29 fevereiro 2016

mediascape: a expressão e a sua liberdade

Ainda em relação ao cartaz do Bloco de Esquerda e às imediatas e expressivas reacções, gostaria de realçar o seguinte:
a) Reafirmo a má opção na comunicação, pois a comparação ou analogia não é eficaz;
b) Não considero que tenha sido propriamento um erro do BE;
c) Confirma-se a intolerância radical perante o outro, o diferente, ainda que em minoria;
d) Registo o bom-senso do BE ao ter desistido da distribuição desse outdoor;
e) Não aceito a restrição ou o interdito estabelecido em relação ao futebol e à religião;

28 fevereiro 2016

27 fevereiro 2016

perdida entre Portugal e o Brasil

A minha mãe nasceu no Brasil, logo tenho uma brasileira em casa.
As vezes admiro-me quando as pessoas ficam espantadas por a minha mãe ser brasileira, pois acho que na cabeça das pessoas ser brasileira é ter um rabo grande, ter curvas e dançar no sambódromo com aqueles bikinis quase inexistentes, mas não; ser brasileira é ser portuguesa, mas com uma grande dificuldade em pronunciar a letra l e tentar conter a expressão graças a deus.
Conviver 24 horas com a minha mãe é sinónimo de aprender palavras novas, como: bombril (palha de aço), leite moça (leite condensado), durex (fita cola), xerox (fotocopia), rocambole (torta), farinha de rosca (pão ralado), bandade (curitas/penso rápido)…
Também são interessantes aquelas conversas ao telemóvel que a minha mãe me obriga a ter com familiares do Brasil, que a única coisa que sei sobre eles é o nome e, para não parecer mal, tento falar o máximo português do Brasil que sei, conseguindo quase sempre sair-me bem…
Para me sentir em copa-cabana só falta mesmo as havaianas e a água-de-coco, de resto tenho tudo em casa.

(texto da minha filha para ser lido numa aula de língua portuguesa do 9º ano)

26 fevereiro 2016

mediascape: qual liberdade de expressão?


Tal como eu previra, a confusão está na rua com a nova campanha de cartazes de BE. Desta vez e para celebrar a data (10 de Fevereiro) em que foi aprovada, pela Assembleia da República, a adopção por casais do mesmo sexo, o Bloco resolveu criar um conjunto de outdoors alusivos ao tema e um deles é este que aqui reproduzo. As reacções não se fizeram esperar e parece-me que o assunto ainda vai dar pano para mangas...
Uma das primeiras reacções foi a da Conferência Episcopal, como não poderia deixar de ser, que se insurgiu contra a comparação dos dois universos em causa, principalmente nesta altura de Quaresma e Páscoa. Também um grupo de jovens católicos se manifestou escandalizado e por isso promoveu uma petição pública exigindo a retirada dessa imagem e um pedido de desculpas ao BE. Com toda a certeza, ainda durante o dia de hoje e nos próximos, irão surgir outras opiniões indignadas e uma delas, aposto, será a de Henrique Raposo, ou a de Laurinda Alves.
Em todo o caso, é muito interessante verificar que afinal muitos daqueles que se indignaram com a reacção do Islão para com a sátira e o humor na utilização de Maomé e defenderam a liberdade de expressão, agora são eles a ficaram escandalizados com esta imagem e mensagem do Bloco de Esquerda. Liberdade de expressão? Depende. Podemos sempre gozar com os Outros e suas crenças, agora connosco, com as nossas crenças, nem pensar. Cadeia, pelo menos, com esses apóstatas...
Quanto a mim, não fiquei nada incomodado, assim como nunca me incomodaram as sátiras em relação ao Islão ou ao  judaísmo. Inclusive, não acho que a comparação pretendida seja feliz, pois são universos diferentes, e se de uma analogia se trata, também me parece forçada. Resulta, e está visto que resulta, enquanto veículo para afirmar ou reafirmar uma determinada visão da sociedade, que vai esbarrar na moral e nos costumes conservadores de largos sectores da nossa sociedade. O choque é esse e apenas esse.

24 fevereiro 2016

as casas da minha existência (um exercício de memória visual)


Quando vim ao mundo, na cidade do Porto, meus pais estavam mais ou menos estabelecidos em Delães, uma pequena freguesia do concelho de Famalicão que, basicamente, servia de dormitório à mão-de-obra da ainda forte indústria do Vale do Ave. Nesse ambiente e num contexto marcelista, estertor do bafiento salazarismo e antecâmera da revolução, a condição de professores primários não lhes garantia qualquer estabilidade, muito menos tranquilidade financeira. Foi em Delães que terão conseguido efectivar pela primeira vez numa escola e também foi aí que trabalharam pela primeira e última vez os dois na mesma escola. Habitavam uma pequena casa térrea, construída com o granito cinzento-azulado, originário e muito utilizado naquela região e rodeada de arbustos e algumas árvores de frutos. Não guardo qualquer memória do interior dessa casa, mas preservo pequenos fragmentos de momentos passados no seu exterior. Era uma casa muito bonita e cujo perfil e tipologia ainda hoje me seduz.
Casa na avenida das lameiras, em Delães. Casa onde vivi os primeiros meses de vida.

