---------"Viajar, ou mesmo viver, sem tirar notas é uma irresponsabilidade..." Franz Kafka (1911)--------- Ouvir, ler e escrever. Falar, contar e descrever. O prazer de viver. Assim partilho minha visão do mundo. [blogue escrito, propositadamente, sem abrigo e contra, declaradamente, o novo Acordo Ortográfico]
31 dezembro 2020
passagem de ano
figura do ano
ano revolucionário e inesquecível
Termina hoje 2020, o ano horribilis para a grande maioria de nós. Foi de facto um ano difícil, mas ao perspectivá-lo considero que, acima de tudo, foi um ano, física e psicologicamente, exigente. Ao mesmo tempo, e se o analisarmos com alguma isenção das nossas experiências pessoais e particulares, vamos percebê-lo como um ano revolucionário. Passo a explicar: vimos as nossas vidas, sociais, profissionais, pessoais e até íntimas, alteradas, como que num sobressalto sem aviso prévio, não por motivações políticas ou militares, mas por força da natureza humana e suas fraquezas ou debilidades. Este vírus atacou-nos precisamente no aspecto que mais caracteriza a nossa espécie, a sociabilização, e nós tivemos que nos habituar, sob o poder dessa força invisível, a abandonar ou, no mínimo, a limitar as nossas interacções, os nossos contactos físicos e de proximidade. Isto, apesar de aparentemente banal, foi significativo e ainda será cedo para percebermos o seu impacto nas nossas vidas e no futuro da nossa espécie. Esperemos para perceber que alterações paradigmáticas iremos testemunhar. 2020 será um ano inesquecível na biografia de cada um de nós (mesmo na daqueles que faleceram por causa deste vírus). Será também um ano riquíssimo para a futura produção literária, para a investigação científica - uma palavra de especial reconhecimento para a Ciência, que teve em 2020 um dos seus momentos de maior relevância e valorização - e para a análise social que se vai realizar. Durante as próximas décadas serão inúmeros os estudos, os prémios e os reconhecimentos pelo trabalho realizado durante esta pandemia. Pessoalmente, ainda que haja anos que recorde com maior ou menor intensidade, não tenho dúvida que 2020 será o ano, ou melhor (pois não sei o que me espera), será um dos anos da minha vida e que marcará indelevelmente a minha existência.
27 dezembro 2020
dia D
22 dezembro 2020
o diário
21 dezembro 2020
mediascape: barbárie
frustração revestida de mágoa
16 dezembro 2020
mediascape: predisposição
estranha forma de reagir...
elegia do livro
04 dezembro 2020
o plano de vacinação
01 dezembro 2020
o heterodoxo
Acordei com a notícia do falecimento de Eduardo Lourenço. Um dos principais pensadores da contemporaneidade em Portugal desaparece aos 97 anos, deixando uma obra brilhante e seminal para as gerações vindouras. Será, sem qualquer dúvida, uma referência do pensamento português do século XX e XXI, aquele que nunca desistiu de procurar Portugal no seu labirinto.
30 novembro 2020
expectativa, ilusão ou falsa esperança?
