31 janeiro 2012

da imprensa...


Eu nem aprecio muito o estilo e o ideário deste senhor jurista, mas hoje e aqui esteve particularmente bem.

28 janeiro 2012

bons vizinhos

O Horácio vivia numa moradia nos arredores de uma pequena cidade do interior do país e tinha por vizinho um jovem casal de bancários que habitavam a casa ao lado. Sem grandes entusiasmos ou empatias, os dois casais coabitavam em sã e cordial vizinhança. O Horácio tinha um cão de Gado Transmontano que passava os dias pelas extensas áreas exteriores da casa, numa típica e pachorrenta vida de cão, ladrando apenas quando alguém tocava à campainha ou a quem se aproximava demasiado do seu território. Na casa ao lado vivia também um cão que, apesar de rafeiro, tinha acesso privilegiado a toda a casa, onde aliás passava maior parte do seu tempo. Este rafeiro, apesar do seu aspecto franzino, era temperamental e muito agressivo para com estranhos e, especialmente, para com outros animais. Escusado será dizer que sempre que se via livre, o seu passatempo predilecto era ir provocar o cão da casa ao lado, reclamando sempre o seu imenso território, mas sem nunca ter motivado mais do que alguns rosnares de aviso. O Cão de Gado não reagia nem se importunava com tais provocações. Os seus donos sabiam disso e viviam tranquilos. 
Certo dia, para espanto de Horácio, o seu cão aparece com o outro entre os dentes, sangrado e todo sujo, já morto. Surpreendido com a atitude do seu próprio cão e sem saber como reagir, até porque Horácio sabia perfeitamente a estima que os vizinhos tinham pelo rafeiro, resolve omitir tal acontecimento. Primeiro, decide lavar e tratar das feridas do cão morto. Depois, esperando pelo cair da noite, leva o cão ao colo até ao muro das traseiras que divide as duas propriedades, verifica se ainda há luzes na casa vizinha e atira o cão morto, por cima do muro, para o outro lado e regressa em silêncio para dentro de casa. 
Passados não muitos dias, os dois vizinhos encontram-se à porta de casa e cumprimentam-se. Horácio, receoso que o vizinho o questione acerca do seu cão, tenta esquivar-se, mas o vizinho logo o interpela:
- Sr. Horácio, nem sabe o que me aconteceu... Deve andar por aqui algum espírito mau, alguma bruxa ou mau olhado!
- Aí sim?!.. Não me diga?!... - questiona o Horácio, ensaiando uma expressão de admiração, mas consciente que já não irá escapar e que terá que admitir o sucedido.
- Pois é. Então não é que aqui há dias, o meu cão morreu e eu enterrei-o lá trás no quintal da casa e passados dois dias ele apareceu-me lavado, deitado em cima da relva do quintal. 
- Ah! Que estranho. Isso é muito estranho. - comentou Horácio aliviado e ao mesmo tempo certo da asneira que tinha cometido.

24 janeiro 2012

cinco anos depois...

No dia em que assinalo o quinto ano completo de existência deste meu lugar, para além de registar o facto e manifestar a satisfação e o prazer que tem sido manter o Apurriar, gostaria de reflectir acerca de uma outra dimensão que está inerente à condição de blogger e à condição do próprio acto de escrever. Falo da responsabilidade por tudo aquilo que aqui é escrito e registado e da necessidade de estar permanentemente consciente de que aquilo que é publicado, será lido, interpretado e compreendido heterogeneamente por cada um dos seus leitores. E aquilo que à partida - momento solitário na ideia, egoísta na escolha das palavras e, muitas vezes, misantropo na escrita - é claro e objectivo, transforma-se à chegada - momento de leitura - em objecto extremamente difuso.
Decorre esta reflexão do facto de ter sido, neste último ano e pela primeira vez, confrontado com sentimentos de ofensa e indignação por palavras aqui escritas. De facto, nunca até agora tinha reflectido sobre a ténue fronteira que pode existir entre a opinião e a agressão. De qualquer forma, sei, porque sou o único responsável por tudo o que aqui está depositado, que em nenhum momento escrevi com a consciência e a intenção de ferir, magoar ou ofender quem quer que seja. Se aquilo que afirmo e escrevo agrada ou não, se é recebido por unânime concordância ou não, nunca foi preocupação, pois até gosto de uma boa dose de polémica e de um aceso contraditório, mas ao contrário daquilo que o próprio nome do blogue indica, nunca foi objectivo apurriar alguém. Se o fiz peço desculpa, sabendo sempre que tal, ainda que involuntariamente, poderá voltar a acontecer. Obrigado.

