29 março 2007

Reminiscências de uma Incógnita

Foi no cimo de uma serra, lugar magnífico e sobranceiro sobre a paisagem, que num mês de Setembro de um qualquer ano de 1990, dois gastos e enrugados corpos foram encontrados, já mortos, caídos pelo chão de um quarto velho e despido. Aposento característico, onde a simplicidade e o despojamento propiciam ao recolhimento e ao descanso.
- Sem explicação aparente e sem sinais exteriores de violência! – Assim foi descrito o cenário por quem os encontrou. Muito mais se disse e inventou, mas o certo é que os malogrados idosos estavam vestidos e sem vestígios de agressões. Estavam o mais possível afastados, cada um em sua extremidade do pobre quarto. Os seus haveres, ouro e dinheiro, não foram roubados e para complicar o trabalho das autoridades e, já agora, densificar o enredo, em cima de uma mesa-de-cabeceira estava depositada uma pistola. Cuidadosamente foi recolhida e levada para análises…
Chamadas as autoridades competentes, neste caso a velhinha GNR - aquela das barrigas, do bigode e do copo de três, que por aquelas bandas é quem patrulha todo o vasto território, logo se percebeu que a sua incompetência não chegava para tamanho cenário. Entra em acção a PJ que, no seu melhor estilo, tomou conta da ocorrência, isolou o local, reuniu um conjunto de provas materiais e inquiriu dezenas de pessoas. Dos testemunhos recolhidos, ninguém sentiu ou percebeu qualquer anomalia naquele quarto, apenas um dos vizinhos mais próximos diz que no silêncio da noite anterior, acordou com um pequeno, mas estranho ruído, mas que logo atribuiu ao néon da taberna que, consoante a potência eléctrica, emite diferentes ruídos.
Foi preciso mais de um ano de "investigações" para esta polícia, em conferência de imprensa, afirmar a tese de que tudo levava a crer que a causa de morte dos dois indivíduos fora hipotermia devido às baixas temperaturas que então se fariam sentir.
Foi com esta brilhante conclusão que, nesta república, se arquivou mais um processo.
Interessante se ficção, dramático porque real.

26 março 2007

Quem boca tinha a Roma ir podia...

Uma nova estirpe de condutores anda por aí. São os "Tomtoms" que antigamente chamávamos "Tótós" pela sua azelhice, permanente insegurança e visivel desorientação e agora, é vê-los a circular por aí com os seus bólides equipados com o que de mais moderno há em tecnologia. Falo dos GPSs que, inteligentemente, a industria massificou e agora comercializa, para satisfação e benefício do incauto condutor do século XXI.
Até sei que este equipamento é importante para um determinado tipo de condutor profissional, assim como para um conjunto de actividades que carecem de orientação e localização exacta - falo da topografia, da arqueologia ou das engenharias de prospecção, entre outras. Agora, quando o seu uso é, como podemos verificar em qualquer artéria das nossas cidades, para percorrer o percurso pendular que repetem durante dias a fio, durante semanas sem fim e até infindáveis anos, entre casa e o trabalho, parece-me ridiculo. Eu diria mesmo estúpido.
Esta nova espécie ainda não está catalogada, mas pode ser vista também em qualquer Auto-Estrada, IP ou IC a circular com o dito equipamento devidamente instalado e em funcionamento, não vá acontecer as placas informativas destes itinerários estarem trocadas e, desgraça das desgraças, em vez de Coimbra encontramos Faro. Desconfio que para além desta segurança suplementar, que evita o erro, o desvio ou o desencontro, o segredo do sucesso destas novas maravilhas é a sua componente sexuada, manifestada pela sensual voz feminina que, num português duvidoso, vai indicando o melhor percurso. Aliás, acho que o sonho de qualquer macho latino, neste caso, condutor português é a antropomorfização dos veículos que "possuem"... São mesmo "Tomtoms" !!!

25 março 2007

Formigas do Monte Branco

Extremamente, ou irritantemente organizadas, civilizadas, obedientes e, acima de tudo, higiénicas, as formigas deste principado, pouco ou nada fazem para além de trabalhar. Isto, dito desta forma soará mal, pois para um perfeito conhecimento e um correcto juiz, será necessário conhecer, viver e experimentar o seu quotidiano. A diferença para a comum das restantes mortais formigas é que para estas, as do Monte Branco, a melhor forma de ocuparem o tempo, de se divertirem e de socializarem é a desempenhar uma qualquer tarefa em benefício da comunidade.
O elemento estranho e defeituoso da sua comunidade é a falta de participação e de partilha nos centros de decisão e de poder, mas como a esmagadora delas desconhece essa possibilidade, pois continuam a trabalhar, não experimentam esse problema e as agitações e manifestações que, habitualmente, levam às revoluções continuam adiadas. Aqui como ali, ou em tantos outros acolás, confirma-se a ideia de George Orwell, de que apesar de iguais, há sempre uns mais iguais do que outros…

22 março 2007

Dia das Águas Mil

No Dia Mundial da Água, a associação ambientalista Quercus revelou os dados do Instituto da Água: apenas 19% dos rios portugueses têm água de boa qualidade, valor que se cifrava em 35% no ano de 2004. A Quercus denuncia também que 50 por cento das águas residuais não estão a ser devidamente tratadas em Portugal o que, no limite, pode dar origem a cenários muito preocupantes para a saúde pública. A nível internacional, mais de 1,6 milhões de pessoas morrem todos os anos por não terem acesso a água de qualidade ou a higiene, revelou ontem a Organização Mundial de Saúde.

21 março 2007

Como não podia deixar de ser, hoje...