22 novembro 2020
vamos LER
acasos, por vezes, felizes
Partilhei aqui há dias a minha história da PlayStation5. Pois bem, dia 19 essa história teve o seu epílogo e foi mais ou menos assim:
a) Nas vésperas desse dia consegui chegar à conversa com alguém que trabalha na Fnac (será razoável não identificar a pessoa), expus a minha situação e os esforços desenvolvidos para conseguir uma para o meu filho. Sem poder prometer, disse-me que caso houvesse a mais, reservaria uma para mim;
b) No dia 19 saí de casa por volta das 10 horas para tratar do assunto. Conduzi até ao Gaiashopping e ainda antes de ir à Fnac, dirigi-me ao quiosque para registar o Totoloto e o Euromilhões, o que faço semanalmente e sempre às quintas-feira, desde que existem esses dois "jogos sociais". Quando a menina conferiu o primeiro talão (do Totoloto) a máquina deu sinal de prémio, e ela exclamou que tinha um prémio grande. Como eu nunca confiro os resultados e só quando vou registar o da semana seguinte é que sei se tenho prémios ou não, não fazia a mínima ideia. Foi com satisfação e a pensar na feliz coincidência que caminhei para a Fnac;
c) Ao contrário do que esperava, não havia confusão na Fnac. Caminhei por entre os livros, procurei novidades e promoções, dei a volta pelo sector dos jogos e informática e dirigi-me para o bar onde tencionava tomar um café e deixar-me ficar a ler um texto que estava em atraso. Mal me sentei, a pessoa amiga, veio ter comigo e disse-me que já tinha uma consola reservada para mim. Apesar de ter vontade, não lhe pude dar um abraço de agradecimento;
Bem, não eram ainda as 11 horas da manhã e já eu estava a regressar a casa com a PlayStation5 e sabendo que o Totoloto me tinha pago o caro presente. Há acasos que não se conseguem explicar e, neste caso, a coincidência ainda é mais expressiva, porque em tantos anos a jogar, jamais me calhara na sorte mais do que meia-dúzia de patacos. Continuarei a jogar.
a cultura, sempre a cultura
16 novembro 2020
desejos próximos
Dois dos livros que quero comprar nos próximos dias. Claro que ao saberem disto, poderão surpreender-me e presentear-me. Eu agradeço sempre e retribuo.
novilingua portuguesa
Esposo/a. → Espose.
15 novembro 2020
património e metamorfose
dia da Regueifa
Sei que não é um elemento gastronómico transversal à totalidade do nosso território e que há quem nunca a tenha provado, mas para mim, Domingo significa obrigatoriamente sair de casa pela manhã para comprar Regueifa, e houve até Domingos que tive que sair uma segunda vez para comprar mais. A que costumo comer não será das melhores, nem esta região é famosa na sua confecção. Das famosas conheço a de Penafiel e a de Famalicão, mas não me queixo, nem deixo de a comprar. Hoje foi dia de Regueifa com manteiga.
"Outono triste em cárcere"
11 novembro 2020
carneiro me sinto
07 novembro 2020
finalmente!
04 novembro 2020
distopia
03 novembro 2020
in memoriam
Acabadinha de chegar à caixa do correio. Até o humor se altera e ficamos mais bem dispostos. Prioridade na pilha de leituras.
um dia importante
02 novembro 2020
no fio da navalha
A propósito da declaração do Primeiro-Ministro no final do Conselho de Ministro, no passado Sábado, e as posteriores reacções e comentários que, incessantes, se vão ouvindo nos media, eu, que assisti em directo a essas declarações, não consigo ser crítico do comportamento e do discurso de António Costa e seu Governo - foi explícito e, principalmente, foi pedagógico. Claro que tem havido erros de gestão da pandemia, má comunicação, informações contraditórias, mas caramba, estamos numa situação impossível de gerir. Já aqui o disse e vou repetir: respeito e admiro muito aqueles(as) que têm dado a cara e estão ao leme desta situação desde o início da pandemia, pois sendo uma realidade extrema, nova e de uma intensidade tal, é de uma injustiça gritante estar sempre a criticar, ainda por cima, sem apresentar alternativas. Percebeu-se nas palavras de António Costa uma tremenda incerteza sobre o que aí vem, foi notório o desconforto com a atitude irresponsável de muitos portugueses e foi perceptível o fio da navalha em que o Governo e demais instituições responsáveis se encontram neste momento. Serão sempre decisões difíceis que implicarão consequências gravíssimas para a nossa sociedade. Respeito.
