31 dezembro 2012

2013 para mim

Pois cá está um novo ano e este terminado em três, o que significa para mim o completar de mais uma década de existência. Pois é, será o ano em que completo quarenta anos. Dependendo do ponto de vista, poderão dizer que ainda só, ou então que são já..., ainda assim prefiro o pragmatismo do tempo que passa por mim e por todos os outros. Para este próximo ano e num contexto como aquele que vivemos, será avisado apenas solicitar a mesma qualidade de vida que tenho tido até aqui. Sem grandes ambições e sem grandes planos, pois percebi já que não mudarei o mundo, viveremos aquilo que pudermos. Vamos lá.

instante urbano XXII

No regresso do almoço, entro na sala onde tinha estado nos últimos dias a recolher dados e encontro a técnica do Arquivo Distrital de Bragança a auxiliar outra pessoa que procurava informação. Pela conversa percebo que se trata de uma jovem brasileira que veio a Portugal em busca das suas origens, dos seus antepassados. A dificuldade é que apenas sabia um nome e o ano em que nascera (1901). A técnica lá a foi ajudando até que, através dos registos paroquiais, lá conseguiu encontrar esse seu antepassado. A alegria e satisfação da descoberta manifestou-se num choro incontido que lhe turvou os sentidos e a obrigou a pedir ajuda na leitura. À medida que foi ouvindo a informação a comoção aumentava, até ao momento em que também já era a técnica do Arquivo quem soluçava e tentava segurar as lágrimas. E eu ali ao lado, fazendo de conta que estava concentrado no meu trabalho e na minha música. Por fim, exclarecida, pede uma cópia do documento e uma certidão. Ligou para a Avó (que seria a filha desse seu familiar) e conta-lhe o que conseguiu descobrir. Prometeu-lhe que a iria visitar para lhe mostrar os documentos e desligou. De imediato faz outro telefonema, julgo que para o Brasil, e conta a sua aventura. Quando desligou já tinha à sua frente as cópias e a certidão. Agradeceu e disse que iria de imediato à procura da aldeia, lugar onde esse seu antepassado nasceu, viveu e morreu. Mesmo tendo consciência de que esta é uma experiência idêntica a tantas outras, não deixa de ser impressionante a força de determinados sentimentos. Aquela jovem, descendente de portugueses, jamais conheceu esse senhor, mas a sua referência concerteza terá sido uma presença constante na sua vida e na vida da sua família. Impressionante, para mim, é a importância da memória e a necessidade de a estudar. Aqui, ali ou acolá, ontem, hoje ou amanhã, queremos pertencer a algo ou a alguém.

11 dezembro 2012

o coronel

Ouço as birras da minha criança, daquelas típicas de alguém que não sabe ainda nada de vida e de quem pensa que podemos e devemos ter tudo e ter mais e ocorre-me ao pensamento esta imagem. O "Coronel" junto de uma das suas habitações - pegava-lhes fogo e abandonava-as sempre que era visitado por uma cobra ou lagarto. O "Coronel", assim era tratado e assim ficou na memória daqueles que o conheceram, viveu grande parte da sua existência no monte e pelo termo da aldeia de Vila Boa, em Vinhais, sozinho e, com a excepção do vestuário, despido de qualquer caracter de civilização. As suas casas eram as casarolhas que os lavradores construíam para abrigo nos terrenos longe da aldeia. Viveu com fome e frio. Comeu, bebeu, fumou e vestiu apenas o que lhe deram. Só aparecia na aldeia quando tinha muita fome e o fim veio, assim, com uma dor forte de barriga, daquelas que nos últimos tempos o importunavam e de que ele se queixava. Viveu e morreu só.

Le Monde


Mais um excelente número do Jornal Mensal.

08 dezembro 2012

para adquirir e conhecer...

Na excelente 119ª edição da revista LER, Bruno Vieira Amaral escreve sobre o livro de Nicholas Carr "Os Superficiais - o que a internet está a fazer aos nossos cérebros". Só o título prende-me os sentidos e a curiosidade aumenta depois de ler a respectiva recensão. Nicholas Carr tenta responder à questão: Que implicações pode ter a internet - e todo o ambiente que o rodeia - no cérebro humano?
Já agora e enquadrado pela quadra natalícia, se por um mero acaso, alguém pensar oferecer-me algo, aqui está uma rica prenda. Obrigado, mesmo assim.

literatura oral e marginal

Quando frequentei o segundo ou terceiro ano do curso da Antropologia, uma das cadeiras opcionais dava pelo nome de Literaturas Orais/Marginais. Nesse ano fui dos poucos alunos do curso a escolher essa cadeira. Pouco ou nada recordo do programa, da professora ou do que aprendi, mas houve um pormenor que guardei na memória até ao presente. Uma das referências bibliográficas centrais dessa disciplina era um livro altamente alternativo e que se chamava "O guardador de retretes". Nunca o cheguei a ler, consultar ou sequer conhecer. Sei que mesmo depois de acabar o curso e ao longo de todos estes anos, guardei essa referência e cheguei mesmo a procurá-la, mas sem sucesso. Até que hoje, na Fundação Cupertino de Miranda e ao visitar mais uma "feira" de livros, o encontrei, numa 4ª edição e versão mais recente (2007). Finalmente.

07 dezembro 2012

Ler, 25 anos depois...

genericamente, dos últimos seis meses, particularmente, de uma feira do livro

- Conde, Santiago Prado (2010), Conferencia Internacional da Tradición Oral - volumes I e II;
- Gué, António Sá (2012), Quadros da Transmontaneidade, Lema de Origem;
- Fernandes, Hirondino (2012), Bibliografia do distrito de Bragança - série Escritores, Jornalistas, Artistas - volumes II e III, Bragança, Câmara Municipal de Bragança;
- Feio, Rui (2012), Roteiro do Culto Mariano em Terras de Bragança e Zamora, Bragança, Câmara Municipal de Bragança;
- Sobral, José Manuel (2012), Portugal, Portugueses: uma identidade nacional, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Ribeiro, Gabriel Mithá (2012), O ensino da História, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Silva, Mónica Leal da (2012), A crise, a família e a crise da família, Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos;
- Madruga, Francisco (2006), Novos tempos, velhas culturas, Mogadouro, Associação Cultural e Recreativa de Soutelo;
- Vieira, João Martins (2007), Planeamento e ordenamento territorial do turismo - uma perspectiva estratégica, Lisboa, Editorial Verbo;
- Debord, Guy (2012), A sociedade do espectáculo, Lisboa, Antígona;
- Tolstói, Aleksei K. (2010), O vampiro e a família do vampiro, Lisboa(?), Estrofes & Versos;
- Barbosa, Pedro (2007), O guardador de retretes, Porto, Edições Afrontamento;

22 novembro 2012

presenteado

Nunca fui pessoa para grandes euforias ou grandes entusiasmos para receber presentes. Não me recordo de sentir grandes expectativas em relação às datas especiais de previsíveis surpresas e ofertas. Sem querer melindrar todos(as) aqueles(as) que me têm mimado, não sou pessoa que receba muitos presentes; acho que nunca fui. Gosto muito de presentear aqueles e aquelas que gosto e que de alguma forma quero bem, mas também gosto muito, mesmo, de me presentear e comprar para mim aquilo que mais gosto. Não sou esquisito e opto quase sempre, pois dá-me certo prazer, pelas mesmas coisas. Por nunca estar à espera desses mimos, sempre que alguém me oferta algo é uma surpresa e sabe bem, sentimo-nos queridos e estimados. Saber que alguém, num determinado momento, pensou em nós e associou algo à nossa pessoa... Foi o que me aconteceu por estes dias. Sempre bom.

