados do Estoril, casa que visitei uma única vez. Regressava todos os anos à sua aldeia na Páscoa e no Outono, por altura dos Finados. Tinha um jipe - é a primeira recordação que tenho de andar num todo-terreno - no qual nos levava pelo termo da aldeia, por caminhos e ladeiras abismais.
A vida afastou-nos, o tempo passou por mim e por ele. Ontem faleceu, depois de um longo período doente, dizem-me. Não me recordo da última vez que estive com ele... talvez há dois, três anos, não sei. Os últimos contactos que tivemos, aconteceram através do Facebook, mas como entretanto abandonei essa existência, perdi-lhe o contacto. Lamento. Tristeza.


Nesta fotografia, de Agosto ou Setembro de 1977, está o Chico comigo e com o meu irmão Daniel em cima de uma meda de palha de trigo. Era por aventuras como esta que eu, nós gostávamos dele. Ficará a memória desses alegres tempos.

dia do livro

Em dia mundialmente nomeado como o do livro, não haveria melhor forma de o iniciar do que a receber um email de alguém que é Escritor, conhecido e reconhecido na nossa e noutras praças. Ainda que em jeito de reparo, foi uma feliz coincidência.
Não sinto especial necessidade de assinalar este dia, pois os livros estão sempre presentes na minha vida. Diariamente fazem parte das minhas rotinas de trabalho e de lazer, por isso apenas posso destacar aqueles que me tem acompanhado nos últimos dias e que, também hoje, estão comigo:



22 abril 2015

boa razão para o ler...

Já aqui tenho trazido o elogio à escrita de José Rentes de Carvalho. Apesar de ser uma descoberta relativamente recente, talvez com 10 anos, para a sua avançada idade, considero-o um dos melhores escritores da actualidade portuguesa. Com as devidas e relativas distâncias, Rentes de Carvalho será o Eça da modernidade. Conheço a totalidade da sua obra editada em Portugal e acompanho diariamente, sem excepção, o seu "tempo contado", lugar onde vai depositando e partilhando pedaços da sua escrita, dos seus humores e das suas amarguras. Gosto da sua escrita clara e concisa, da sua capacidade para descrever pessoas, lugares e recantos que, apesar de não conhecer, reconheço na imensa paisagem transmontana, dos seus diálogos que me recordam as conversas que ouvia pela aldeia, a figuras recortadas pelo tempo antigo. Tudo isto a propósito de um pequeno texto - "o rio somos nós" - que colocou no seu blogue (ver aqui) e onde remete para um texto que escreveu em tempos e ao qual, diz, retorna amiúde e do qual se orgulha ter escrito. Essa foi uma boa razão, diz ele, para o partilhar com todos nós. Eu li-o e, tal como quase sempre, é muito bom.

20 abril 2015

mediascape: o (um) mar de mortos

O Mar Morto é outro, mas nos últimos dias aquele que tem sido sepultura de milhares de indivíduos - sem nome, sem pátria de origem e sem destino legal - tem sido o Mediterrâneo. Perante tamanha catástrofe, continuamos, hipócritas, a dedicar-lhes minutos de silêncio, cuja totalidade já ultrapassará largas horas de homenagens.
A Europa, cujas fronteiras externas tendem a fechar-se a cada surto migratório que tenta penetrar no seu espaço, está há muito tempo sem solução para este drama. Sem sequer saber o que fazer. Agora, perante a sucessão de acidentes com essa massa anónima de gente que, a todo o custo, tenta chegar ao nosso território, são muitas as opiniões e muitos os críticos que, de ânimo leve, têm uma solução, ou melhor, a solução para estas situações. Alguns até defendem que a Europa deveria abrir totalmente as suas fronteiras e aceitar todas as hordas de emigrantes provenientes do Norte de África, concedendo-lhes o estatuto de refugiados, ou integrando-os nas nossas sociedades. Muito sinceramente não encontro uma solução aceitável para tamanho problema, mas em teoria parece-me que a sua resolução estará a montante, neste caso a Sul da Europa... O combate aos extremismos e aos fundamentalismos religiosos, o apoio efectivo - segurança e logística - às comunidades perseguidas, criando espaços, zonas, regiões e países neutros seria meio caminho para muitos abandonarem o caminho da morte, apesar de sabermos que do seu ponto de vista, a morte não se encontra aqui ou a caminho, mas sim lá onde pertencem.
Esta realidade, apesar de não ser novidade, assume proporções jamais vistas, levando-nos a perceber como a Europa, assim como a América do Norte, são espaços de exclusão, onde aqueles que, por acaso, aí nascem ou onde são cidadãos de plenos direitos, nem nos seus piores pesadelos experimentam a realidade miserável do resto do mundo. Mundo vertido e desequilibrado para Norte.

18 abril 2015

a quem interessar...

Do amigo Professor Doutor Henrique Manuel Pereira. Lá estaremos.

10 abril 2015

reciprocidades

As contas à moda do Porto são as certas e aquelas que melhor resolvem as diferentes relações e, acima de tudo, as variadas situações. Como princípio não tenho qualquer reserva em aceitá-las como a melhor forma de entendimento social. São justas, equitativas, não permitem melindres, nem ressentimentos e mantêm as simetrias relacionais - "cada um paga a sua despesa". O problema é que mesmo habituado a elas desde o berço, o ethos que me chega de para lá dos montes, impele-me para o pagamento da despesa de um amigo que me acompanhe, sem nunca, penso eu, ter prejudicado essa relação ou ter melindrado esse amigo. Até porque sei que numa outra qualquer situação similar será ele a pagar. São assim as contas à transmontana e eu sinto-me confortável com o seu princípio e a sua prática - "agora pago eu, depois pagas tu, depois pagará ele".
Esta reflexão comparativa entre dois diferentes sistemas de reciprocidade económica e social, acontece depois de várias situações em que não adequei o modo de retribuição à circunstância em que me encontrava. Passo a explicar: Tendo pago uma, duas vezes, seria expectável que numa outra vez esse alguém se disponibilizasse para pagar. Isso não aconteceu e o "modo" tripeiro impôs-se. Experimentei então não me adiantar no pagamento e ficar na expectativa, mas no momento de pagar apenas fizeram pagar a sua despesa. Muito bem, digo eu, aprendendo e servindo-me de lição, mudei de atitude. Continuo a fazer gosto em pagar aos meus amigos e a quem me merece, e nem por isso deixei de o fazer, mas apenas quando e onde sei que haverá, ou houve, reciprocidade. Adivinham, com certeza, o sistema que mais se adequa à minha personalidade?! Pois é, recordo com prazer as filas de Superbock em cima do balcão da taberna, à espera de serem consumidas, porque cada um dos convivas fez questão de pagar uma rodada. Bonita e eficaz forma de reforçar os laços de reciprocidade.