Nós amamos a carne das palavras
sua humana e pastosa consistência
seu prepúcio sonoro sua erecta presença.
Com elas violentamos
o cerne do silêncio.

A Luxúria de Ary dos Santos

Primavera

Tacteando a Planície consigo sentir o prazer da natureza neste eterno retorno que é a Primavera.

18 março 2007

Aquisições

Aproveitando a curta estadia na capital, aproveito para visitar a "Feira do Livro Manuseado", instalada na Praça da Figueira. Preços interessantes para uma variedade reduzida. Mesmo assim, mais alguns títulos que me importam:
- Claude Lévi-Strauss de Catherine Clément;
- Eva era Negra de Gérard Lucotte;
- Os Municípios no Portugal Moderno de Mafalda Soares da Cunha e Teresa Fonseca;

17 março 2007

Bandeirada


Chegado ao Aeroporto de Lisboa, capital do Império, e por desencontro de horários, necessitei de apanhar um Táxi. Depois de alguns minutos numa serpenteante fila de carregados estranhos, lá chegou a minha vez. Pela cara do motorista, percebi logo que lhe calhou na rifa um mau cliente, pois não trazia bagagem. Já sentado no meu lugar, depressa indiquei a morada de destino. Surpresa das surpresas foi a resposta do simpático motorista, descontente, provavelmente, com a curta viagem, questionou por onde eu queria ir. (!?) Mas!?... digo eu. Quem melhor que o senhor para saber isso.... ao que ele me responde: ... eu não sei nada!
A minha vontade era sair do carro, mas já ia em movimento. Durante o resto do percurso, como seria de esperar, o casmurro nem disse um ai. No final, pela sua amabilidade, dei-lhe uma gorjeta de 25 cêntimos.

13 março 2007

Báu da Memória II

Nota Prévia – adaptação da obra de Johan Huizinga intitulada Homo Ludens. Tal como refere o título do livro, fala-se do homem lúdico. O exercício por mim feito, em 1997, consistiu na substituição da palavra jogo, pela palavra sexo. Dei-lhe, então o nome de “A Própria Liberdade”, mas talvez até fique melhor …


HOMO SEXUS



Os melhores momentos das nossas vidas são aqueles que mais tarde conseguimos recordar. Esses momentos são uma das maiores dádivas do criador, à nossa condição de homens. São a nossa liberdade. Existem expressões de liberdade, várias formas de a exteriorizar, mas de entre todas elas a que mais se aproxima do ideal de liberdade é, na minha opinião, o sexo. E digo mais, o suprasumo dessa liberdade é, sem margem de dúvida, o sexo.
A vivacidade e a graça estão originalmente ligadas às formas mais primitivas e simples do sexo. É neste que a beleza do corpo humano em movimento e liberdade atinge seu apogeu. Em suas formas mais complexas o sexo está saturado de ritmo e de harmonia, que são os mais nobres dons da percepção estética que o homem dispõe. São muitos, e bem íntimos os laços que unem o sexo e a beleza.
No entanto, o sexo é uma função da vida, mas não é possível de definição exacta em termos lógicos, biológicos ou estéticos… eu não o consigo definir.
Antes de mais nada, o sexo é uma actividade voluntária. Basta esta característica de liberdade para afastá-lo definitivamente do curso da evolução natural.
Pode-se questionar o facto de esta liberdade não existir para a criança ou para o animal. Nos animais o sexo tem lugar até à satisfação, não sendo a união carnal precedida de qualquer reflexão, de qualquer sentimento. Quer a criança, quer o animal são levados ao sexo pela força de seu instinto e pela necessidade de desenvolverem suas faculdades físicas e selectivas.
Seja como for, para o indivíduo adulto e responsável o sexo é uma função que facilmente poderia ser dispensada, é algo supérfluo. Só se torna uma verdadeira necessidade na medida em que o prazer por ele provocado o transforma num desejo.
Segundo o Kama, “sexo é o prazer apreendido através dos sentidos: ouvido, tacto, vista, gosto e olfacto, ajudados pelo espírito unido à alma”.
Será possível, em qualquer momento, adiar ou suspender o sexo???
Jamais é imposto pela necessidade física ou pelo dever moral e nunca constitui uma tarefa, sendo sempre praticado nas “horas de ócio”. Obrigação e dever apenas quando constitui uma função cultural reconhecida, como no culto e no ritual.
O sexo não é vida real nem material, é precisamente o oposto!
O sexo é uma evasão da vida real, sem caminhos trilhados, para um mundo temporário de actividades com orientações próprias!
O sexo é livre! O sexo é a própria liberdade!

07 março 2007

Valha-te S. Valentim

Bem podes chorar. Vais mesmo sentar-te na tábua dos réus. Devias era esconder a cara de vergonha e procurares um buraco para te enfiar. Perdeste a face. Larga os tachos pois durante uns tempos vais ter mais o que fazer.

01 março 2007

Reflexões e Aconselhamentos

Agora que a lei está para ser regulamentada, interessa-me questionar, ainda que retroactivamente, que tipo de reflexão é que se pretendia para um caso terminar como é a IVG e, depois, quando alguns defendiam o aconselhamento obrigatório para quem optasse por uma IVG, ninguém nos explicou que tipo de aconselhamento era suposto obrigar: médico!?... científico!?... teológico!?... filosófico ou moral!?... Se calhar é melhor não.

Ducados em Maço

Irresistível forma esta, perfeita de ângulos e esquadrias. O marketing genericamente proibido obriga estas empresas ao maior dos aperfeiçoamentos. Apelativos e coloridos letrings, numa embalagem séria e contida por um envolucro de papel transparente, que lhe confere o ar higiénico e inviolável. Depois de aberto, conhecem-se as trágicas consequências…