19 novembro 2012

mediascape: os desistentes

Das notícias que hoje encontrei na imprensa e nos noticiários televisivos, gostaria de destacar esta do Jornal Público e que diz que os emigrantes portugueses de hoje estão a desistir de Portugal e a pedir naturalização nos países de acolhimento. De facto, esta é uma nova atitude, pois mesmo admitindo que muitos daqueles que, durante várias décadas e gerações, partiram em busca de uma vida melhor longe da pátria nunca regressaram, não há registo que esses portugueses algum dia tenham desistido da sua nacionalidade. Nacionalidade essa que compreende um conjunto de identidades pessoais que, por sua vez, se sentem, ainda que involuntariamente, parte de uma comunidade, no caso nação e, em particular, Portugal. É também enquanto membros dessa nação que aprendemos a construir um sentido de diferença para com os outros, para com os estrangeiros, com os quais permanentemente nos comparamos. José Manuel Sobral (que ainda há poucos dias, aqui referi, a propósito do seu ensaio acerca da identidade nacional), afirma que: «Ser-se português não implica partilhar uma qualquer essência ou substância inefável, mas tão-só reconhecer-se a si e a outros como tais, e a outros como diferentes, estrangeiros. As caracterizações ou representações do que era ser-se português nunca terão sido algo de homogéneo e ainda hoje o não são.»(2012:33)
O facto de haver indivíduos que declaradamente escolhem outra nacionalidade é algo significativo e justificará uma análise mais cuidada e um estudo mais aprofundado, pois para além de romper com as lógicas e circuitos tradicionais dos movimentos migratórios, implica um conjunto de questões simbólicas e identitárias, e será, a médio ou longo prazo, uma questão de Estado, na medida em que será a própria sobrevivência da nação que poderá estar em risco. A desistência de uma nacionalidade significa também a desqualificação dessa nação. Em cada um dos casos é a dignidade de Portugal que está em questão. Cada desistência significa que o outro é melhor que nós e em última análise, esse outro passará a ser «nós» e vice-versa.
Este é mais um sintoma - e espero que não passe disso - do mal estar social que em Portugal e nalguns países da União Europeia se sente, consequência directa das políticas gravosas e erráticas que os governos europeus optaram na resposta à actual crise. Um dia, num futuro que eu não adivinho, haverá quem possa reflectir sobre este momento histórico e, ainda que postumamente, fazer justiça e repor a verdade, para que as nacionalidades possam garantir os índices de civilidade e a qualidade de vida mínima para os seus cidadãos poderem e quererem estar e ser nacionais.

13 novembro 2012

mediascape: o odioso

Para o ministro Pedro Mota Soares responsável por essa coisa chamada Segurança Social, os idosos são abandonados pelos seus familiares e depositados nas instituições sociais. Para o ministro, os familiares desses idosos deverão ser perseguidos e responsabilizados, pois a culpa por não poderem tratar dos seus familiares mais velhos, é única e exclusivamente deles. Agora e segundo este novo paradigma, só quem demonstrar que não tem capacidade financeira para cuidar dos mais velhos, poderá recorrer às instituições do Estado. A mesma conversa, o Estado só servirá aqueles que realmente necessitam... Neste caso não é só a questão social que preocupa, mas sim e principalmente, preocupa-me a tentativa descarada de desresponsabilizar o Estado de uma das suas principais e fundamentais funções. Inadmissível. Este é mais um exemplo daquilo que este governo com celeridade está a fazer ao Estado Social. Esvaziá-lo de sentido e serventias aos portugueses, para então depois entregar aos privados, através de pomposas cerimónias e invocando a necessidade de uma prestação de serviço público com qualidade, esses mesmos serviços e prestações sociais. Este ministro, em apenas um pouco mais de um ano de desempenho, conseguiu já o lugar invejado de ministro do ódio social. Parabéns.

le monde

Esta edição sem grandes destaques e com pouco interesse para mim.

Delães

Gosto sempre de regressar a esse lugar e, desconfio, regressarei sempre até ao meu fim. Mas à medida que o tempo vai passando, essas revisitações tornam-se cada vez mais nostálgicas e carregadas de memórias de outro tempo em que lá tudo tinha uma outra dimensão, outro cheiro e outra afectividade. Tudo está agora vazio, sem forma, sem afecto, sem reconhecimento. Nada ou quase me leva lá, apenas e quase só essa memória de rostos, de odores e de momentos vividos. Não importa, voltarei sempre. 

11 novembro 2012

10 novembro 2012

intervenção

Venho aqui falar-vos da parte interior do nosso território nacional. Falo das comunidades que, apesar de serem também Portugal, têm sido historicamente relegados para uma condição sub-alterna que desde sempre cumpriram as suas obrigações para com a nação e a nação jamais, pouco ou nada, retribuiu. É uma das maiores e crónicas injustiças em Portugal, a descriminação negativa e bem negativa dos territórios do interior.
Territórios, comunidades e indivíduos que estão habituados, há gerações, a procurarem vida bem longe de casa.
Territórios, comunidades e indivíduos que estão habituados, e agora mais do que nunca, a verem os serviços públicos encerrarem : dos CTT aos tribunais, das escolas aos centros de saúde e valências hospitalares.
As políticas de austeridade, impostas por este governo afectam, sem dúvida, todos os portugueses e todas as portuguesas, mas afectam sobremaneira e com maior violência aqueles que, não por acaso, fazem ou tentam fazer vida no interior.
Os cortes financeiros, o desinvestimento público, o encerramento de serviços públicos e a não promoção da produção nacional eliminam postos de trabalho, desencorajam o investimento privado e extinguem as actividades económicas tradicionais locais.
O Bloco de Esquerda deverá, terá de assumir esta luta como prioritária. A defesa incondicional do investimento público na saúde, na justiça , na segurança social e na educação. A Escola Pública! - de forma a reestruturar, dentro do possível, o todo do território nacional.
O próximo ano será um ano importante, pois pelo menos teremos as eleições autárquicas e aqui, o Bloco de Esquerda não deverá hesitar em dedicar o melhor que tem em si e de si nesse processo. A capacidade de intervenção dos activistas do Bloco de Esquerda nas autarquias não deve ser desvalorizada ou sequer relativizada; sendo essencial e até estruturante, deverá ser valorizada e até reforçada com uma política autárquica forte que lute contra o desgoverno globalizante e que nos atira ou remete para uma condição jamais experimentada por nós.
Bem sei o esforço que a estrutura do BE tem feito para reflectir e debater as questões relacionadas com a interioridade, nomeadamente nas jornadas da interioridade e também na comissão nacional autárquica, mas o apelo é que esse esforço seja crescente, seja maior, que traga a si a qualidade de cada região.
Camaradas,
Fica o alerta, fica o apelo para que as nossas ideias, os nossos ideais e o nosso projecto político futuro possa também nas autarquias ter lugar.
Obrigado.
(Intervenção do distrito de Bragança)