09 abril 2015

mediascape: majorados

São os números de telefone que os canais de televisão portuguesa apresentam diariamente, com especial incidência nos programas-maratona dos fins-de-semana e através dos quais coagem e extorsem os telespectadores. É impressionante a atitude insistente e agressiva dos pivots ou apresentadores desses programas, passando minutos e minutos de emissão a convidar e a persuadir as pessoas a ligarem. Para tal, utilizam argumentos terríveis, aproveitando-se da putativa fragilidade de seus interlocutores, tais como o desemprego, a crise e as contas para pagar, a despensa para encher e as prestações das casas e das escolas dos filhos. Inadmissível. Pelos vistos - leio hoje no Público - a ERC tem recebido inúmeras queixas e está atenta ao fenómeno, mas não terá competências para intervir. Aliás, parece que ninguém tem competências para resolver esta situação. Aquilo que os canais televisivos estão a fazer é crime, pois estão a enganar deliberadamente os seus públicos, garantindo prémios pecuniários que não podem entregar, pois estes são exclusivos dos casinos. Por outro lado, é uma vergonha os ditos canais servirem-se desses concursos como fonte de rendimento - segundo a mesma notícia do Público, "há casos em que o apelo à participação no concurso, através do apresentador ou apenas por ter o número a ocupar parte significativa do ecrã, foi feito durante 95% da duração do programa. Não é de admirar: tendo em conta os relatórios e contas, só a SIC e a TVI terão facturado em 2014 cerca de 50 e 65 milhões de euros , respectivamente em receitas de multimédia, onde se incluem estes concursos".
Por último, uma palavra de repúdio para essas vedetas que se prestam a tais papeis; estarem horas e horas de sorriso rasgado, enquanto enganam e vendem a banha da cobra. Bem sei que para ser animador de televisão não existe nenhum código deontológico, mas devia existir. Para além disso, a ética e o brio profissional não necessita de nenhuma lei ou código. Bem pesadas devem estar as suas consciências.

08 abril 2015

empty

É a sensação que transporto comigo há já alguns dias. Depois do stress dos acabamentos, da ansiedade e da expectativa pelo dia 27 de Março, dia do lançamento do livro, dei comigo em modo stand by, cansado, sem vontade e sem propósito. Sei o que tenho para fazer e escrever - nova edição já para o mês de Agosto e outra lá para o final do ano. Não faltam trabalhos, ideias e projectos, mas agora não. Não me apetece. Ainda estou, de alguma forma, envolvido com o trabalho que agora finalizei e sei que este ainda terá outras etapas ou fases que me implicarão com trabalho e disponibilidade.
Por estes dias a sensação plena de vazio reina, mas incomoda. Nada a ocupar-me o cérebro faz-me bem, mas cansa. Não gosto deste estado de alma, torna-me desleixado e preguiçoso. Quando regressar irá custar mais. Always the same.
(Delães, 31 de Março de 2015)

a quem interessar

reconforto pretérito


Lugar sagrado onde a melhor loiça e o melhor vidro era preservado para os dias de festa e de nomeada.
Altar da casa onde só os adultos, mormente as mulheres, podiam aceder para guardar ou retirar uma qualquer iguaria para presentear uma visita ou familiar.
Recantos com simples trancas que mantinham a estabilidade do lar e a sobrevivência da família.
Quantos segredos, desejos, vontades, necessidades se ocultavam por detrás dessas portas?
Olhar sobre o monte de escombros dessas pretéritas vidas é sempre uma atracção para mim.

07 abril 2015

intrigado

Porque raio a Igreja de Jesus dos Santos dos Últimos Dias, mais conhecida por Igreja Mórmon, faz a recolha e a digitalização dos registos paroquiais de todo o país e, pelos vistos, de todo o mundo ou quase?!... Desconhecia esse facto e agora que estou consciente dele quero encontrar respostas. Num primeiro momento, a reacção é pesquisa na internet, o que já fiz e aí encontrei algumas explicações e testemunhos mais ou menos esquisitas. A fundamentação teológica diz que "a pesquisa genealógica ou da história da família é uma precursora fundamental do trabalho do templo por nossos antepassados falecidos. Nós a fazemos para conseguir os nomes e outras informações genealógicas de modo que as ordenanças do templo possam ser realizadas por nossos queridos antepassados".
Encontrei também uma notícia de 2007 do jornal Público onde é dito que em Portugal existiam 20 centros de pesquisa que permitem traçar árvores genealógicas até ao século XVI e que o objectivo é recolher toda a informação civil e religiosa existente. Mas diz-nos mais...
"O Centro da História da Família/Biblioteca Genealógica de Lisboa é parte da Biblioteca de História da Família (Family History Library) que, por sua vez, integra a Sociedade Genealógica do Utah, que surgiu em 1894 financiada pela Igreja de Jesus Cristos dos Santos dos Últimos Dias. A Sociedade começou a microfilmar em 1938 e já percorreu mais de 110 países através de uma rede que inclui centenas de pessoas especializadas em História, estudos das regiões, biblioteconomia, micrografia e vários idiomas. Cerca de 200 câmaras estão actualmente a microfilmar registos em mais de 45 países. Os microfilmes originais estão depositados nas Montanhas Rochosas do Utah, numa estrutura à prova de sismo e de ataque nuclear que a Igreja designa por Cofre das Montanhas de Granito, já que o depósito guarda as películas sob 200 metros de granito, numa atmosfera com temperatura e humidade controladas. A colecção da Sociedade Genealógica do Utah inclui mais de 2,4 milhões de rolos de registos genealógicos microfilmados, 742 mil microfichas, 310 mil livros, fascículos e outros formatos, 4500 periódicos e 700 recursos electrónicos. A página de Internet alojada em www.familysearch.org informa ainda que a Sociedade Genealógica do Utah disponibiliza um Arquivo Ancestral com mais de 35 milhões de nomes ligados a famílias, um Índice Genealógico Internacional com mais de 125 milhões de nomes e um Arquivo de Recursos de Linhagem, que contém para cima de 80 milhões de nomes, também ligados a famílias".
Todo este investimento, segurança, para reunir esta informação?! Não sei, parece-me estranho, muito estranho. E agora mais intrigado fico. Vou procurar outras e mais respostas.