23 janeiro 2012

sempre mãe

21 janeiro 2012

no rio douro...

...literalmente.

18 janeiro 2012

festa do livro

Pois assim foi a minha primeira passagem pela 4ª festa do livro a decorrer até 29 de Janeiro na Fundação Cupertino de Miranda. Ainda lá regressarei, mas entretanto, trouxe comigo:
- Baudelaire, Charles (2001), Os Paraísos Artificiais, Lisboa, Guimarães Editores;
- Zola, Émile (1998), Acuso..., Lisboa, Guimarães Editores;
- Kafka, Franz (2008), A Metamorfose, Lisboa, Guimarães Editores;
- Lima, Conceição (2010), Manual de teoria da tradução, Lisboa, Edições Colibri;
- Morais, J. A. David de (2010) Religiosidade Popular no Alentejo, Lisboa, Edições Colibri;
- Payne, Stanley G. (2006), A Guerra Civil de Espanha, a União Soviética e o Comunismo, Lisboa, Editora Ulisseia;
- Loureiro, Virgílio e Moreira, Manuel Belo (coord.) (2001), O vinho, a história e a cultura popular - actas de congresso, Lisboa, ADISA;
- Partridge, Christopher (2006), Enciclopédia das Novas Religiões, Lisboa, Editorial Verbo;

17 janeiro 2012

taxi driver...

Há dias assim, em que sinto que nada mais faço do que ser motorista de um táxi.

16 janeiro 2012

intensa cruzada

O fim-de-semana trouxe, pelo menos, mais estes dois contributos...

14 janeiro 2012

espantadas ficam...

Amigas próximas, ao saberem que vivo quase exclusivamente dentro de casa e que sinto muita falta de estar sozinho, perguntam-me se não me chateio ou se o tédio não ganha terreno, ainda por cima vivendo confinado a uma pequena divisão, à qual se instituiu chamar "escritório", é para elas impensável e estupidificante. Pois bem, é sempre com enorme prazer e satisfação que lhes digo, de boca cheia, que às vezes chateia-me ter que me ausentar e sair de casa. Espantados rostos.

bater duas vezes...

"Quando cheguei à Ilha era só Xana
Mas em todas as portas eu fiz Toc Toc
Agora todos sabem quando bate alguém
É a Xana Toc Toc"
(...)
"Quem bateu à porta mais que uma vez
Nem uma nem três"
 (...)
"São duas vezes que toco
Para saberem quem é"

Nos últimos dias, semanas, meses, cá em casa, sempre que é preciso entreter o petiz, pomos a tocar este video da Xana Toc Toc. E não é que o raio do puto fica preso à imagem e não se cansa de ouvir e ver essa música. De tantas vezes a ter ouvido, já sei a letra de cor, mas só muito recentemente - para dizer a verdade, hoje - atentei na letra da mesma. Alguém que para ser identificado bate duas vezes seguidas nas portas. Na realidade isso também acontece e eu até sei de algumas pessoas que quando têm que bater a uma porta o fazem sempre em dose dupla, tal qual um sinal personalizado, na expectativa de esse toque ser reconhecido e associado à sua pessoa. Se resulta ou não, não sei. Mas que é prática recorrente por aí e por aqui, é. E já agora fica o vídeo para se poderem fartar também.

11 janeiro 2012

aulas inéditas...