01 novembro 2020
Sean Connery
31 outubro 2020
frugalidades
A notícia é ja do dia 17 de Outubro, mas na altura não tive tempo para a ler com atenção e, por isso, guardei-a no pc. Hoje olhei-a com detalhe e não posso deixar de a comentar. Entre outros pormenores, diz a notícia:
30 outubro 2020
25 outubro 2020
um novo início
mediascape: ridícula
Vão-me desculpar, não é má vontade, nem sequer birra, mas não faz qualquer sentido este tipo de iniciativas. A vontade de agradar aos munícipes, aliada a uma vontade de se mostrarem actualizados e nesta moda "à distância", não se adequam com determinadas actividades ou eventos. Apenas ridícula a intenção de promover concursos "online" de produtos naturais locais e regionais.
22 outubro 2020
constatação
Habituei-me, ao longo dos últimos anos, a registar a minha agenda quotidiana no telemóvel, prescindindo das velhas e clássicas agendas de bolso ou de secretária. Acontece que há um par de dias essa agenda digital (a minha secretária particular, como eu a chamo), que transporto no écran principal do meu telemóvel, teima em afirmar: "nenhum evento nas próximas duas semanas". Não sendo totalmente verdade, eis a constatação do vazio em que se transformou o meu futuro próximo.
19 outubro 2020
ciência ingénua
17 outubro 2020
macaco de ano
Acabei ontem de manhã a leitura deste livro, o último de Patti Smith. Ainda que permaneça no universo das suas memórias e num tom confessional, neste texto Patti Smith escreve sobre os seus últimos anos, sobre as suas amizades e projectos, viagens, encontros e desencontros, até às vésperas do confinamento, já em 2020. Patti Smith é, para mim, acima de tudo, uma boa escritora e lê-la é também conhecer parte da cultura popular americana, com suas estrelas e ídolos, dos últimos cinquenta anos.
O acto de escrever em tempo real com a intenção de obrigar o presente a desviar-se do rumo que está a tomar, de lhe escapar ou de fazer com que abrande, é obviamente fútil, se não mesmo totalmente estéril. E é claro que, ao escrever este epílogo de um epílogo, estou ciente de que já estará obsoleto quando chegar aos leitores. Contudo, como sempre e tendo ou não um objectivo específico em vista, sinto-me compelida a escrever com fervor e esperança, entrelaçando realidade, ficção e sonho. Ao regressar a casa, sento-me à secretária que pertenceu ao meu pai e transcrevo o que escrevi. (página 274)
mediascape: infantilização
16 outubro 2020
Gato Morto
O novo projecto musical do mano mais novo chama-se Gato Morto e, nos últimos dias, lançaram o primeiro single do álbum que vai ser lançado em 2021. Gosto deste som. Para o caso de não conseguirem identificar, o mano mais novo é o da guitarra.
13 outubro 2020
mediascape: ver para crer
A expressão que se utiliza na minha aldeia quando o pobre desconfia da grandeza da esmola é: - Finta-te! E foi a minha reacção instintiva ao ler esta pequena notícia de hoje, no jornal Público. Mas alguém acreditará que, depois de décadas de desmantelamento da rede ferroviária nacional, principalmente no interior do país, agora vão investir e reconstruir a rede de forma a servir todas as capitais de distrito? Eu não acredito, mas gostava muito de ver isso concretizado. Infelizmente, não passa de mais um aparatoso anúncio, tal como aconteceu com o TGV, os aeroportos e outros que tais. Bem típico das governações socialistas.
09 outubro 2020
ainda as jornadas culturais em Balsamão
Chegaram-me hoje alguns registos fotográficos da minha passagem pelas XXIII Jornadas Culturais de Balsamão. Partilho alguns desses momentos:
04 outubro 2020
cultura e Igreja
Tal como aqui tinha informado e anunciado, participei nas XXIII Jornadas Culturais de Balsamão que decorreram este fim-de-semana (de 1 a 3 de Outubro). Estive em Balsamão no dia 2, dia da minha intervenção, e tive a oportunidade de assistir e participar no programa completo desse dia. Uma das intervenientes, no início da sua intervenção, partilhou com a audiência uma pequena reflexão que me deixou pensativo e também a reflectir sobre esse "pormaior". Disse ela, algo do género: - Não deixa de ser interessante e até curioso o facto de, num tempo em que não se fala de cultura em lado nenhum, seja aqui e seja a Igreja a estar disponível e interessada em promover espaços e jornadas onde podemos partilhar conhecimento e cultura.