passagem de testemunho

Aproveitando uns curtos dias de descanso na aldeia, a família reuniu-se para a Páscoa. Dias primaveris que foram aproveitados para passear e, finalmente, o patriarca familiar ensinar-nos todas as terras que um dia herdaremos. Espalhadas pelo termo da aldeia, muitas delas estão já a monte e não se distinguem na paisagem, outras estão a ser trabalhadas por terceiros e outras ainda são chão para os passatempos agrícolas do Pai. Já há muitos anos que não ia tão longe no termo da aldeia e, assim, pude regressar a lugares que na minha juventude calcorreava sem tanto esforço. Belo passeio.








ao espelho


02 abril 2015

Manoel de Oliveira (R.I.P.)

Faleceu hoje, dia 2 de Abril de 2015, o cineasta Manoel de Oliveira que contava já com 106 anos de vida. Nunca gostei do seu trabalho. Aliás, nunca tive pachorra, nunca consegui ver um filme de sua autoria até ao fim. Contudo, isso não invalida o sentimento de perda para a cultura nacional e o reconhecimento pela sua obra. Curioso é o facto de ainda aqui há dias ter lido um artigo na revista Ler, onde, a propósito de um livro - António Ferro, o Inventor do Salazarismo (Dom Quixote), se fala de Manoel de Oliveira como uma das mais pesadas e duradouras heranças desse António Ferro. Bem sei que o momento é de elegia ao falecido, mas as palavras de Orlando Raimundo nesse artigo são marcantes:

«Uma das mais pesadas e duradouras heranças de António Ferro é... Manoel de Oliveira-cineasta. Isso mesmo. A transformação do estouvado corredor de automóveis, de jovem diletante, oriundo de uma família da alta burguesia, em cineasta de talentos duvidosos, passa integralmente por ele. Por estranho que isso possa parecer, passadas mais de oito décadas, o mito e a projecção internacional de Oliveira, que sempre intrigaram o comum dos portugueses, são uma criação conjunta de Ferro e de outro adepto convicto do nacional-fascismo, apoiante incondicional de Salazar e da ditadura: António Lopes Ribeiro, o cineasta oficial do regime». (In revista LER nº 137, pp.116)

01 abril 2015

às voltas com estas palavras...

Por outro lado, se eu tivesse um nome
um nome que me fosse    realmente   o meu nome
isso provocaria
calamidades
terríveis
como um tremor de terra
dentro da pele das coisas
dos astros
das coisas
das fezes
das coisas.
(Mário Cesariny)

30 março 2015

lançamento de livro, intervenções

Bom dia,

Tenho, obrigatoriamente, de iniciar esta intervenção com uns breves agradecimentos. Desde logo a todos vós que aqui estais, a todos que, por respeito à memória de D. Manuel, aqui viestes participar nesta homenagem. Agradeço ao meu amigo Dr. Rui Madureira, Presidente da Junta de Freguesia de Vila Boa, pela receptividade e pelo suporte logístico; Agradeço à C. M. de Vinhais, na pessoa do Sr. Vice-Presidente e do Sr. Vereador da Cultura, a sua presença e o apoio à edição deste livro; Agradeço as simpáticas palavras do Sr. Cónego Silvério Pires e a sua pronta disponibilidade para aqui vir e estar connosco. Depois e por fim, penhorado, agradeço a Sua Excelência Reverendíssima Senhor Dom José Manuel Cordeiro que, do primeiro ao último momento desta aventura, esteve e está connosco - informando, aconselhando e colaborando nos diferentes momentos da pesquisa e do trabalho de investigação. Relembro o momento primeiro, quando em Abril de 2012, o abordei à porta do Teatro Municipal de Bragança... No meu diário de campo escrevi assim:

Fui convidado para assistir ao programa "Portugal Hoje", que a RTP transmitia a partir de Bragança na noite do dia 11 de Abril. Assisti ao programa, no qual era interveniente o Sr. D. José Manuel Cordeiro, actual bispo de Bragança-Miranda. Não viera com a intenção de o abordar relativamente a este projecto, mas no final do programa e quando ele, já na rua, se despedia de algumas pessoas, se cruzou comigo e me estendeu a mão (um perfeito desconhecido para ele), apresentei-me e falei-lhe do meu propósito. Surpreendido com a minha abordagem, pareceu-me curioso e até interessado com a ideia de assinalarmos o centenário de nascimento de D. Manuel. Solicitei-lhe, ali mesmo, uma audiência e D. José, solícito, logo abriu a sua agenda e sugeriu a data de 23 de Abril, às 11 horas no Paço Episcopal.

Assim foi. Muito obrigado;

Antes de vos falar deste livro, quero só deixar uma palavra de gratidão à Carla Gonçalves, na altura jornalista do jornal Mensageiro de Bragança, que aceitou o desafio e colaborou na recolha de testemunhos, entrevistas e recolha de documentos; e outra palavra de gratidão ao meu Pai, também ele mentor e participante activo nesta jornada. Sempre a meu lado;
O resultado final destes anos de pesquisa é o livro que agora temos nas mãos e que foi sempre pensado, construído e escrito exclusivamente com este propósito - homenagear a vida e a obra de D. Manuel António Pires, neste exacto dia. Claro que tudo aquilo que agora está reunido e registado neste documento sobreviverá ao dia, aos anos e à vida de todos nós e por isso mesmo, o entendemos como um documento histórico, que não só preservará a memória de D. Manuel, como a levará para o futuro e aí, sem qualquer pretensão e sem conseguirmos adivinhar, poderá sempre ser objecto de interesse para as gerações que hão--de vir.
Partimos de um ponto indefinido, de uma ideia para esse longínquo dia que seria o de hoje, 27 de Março de 2015. E se registássemos os textos manuscritos de D. Manuel numa publicação? Foi esta a marca de água deste projecto. O dossier que ele deixou com algumas das suas homilias, pregações e outros textos, mais ou menos desorganizados e que agora poderão encontrar no segundo capítulo deste livro. Juntámos-lhe os textos que publicou na revista Brigantia, alguns em separatas, que estão no capítulo três e pequenos artigos que foi publicando no Mensageiro de Bragança, poderão ser lidos no quarto capítulo. A primeira parte deste extenso livro é dedicada à vida de D. Manuel, desde os seus antepassados até ao dia da sua morte e suas repercussões. Foi escrito tendo como principais fontes de informação e documentação, a memória de seus sobrinhos e sobrinhas, o arquivo digital do jornal Mensageiro de Bragança, o jornal Apostolado e, fundamental, pela sua proximidade pessoal e profissional, o acervo - correspondência, fotografias e documentos - e memória do Padre Manuel Vale, entretanto falecido.
Por tudo isto, quero deixar bem claro que no fim desta jornada, a sensação que tenho é que aquilo que aqui está é um documento cujo autor é D. Manuel António Pires. Sirvo-me das palavras de Michel Foucault para justificar esta sensação:

