Afonso Cruz é um dos colaboradores assíduos do Jornal de Letras (JL), único jornal em papel que actualmente compro, e é um dos textos que espero sempre, pois regularmente me surpreende e me inspira para, vá-se lá imaginar, a produção de etnografias e antropologias. Por exemplo, um dos sub-capítulos de trabalho que, espero, em breve será publicado, surgiu da leitura de uma das suas crónicas neste jornal.
O título deste post é ipsis verbis o nome da última crónica de Afonso Cruz no JL e nela discorre sobre a importância da leitura e, ao mesmo tempo, da dificuldade que é cativar para essa leitura. Na impossibilidade de transcrever todo o texto, deixo algumas passagens:
"Como fazemos os adultos lerem mais? Como fazemos os jovens lerem mais? Como se formam leitores? Tudo isto revela algo sobre a própria natureza da leitura, cujo problema está na essência e não na política, ou no modo como ela, a leitura, é incentivada."
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"A leitura normalmente não tem uma gratificação imediata, contraria as nossas características gregárias, isolando-nos dos outros e do mundo, impondo algum silêncio, exigindo atenção e concentração."
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"A leitura não é naturalmente apelava, mas tem uma importância superlativa. A dificuldade, claro, é demonstrar a potenciais leitores que aquela pessoa sentada numa cadeira, em silêncio, alheada do que a rodeia, está a ter uma experiência gratificante, bela ou transformadora."
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"É realmente difícil fazer passar a ideia inacreditável de que uma pessoa parada, debruçada sobre um livro, está a ter uma experiência emocionante, espectacular, capaz de lhe mudar a vida."
Afonso Cruz, in Jornal de Letras nº 1386, Novembro 2023.