Francisco Louçã

Hoje quando iniciar a VIII Convenção do Bloco de Esquerda, o Francisco deixará de ser o Coordenador do partido e abandona todos os cargos políticos que até hoje desempenhou. Bem sei, ele já o disse e repetiu, que não vai abandonar o partido nem a luta por uma solução alternativa de esquerda, mas é indiscutivelmente uma perda de monta para o BE. Conheci o Francisco algures em 2004 e à medida que me fui envolvendo no movimento e participando nos diversos fóruns, tive a oportunidade de o ir conhecendo e reconhecendo as suas qualidades enquanto lider, enquanto membro de uma equipa e enquanto comunicador. Foram vários os momentos em que privámos e conversámos acerca de diversos assuntos. O Francisco é um excelente ouvinte. É indesmentível o poder da sua imagem e personalidade junto da sociedade e eu pude testemunhar, por todo o país, o carisma e a empatia que provoca nas pessoas. Não acredito no culto da personalidade, nem que haja pessoas insubstituíveis, mas substituir o Francisco vai ser um desafio para todos os activistas do BE e também para mim. Confesso que tenho dúvidas em relação ao momento escolhido para haver esta mudança e confidencio que preferia que ele se mantivesse no cargo.
(10 de Novembro, a caminho de Lisboa)

VIII convenção do bloco de esquerda

A caminho de Lisboa, aproveito para pensar naquilo que poderá acontecer nestes dois dias em que vamos estar reunidos em Convenção. É um momento dificil para a sociedade em geral e para o partido em particular. Experimentamos, pela primeira vez, uma mudança de liderança, ainda por cima num processo de substituição de um dos lideres e fundadores do partido que marcaram a sua evolução, depois e também porque os últimos resultados eleitorais foram efectivamente derrotas para o BE.
Vou participar nesta convenção enquanto delegado eleito pela moção A, da qual sou subscritor e defensor. Faço parte da lista da moção A candidata à Mesa Nacional, orgão para o qual tenho feito parte desde 2009, mas desta vez não serei eleito, pois para além de previsiveis surpresas a moção B elegeu uma percentagem considerável de delegados, o que na votação inviabiliza a minha eleição. Mas isso não será relevante, até porque tendo aceite integrar a lista, demonstrei disponibilidade para ocupar o lugar, mas a não eleição libertar-me-á de várias responsabilidades. 
Em relação à Convenção não tenho grandes expectativas, pois é mais do que conhecida e pública a composição da próxima liderança. Apoio esta solução, não por ser paritária ou por ser "bicefala", mas por ser protagonizada por dois elementos descomprometidos com as correntes fundadoras do movimento. Aliás, sem qualquer tipo de sectarismo, sabendo que o BE é já muito maior do que a soma dos seus partidos e movimentos fundadores, não compreendo nem aceito a cativação do partido por parte dessas, agora, correntes. Está na hora de alterar essa relação de forças. Para bem do colectivo. Veremos.

08 novembro 2012

uma identidade nacional

Foi com relativa surpresa que vi o nome de José Manuel Sobral associado a esta colecção de Ensaios da Fundação Francisco Manuel dos Santos. Mas também não sei porquê é que estranhei esta colaboração. Em todo o caso, o José Manuel Sobral, doutorado em Antropologia e que, nos últimos tempos, se tem dedicado às questões gastronómicas, aparece aqui com uma interessante reflexão acerca da formação e reprodução da identidade nacional portuguesa. O autor defende que a melhor forma de analisar as identidades colectivas, como as nacionais, consiste no estabelecimento da sua genealogia. Neste ensaio, a História encontra-se sempre presente, através da reconstituição selectiva de momentos e conjunturas marcantes na construção das formas de identificação significadas pelos nomes Portugal - um Estado, que haveria de ser descrito e vivenciado como pátria ou nação - e Portugueses - o nome colectivo dos seus habitantes.
Já o desfolhei e será com curiosidade que o lerei nas próximas horas. Ainda assim, não hesito desde já em recomendar a sua leitura.


07 novembro 2012

mediascape: a ignóbil

Ontem, Ana Lourenço na SICN teve três convidados para falarem acerca do Estado Social. Um desses convidados era Isabel Jonet, presidente do Banco Alimentar Português. Eu, curioso, estive atento, mas logo às primeiras palavras de tal individualidade, não aguentei e mudei de canal. Lembro-me de ter feito um qualquer comentário no Twitter. Insuportável era o seu discurso. Mas hoje, as reacções a esse momento vieram de todo o lado e eu, para confirmar aquilo que tinha sentido, fui então rever, agora na íntegra e com mais atenção, a intervenção dessa boa samaritana. Como é possível haver ainda gente a pensar e a raciocinar desta forma. Parece coincidência mas não é por acaso que é agora, neste contexto social e político, que esta gente de merda tem coragem para falar assim. Que discurso bolorento, que anacronismo. Esta sujeita vive num país espectacular, onde não há miséria e onde a civilidade é marcada por uma caridade aos pobres que existem por aí. O seu discurso, a sua postura e a sua atitude são ignóbeis. Racista de classe que, ao mesmo tempo, precisa dessas classes desfavorecidas e miseráveis para justificar a sua miserável existência. Intolerável. Nojo. Confirmem no vídeo...

a estima

Assim de repente e sem o auxílio de qualquer dicionário, estimar significa querer bem, gostar ou preservar, conservar. As pessoas estimam-se ou não entre elas. Nas vidas quotidianas e dos lugares comuns, partilhados pelos rostos que se vão cruzando, a estima é um elemento simpático e cortês. Frequentemente as pessoas trocam cumprimentos e a cortesia desses encontros fugidios, ainda que assíduos e rotineiros, obriga-as, no momento final desse diálogo, a reforçar a estima que nutrem umas pelas outras, produzindo num curioso pretérito perfeito: - Estimei em vê-lo!

06 novembro 2012

o poder dos livros

"A melhor forma de combater os fascistas religiosos, sejam eles evangélicos, como nos Estados Unidos e no Brasil, judeus, muçulmanos ou hindus, é através da alegria - do sexo, da música, do vinho e dos rojões. 
Além dos livros, claro. Os Americanos teriam feito mais pela libertação dos afegãos se tivessem despejado sobre o país não bombas, mas livros. (...) Os livros realmente mudam o mundo. A boa literatura é sempre subversiva. Todos os totalitarismos temem os livros." 
José Eduardo Agualusa na LER nº118.

Obama,

Today is the day!

05 novembro 2012

mediascape: the cloud

Nota Prévia
Nova rubrica no apurriar. Proponho-me destacar aqui a notícia diária, disponibilizada pelos media que particularmente me atraia os sentidos, numa perspectiva particular e de consciência social, neste mundo difuso e de vertiginosas heterogeneidades. Como título surgiu-me a palavra mediascape, cujo conceito é da autoria de Arjun Appadurai (2004) e refere-se à distribuição da capacidade electrónica para produzir e disseminar informações. O seu aspecto mais importante é que fornecem vastos e complexos repertórios de imagens, narrativas e etnopaisagens a espectadores de todo o mundo. (…) As linhas divisórias entre as paisagens realistas e ficcionais que vêem estão esbatidas. (…) Tendem a ser explicações centradas na imagem, com base narrativa, de pedaços da realidade, e o que oferecem aos que as vivem e as transformam é uma série de elementos, a partir dos quais podem formar vidas imaginadas, as deles próprios e as daqueles que vivem noutros lugares. (Appadurai, 2004:54)
A ver vamos se consigo ser assíduo, pois pontual não posso prometer ser. Acontecerá quando puder, conseguir ou me apetecer.