"Autor é aquele que dá à inquietante linguagem da ficção as suas unidades, os seus nós de coerência, a sua inserção no real. Bem sei que me vão dizer: mas está a falar aqui do autor tal como a critica o reinventa depois da obra, quando a morte chegou e não resta senão uma massa confusa de escritos ininteligíveis; é preciso, então, repor um pouco de ordem; imaginar um projecto, uma coerência, uma temática que se pede à consciência ou à vida de um autor - na verdade sempre talvez um pouco fictícia. Mas tal não impede que ele tenha mesmo existido, esse autor real, esse homem que irrompe no meio de todas as palavras usadas, trazendo nelas o seu génio ou a sua desordem". (in A ordem do discurso, 1997, pág. 23)

O nosso esforço não foi muito além da função de escrevente, termo roubado a Roland Barthes, e que define aquele que apenas cumpre uma actividade e não a função de escritor, que neste caso, a de reunião de escritos e momentos de D. Manuel António Pires, ou seja, um projecto de reescrita que pretende comunicar.

Mas estamos em Vila Boa, o seu e o meu axis mundi. Se houve aspecto que, de alguma forma, me impressionou naquilo que pude conhecer do seu percurso, foi a permanência, a invariância dos seus referentes de origem, de uma ruralidade profunda, ao longo de toda a sua vida. À época, um lugar inóspito, isolado, desqualificado, como nenhum de nós aqui presentes será capaz de alcançar. Aqui nasceu, aqui cresceu, aqui se fez homem. Homem que bem cedo percebeu o sentido para a sua vida. Perto ou longe, o seu espírito, a sua preocupação, o seu cuidado esteve também aqui, com os pais, com os animais, com as sementeiras e as colheitas, com as maiores ou as menores tarefas domésticas e agrícolas. Auxiliou família, amigos e vizinhos, cuidou dos pais, das irmãs e dos sobrinhos, financiou obras na aldeia, sem nunca perder o seu norte, ou seja, sem nunca prejudicar o seu ofício e as suas obrigações.
E porque estou em Vila Boa, porque me dediquei a conhecer o possível da sua vida e porque desde miúdo, sinto latente algum desconforto ou incómodo em relação ao "Bispo" de Vila Boa, importa-me salientar e, de alguma forma, repor verdade, que é a D. Manuel que se deveram grandes e importantes reformas na capela do S. Roque, das quais ele nunca fez publicidade ou quis reconhecimento público. Assim como a ele se deveram algumas das reformas ou melhorias efectuadas na nossa igreja paroquial, suportadas à distância pelo seu dinheiro, resultado do seu ofício de "Bispo". Cada um com o seu múnus e com o seu saber. A César o que a César pertence. O seu perfil, a sua personalidade, o seu altruísmo desinteressado, nunca lhe permitiu outra postura, outra atitude e terá sido assim e por isso que, passados todos estes anos, ainda sobrevivem alguns coalhos de antanho.

Estamos em Bragança e no Paço Episcopal da diocese de Bragança-Miranda. Casa que D. Manuel tão bem conheceu. Foi esta casa que descobriu no jovem estudante de Teologia a inclinação e a vocação para o sacerdócio. Foi esta casa que o enviou para Roma e lhe deu a possibilidade de estudar e de adquirir mais conhecimentos. Foi a esta casa que ele regressou, já presbítero, depois dessa viagem de especialização e de
saber, na cidade eterna. 
Nele, D. Abílio Vaz das Neves depositou toda a confiança, nomeando-o desde logo e ao longo da década de quarenta para vários lugares de responsabilidade. Lugares, actividades e funções que o então presbítero e depois cónego, desempenhou com dedicação e zelo. Esse percurso foi possível conhecer e acompanhar graças ao jornal Mensageiro de Bragança, que nasceu precisamente no ano em que D. Manuel regressa de Roma e vem trabalhar para esta diocese.
Foi também aqui que teve lugar a grande cerimónia da sua sagração episcopal, no dia 29 de Junho de 1955. Foi desta diocese que partiu para a sua nova casa, Silva Porto, e para onde levou vários sacerdotes e religiosas da diocese de Bragança. Pelo que nos foi dado a conhecer, ficámos com a sensação que D. Manuel António Pires, com o seu forte espírito missionário e com a sede de realização de obra na sua diocese (novas paróquias, casas, abrigos e missões), em vários momentos, a custo se conteve na captação ou requisição de pessoal religioso nesta diocese, apenas por respeito a D. Abílio e para o não ofender ou melindrar. Mesmo assim, durante a década de sessenta, as solicitações junto do Bispo de Bragança e da Irmã Marta, Superiora das Servas Franciscanas Reparadoras de Jesus Sacramentado, são regulares, persuasivas e bastante apelativas.
Mais tarde, e quando D. Abílio Vaz das Neves ainda era bispo da diocese, terá circulado por alguns círculos do Clero e pela cidade, a ideia de que o lugar desta diocese lhe poderia ser entregue. Perante essa possibilidade D. Manuel, ausente e em visita pastoral na sua diocese angolana, foi peremptório: "Eu?... Bispo de Bragança?... A diocese necessita de um bispo de fora, de larga visão e pulso forte. Não um bispo qualquer. Por aqui andaremos até que Deus queira. Em Bragança, agora só de visita".

