31 agosto 2009

internacionalização

Dear Paulo Castro Seixas, Luís Vale, and Jorge Morais Sarmento,
The Scientific Committee of the I International Conference on Intercultural Studies is glad to inform that we have accepted your essay "Culture as Translation: An ethnographic exercise on dialogue" for publication in the collection "From Here to Diversity:Globalization and Intercultural Dialogues", with Cambridge Scholars Publishing, scheduled for 2010.
Soon we will be sending the respective contributor agreement and further instructions.
Congratulations for the quality of your essay.
With our very best regards,
The Scientific Committee of the I International Conference onIntercultural Studies

24 agosto 2009

dias de festa

Eram dias de nomeada na vila, recheados de festivas actividades e sacros momentos que terminavam, invariavelmente, madrugada dentro com aparatosos arraiais, repletos de luz e som que inundavam grande parte da vila. O palco da festa era sempre o mesmo, porque único com capacidade para acolher os milhares de foliões que vinham, ano após ano, de todos os recantos do concelho e redondezas. Nesse recinto não faltava qualquer ingrediente, daqueles que tradicionalmente animam os santos e seus fíeis: do algodão-doce aos carrinhos-de-choque, das farturas aos Rayban's magrebinos, sem esquecer, claro, a banda ou artista que animavam cada noite da festividade. E porque de uma grande festa se tratava e o dinheiro aparentava abundar, eram chamadas várias celebridades, tentando assim cuidar de todos os gostos. Por fim, um parágrafo para aquilo que nunca, mas nunca, faltou: a zaragata ou escaramuça que animavam aqueles, os pândegos, que se deixavam ficar por ali e para o fim da festa. Destes, havia aqueles que acabavam a noite na urgência do hospital local, enquanto que os outros, a grande maioria, acordavam no dia seguinte perdidos num qualquer lameiro ou num qualquer palheiro, esquecidos daquilo que acontecera e prontos para mais um dia de festa.

17 agosto 2009

rostos difíceis

As voltas que já dei para recuperar o teu rosto. O esforço que continuo a fazer para o localizar. Há rostos assim, difíceis de encontrar: seja pela sua beleza, pela sua singularidade, pela sua estranheza, pelo seu recorte, pelo seu exotismo, etc. De tão bem que os guardámos na memória, a custo os conseguimos resgatar. O teu foi um dos tais, mas finalmente consegui colocar-te num espaço e num tempo passados.
Conheci-te há uns anos atrás num café que nunca cheguei a saber o nome. Era final de Verão. Fui levado até ti num grupo de amigos que, ritualmente, saltavam de café em café, de consumo em consumo até à exaustão da madrugada. Concerteza, iríamos a caminho de outro lugar e essa foi apenas mais uma paragem para ingerir quantidades estúpidas de alcool…
Foi o estado ébrio de então e a posterior amnésia que me fez remeter o teu rosto para o fundo da memória O que sorrimos, o que dissemos, o que pensámos não guardei. Nem sequer o teu nome. Daí saímos para acabar a noite, essa noite, num qualquer bordel da cidade, enroscados em sabores vulgares vindos, a soldo, dos trópicos.
Encontrar-te passados todos estes anos, obrigou-me a suplementar diligência e, apesar de ainda ter procurado nas tuas expressões um sinal de que eu estaria algures na tua memória, também aí nada consegui. Esse instante passado nada mais foi do que um breve e bonito espaço-tempo da nossa vida.

12 agosto 2009

agora é oficial

Hoje, por volta das 15 horas fomos ao tribunal de Bragança oficializar a candidatura do Bloco de Esquerda às eleições legislativas. À entrada do tribunal conversámos com a Comunicação Social Regional, que aparentemente está também (e merecidamente, digo eu) na sua Silly Season. Fica o agradecimento ao amigo João Cunha que aceitou o meu convite para mandatário da lista, ao José Soeiro da Comissão Política do BE por ter vindo apoiar a nossa candidatura, aos jornalistas que estiveram presentes e a todos os restantes membros da jovem lista. De resto, enquanto cabeça desta lista, assumo todas as responsabilidades inerentes ao desafio e em relação àquilo que viermos a fazer e a conseguir.