The Cloud
A notícia chegou-me bem cedo, através da rádio e dizia, citando o Diário de Notícias, que o Governo se prepara para entregar a privados a gestão e manutenção das bases de dados públicas nacionais (defesa, saúde, segurança, etc.) como forma de conseguir cortar na despesa pública. Esse estudo encomendado e tutelado pelo ministro Miguel Relvas foi desenvolvido no âmbito do Grupo de Projecto para as Tecnologias de Informação e Comunicação (GPTIC) e contempla três cenários possíveis, dos quais o mais "vantajoso" para o Estado será uma solução tecnicamente nova, a «Cloud Computing», gerida, claro está, por uma empresa privada. Não sendo conhecedor destes processos, conheço minimamente o conceito enquanto utilizador. Desde logo tenho dúvidas quanto à novidade tecnológica, pois de novo nada tem e já várias empresas disponibilizam aos seus clientes e utilizadores esse espaço virtual e desmaterializado, onde podemos armazenar informação e aceder a ela, a qualquer momento e em qualquer local, através da internet. Depois, o bom senso avisa-me para os perigos duma solução deste tipo: Que tipo de informação pretende lá colocar? Quem vai ter acesso a essa informação? Qual o nível de segurança? A própria concentração de tamanha e tão variada informação parece-me contra-producente, pois para além da questão económica, qual a vantagem de centralizar num só "espaço" e numa só empresa toda a informação? Os níveis de conhecimento devem manter-se isolados e diferenciados. Questões de Estado e informações relativas aos seus cidadãos devem pertencer ao Estado e só. Um Estado soberano e de direito não pode entregar ao desbarato informação vital, apenas porque a sua manutenção e gestão tem custos. Esta notícia revela também o desespero do governo que a todo o custo quer desfazer o Estado e transformá-lo em algo, isso sim, novo e desconhecido. Idiotice. A nuvem é e será sempre apenas e só uma metáfora eficaz e bonita.

04 novembro 2012

LER para Novembro

28 outubro 2012

grande malha

para ouvir alto e com bom som...


25 outubro 2012

crise, serviços e qualidade

Não haverá um português que não utilize o termo "crise" no seu dia-a-dia, com propriedade ou sem ela, com informação ou sem ela, com razão ou sem ela, com hipocrisia ou sem ela, ou com sentido ou sem ele. Na realidade esse termo e todos os seus significados vieram introduzir no léxico nacional um conjunto de étimos que até então praticamente desconhecíamos. A par deste fenómeno linguístico, a "crise" proporcionou também o ambiente ideal para o abandono, por parte do capital, na indústria e no comércio, mormente nas pequenas e médias empresas, levando à presente situação dramática de desemprego e de indigência social e cidadã. Uma das consequências mais gravosas deste processo é o desaparecimento de todo um tecido comercial de pequena escala que não aguenta a pressão e se vê obrigado a fechar portas, deixando o mercado disponível para os grandes grupos e exposto à avidez dos monopólios, o que por sua vez traz, quase obrigatoriamente, um decréscimo na qualidade dos serviços prestados e dos produtos comercializados. Naquilo que é a minha experiência de cliente, noto nalgumas das empresas esse prejuízo qualitativo. Dou dois exemplos: A Fnac que quando se instalou em Portugal e durante muito tempo oferecia um serviço de qualidade na venda de livros técnicos (encomendas, prazos, disponibilidade, variedade, entre outros factores), perdeu substancialmente essa qualidade e agora, para além de um atendimento demorado por falta de colaboradores, por norma não tem e não encontra no catálogo, nem se mostra disponível para a encomenda; A Toys"r"us, originalmente, um mundo mágico para a brincadeira e um baú sem fundo de diversidade, tem as lojas "abandonadas", com poucos clientes e com poucos colaboradores. Pedir um esclarecimento ou uma ajuda tornou-se insuportável, seja pelo tempo de espera, seja pela qualidade dessa interacção. Estes dois exemplos dizem respeito àquilo que foi a minha percepção, por estes dias, em situações concretas. Aquilo que aconteceu com a chegada destas duas marcas - entre outras - ao nosso mercado foi o fim de muitas e muitas pequenas empresas concorrentes que não aguentaram o poderio destes gigantes, ou seja, primeiro rebentaram com o mercado ficando em situação de monopólio ou algo parecido e depois, donos e senhores do mercado, puderam desqualificar esse mesmo mercado. O consumidor é passivo, sujeita-se a qualquer preço e vive dependente de cartões e de dias de promoção. O cliente deixou de ter razão e de ser soberano.

14 outubro 2012

processo civilizacional

Vivemos tempos magníficos. E não o digo com ironia. Pessoalmente considero que o tempo presente, que inclui também o passado recente e o futuro próximo, permite-nos experimentar e conhecer momentos únicos que jamais pensei um dia poderem acontecer. São dias paradoxais e de sentimentos difusos, mas que me cativam e atraem para um maior interesse e crescente envolvimento. O experimentalismo social a que temos vindo a ser sujeitos terá, obrigatoriamente, como resultado um retrocesso civilizacional, o que me impele para um dos lados desse mesmo processo. Estou completamente implicado na luta contra este crime contra a nossa humanidade. Tal como sempre afirmei aqui e noutros fóruns, sou um pacifista e um crente da palavra como arma de qualquer dialéctica. Nunca acreditei nas armas e nas guerras, mas sei da sua utilidade histórica e civilizacional. Neste momento e perante o que os meus sentidos percepcionam, vivo um conflito existencial, pois pressinto que algo grave poderá acontecer. Não gosto muito dessa sensação, mas parece-me inevitável. E num momento como este, permito-me a uma inconfidência. Lembram-se da Carbonária?

07 outubro 2012

diplomatique, c'est le monde...

Sem ainda ter tido tempo de o desfolhar. Tem andado comigo.

04 outubro 2012

se não responder...

Assim são tratados os infelizes dos desempregados. O Estado quer a todo o custo livrar-se deles, nem que isso signifique a maior das indigências individuais e cidadãs. A pressa de actualizar e tentar esconder a triste realidade do desemprego em Portugal, dá 10 dias aos desempregados para poderem manifestar a sua existência. Se não o fizerem são excluídos da base activa dos desempregados e remetidos para um estatuto de não-existência, algures nas catacumbas do respectivo Ministério, permitindo assim mascarar as percentagens desse mesmo desemprego. O que mais impressiona neste tipo de expediente é a rapidez e a ânsia perceptíveis em duas ou três linhas de texto. O que mais revolta neste tipo de expediente é a transformação de pessoas, de homens e mulheres, em números e em percentagens, e assim em algo que não tem vida, não precisa de comer, de ter família, de trabalhar, de ter uma habitação, enfim, não merece existir. É isso. Solução final.