Foi para Bragança e mais concretamente para Vila Boa que regressou no Outono da sua vida. Resignado com o destino dessa sua outra pátria, mas disposto e disponível, sempre disponível para o seu ofício. Até ao fim, que chegou na Primavera de 1999.
Conheci D. Manuel já bem perto do fim da sua vida. O tio Bispo como então o tratávamos e a quem tínhamos que beijar o anel, apesar da sua mão se retrair sempre. A imagem que guardo dele, julgo que é partilhada pela maioria daqueles que o conheceram e que com ele privaram. Simples e afável. Infelizmente não pude, não soube tratar, nesse tempo, daquilo que vim a tratar depois para vos trazer este livro.
Lamento.
Terminarei com uma parábola que um dia ouvi a D. Manuel, num dos muitos almoços de Páscoa em casa da minha Avó.

Os romanos antigos tinham por hábito, no final de cada dia, apanhar do chão uma pedrinha que levavam para casa e guardavam em recipientes. Se o dia lhes tivera corrido bem, apanhavam uma pedra branca ou clara, se o dia lhes correra menos bem ou mal, apanhavam uma pedra escura. Assim, ao longo de toda a sua vida e a cada momento podiam avaliar e qualificar a sua vida. Estou certo que também hoje D. Manuel apanha uma pedra branca que guardará para a sua eternidade.

Muito obrigado.

(Vila Boa e Bragança, 26 de Março de 2015)

Notas: 
Texto a preto, comum às duas intervenções; texto a azul - intervenção em Vila Boa, texto a vermelho escuro - intervenção em Bragança.

29 março 2015

pela primeira vez...

Um livro meu teve direito a marcador. Sim senhor.

citação

«Seja-me permitida mais uma nota pessoal, mas a leitura é assim, pois um livro bom está aberto a que lhe acrescentemos outros parágrafos. Meu pai morreu há 10 anos, e enquanto minha mãe foi viva, a biblioteca que construíra e que vigiava com zelo feroz, manteve-se quase intacta. Minha mãe morreu há pouco. Agora, filhos e netos (muitos) foram esvaziando as prateleiras, conforme as suas preferências intelectuais ou os seus interesses académicos. Porque descobrira um livro que, pensei, seria muito do gosto da minha filha mais velha, telefonei-lhe a dar-lhe conta disso. Passados minutos mandou-me o seguinte SMS: "É bom fazer parte de uma família em que os livros são tão preciosos como as jóias".
Este livro sobre o qual escrevi estas palavras ficará na minha biblioteca, esperando que um dia alguém o leve - como jóia».
(João Lobo Antunes, in LER)

28 março 2015

nova plantação

Em breve aqui ao lado nas plantações.

pela primeira vez...

E só depois de mais de quatro décadas, duas das quais praticante e outras duas não-praticante militante, me vi na circunstância de leitor de uma leitura eucarística. Teve que ser e o culpado também aparece nesta fotografia...

centenário D. Manuel António Pires

Ontem, dia 27 de Março de 2015, assinalou-se o centenário de nascimento de D. Manuel António Pires, antigo bispo de Silva Porto, actual Kwíto-Bié, em Angola. A diocese de Bragança e a família assinalaram a data com um conjunto de momentos, nos quais participei. Entre Vila Boa e Bragança, foram várias as pessoas que se associaram à iniciativa. Desse programa constou também o lançamento do meu livro: "D. Manuel António Pires - história de vida de um missionário (1915-2015). Ficam aqui alguns dos momentos desse longo dia.






25 março 2015

24 março 2015

importa-se de repetir?!...

Fazer progredir o pensamento não significa necessariamente refutar o passado: significa por vezes revisitá-lo, não só para compreender o que foi efectivamente dito mas o que se poderia ter dito, ou pelo menos o que hoje pode dizer-se (talvez apenas hoje) relendo o que então se disse.
Umberto Eco, in Semiótica e Filosofia da Linguagem (1984)

23 março 2015

pilosidades

Ando à procura de um pequeno texto que sei que escrevi sobre o conceito de "escrevente", que um dia encontrei em Roland Barthes. Penso até que já o trouxe para aqui, mas como não o consegui encontrar, resolvi folhear todos os cadernos de apontamentos dos últimos anos de rascunhos e escritas. Ao fazê-lo, entre várias idiotíces para mais tarde recordar e às quais irei, com certeza, regressar, dei com um curto texto ao qual dei o nome "pilosidades" e no qual reflectia sobre o drama de ver surgir, das cavidades faciais, cada vez mais pelos. Na altura não o publiquei provavelmente por pudor, mas ao relê-lo, uns anos depois e com mais pilosidades para cuidar, aqui vai...

Sempre achei horrível e até falta de higiene, os homens não terem cuidado com os pelos que lhes vão nascendo um pouco por toda a cabeça e em concreto no rosto e arredores, ou seja, ouvidos, orelhas, narinas e mesmo nas sobrancelhas. Sempre associei esse fenómeno a idades maiores, como que sinais de envelhecimento. Pois bem, eu ainda estou para entrar nos quarenta e já encontro, aqui e ali, um ou outro pelo, que sem autorização emerge e se mostra ao mundo. A vontade é arrancá-los de imediato, mas como dói e ainda não são significativos, tenho optado pelo corte rente de forma a não estarem visíveis. Outro problema são os desalinhados fios de pelo que teimam em surgir nas fortes sobrancelhas. Raios os partam, ou pelo menos, depilem. Numa atitude aproximadamente metro e tentando salvaguardar a imagem que vejo reflectida no espelho, vou aparando-os e redireccionando-os, procurando mantê-los na ordem estabelecida. Enfim, sinais do tempo que vai também passando por mim.
(28 de Março de 2011)

baú da memória VIII

No dia 19 de Março, há quatro anos, escrevi e enviei a alguns amigos uma mensagem de texto, em que dizia: "Anuncia-se ao mundo, ao nosso mundo, que o Rodrigo acabou de chegar até nós. Tudo correu pelo melhor e ele e sua mãe estão bem de saúde. Que felicidade. Obrigado".