Apenas quero manifestar a minha simpatia e concordância com tal raciocínio, realçando o facto de as Jornadas Culturais de Balsamão se realizarem há vinte e três anos consecutivos. Uma realidade que transforma, sem qualquer dúvida, estas Jornadas em património que importa preservar, promover e apoiar. Hei-de regressar.
26 setembro 2020
a ciência e Portugal
A decadência portuguesa. Tem alguma explicação para esse fenómeno?
Não, não tenho. (...) Vou apenas circunscrever-me à minha área, que é a questão científica. Em primeiro lugar, não deteto uma decadência assim tão grande. A ideia de que não houve prática científica em Portugal no século XVII é exagerada. A prática científica em Portugal foi sempre modesta e não devemos fazer ficções sobre o passado. (...) Era possível pôr pessoas com baixos níveis educativos a fazer actividades cientificamente interessantes. Mas com o desenvolvimento da ciência, isto começou a ser impossível. As escolas exigiam grande qualidade. A partir do século XVII, ter bons cientistas, ou ter boas pessoas a fazer tarefas científicas (para não usar a palavra "cientista", que é do século XIX) obrigou a ter boas escolas. (...) Em Portugal isto foi sempre uma dificuldade, a existência de sistemas de ensino de boa qualidade, estáveis, duradouros. E no século XVII começou a notar-se.
( Henrique Leitão, entrevista à revista LER nº 156 - Inverno 2019-2020 )
desgraçada trindade
25 setembro 2020
envelhecendo
Sentado na cadeira do barbeiro, reparo no cabelo que me vai caindo, aos molhos, na bata que me envolve. Os cabelos mais escuros que ainda tenho são de uma claridade crescente, que poderia adjectivar de cinzentos ou prateados, não me consigo decidir. Mas não há como fugir à realidade: já não tenho cabelos escuros.
24 setembro 2020
bateu-nos à porta
Depois de todos aqueles meses confinados, depois de um desconfinamento com grandes reservas e cuidados, depois de todo um Verão sem poder ser Verão, depois das mil e uma preocupações com a higiene pessoal e da família, eis que o bicho nos bate à porta. Ainda não entrou, pelo menos oficialmente, mas já nos obrigou a isolamento profiláctico rigoroso, sem qualquer contacto pessoal e comunicação telefónica entre divisões da mesma habitação. Ainda que a causa deste possível contágio resulte de muita irresponsabilidade e incúria, por enquanto, prefiro não tecer qualquer comentário, nem identificar a situação. Aguardemos. Por hora, estamos bem. Hoje é o dia do primeiro teste da Covid e a ansiedade é grande. Vamos ver o que aí vem.
23 setembro 2020
o Outono
Não é segredo para ninguém, muito menos para aqueles que me rodeiam e conhecem, a minha preferência pelos ambientes mais frescos e até frios. Ainda que diferente de qualquer outro já experimentado, bem vindo seja o Outono e os seus humores temperamentais de luz, cor e aconchego. Assim sendo, é sempre um prazer ir ao guarda-fatos buscar os casacos e as camisolas, recolocar o guarda-chuva à mão de utilizar e aguardar pelas chuvas que hão-de vir.