Na edição deste mês de Janeiro do Le Monde diplomatique – edição portuguesa, II Série, n.º 63, são publicados dois textos de Pierre Bourdieu (1930-2002) correspondentes a duas aulas dadas no Collège de France, em 1990. Apesar da distância temporal ambas as aulas são, sem dúvida e com muita clareza, nossas contemporâneas.
No primeiro texto, intitulado "Como se fabricam os debates públicos", Pierre Bourdieu começa por nos apresentar e fazer uma descrição do Homem Oficial, enquanto ventríloquo que fala em nome do Estado, que adopta uma postura oficial e fala por todos e em lugar de todos, fala como representante do universal. Depois, parte para a noção moderna de opinião pública e levanta a seguinte questão: O que é essa opinião pública? Segundo o autor, é tacitamente a opinião de toda a gente, da maioria ou dos que contam, dos que são dignos de ter uma opinião. As comissões oficiais consistem na criação de grupos constituídos de tal forma que apresentem todos os sinais exteriores, socialmente reconhecidos e reconhecíveis, da capacidade de exprimir a opinião digna de ser expressa, e nas formas conformes. Substituem assim os cidadãos na liberdade e na capacidade democrática de criar e gerir essa opinião pública, ou seja, a comissão constitui uma opinião pública esclarecida que vai instituir a opinião esclarecida como opinião legítima, em nome da opinião pública. Será no processo de construção dessas opiniões públicas que Pierre Bourdieu insere os atributos das sondagens, enquanto instrumentos ao dispor dos "esclarecidos" para imporem suas opiniões junto dos "menos ou não-esclarecidos". Uma das características das sondagens, escreve este autor, consiste em pôr às pessoas problemas que elas não se põem, em insinuar respostas a problemas que não puseram; em impor, por consequência, respostas. Trata-se de facto de se impor a toda a gente questões que a opinião esclarecida se põe e, dessa maneira, de produzir respostas de toda a gente sobre problemas que alguns se põem, e, portanto, em dar respostas esclarecidas, visto estas terem sido produzidas pela pergunta; fez-se assim existir para as pessoas questões que não existiam para elas, quando o que para estas era questionável era a pergunta. Quando se fala de opinião pública, joga-se sempre um jogo duplo entre a definição confessável (a opinião de todos) e a opinião autorizada e eficiente que é obtida como subconjunto da opinião pública democraticamente definida. A verdade dos dominantes torna-se a verdade de toda a gente. Por último neste texto, Bourdieu fala da necessária teatralização da instância oficial para ser oficial: é preciso atribuir a fé na instância oficial, para se ser um verdadeiro oficial. O desinteresse não é uma virtude secundária, é a virtude política de todos os mandatários. As estroinices dos padres ou os escândalos políticos são o desmoronamento da espécie de crença política em que toda a gente está de má fé, sendo a crença uma espécie de má fé colectiva... um jogo em que toda a gente mente a si mesma e mente aos outros sabendo que os outros mentem.
No segundo texto, intitulado "As duas faces do Estado", Pierre Bourdieu começa por escrever que descrever a génese do Estado é descrever a génese de um campo social, de um microcosmo social relativamente autónomo no interior de um mundo social englobante. A génese do Estado é um processo no decurso do qual se opera uma série de concentrações de diversas formas de recursos: de recursos informacionais e de capital linguístico. Este processo de concentração é paralelo a um processo de despossessão: constituir uma cidade como a capital, como lugar onde se concentram todas as formas de capital, é constituir a província como despossessão do capital; constituir a língua legítima é constituir todas as outras línguas como patoás. a cultura legítima é a cultura garantida pelo Estado, garantida por esta instituição que garante os títulos de cultura, que fornece os diplomas que garantem a posse de uma cultura garantida. Os programas escolares são assunto de Estado; mudar um programa é mudar a estrutura de distribuição do capital, é fazer desaparecer certas formas de capital. Esta concentração é ao mesmo tempo uma unificação e uma forma de universalização. Onde havia coisas diversas, dispersas, locais, passa a haver uma coisa única. A partir daqui Bourdieu aborda as distinções entre a dimensão local e a dimensão global ou universal, dando destaque à importância da Escola como potenciadora do valor patrimonial de quem acede aos bancos da escola.

09 janeiro 2012

história da vida de um livro...