12 março 2015

mediascape: VEM

Hoje à tarde, de passagem pela frente de uma TV, assisti às declarações do Secretário de Estado Pedro Lomba acerca do Programa VEM - Valorização do Empreendimento Emigrante, que foi hoje aprovado pelo Conselho de Ministros. Este programa visa apoiar emigrantes que queiram regressar a Portugal e a sua reintegração profissional, através de apoios à contratação ou através da criação do seu próprio posto de trabalho, servindo-se da experiência profissional adquirida no estrangeiro.
Depois de terem passado todo o seu tempo de governação a mandar as pessoas saírem da sua zona de conforto e emigrarem, procurarem lá fora uma vida pessoal e profissional digna, este programa não é só ofensivo, é também hipócrita. Quer dizer, pouco tempo depois de se terem estabelecido, sabe-se lá a que custo, num outro qualquer país e terem conseguido refazer as suas vidas, era suposto virem a correr para os braços da pátria mãe... Sem vergonha alguma, esta gente é capaz de dizer tudo e precisamente o seu oposto, sem qualquer reserva ou pudor. Inacreditável a atitude paternalista perante os "filhos pródigos" que, julgam eles, nós somos. Alguém quererá regressar nestas condições? Sim, haverá sempre crédulos.

08 março 2015

03 março 2015

Pseudociência

A Fundação Francisco Manuel dos Santos, com a sua colecção de ensaios, tem realizado um trabalho de mérito ao trazer para o grande público e a preço muito interessante, trabalhos da comunidade de pensadores, investigadores e cientistas portugueses. O número 48 da colecção, editado em Setembro de 2014 é mais um exemplo paradigmático dessa qualidade e dessa excelência. Um cientista (David Marçal) que se dedica, com linguagem simples e acessível a todos os leitores, à defesa da produção do conhecimento científico, alertando e desconstruindo as estratégias de toda a pseudociência que nos rodeia diária e insistentemente. Nem de propósito, agora que estou envolvido nessa discussão epistemológica, este ensaio tem sido de uma impressionante utilidade, pois a sua linguagem e os exemplos apresentados são por demais esclarecedores para toda a gente, inclusive, estudantes resistentes às matérias mais teóricas e aborrecidas. Obrigado.

Amadeu Ferreira (R.I.P.)

Não há como não ficar triste com o desaparecimento de Amadeu Ferreira. Faleceu no passado dia 1 de Março. Figura ilustre da cultura portuguesa e central do universo da língua mirandesa. Autor e tradutor de inúmeras obras para essa língua, a ele se deve, também, o reconhecimento do mirandês como língua oficial. Era actualmente Presidente da Academia de Letras de Trás-os-Montes. A cultura ficou bem mais pobre. Para conhecer a sua obra... AQUI.

02 março 2015

viver acima das nossas possibilidades é isto

Estava num jantar em casa de amigos, celebrando o aniversário de um deles, quando tive conhecimento daquilo que o nosso Primeiro Ministro andou a fazer-nos durante os últimos quase quatro anos. Então não é que tem, ou teve, dívidas para com a Segurança Social e, para além de não ter pago, alegou desconhecimento das suas obrigações fiscais. Um qualquer avençado, precário ou profissional liberal sabe das suas obrigações para com a Segurança Social e um indivíduo que chega a Primeiro Ministro quer convencer-nos que não sabia... O que mais me impressionou nesta sem vergonha (mais uma), é quererem borrar-nos a cara com bosta de Tartaruga (que é mais exótica e chega mesmo a ser utilizada em algumas fragrâncias de alto gabarito e, dizem, ter propriedades medicinais) enquanto se divertem no aconchego dos espaços exclusivos e vivem à custa de todos os outros, os excluídos. Para alguém que afirmou com todos os dentes que tem na boca que vivíamos acima das nossas possibilidades, é de perder a face e merecedor da maior censura política e, acima de tudo, cívica. Não quero acreditar que ainda é o Primeiro dos nosso Ministros.

11 fevereiro 2015

baú da memória VII

Nos últimos tempos a minha criança sempre que me vê a beber um copo de vinho, ou uma cerveja ou outra bebida alcoólica qualquer, começa por me perguntar o que estou a beber, para depois da minha resposta me pedir para a cheirar. Não satisfeito, diz-me que vai beber ao faz-de-conta como os grandes. Quando se trata de uma cerveja, para além dos procedimentos referidos, ainda é menino para se agarrar à garrafa e beber os restos que ficam no fundo da garrafa, naquilo que sempre conheci como o acto de escorropichar. Não me perguntem que palavra é esta, nem qual a sua origem. Lembro-me desde miúdo de a utilizar precisamente nos mesmos contextos que o meu filho agora o faz. Como eu gostava de escorropichar as cervejas que o meu pai bebia e deixava, sob pressão minha, um resto cada vez maior para eu, lá está, escorropichar. Estará nos genes e será hereditário?

07 fevereiro 2015

retorno, que se gostava eterno...

Para mais uma temporada, que é como se pode dizer para mais dois semestres, na Escola Superior de Saúde. É sempre bom regressar, mais ainda com desafios novos, com programas para reconstruir e com gente nova para conhecer.

programa

Ser pai duma pré-adolescente é o tempo em que nos vamos habituando à ideia dela vir a ser autonoma e independente, um ser distinto dos pais. Ser pai duma adolescente é o tempo em que deveríamos estar preparados para a sua libertação dessas amarras parentais ou paternalistas e consciencializados das suas capacidades para definir a sua personalidade e criar/gerir as suas amizades. Esforcei-me por tudo isso. Não sei se o consegui. Hoje foi a primeira vez que nitidamente senti que a levei para um programa com amigas e amigos e que fui substituído. Às tantas.

02 fevereiro 2015

paisagem idílica

Últimos dias de Janeiro passados em Bragança. A casa confortável e tranquila, deixava sentir o frio imenso que fazia na rua. A dor permanente nos ossos e a sensação de pés molhados eram outros sintomas desse frio. De dia e de noite as ruas vazias, apenas ocupadas por aqueles que, nesse instante, não conseguiam escapar-lhe e abrigar-se. Sentado e em frente ao computador mal dei pela passagem das horas, dos dias e das noites. De vez em quando, afastando a vista do ecrã, espreitava pela vidraça e surpreendia-me por ver pequenos e leves flocos de neve que caíam lentamente sobre a cidade. Fabulosa imagem. Preso à escrita, não pude verificar se as serranias circundantes estavam cobertas de branco, mas nesses instantes mágicos, imaginei que sim e que eu poderia viver num sítio assim.