21 setembro 2020
mediascape:golo
No fim-de-semana em que iniciou mais um campeonato nacional das ligas profissionais, o eco do descontentamento do sector pairou por toda a comunicação social, porque a DGS mantém os espectadores longe dos estádios de futebol e não se prevê uma alteração dessa restrição a curto prazo. Eu até entendo e aceito o desagrado e as terríveis consequências financeiras destas medidas e percebo que o universo do futebol esteja a sofrer como jamais sofreu. Claro que o futebol sem adeptos nas bancadas é uma merda, mas o coro que se faz ouvir parece que não entende (ou não quer entender) que são mais do que justificáveis as razões que impedem a presença de pessoas nos estádios. É que ao contrário de outras manifestações ou eventos de massas, o futebol tem um elemento explosivo que se chama GOLO! E é esse momento orgásmico quem prejudica a indústria do futebol. Como poderiam controlar centenas ou milhares de pessoas espalhadas por um estádio, nesse momento de alegre e efusiva manifestação? Impossível. Portanto, haja paciência e mantenham-se as portas dos estádios fechadas.
18 setembro 2020
reencontro
Hoje foi o dia em que a minha criança regressou à escola, depois de mais de seis meses de ausência. A expectativa do miúdo era grande, mas maior era a ansiedade e o turbilhão de sensações dos seus pais sobre este regresso. Admito que estou moderadamente pessimista em relação ao funcionamento das escolas neste contexto e estou consciente que a maioria das estruturas e equipamentos escolares não conseguem dar respostas satisfatórias às recomendações e exigências da DGS.
Nestes últimos dias, todas as dúvidas e questões ganharam relevância e, ainda ontem, comentava em família que aquilo que me apetecia fazer neste momento era pegar na família e refugiar-me num recanto qualquer, longe e afastados deste turbilhão contagioso. Infelizmente não temos essa possibilidade, mas seria a minha vontade, pelo menos até esta tempestade se afastar.
Entretanto, ao acompanhar o miúdo à escola e ao vê-lo no reencontro os seus colegas, alegres e felizes a falar e a brincar, todos essas dúvidas e questões em relação ao início do ano, se desvaneceram e, claro, o lugar deles é lá, na Escola, onde mais do que o conhecimento, importa a socialização, a brincadeira, os encontros e desencontros, para poderem ser crianças saudáveis e equilibradas. Viva a ESCOLA.
15 setembro 2020
jornadas culturais
08 setembro 2020
todos ao teatro
Ainda a propósito das tralhas que tenho para arrumar, encontrei o programa do Teatro Municipal de Bragança, agora dirigido pelo amigo João Cunha, para o último terço do ano 2020 (de Setembro a Dezembro), que o próprio me ofereceu num destes dias. Para além da qualidade do próprio programa que, apesar de variado e eclético, pode ser alvo de diferentes e variados juízos, retive o olhar na última página deste pequeno livreto que, para além da ficha técnica e ficha de preenchimento para receber informações regulares sobre as suas actividades, apresenta aquilo que são verdadeiros incentivos para a população frequentar este espaço cultural. Já não há desculpas para não ir ao teatro.
leituras e descanso
No momento em que arrumo as tralhas e me preparo para regressar a casa, depois de quase três semanas de descanso e também de trabalho de campo, verifico os livros que trouxe para a "cabeceira" e consegui ler. Não atingi o meu objectivo, mas fiquei apenas a um livro de o conseguir. Enfim, é tempo de regressar e organizar o que agora se colheu, para depois reiniciar as velhas rotinas. Vamos lá.
saudade e esperança
Quando mergulhamos em bibliotecas e arquivos somos, por vezes, surpreendidos por informações e dados inesperados, não expectáveis e até originais. Ao folhear livros e documentos antigos, não é raro encontrar pequenos papéis a servirem de marcadores, ou com pequenas notas ou apontamento, ou pagelas de santos e santinhas, mas desta vez o que encontrei num documento de 1845, foi esta pequena mensagem de saudade e esperança com cerca de trinta anos. Não consigo ficar indiferente e questiono: Terá sido esquecimento? Terá sido intencional? Qual seria a probabilidade de o destinatário encontrar esta missiva nesta selva de documentos históricos? Sempre bonito e intrigante.