Encomendei no passado dia 5 de Janeiro este livro na Amazon.uk e hoje dia 9 de Janeiro já o tenho comigo. Mas aquilo que me surpreendeu, ou melhor, aquilo que me chamou a atenção foi o estado e a aparência do livro que comprei. Para reduzir custos, tal como faço quase sempre, escolhi um exemplar "used" mas com a qualificação de "good", o que normalmente faz com que receba livros ainda por estrear, semi-novos ou com pequenos defeitos. Desta vez, o livro chegou-me às mãos com as marcas dos anteriores proprietários. Neste caso, o selo de catalogação da biblioteca à qual pertencia e também a assinatura de um dono, que tal como eu faço, o rubricou nas primeiras páginas. Fico assim com a informação que este livro pertenceu pelo menos a dois proprietários antes de viajar até Portugal. Mais, o livro está todo sublinhado a amarelo e denota muito manuseamento. O que, num primeiro momento, estranhei, mas depois gostei. Como seria interessante fazer um estudo (só agora pensei nisto e não sei se já algum dia alguém o fez...) sobre o percurso que um livro pode fazer, ou quais as geografias que um livro conhece durante a sua existência. Para tal, poderiam fazer como os biólogos fazem com os animais selvagens, colocando-lhe no dorso um sistema de localização permanente - vulgo GPS.

05 janeiro 2012

do cancioneiro popular...

"o meu nome é só... amar-te,
o meu sobrenome... querer-te,
meu apelido... adorar-te,
minha alcunha... merecer-te."
(in Alexandre de Carvalho Costa, 1982)

03 janeiro 2012

a comprar...

"Quem era Luiz Pacheco, afinal? Um homem que o Portugal de hoje não merece. E, para dizer a verdade, o do tempo dele também não. O homem que diria a esta tenebrosa turba que nos governa e à mancha de mediocridade que a rodeia "Vão para a puta que os pariu!"." (Sérgio Lavos in Arrastão)

02 janeiro 2012

não presentes de natal

Destes dias transmontanos e frios, trouxe mais um conjunto de leituras:
- Policarpo, Lopes (2010), Para uma Sociologia do Catolicismo, Lisboa, Rei dos Livros;
- Levisky, David Léo (2011), Entre elos perdidos, Rio de Janeiro, Imago Editora;
- Covas, António (2007), Ruralidades I - temas e problemas do mundo rural, Faro, Universidade do Algarve;
- Covas, António (2007), Ruralidades II - agricultura multifuncional e desenvolvimento rural, Faro, Universidade do Algarve;
- Covas, António (2008), Ruralidades III - temas e problemas da ruralidade pós-agrícola e pós-convencional, Faro, Universidade do Algarve;
- Covas, António (2009), Ruralidades IV - retratos portugueses de agricultura multifuncional, Faro, Universidade do Algarve;
- Covas, António (2010), Ruralidades V - modernização ecológica, serviços ecossistémicos e riscos globais - a ruralidade do nosso tempo, Faro, Universidade do Algarve;
- Bruck, Gabriele vom e Bodenhorn, Barbara (2009), The Anthropology of names and naming, New York, Cambridge University Press;

LER

Primeira do ano, que saiu ainda no ano anterior, pouco interessante. Foi rapidamente lida. Está.

01 janeiro 2012

abrindo presentes de natal...

2012

Habituemo-nos ao dígito que representa este ano, pois o anterior é já arquivo e rapidamente passará às calendas da história. Agora, 2012. O que esperar? Quais os planos e ambições para este novo ano?
Pois bem, tendo em conta a mentalização colectiva para a austeridade e para o empobrecimento, tendo em conta tudo aquilo que foi profetizado para estes tempos, aquilo que espero e pretendo, para além dos lugares-comuns da saúde e da felicidade, não é muito. Mas isso não significa ter interiorizado esse discurso do medo e do fado nacional que alguns teimam em espalhar por cá. Não, o pouco que espero em relação a este novo ano será mais ou menos idêntico ao que sempre ambicionei para os anos anteriores - trabalho e alguma qualidade de vida. Mesmo assim, para este ano poderei destacar alguns dos projectos que tentarei concretizar:
- Defender uma tese académica;
- Editar os dois trabalhos que estou a realizar;
- Efectivar o projecto televisivo;
- Participar em dois congressos internacionais;