29 janeiro 2015

observação não participante

"Mulheres ajoelhadas nos bancos com cabeçadas de carmesins à volta dos pescoços, cabeças baixas. Uma fornada ajoelhada no comungatório. O padre ia passando junto delas, murmurando, segurando a coisa nas mãos. Parava a cada uma, tirava uma hóstia, sacudia uma gota ou duas (estão elas em água?) e punha-a esmeradamente na boca dela. O seu chapéu e a cabeça afundavam. Depois a próxima: uma velha pequenina. O padre inclinou-se para a pôr na boca dela, murmurando o tempo todo. Latim. A próxima. Feche os olhos e abra a boca. O quê? Corpus. Corpo. Cadáver. Boa ideia o latim. Estupefica-as primeiro. Hospício para os moribundos. Não parece que elas a mastiguem; apenas a engolem. Ideia singular: comer bocados de um cadáver por isso os canibais tomam o gosto. (...) Elas estavam à sua volta aqui e ali, com as cabeças ainda baixas nas suas cabeçadas carmesins, à espera de que aquilo se lhes derretesse nos estômagos. Algo como aqueles mazzoth: é esse tipo de pão: pão ázimo. Olha para elas. Até aposto que as faz sentirem-se felizes. Chupa-chupa. Faz mesmo. Sim, é o chamado pão dos anjos. Há uma grande ideia por trás disso, espécie de sensação do reino de Deus dentro de ti. Primeiros comungantes. Abracadabra um dinheiro cada uma. Depois sentem-se todos como membros de uma única família, o mesmo que no teatro, todos no mesmo barco. Sentem-se sim. Tenho a certeza disso. Não tão sós. Na nossa confraternidade. Depois saem com os espíritos elevados. Válvula de escape. A questão é se realmente acreditas nisso. Cura de Lourdes, águas do esquecimento, e a aparição de Knock, estátuas que sangram. Um velho adormecido ao pé daquele confessionário. Daí aqueles roncos. Fé cega. A salvo nos braços do venha o reino. Acalma toda a dor. Acordar a esta hora no ano que vem". 
James Joyce 

26 janeiro 2015

pela oitava vez e atrasado...

Não sei bem porque motivo me tenho esquecido da data, mas já é o segundo ano consecutivo que não assinalo o aniversário do Apurriar no dia 24 de Janeiro. Prefiro sempre pensar que não é esquecimento, mas sim ocupação exagerada do cérebro e falta de tempo para aqui vir partilhar o tempo e o espaço. Depois de um ano muito ausente e com poucas entradas, tenciono regressar com maior frequência às reflexões e à escrita breve. Obrigado pelas vezes que aqui têm vindo espreitar e, talvez, me têm lido. Continuemos.

25 janeiro 2015

primeiro dia do resto das nossas democracias, espero...

Ao contrário de muitos, preferi esperar pelo dia de hoje para manifestar a minha alegria e satisfação pela vitória do Syriza nas eleições gregas. Não é que precise de ver para crer, mas quase, pois nunca fui daqueles que gostam de deitar os foguetes nas vésperas das festas e dias santos. Tive receio verdadeiro do poder do sistema instituído e da força da pressão imposta pela Europa, mas pelos vistos não resultou e os gregos votaram mesmo pelo fim da austeridade. Que excelente notícia para todos e para nós também.
Conheci o Alexis Tsipras no Porto na campanha das últimas europeias, ouvi-o e gostei do seu discurso sobre a Europa. Não acredito em salvadores, omnipotentes, mas acredito que esta vitória poderá ser o princípio de tantas outras pela Europa que irão derrotar o paradigma vigente. Não sei como será o dia de amanhã, mas sei que não será fácil para os gregos e para os europeus, mas esta é a primeira hipótese real de algo mudar. Esperemos que sim. Desejo a maior sorte e saber a Tsipras e seus companheiros. Força.
Estou contente. Sem grande alarido, vou deitar o meu foguete e celebrar.
Viva a democracia. 
Vivam os gregos e viva a Europa liberta deste jugo tecnocrata e financeiro.
Que bom.

21 janeiro 2015

mediascape: borgen

Não sei se vi o primeiro episódio ou não, mas sei que desde que parei para ver um episódio desta série dinamarquesa fiquei agarrado à TV. Borgen, que em português significa castelo, ficciona o quotidiano de um governo resultante de uma coligação liderada por uma mulher. Para além da real-politik e dos bastidores dos gabinetes ministeriais, dos arranjos e das negociações entre partidos da coligação e partidos da oposição, a série revela também, de forma clara e sem clichés, as ligações entre os ministérios, os acessores dos ministérios, os spin-doctors e os média, nomeadamente, imprensa e televisão. É esquisito ouvir essa língua estranha e distante que é o dinamarquês e custa-me não ter a certeza se a tradução das legendas é ou não bem feita. Ainda assim, vale a pena continuar a ver ao serão no canal 2 da RTP.

16 janeiro 2015

o combate civilizacional

Ainda a propósito do atentado da semana passada contra o Charlie Hebdo, recebi nos últimos dias no meu email, vários exemplares da sua última edição, já posterior ao atentado e que na sua primeira edição em papel esgotou os cerca de 3 milhões de exemplares. Não sei se chegou a Portugal e se foi vendido em quiosques, mas eu teria sido um daqueles que nem hesitaria em adquirir um exemplar, isto, mesmo não sendo um apreciador do género. Aliás, penso que mais do que o inconsequente "Je suis Charlie" que se banalizou por todo o lado, a melhor homenagem e o meio mais eficaz de desconstruir o discurso dos radicais islâmicos seria reforçar a leitura e as vendas do Charlie Ebdo. Isso sim, seria uma bofetada nesse lixo humano. Não gostam, temos pena. Mas nós somos assim.