ao léu
Mais um pedaço da vida de Luiz Pacheco ao léu. Leitura do serão passado, esta edição de António Cândido Franco que apresenta e comenta a correspondência de Pacheco para João Carlos Raposo Nunes, vem reforçar aquilo que eu penso sobre o Luiz Pacheco. Foi uma das escritas mais livres e criativas do século XX em Portugal. Desalinhado e anárquico, fez e desfez, abalou e escandalizou o mainstream literário e cultural nacional, com coragem e desassombro. Cada vez que o leio e cada vez que sei mais sobre a sua vida e escrita, fico com apetite para mais conhecer, e o tanto que ainda há para descobrir sobre o grande Pacheco.
02 setembro 2020
técnicas
Era uma técnica de meditação que eu usava na altura: pegava numa ideia, registava-a mentalmente num papel imaginário e, com ela na mão, revirava-a mentalmente, concentrando-me nela; depois amarfanhava-a numa bola e deitava-a fora.
David Means, in Granta nº5 (Maio 2020)
01 setembro 2020
mediascape: abjecta
A notícia do dia, a correr nas edições online dos media e nas redes sociais, é um abaixo-assinado a favor do respeito pela objecção de consciência dos pais que não queiram que os seus filhos frequentem a disciplina de Educação para a Cidadania e o Desenvolvimento. Assinaram este bolorento documento, para além dos seus promotores Manuel Braga da Cruz e Mário Pinto, cerca de cem personalidades portuguesas, entre elas, Cavaco Silva, Pedro Passos Coelho, D. Manuel Clemente, Pedro Lomba, Miguel Morgado, Rui Machete, Manuela Ferreira Leite, António Bagão Felix, Adriano Moreira, José Ribeiro e Castro e até o socialista(?!) Sérgio Sousa Pinto. Este grupo peticionário muito homogéneo e conservador insurge-se contra a imposição e a obrigatoriedade da frequência e avaliação dessa disciplina no Curriculum da Escola Pública, alegando falta de liberdade para os pais nas escolhas educativas e uma imposição do Estado em algo que é competência da família.
Programa curricular da disciplina Educação para a Cidadania e o Desenvolvimento. |
Pois bem, tendo em conta o programa curricular conhecido dessa disciplina, aqui reproduzido, onde podem estas luminárias encontrar motivos para objecção de consciência?! Estou mais certo e convencido que aquilo que estes reumáticos mentais pretendem é promover um retrocesso civilizacional e que as liberdades civis que temos vindo a conquistar não se consolidem na sociedade e que um dia possam ser revertidas. Abjecta a consciência destes peticionários.
eis a questão
Aproveitando o embalo do último post, partilho a minha preocupação imediata: a aproximação do início do ano lectivo e as incertezas que me assaltam sobre aquilo que vai acontecer. Tenho estado atento a tudo quanto é dito e escrito sobre o assunto - comunicações oficiais da DGS e do Governo, opiniões publicadas e opiniões avulsas de amigos e conhecidos - e não consigo vislumbrar uma estratégia, uma linha de pensamento segura e acertiva sobre o assunto. A minha criança vai para a escola daqui a quinze dias e ainda não fomos informados de nada: horários, turmas, intervalos, cantina, regulamentos de funcionamento, planos de contingência, medidas de segurança individuais, etc.. São inúmeras as questões e as dúvidas, e nesta incerteza continuo a ponderar não deixar o meu filho ir à escola. Bem sei que não posso mantê-lo refém deste vírus para toda a vida, mas mantenho a minha perspectiva de que é mais importante proteger-lhe a saúde do que expô-lo a riscos desnecessários apenas e só pelo benefício da aprendizagem. Não haverá qualquer perda, se não aprender este ano, aprenderá no próximo. Terá toda a sua vida para o conhecimento.