Espelhos outros (em actualização):
- http://tinyurl.com/ntfb78

- http://tinyurl.com/lmyrqs

- http://tinyurl.com/m3ycwn

- http://tinyurl.com/lsva3x

instantes urbanos VII

Mal acabado de parar o carro em frente a casa, depois de uma noite inteira a ordenar listas, nomes e certidões para os processos eleitorais que se avizinham, estou à conversa com um amigo com quem a espaços convivo. Somos abordados por um casal de idosos que, num tom sofrego, nos questionam se algum de nós tem carro. Não alcançando desde logo aquela abordagem, com algum receio dizemos que sim. A explicação vem logo de seguida:
- Sabe, eu estou muito mal. Os senhores podiam levar-nos à urgência? É que não temos carro e eu não consigo chegar lá a pé... - diz-nos a senhora, visivelmente incomodada com uma qualquer dor.
- Concerteza, vamos lá. - Respondo eu, surpreso pelo pedido.
Durante o curto percurso e já quase a chegar ao hospital, resolvo aconselhá-los para, em situações semelhantes, chamarem uma ambulância. Só que a sua resposta foi completamente esclarecedora:
- Mas nós não temos telefone. Ainda tentamos ir ao café, mas já estava fechado.
- Pois. - Digo eu desarmado. - Assim é mais difícil.
Lá chegamos à porta da urgência e os deixámos. Agradeceram a amabilidade e já no regresso o meu amigo diz-me que acabáramos de fazer a nossa boa acção do dia (noite).
Despedimo-nos no mesmo sitio.
Na manhã seguinte, e tal como faço diariamente, abro a porta traseira do carro para pousar a pasta e dou de caras com um nota de 20 euros cuidadosamente pousada (mas visível) no chão do outro lado do carro. A boa acção da noite anterior afinal foi uma prestação de serviço e, por sinal, bem paga. Obrigado.