12 janeiro 2015

a descobrir

Depois de vários meses em lista de espera, chegou a vez de ler o pesado Ulisses. A minha iliteracia literária, desculpando a redundância, ainda não me tinha permitido chegar a James Joyce. Aqui estou eu e a gostar.

silva porto

Durante os últimos meses em que andei às voltas, tentando calcorrear os caminhos de uma outra vida, vivida nos sertões africanos, dei com a grande figura histórica de Silva Porto, até então um perfeito desconhecido para mim (ignorante). Essa descoberta levou-me a procurar mais informações a seu respeito. Li vários trabalhos acerca do seu percurso e acerca sua aventura e fiquei, posso admiti-lo, admirado pelo seu carácter.
António Francisco Ferreira da Silva (adoptaria mais tarde o apelido Porto) nasceu na cidade Invicta, em 24 de Agosto de 1817. Filho de gente muito humilde, bem cedo teve que se fazer à vida. Primeiro, aos 12 anos, emigrou para o Brasil onde permaneceu alguns anos entre o Rio de Janeiro e a Baía. Depois tentou a sua sorte em Angola, mas rapidamente regressou à Baía. Tendo ficado fascinado pelo que viu em Angola, regressou e iniciou-se aos 22 anos como explorador africano. Percorreu quilómetros e quilómetros de savanas, negociou com vários sobas e régulos. Estabeleceu-se no planalto do Bié, num local que denominou de Belmonte e onde construiu a sua embala. Fez inúmeras viagens, desbravou matos e conquistou tesouros, mas regressava sempre à sua embala de Belmonte. Lugar onde pretendia passar o resto da sua vida. Só que alguns dos senhores da região começaram a suspeitar das suas boas maneiras e das suas pretensões, acabando por ser ameaçado de morte caso não abandonasse as suas terras. Foi assim que Silva Porto, já com uma idade bastante avançada e que sempre dissera que Belmonte, depois da sua morte, passaria a ser propriedade de Portugal, se viu obrigado a decidir sobre o seu futuro. Perante a sensação de desonra e de que tudo estava perdido, escreveu no seu diário:
«Última disposição. Acondicionando os objectos precisos, a fim de deixar a nossa vida em ordem, o que mais tarde se há-de vir no conhecimento afirmativo ou negativo, restando-nos pouco tempo de que dispor, dizemos que a nossa última disposição está feita de há muito, deixando este mundo conforme o encontrámos - isto é - nascemos pobres e assim morremos, esperando que Deus e sua Mãe Santíssima nos julgarão segundo a Justiça Divina».
Envolveu-se na bandeira das quinas, deitado sobre os barris de pólvora, acendeu um fósforo e fez-se explodir. Sobreviveu à explosão, mas morreu passados alguns dias, no dia 1 de Abril de 1890. Os seus restos mortais chegaram a Portugal só passado um ano, tendo sido enterrado no cemitério da Lapa, na cidade que o viu nascer.
Anos mais tarde, na década de vinte, Belmonte passou a chamar-se Silva Porto em sua memória.
Visitei o monumento tumular no cemitério da Lapa.

instante urbano xxix

Comentário escutado hoje num café logo pela manhã:
Ela: Já reparaste como a mulher do Sr. Y está diferente, depois dele morrer... Parece mais espevitada.
Ele: Isso ficam todas! Qual é a novidade?!
Ele e Ela: (risos)

07 janeiro 2015

Charlie Hebdo

Interrompo aquilo que estava a fazer, para, estupefacto, assistir ao ataque terrorista desta manhã em Paris. Por muito que nos digam que estes episódios irão aumentar e de que estamos em estado de guerra permanente, pelo menos, desde o 11 de Setembro de 2001, a cada novo episódio não consigo deixar de ficar perturbado pela sua concretização, e acima de tudo, horrorizado pelas motivações de tais actos. São na sua aparência questões de crença e de vingança religiosa, mas os seus fundamentos são civilizacionais. Muitos estudiosos e pensadores têm alertado para o sentimento de ódio crescente que o Islão tem incrementado nas suas escolas e nas suas mesquitas para com o Ocidente e o seu modo de vida. Por muito que nos custe aceitar, esse Islão não hesitaria em nos extinguir da face da terra e foram e são as marcas que nos distinguem, enquanto sociedade, desse Islão, que acabaram por permitir situações como a de hoje. E França é um bom paradigma desse confronto latente entre civilizações, bem no coração da Europa. Quero e defendo uma sociedade tolerante, integradora e multi-cultural, e pratico um relativismo cultural na minha visão do mundo, mas cada vez me custa mais aceitar a actual diferença civilizacional entre o Ocidente e os estados Islâmicos. Por outro lado, estou consciente da enorme dificuldade que uma sociedade e um estado livres e democráticos terão para conseguir evitar tragédias deste género, mas a resposta é e será sempre, ser indefectível na liberdade, na democracia e na valorização do ser humano, nas nossas escolas, nas nossas instituições, na nossa comunicação social, enfim, nas nossas sociedades. É isso que nos diferencia e distancia da ignomínia e da barbárie.

06 janeiro 2015

assim me sinto...

04 janeiro 2015

acabamentos

Ainda que falte algum tempo para o dia em que será folheado pelos leitores, algo que só acontecerá lá para o final do mês de Março, mostro-vos o resultado gráfico daquilo que me ocupou parte do tempo durante os últimos três anos e quase na totalidade nestes últimos meses de 2014. A Ana Rita está a fazer um excelente trabalho gráfico e porque me acabou de enviar estas primeiras imagens, inacabadas, e eu estou contente com o resultado, aqui o partilho...





02 janeiro 2015

inevitabilidade

A criança, a minha criança, que ainda há bem pouco tempo era um bebé, deixou de me chamar por "papá", trocando esse querido vocábulo pelo ordinário "pai". Sei que irei ter, para sempre, saudades.

01 janeiro 2015

novo ano para vida velha

Não sou dado a grandes sentimentalismos perante a perspectiva de cada um dos anos "novos" que se vão precipitando uns atrás dos outros, nem sou dado a idealismos, preferindo o pragmatismo da real existência quotidiana, por isso, dou cada vez menos importância a estas time-marks que nos organizam a vida. Desejo cada vez mais poder passar esses dias com os meus, mas isolado do resto do mundo, num qualquer cabeço de monte isolado. Claro que, egoista, fico feliz e satisfeito por continuar a contar cada um dos anos cronológicos, mas sei que será, continuará a ser a mesma e velha vida. Ainda bem.

Joe Cocker R.I.P.

Acabo de saber da morte de Joe Cocker. O facto de não olhar para a TV, a não ser para ver algo que já espero e o facto de ter estado algo isolado da rede, permitiu-me estar ignorante do seu desaparecimento. Não sou grande admirador da sua música ou voz, mas algumas das suas músicas fazem parte do meu imaginário juvenil e estiveram presentes durante algum tempo. Lamento.