uma mudança de época
Ontem à noite lia o último jornal de Letras e, nas suas páginas 25 e 26, encontrei um texto de Fernanda Henriques sobre a actual e urgente necessidade de mudança de paradigma, com a revalorização do trabalho das mulheres e a com a ideia de uma economia do cuidado, remetendo e revisitando o pensamento de Maria de Lourdes Pintasilgo. De facto, num contexto de crise global provocada pela Covid, que para além dos problemas de saúde pública, veio evidenciar as fragilidades do nosso modo de vida - capitalista, consumista, globalizado. Tal como já aqui reflecti várias vezes nos últimos meses e já muitos outros o disseram e escreveram, teremos mesmo que parar para repensar naquilo que ambicionamos para a nossa vida e para o nosso planeta. Penso e espero que este não seja apenas um interlúdio temporal para depois regressarmos ao mesmo consumismo desenfreado e irresponsável; espero que esta pandemia que se globalizou seja um ponto sem retorno e permita a mudança de paradigma naquilo que é o entendimento do mundo e que possamos baixar a febre de felicidade imediata e a todo o custo, medida em unidades do PIB, que avassala o planeta (Viriato Soromenho-Marques, no mesmo jornal de Letras - nº 1302). Teremos que pensar "fora da caixa" e libertar-nos das sedutoras e irresistíveis amarras dos consumos imediatos. Ao contrário do que nos tentam fazer crer, é possível existir sem tanta oferta, sem tanto lixo, sem tanta poluição, basta para isso procurar conceber novas estruturas conceptuais para a vida de cada um de nós e, depois, para as comunidades. Procuremos então, e com afinco, uma nova época para um futuro possível para aqueles que nos hão-de sobreviver.
30 agosto 2020
a vida nos bosques
Já não sei onde li sobre este autor e em particular sobre esta sua obra, mas sei que foi o meu fascínio pela possibilidade de isolamento, afastamento e solidão, que me levou à sua descoberta e leitura. Demorei mais tempo do que o habitual para o ler, porque outras leituras e outros interesses se intrometeram. Só agora, em férias, consegui terminá-lo.
Henry David Thoreau (1817-1862) foi um autor de meados do século XIX e, em vida, apenas publicou duas obras, sendo uma delas este "Walden", que é um tremendo e detalhado relato da sua experiência de vida sozinho e isolado, nas margens do lago Walden, rodeado de densa floresta e a quilómetros das povoações vizinhas. É também uma reflexão sobre a essência da existência humana - das suas ambições, necessidades, angustias e curiosidades. Gostei muito desses capítulos em que o autor reflecte sobre a sua existência, sobre o sentido da sua vida e sobre a beleza da vida num ambiente natural, desprovido de materialidades e isento da socialização humana. Gostei menos e até achei aborrecidos os capítulos em que ele se dedica a quantificar cumprimentos, larguras, profundidades, quantidades de pregos e tábuas, espessuras de gelos, etc., etc. Percebo o sucesso, à época, desta singular obra.
Deixei os bosques por uma razão tão boa como aquela que para lá me levou. Talvez por me ter parecido que tinha várias vidas para viver, não podendo desperdiçar mais tempo com aquela. É impressionante a facilidade com que insensivelmente caímos numa determinada rotina e estabelecemos para nós um trilho batido. (...) Quão arraigados os hábitos da tradição e do conformismo! Não quis comprar uma passagem num compartimento fechado para poder viajar defronte do mastro e no convés do mundo, porque de lá podia apreciar melhor o luar entre as montanhas. E não desejo agora descer ao compartimento. (Thoreau, 2018,350)
mediascape: desresponsabilização
28 agosto 2020
gabriela
restaurante Gabriela em Sendim (Miranda do Douro) |
25 agosto 2020
24 agosto 2020
visitas
Tinha três cadeiras em minha casa: uma para a solidão, duas para a amizade e três para reuniões. Quando chegavam visitas em número maior e inesperado havia apenas a terceira daquelas cadeiras para todos, que, em geral, economizavam espaço ficando de pé.