07 agosto 2009

04 agosto 2009

Novas Ruralidades

Nos passados dias 20, 21 e 22 de Julho estive em Ortigueira (na Corunha) – pequena e isolada localidade do norte da Galiza encostada ao oceano Atlântico, de onde (crê o povo) nos dias mais claros se consegue avistar a Inglaterra. Ortigueira é, principalmente, conhecida por aí se realizar, anualmente, o maior festival do mundo de música inter-céltica. Durante esses dias participei num encontro promovido pela Universidad Internacional Menéndez Pelayo, subordinado ao tema “Novas Ruralidades na Galiza”, onde técnicos e investigadores de várias áreas do saber reflectiram e discutiram os territórios rurais galegos, analisando a sua história, percebendo a sua actualidade e tentando perspectivar possíveis futuros. Regressado ao lado de cá, dou de caras com a notícia do “Estudo sobre a Pobreza na Região Norte de Portugal” elaborado pelo Centro de Estatística da Associação Nacional das PME e pela Universidade Fernando Pessoa para a Comissão Europeia, que indica Trás-os-Montes como a Sub-Região mais pobre dos 27 países da União Europeia.
Mais do que discutir este documento, gostaria de reflectir acerca da ruralidade que sempre vivemos, da ruralidade que actualmente existe e daquela que nos querem impor. Devemos partir do princípio que o rural se distingue do urbano (espaços, lugares, tempos, espaço-tempos e modos de vida) e que a questão principal será determinar os limites de uma e outra realidade. Esta limitação permitirá perceber as diferentes construções imaginárias de identidades, nomeadamente: a ideia de prestígio associado à vida nas cidades, o fascínio das luzes da cidade, o prestígio de ser migrante: comodidades, dinheiro e aparência, o atraso e a estática rural por oposição à dinâmica da cidade. Portanto, para podermos falar de ruralidade(s) teremos que ter sempre em consideração os processos de urbanização e, mais recentemente, os de metropolização – enquanto capacidade de atracção de indivíduos (rotinas, hábitos e consumos) por parte das cidades e suas regiões. Em Portugal e segundo João Ferrão e Duarte Vala (2002), existirão 4 cidades/regiões com potencial de metropolização – Lisboa, grande Porto, Algarve e região triangular entre Viseu, Aveiro e Coimbra, o que remeterá o restante território para uma existência sem grande capacidade de atrair novos indivíduos e novas actividades. No que a Trás-os-Montes diz respeito, todos já sabemos, por experiência própria e pelos constrangimentos históricos, a situação de extrema periferia em que vivemos e que agora o PROT N vem relembrar e, acima de tudo, legitimar e prolongar por mais algumas décadas.
Falar do mundo rural na actualidade é falar de um mundo em profundas mutações, cujas actividades económicas, dinâmicas sociais e valorizações materiais e simbólicas têm evoluído em vários sentidos. Para além disto, assistimos nos últimos anos a um crescente consumo dos símbolos rurais: a explosão do turismo rural foi o expoente máximo desse consumo; a “descoberta” dos certames temáticos de cariz local (feiras de fumeiro, de caça, de pesca, de produtos da terra, etc) que valorizam aspectos e produtos tradicionais locais; a folclorização de certas actividades agrícolas (matanças, ciclos de produção, etc) e recreativas (grupos de caretos e grupos de gaiteiros, ressurgimento de tradições sagradas e/ou profanas) revivalistas de tempos idos; a destradicionalização, ou seja, a procura de novas formas de expressão em cada momento/actividade (alheiras de Bacalhau, grupo de pauliteiras ou experiências gourmet com o fumeiro) que ao mesmo tempo que mantêm a referência cultural procuram a inovação e a diferenciação; a agricultura biológica que se vende à custa de uma imagem vegetariana, naturalista e saudável; o turismo da natureza (normalmente associado à prática de desportos de aventura e de conhecimento); a preservação e reconstrução de património construído – arqueológico (castros, fornos de telha).
Para um melhor entendimento do imaginário rural será preciso também ter em conta os actores sociais que permitem este novo cenário. Hoje em dia podemos identificar diferentes tipos de indivíduos no espaço rural, que se caracterizam por interesses divergentes, mas que se manifestam num mesmo território. Utilizando uma classificação de Paulo Castro Seixas, diria que temos: a) os sobreviventes – aqueles que apesar de tudo permaneceram e trabalham no rural (…que nos remetem para o conceito de resistência); b) novos pendulares – aqueles que apesar de trabalharem no sector secundário e terciário e num espaço urbano, optaram por viver no espaço rural e no seu dia-a-dia viajam entre os dois “mundos”; c) os regressados – aqueles que depois de uma vida de trabalho noutras geografias e noutros contextos laborais, regressam à comunidade rural de origem; d) consumidores rurais – todos aqueles que, tal como vimos atrás, procuram os símbolos rurais como divertimento, férias, descanso, aventura, etc; e) investidores rurais – aqueles que apesar de urbanitas procuram o rural e adquirem um espaço, que adoptam como sendo “seu”. Uma casa, uma quinta, uma propriedade, etc. Muitas vezes trata-se de puro investimento; f) novos rurais – a chegada de estrangeiros que no país de origem tinham um modo de vida urbanizado e cá optam por se estabelecer numa comunidade rural. Outro exemplo são os novos povoadores que saem das cidades e procuram novas oportunidades no interior rural do país (até existe uma empresa que fomenta e incentiva essa movimentação).
Os habitantes das comunidades rurais, ao contrário do que possam pensar, não têm o poder e a influência de decisão na construção dos seus futuros. Por muito que se inventem novos programas e incentivos para o desenvolvimento local, por muito que se venda o discurso da valorização dos recursos naturais e culturais, serão sempre interesses exógenos a ditar o presente e possíveis futuros. Interesses que não são mais do que respostas procedentes de certas classes urbanas e grupos sociais que, utilizando diversas estratégias, se sentem legitimadas para decidir o futuro das comunidades rurais, sem ter em conta, normalmente, a opinião dos locais do mundo rural.
Por último, assumir que os dados aqui apresentados mais do que certezas serão dúvidas e, por isso, mais do que afirmações, devem ser entendidas como meras hipóteses que importa estudar e/ou explorar. Serão ou não novas ruralidades? Serão ou não, sequer, ruralidades? Não creio. O rural está na moda, vende-se e por isso, actualmente, valoriza-se. Apenas.
(texto enviado para o Jornal Nordeste e publicado hoje, dia 4 de Agosto)