é mesmo isto...

01 outubro 2012

vamos ler...

30 setembro 2012

facebook

Hoje foi o dia em que desactivei a minha conta do Facebook e assim, definitivamente, abandonei o hábito de diariamente lá ir ver não importa o quê. A decisão já estava tomada há algum tempo e foi um sentimento crescente de desprendimento e incompreensão das razões que me mantinham interessado em participar nessa rede social. Aceito e compreendo que possa até ser uma boa ferramenta de trabalho para algumas pessoas, mas naquilo que me diz respeito, nada para além de um ou outro contacto exclusivo desse espaço. Já está. Foi uma decisão ponderada e por isso sem retorno possível. A ver vamos se outro "brinquedo" aparece para me distrair os sentidos...

27 setembro 2012

siempre!

Por estes dias e a propósito do ambiente de revolta latente que se sente e manifesta por esta Europa nossa, um amigo fez-me chegar este vídeo catalão, anexando uma curta mensagem: "especialmente para ti. Siempre".

20 setembro 2012

"ter-ter"

Numa (re)leitura rápida de um livro de Paula Godinho chamado "O Leito e as Margens" encontrei isto:
«A destreza do corpo e da mente, detectável pela capacidade de articular movimentos e palavras, constitui um requisito indispensável no processo de socialização, para a incorporação de um indivíduo no seu grupo doméstico e na aldeia. Enquanto não gatinham nem andam, a "rasa" (medida de alqueire) do centeio, basta para, sossegadamente, assistirem aos movimentos da mãe, enquanto ela se encontra adstrita à casa. O "tenedor", espécie de gaiola em que a criança fica suspensa, podendo ensaiar os primeiros passos, é uma construção em madeira, normalmente, feita pelos pais, que facilita a aprendizagem de movimentos. "Ter-ter" é a expressão que se repete quando a criança já adquiriu a postura de pé, mas hesita ainda nos passos a dar.»
O Tenedor nunca utilizei, nem construí para as minhas crianças, mas de facto, utilizei, e utilizo, a expressão "ter-ter" quando na eminência de começarem a caminhar. "Ter-ter" é conseguir equilibrar-se e não cair. Reminiscência inconsciente de um sentimento de pertença a um determinado grupo?!...

ilusão óptica

Numa destas últimas noites viajei, uma vez mais, de Bragança para o Porto. Tal como tantas outras vezes, saí de Bragança muito tarde, já perto da uma da madrugada e previa uma viagem rápida e tranquila. Logo à saída da cidade e depois de passar Rebordãos, as obras da A4 obrigam-nos a um desvio pela Nacional 15. A zona do Remisquedo, sopé da serra, é sombria e com vegetação densa. Olhei para o cimo da serra e onde com a luz do dia encontraria as enormes antenas da Marconi, descobri um forte clarão de tom alaranjado. Um incêndio, pensei eu. Só pode. Apesar da viagem ainda mal ter começado, eu estava cansado e nesse momento o pânico tomou conta de mim. A serra de Nogueira - a minha serra - estava a arder. Parei por momentos a olhar para aquela luz que iluminava a noite e as nuvens do cimo da serra. O que fazer?... Ligar para o número de emergência?... Ainda peguei no telemóvel, mas ali não tinha rede. Avancei rápido à procura de lugar onde captasse rede e pudesse ligar. Estava decidido a fazê-lo. Quando chego à zona de Sortes, a sul da serra, espreito novamente para o cima da serra e percebo que afinal o clarão que antes me parecera um incêndio, era apenas a iluminação pública que agora (e não sei desde quando) existe no Santuário da Senhora da Serra. Antes isso, pensei eu e segui tranquilamente cansado até às faldas da Invicta.

religião e relativismo civilizacional

Anda o mundo muçulmano sobressaltado com as atitudes de alguns órgãos de comunicação social ocidentais, que resolveram, uma vez mais, dar espaço e tempo à figura de Maomé. Nada de novo, pois sabemos sempre qual é a reacção muçulmana quando alguém, de alguma forma, verbaliza ou materializa a figura do seu profeta. No meio desta cíclica polémica há algo que me inquieta, pois nem com todo o relativismo cultural, social ou civilizacional, consigo perceber qual é a dúvida dos Estados laicos e seculares ocidentais em defender inequivocamente a liberdade de expressão dos seus cidadãos e de toda a sua produção artística, científica ou informativa. Aquilo que está em questão não é um principio religioso, pois os Estados islâmicos não admitem qualquer outra forma de expressão religiosa senão o islamismo nos seus territórios. Aí a confusão entre Estado e credo religioso propicia todas as expressões radicais e extremistas que bem conhecemos. Mas tudo bem, se assim se entendem e conseguem viver. Agora, não podemos, nem devemos permitir que esse fundamentalismo religioso ultrapasse as suas fronteiras e invada as nossas. O nosso estádio civilizacional permite, e bem, uma relação existencial de multiculturalismos, fundamentados na tolerância e na liberdade de cada ser humano. Ainda bem que assim é e quero que assim se mantenha. No Estado em que quero viver e criar os meus filhos, todos os indivíduos terão a liberdade de optar e manifestar as suas convicções. Não acredito em "guerras santas" ou "guerras civilizacionais", mas essa é razão que nos distingue e, desconfio, é essa a razão que atormenta os ideólogos de todo o extremismo e de qualquer fundamentalismo. Liberdade.

19 setembro 2012

a quem possa interessar...

Mais informações aqui.

17 setembro 2012

ainda a ler...

11 setembro 2012

até onde, até quando e até quanto?

"O curso da revelação destas medidas mostra a hierarquia do poder em Portugal. É intencionalmente que o Negócios hoje considera que Angela Merkel é a pessoa mais poderosa na economia portuguesa - e que Vítor Gaspar (número dois) tem mais poder na economia que Passos Coelho (número três). Estas medidas de austeridade mostram-no: a troika quer, Gaspar sonha, a obra de Passos nasce. Um escreve o texto, o outro implementa, o último lê-o". (Pedro Santos Guerreiro, Jornal Negócios, 9 do 9)

no parladoiro...






Alguns momentos meus no debate "oportunidades no rural", dia 7, promovido no âmbito do "Son d'aldea".