Henry David Thoreau, in "Walden ou a vida nos bosques" (1854).
21 agosto 2020
desinfestação
Hoje, dia em que iremos de férias, é dia também da higienização anual dos meus livros. Aproveitando o facto de que iremos estar ausentes cerca de três semanas, ainda que a espaços alguém venha a casa, acabei de encharcar os móveis e estantes com naftalina. Bem sei que o cheiro é tremendo e insuportável para muita boa gente, um anacronismo em desuso, mas tem sido remédio santo para a praga das traças que me vão devorando os livros. Assim, pelo menos, mantenho-as bem longe e sei que quando regressar vou encontrar um cemitério delas. Bendita naftalina.
19 agosto 2020
tédio
Em férias desde o início do mês de Agosto, permaneço confinado às paredes de minha casa. Apesar de já ter saído uma ou outra vez para passear, a maioria das horas e dias são passadas dentro de casa. Se durante o confinamento, as rotinas estavam estabelecidas e fomos dando conta do recado, agora que já não somos obrigados a estar fechados, os dias e suas horas custam a passar. Sempre fui muito caseiro e sempre gostei de estar em casa, mas tem sido um tormento o tédio que se apoderou de mim. Não me apetece fazer nada: nem ler, nem escrever, nem TV, filme ou série. Não me consigo concentrar em nenhuma tarefa. Apenas me apetece sair daqui. Para onde? Não sei, para lugar nenhum ou para qualquer um. Estou cansado de estar em casa e este tédio estraga-me os dias de "férias".
16 agosto 2020
mediascape:lamentável
Já aqui me referi ao lamentável facto de Lisboa ter acolhido os jogos das fases finais da Liga dos Campeões deste ano, mas só agora, quando a fase dos quartos-de-final já terminou, me apercebi que afinal os portugueses não podem televisionar os jogos. Que raio pode interessar aos portugueses uma competição à qual não podem assistir no estádio, nem assistir à sua transmissão televisiva? A detentora dos direitos de transmissão para Portugal é uma empresa chamada Eleven Sports, que nem eu nem grande parte dos portugueses conhecemos, e que tem um serviço disponível mediante o pagamento de uma mensalidade.
Quando vi o solene e excitado anúncio realizado pelos nossos governantes desta competição, seria expectável que pudéssemos assistir aos jogos. Não, equívoco nosso, afinal não foi um prémio para os portugueses e, em particular, para os profissionais de saúde. É só para alguns, para aqueles que podem e querem pagar para ver. Lamentável.
12 agosto 2020
the literary man hotel
Quando na sexta-feira à noite, dia 31 de Julho, se decidiu visitar as Berlengas nesse fim-de-semana, achámos por bem aproveitar para visitar mais alguns locais da região saloia e, por isso, tratei de procurar hotel para a noite de Sábado para Domingo. A primeira opção que me apareceu no monitor do booking foi este hotel em Óbidos. Espreitei duas ou três fotografias e nem precisei ver outras ofertas, não hesitei e de imediato fiz reserva. Adoraria ter a minha casa, o meu espaço, assim decorada - da cozinha, passando pelos corredores e casas-de-banho, terminando nos quartos. Um conforto.
11 agosto 2020
tanta parra para tão pouca uva
Eu já cá estive há muitos anos. Algures na década de 90 do século passado e a memória que guardei deste lugar em nada se assemelha com aquilo que agora encontrei. Numa perspectiva semiótica, consigo perceber o esforço realizado para a patrimonialização e valorização do território e suas actividades económicas. No entanto, não posso deixar de partilhar a relativa desilusão face àquilo que é promovido e à imagem construída para o turismo nacional e até internacional. Óbidos, ou melhor, o seu casco histórico é um lugar bonito e bem preservado, mas a sensação com que fiquei encaixará na perfeição no velho e popular dito: "tanta parra para tão pouca uva".