10 setembro 2012

continuidades culturais

Da Galiza trouxe também um pouco mais de conhecimento sobre essa rica e bonita região. Um dos factos que pude verificar e, depois, relevar é que apesar de todas as distâncias e de todo um passado diferenciado, são vários os caracteres que nos aproximam de uma forma até brutal, diria eu... todo o calão é semelhante, o cancioneiro popular recorre aos mesmos elementos e aos mesmos ritmos e sonoridades, assim como o prazer pela folia e pela festa que se veste sempre de boa carne e adorna com um bom tinto. Bebi, comi e dancei ao som da Carolina que tem uma saia com um lagarto pintado e que, sempre que ela dança, o lagarto dá ao rabo.

chusqueiro, galego e artimañeiro

Eis o Nostradamus, o São Cipriano, da Galiza. Verdadeiramente mentiroso.

menina estás à janela...

sons de uma aldeia

No passado fim-de-semana estive, a convite da organização, na aldeia de Paróquia de Albá, Município de Palas de Rei, Comarca de Ulloa, para participar na segunda edição do Festival Son d'aldea. É uma festa da comunidade rural local. Os sons da aldeia são vários, mas assentam numa teatralização das actividades económicas e culturais locais. Um espectáculo etnográfico que ao recriar diferentes momentos em diferentes lugares do seu território procura demonstrar que a comunidade sabe bem de onde vem e para onde quer ir. Num tempo em que tanto se fala do abandono do rural, do esvaziamento desses territórios, é surpreendente e até impressionante como uma pequena comunidade consegue promover e realizar tal evento - imagino as resistências e as incompreensões que a organização sofrerá... 
O momento grande deste festival é, sem dúvida, o "Roteiro Teatral" que é apresentado em vários locais do termo da aldeia e que dão a conhecer aos diferentes grupos de espectadores, os usos e costumes locais. Os espectadores (visitantes) inscrevem-se e são reunidos em grupos que percorrem diferentes percursos, durante os quais vão sendo surpreendidos com pequenas representações da vida quotidiana passada, que a comunidade preserva na sua memória colectiva. São três horas de viagem pelo imaginário e pela paisagem desta aldeia.
O que mais me impressionou neste espectáculo foi a naturalidade e sentimento com que os actores, locais e amadores, representaram os papeis das suas próprias vidas. Para além disso, agrada-me sempre essa capacidade das pessoas que vivem em pequenas comunidades, isoladas, de se organizarem e produzirem actividades e discursos alternativos. Também percebi que a organização e a própria comunidade já perceberam o poder, as possibilidades e as oportunidades que este festival pode proporcionar. Ainda não tinha acabado o roteiro teatral e já alguns membros da organização falavam em hipóteses de cenário e enredos para o próximo ano. Muito bem.

07 setembro 2012

agendado...

APRESENTAÇÃO

QUADROS DA TRANSMONTANEIDADE
LIVRO DE ANTÓNIO SÁ GUÉ

DATAS: 13/09 QUI 21H30 GAIASHOPPING.

Esta é uma obra de sedimentos memoriais das gentes transmontanas. Não é nenhum levantamento etnológico, nem tão pouco um estudo antropológico do seu modus vivendi, como se possa pensar. É, antes de mais, um livro que fala da grandeza e da mesquinhez humana, de ressentimentos, de canseiras, dos tédios e das angústias que alimentam qualquer ser humano. O autor vai ao Fórum FNAC falar dos montes elevados por emoções e dos vales dos sentimentos que esta obra percorre. (in Agenda FNAC - 1 a 15 de Setembro 2012)

03 setembro 2012

lida

resistência

Depois de várias semanas fora de casa foi preciso reabastecer de víveres e demais parafernália alimentar. Durante este último fim-de-semana foram várias as vezes que fui ao supermercado Pingo Doce, sem sequer me lembrar da mais recente novidade desta cadeia de merceeiros que impede o pagamento através de cartão de débito ou de crédito, nas compras de valor inferior a 20 euros. Pessoalmente a medida até nem me perturba muito, uma vez que, normalmente, a despesa é sempre superior. Contudo, simbolicamente e tal como diz Eduardo Pitta no seu blogue, "é como se um restaurante não fosse obrigado a ter WC". Nem mais.
Como dizia, numa dessas visitas dirigi-me às caixas com dois ou três artigos, que no total não atingiam esse valor mínimo. Sem reflectir dei o cartão multibanco à menina e ela, intimidada, lá me foi dizendo que não era possível, fazer assim o pagamento. Conclusão, tive que ir levantar dinheiro num ATM e as pessoas da fila dessa caixa lá tiveram que aguardar. Simples. Aquilo que depois fiquei a pensar foi na forma que os clientes do Pingo Doce poderão encontrar para tentar contrariar esta atitude e surgiram-me algumas ideias, umas mais subversivas que outras, mas que na sua essência apelariam a um sentido de resistência e até de alguma desobidiência. Pois então:
-Escolher produtos e fazer compras num valor total inferior a 20 euros, deixar registar na caixa e entregar cartão para pagar. Perante a recusa, pedir para ir levantar dinheiro, atrasando todo o processo e complicando a vida aos outros clientes;
- Escolher produtos e fazer compras num valor total inferior a 20 euros, deixar registar na caixa e entregar cartão para pagar. Perante a recusa, deixar ali mesmo os produtos e abandonar o local;
- Em compras com valor superior a 20 euros, solicitar aos funcionários das caixas, o fraccionamento dos pagamentos logo a partir desse valor mínimo. Por exemplo, numa compra de 100 euros, fazer cinco pagamentos de 20 euros, o que implicaria 5 ligações do ATM à rede;
- Por último e, para mim, a mais interessante, apesar de impraticável, seria deixar de frequentar e de comprar nesta cadeia de mercearias.
(aceitam-se mais ideias...)

de pequenino se impõe um destino *

Nos últimos dias tem andado nas bocas do mundo do nosso país, principalmente nas palavras escritas e ditas dos nossos fazedores de opinião, a mais recente proposta do ministro da educação Nuno Crato. A de impor o ensino profissional aos alunos com piores (ou maus) resultados no 2º ciclo - alunos com duas reprovações ou três chumbos intercalados até ao 6º ano serão obrigados a frequentar esta via. Ao ouvir e ler muito do que se tem dito acerca deste assunto, relembro-me de um texto de Pierre Bourdieu intitulado "O Racismo da Inteligência" escrito em 1978 e que foi uma intervenção sua num colóquio do Movimento contra o Racismo e pela Amizade entre os Povos realizado em Maio desse mesmo ano. Apesar da distância temporal, a sua enunciação parece-me mais do que actual e pertinente, pois Bourdieu define esse racismo da inteligência como um racismo da classe dominante e é alguma coisa por meio da qual os dominantes visam produzir uma "teodiceia do seu próprio privilégio", como diz Weber, quer dizer uma justificação da ordem social que dominam. É qualquer coisa que faz com que os dominantes se sintam justificados na sua existência enquanto dominantes; com que se sintam uma essência superior. Bourdieu acrescenta que todo o racismo é um essencialismo e o racismo da inteligência é a forma de sociodiceia característica de uma classe dominante cujo poder assenta em parte na posse de títulos que, como os títulos escolares, são considerados garantias de inteligência e que tomaram o lugar, em muitas sociedades, e no que se refere ao próprio acesso às posições de poder económico, dos títulos antigos como os títulos de propriedade e os títulos de nobreza. Ao longo dos últimos tempos e ao escrutinar a realidade que me rodeia, é com alguma assiduidade que me ocorre este conceito, pois frequentemente o "poder" faz uso desse seu poder para manter os paradigmas actuais e para restringir ou mesmo impossibilitar qualquer permeabilidade social. Regressando ao ensino profissional e ao ministro Crato (que Daniel Oliveira descreveu como o Talibã do ensino), penso que é necessário e até uma mais-valia para a economia nacional, mas sempre como uma opção para os jovens estudantes que nele poderão encontrar um caminho e uma opção profissional válida.

* Frase roubada de um texto de José Soeiro.

a razão...

"A pergunta que a esquerda tem que fazer para merecer ser esquerda é porque é que o povo não há de governar? (…) Esse governo de esquerda, que é a grande luta que temos que travar, criará muitos debates certamente, muita contraposição, muitas dúvidas. Mas uma coisa ele fará, perante toda a oposição social ele dirá que luta pela igualdade e pelo respeito" 

"Sim senhor, nacionalizará a EDP e as redes energéticas nacionais por mais que isso incomode o Partido Comunista chinês; nacionalizará serviços financeiros por mais que isso incomode a família presidencial angolana, trará os hospitais públicos para o Serviço Nacional de Saúde por mais que isso incomode os Mellos e os Espíritos Santos"

(Francisco Louçã, excertos do seu discurso de encerramento do Socialismo 2012, ontem em Santa Maria da Feira.)

bancos de livros escolares

É notícia de hoje no jornal Público que só no mês de Agosto abriram mais de cinquenta bancos de troca de livros e manuais escolares em Portugal. Ainda no mês de Julho eu me tinha aqui referido a esta questão e é com satisfação que agora sei que esta questão está a merecer a atenção e a dedicação de muitas pessoas. Tal como refere o fundador do movimento pela reutilização dos livros escolares (ver reutilizar.org), Henrique Cunha, o sucesso do movimento é a prova de que os portugueses estão interessados na reutilização. Estão de parabéns todos os seus promotores que, voluntária e gratuitamente, disponibilizam o seu tempo para promover a troca dos livros utilizados e assim, combatem a ditadura corporativista do sector livreiro que tem vivido imune a qualquer legislação e impune para qualquer e toda a especulação.

28 agosto 2012

23 agosto 2012

lá estarei

Para conhecer, me divertir e falar acerca de Vinhais.

amigos rurais

Os amigos das coisas do rural em Lisboa: Paulo Seixas, Cebaldo Inawinapi, Luís Vale e Shawn Parkhurst. Falta o fotografo Xerardo Pereiro.

20 agosto 2012

privatização do futebol

O campeonato nacional de futebol teve início este fim-de-semana. De facto, o meu crescente afastamento das coisas do futebol trouxe consigo uma maior imunidade à parafernália quotidiana desse universo. Portista e tripeiro que sou, admito que até um jogo do meu clube me custa ver na totalidade. Contudo, a notícia que só agora chegou até mim de que não haverá qualquer transmissão de jogos da primeira liga em canal aberto de televisão e que quem quiser assistir aos jogos terá que assinar ou ter acesso à Sportv, deixa-me incomodado, pois para além do carácter público que alguns dos jogos, dada a sua importância ou relevância para um considerável número de portugueses, possam ter, esta privatização do campeonato de futebol faz com que a universalidade do serviço acabe e também faz com que muitos portugueses deixem de poder assistir gratuitamente a qualquer partida de futebol. Mais uma medida que obedecerá a uma agenda bem definida e calendarizada e que demonstra bem o total alheamento dos responsáveis políticos por esta área, que preferem dedicar-se à privatização da RTP, do que preocuparem-se com uma programação séria e de qualidade para o serviço público de televisão. Lamentável.

18 agosto 2012

Sul, praia, calor, água, Sol, Verão e afins

Agora que faço o caminho inverso, para Norte, mas estarei naquilo a que se poderá chamar zona intermédia, ou para utilizar o termo de Bhabha, num "terceiro espaço", ou seja, já não no Sul, mas ainda não completamente no Norte, aproveito para rabiscar algumas ideias soltas acerca dos dias passados à beira-mar.
Fui de férias para o Algarve poucas vezes. Tão poucas que posso enumerá-las: Em 1986, ainda criança com os meus pais; Em 2010, já adulto e pai de uma criança; e em 2012, igualmente adulto e pai de duas crianças. Se me perguntarem o que penso sobre o Algarve, direi que nada nele me atrai e que passaria muito bem sem lá ir. Considero mesmo que não faz qualquer sentido eu lá ir, ficar ou estar. Mas cumprindo o meu papel de pai, lá fui e lá irei as vezes que ele e elas quiserem e eu puder. É justo.
Ao contrário daquilo que acontece com maior parte das pessoas, eu tolero melhor o frio do que o calor, eu gosto mais do Inverno do que do Verão, eu vivo melhor à sombra do que ao Sol. Assim, ir para a praia num ambiente com temperaturas médias de 30º é obrigar-me a atravessar o deserto. Aliás, actualmente, eu disputo cada centímetro de sombra do guarda-sol com o meu rebento que, por enquanto, faz a sua praia quase exclusivamente à sombra. É ridículo; sou ridículo.
Muitos me dizem que é porreiro ir para a praia, apanhar Sol, andar na água, passear, nadar, jogar qualquer "coisa", fazer castelos de areia, entre outras maravilhas da teoria do lazer. Acerca de tudo isto também tenho a minha opinião, baseada essencialmente na minha experiência. Vamos por partes:
- Quanto ao apanhar Sol, já nada mais há a dizer, apenas acrescentar que a minha tiróide também não gosta e que regresso sempre da praia como uma zebra, com a pele listada de branco e vermelho;
- Andar na água é algo que não me dá prazer nenhum, nem sei como me comportar dentro dela. Onde ponho as mãos?!, devo caminhar ou ficar quieto?!, devo olhar para aqueles que me rodeiam?! Não sei. É estranho. Entro na água e fico a olhar para a alegria e animação daquela gente só por estarem com o corpo parcialmente submerso. Definitivamente não é o meu habitat;
- Passear caminhando é porreiro e faz bem à maioria das pessoas e a mim também, mas os meus joelhos não conseguem. Portanto, é sempre com esforço e dor que faço essas caminhadas pela linha de água;
- Nadar é daquelas coisas que nunca me deu qualquer gozo. Como não domino a prática, acabo por dar umas aparatosas braçadas daqui para ali e dali para acolá, sempre sem quase sair do sítio, mas não retiro disso qualquer prazer e, por isso, rapidamente desisto. Entendo a natação como um desporto para outros e uma actividade fisioterapêutica também para mim;
- Vão-me perdoar os amantes da actividade física em espaço balnear, mas é do mais deprimente ver as pessoas, com as carnes excedentárias desnudadas, aos saltos e pinotes, atrás de uma bola ou com raquetes a bater numa pequena bola, incessantemente, num "toma lá dá cá"...;
- Fazer efémeros castelos de areia é fixe, mas para crianças até aos 10 ou 12 anos. Mas ver pais que sob o pretexto de estarem a ajudar os seus filhos a fazerem castelos de areia, passam manhãs ou tardes inteiras num frenesim e com dedicação laboral, à volta de pequenos montes de areia molhada, enquanto os seus filhos apenas observam, parecem-me casos patológicos, ou pelo menos passíveis de observação especializada, pois serão casos traumáticos de maior ou menor longevidade. Ou então, as crianças são eles;
Para mim, ir para a praia é uma narrativa de sobressalto, de desespero, de falta de ar, de sede. Muitas vezes tenho essas imagens em sonhos ou pesadelos. Não é confortável para mim. Lamento.
Em 1986, depois de viajar lenta e turisticamente até ao nordeste transmontano, e num momento parecido com este, o meu pai desabafou: - Nunca mais me apanham lá. E assim foi, nunca mais o meu pai levou a família para o Algarve. Em 2012, ainda que gostasse de poder ser igualmente afirmativo, sei que terei que lá voltar, pois o resto da família adora praia, sol, calor e água de mar. Portanto, com maior ou menor sacrifício, num futuro próximo lá estarei de novo, estendido à sombra do sol.

da cruzada...

ainda os "novos povoadores"

em férias, sobre férias

15 agosto 2012

lugares tranquilos

elixir da juventude

Numa recente visita ao centro da Invicta, motivada por interesses gastronómicos, fomos merendar a uma casa típica e de renome na cidade e arredores, localizada na Rua Cimo de Vila e bem perto da Praça da Batalha. Descemos pela Rua do Cativo e mal entramos na referida rua parecebemo-nos imediatamente do ambiente de final de tarde. Incomodados por trazermos a criança connosco, fomos igualmente notados pelas comerciantes de postigo e de soleira. Porta sim, porta não, à esquerda e à direita, personagens cristalizadas e patrocinadas por um qualquer patchouli, olhavam-nos com desconfiança. Depois de termos comido um bom presunto, broa e azeitonas, saímos desse ambiente e o comentário da criança foi: - Aquelas mulheres tinham todas setenta anos, mas pareciam só ter quarenta. Deve ser da roupa e das pinturas.

10 agosto 2012

latitudes

Na véspera de rumar a Sul, reflicto sobre a importância dos pontos cardeais enquanto referências existenciais para os indivíduos. E se para muitos deles a referência, o porto de abrigo e seguro, o objectivo e o seu norte é sempre a Sul, para mim o Sul é sempre a Norte, ou seja, o meu Norte é aí mesmo, a Norte. Aquilo que procuro está sempre a Norte da minha latitude.

instante urbano XXI

Andava a adiar há alguns dias a ida ao ponto de assistência da marca do meu automóvel para comprar um pequena peça do habitáculo que o meu pequeno filho fez o favor de estragar. Coisa insignificante e sem influência directa na correcta e segura actividade da viatura. Hoje foi o dia.
Entro na garagem, praticamente vazia, e um dos recepcionistas, muito solícito, veio-me receber e inteirar-se da situação. Logo depois disse:
- Pois é, deixe-me ir ver, pois não sei...
- Não sabe?! - pergunto eu.
- Não sei se isso existe à venda. - e vai-se afastando de mim em direcção ao balcão das peças.
- Então a própria marca não vende as peças para os seus modelos?! - Dada a distância, falo-lhe já num tom de voz mais audível.
- Deixe ver, deixe ver.
Ao longe eu pude observar todo o processo de pesquisa e durante os cerca de 45 minutos que estive à espera, foram mais de dez os mecânicos, vendedores e demais funcionários que lá foram dar palpite e ajudar na pesquisa.
Por fim lá apareceu. Afinal existia. Substituída está.

êxodo urbano, novos povoadores e a reconquista do nordeste...

Li hoje no jornal Mensageiro de Bragança a notícia de que o primeiro de cinco casais que já estava instalado no concelho de Alfândega da Fé, há cerca de um ano e ao abrigo do programa de repovoamento rural Novos Povoadores, abandonou o projecto e regressou ao litoral, de onde eram originários. Na mesma notícia, a actual presidente da respectiva Câmara Municipal admitiu que apesar de ter achado interessante e ter apoiado o projecto, sempre desconfiou da sua aplicabilidade e sucesso. Este era apenas o primeiro casal que o projecto, em fase piloto, conseguiu transferir e com esta desistência, os responsáveis pelo projecto serão obrigados a encontrar um casal em condições de substituir aquele que saiu.
Alguém terá ficado surpreendido com esta notícia? Não sei, mas eu não fiquei nada surpreendido. Admiro até como foi possível esse casal aguentar cerca de um ano longe de todas as suas referências e do seu "habitat natural". Não quero com isto dizer que este movimento é contra-natura, pois até considero o projecto teoricamente interessante, mas a verdade é que não é nada fácil, hoje em dia, trocar o conforto e as acessibilidades do espaço urbano pelo desconforto e distâncias dos territórios rurais e do interior do país. A promoção dos territórios rurais é importante e parte da fundamentação deste projecto assenta nas enormes assimetrias existentes no território nacional e na importância de tentar contrariar a forte tendência para a litoralização demográfica. Isso pode, de facto, acontecer através de um êxodo urbano, mas será sempre um esforço incomensurável e provavelmente, inglório.
Apesar da simpatia que o projecto me merece, penso que para quem conhece um pouco a realidade dos territórios rurais deprimidos e suas comunidades, não deixa de ser uma ideia romântica pensar que esses novos povoadores seriam um caminho para o repovoamento e a solução para todos os problemas dessas comunidades e territórios. Não são. Aliás, um dos problemas deste projecto é mesmo essa mensagem virginal, naturalista e idílica do mundo rural que desde logo me remete para as reminiscências de um ideário pastoral - movimento literário com forte expressão na segunda metade do século XIX - que exaltava o mundo rural por oposição à vida urbana.
Produzida por citadinos, a sensibilidade pastoral é gerada por um desejo de se retirar face ao poder e complexidade crescentes da civilização. O que é atraente no pastoralismo é a felicidade representada por uma imagem da paisagem natural, um terreno intocado ou, se cultivado, rural. O movimento em direcção a esta paisagem simbólica pode também ser entendido como um movimento para longe de um mundo artificial (...). Noutras palavras, este impulso dá azo a um movimento simbólico para longe dos centros da civilização em direcção ao seu oposto, natureza, para longe da sofisticação em direcção à simplicidade, ou, para introduzir a metáfora principal do modo literário, para longe da cidade em direcção ao campo. (Marx, 1967 in Silva, 2009)
De facto, os factores de atracção do campo estão relacionados com os seus atributos reais ou imaginários, tais como a liberdade, a tranquilidade, o bucolismo, a tradição, a natureza, a autenticidade, entre outras e no discurso destes "pioneiros" podemos, igualmente, encontrar expressões, tais como "tranquilidade, qualidade, tempo, ambiente, vida mais oxigenada, elite, província...", ou ainda, "...decidiu partir à aventura! Muitas vezes atrás de um sonho", que remetem igualmente para esse universo de simbologias ou mitologias do mundo rural.
Regressando à notícia em apreço, percebi que um dos elementos (ele) tinha um emprego em que poderia perfeitamente deslocalizar-se e o outro elemento (ela) iniciou um negócio de venda de mel na internet(?). Bem, muito poderia dizer acerca desta conceptualização do que é viver de uma actividade do sector primário, mas vou-me limitar a transcrever algo que um grande amigo, especialista nestas cousas da agricultura, um dia me disse: "Num território como o transmontano, cuja dimensão padrão das parcelas agrícolas é o microfundio, o meu conselho para todos os paraquedistas (leia-se, sem experiência) que pensam investir na agricultura, é que estejam quietinhos e deixem estar o dinheiro no banco. É uma perda de tempo e de dinheiro".
Gostaria um dia de poder viver num território rural deprimido, tão deprimido que só lá estivesse eu, mas com o pragmatismo mínimo necessário sei que isso só acontecerá se eu conseguir aforrar o suficiente para a minha sobrevivência e conforto. Pois é.
(estou a ponderar enviar este texto para um dos jornais regionais)


(in Jornal Mensageiro de Bragança, 9 de Agosto de 2012)