Pouco tempo depois, talvez por causa da gravidez e nascimento do seu segundo filho, os meus pais mudaram-se para uma outra casa na mesma freguesia, igualmente alugada, mas maior, mais espaçosa e com mais área exterior. Localizada mais perto do centro da localidade, leia-se, mais perto da igreja e mesmo em frente ao cemitério, as minhas primeiras memórias de criança são desta casa... As brincadeiras com o meu irmão, as corridas nos triciclos e nos carrinhos a pedais, as bolas que teimavam em ir parar à rua, os banhos de Verão no tanque de pedra construído no pátio da cozinha, a loja do Sr. Sampaio, no piso térreo, uma pequena boutique que servia as necessidades e os gostos locais, e as fantásticas aventuras de cowboys e índios nos terrenos anexos, foram momentos que guardei e ainda hoje recordo com alguma nostalgia e onde gosto sempre de regressar.
Casa no cruzamento entre a rua de Penavila e a rua da Liberdade, em Delães. Casa onde vivi até aos cinco anos.

Em 1979, por força da transferência de escola do meu pai, da minha mãe ou de ambos, não sei, a família mudou-se para Vila Nova de Gaia e para uma das suas freguesias litorais. Pela primeira vez compram uma casa, neste caso, um apartamento, situado numa pequena rua da Madalena. Neste momento tinha cinco anos de idade e vou viver durante oito anos e até aos meus treze, catorze anos na Madalena. São anos de feliz e vadia criancice. Aquela rua era pequena, mas nela moravam inúmeras famílias e muitas crianças e jovens, criando um ambiente propício para a brincadeira, para a aventura e para um crescimento saudável. São daqui as maiores e mais pormenorizadas memórias de pessoas, lugares e momentos da minha infância e pré-adolescência (factos, momentos e nomes que já aqui trouxe num outro texto...).
Apartamento no 1º esquerdo do nº 115, na rua Trás do Maninho, na Madalena. Casa onde vivi até aos catorze anos.

Em 1987, meus pais mudam-se pela última vez e desta vez para uma vivenda em Valadares. Uma vez mais a causa provável para esta mudança terá sido a pressão demográfica que, com a chegada de mais um filho e sequente crescimento, se começou a fazer sentir lá em casa. Na altura, foi para mim um tremendo sobressalto emocional, pois estava a afastar-me de todos aqueles que cresceram comigo e de todas as referências de menino. Era o fim de um ciclo que, por acaso ou não, coincidiu com a minha passagem para uma outra idade. Entretanto, e enquanto me adaptava ao novo bairro e rua, aos novos percursos e vizinhos, foram muitas e fortes as amarras que tive que libertar do lugar anterior. Fizeram-se novos e bons amigos que acabaram por substituir os anteriores e, nalguns casos, por ficar até hoje. A casa do Penedo era, e é, uma excelente casa, como jamais imaginara poder um dia habitar, julgo até que, nem os meus pais algum dia anteciparam poder ter uma casa como esta. Pela primeira vez tivemos direito a um quarto individual para cada um, tivemos anexos que pudemos transformar naquilo que bem entendemos e até animais, embora a custo, pudemos ter. Foi tempo de estudar, chegar à idade adulta e começar a trabalhar. Foi tempo de me ir soltando da família até ao dia em que fui, sem qualquer propósito, ver um prédio novo em Francelos e me apaixonei, vejam só, por um apartamento num condomínio fechado... Depois de duas ou três conversas e visitas, eu e a minha então já cara-metade sinalizámos e depois comprámos a casa. Recordo desse tempo a conversa que tive com o meu pai e a forma como ele me avisou: - Se achas que deves já pôr a corda ao pescoço, força...
Casa na rua da Gestosa, em Valadares. Casa onde vivi até aos vinte e seis anos. 

Estávamos em 1998 e, visto a esta distância, éramos umas crianças e foi com essa alegre, excitada e descomprometida juventude que fomos preenchendo os espaços, então enormes, com a parafernália e indumentária que considerávamos necessária. Era um apartamento com excelentes áreas, se exceptuarmos a cozinha e o condomínio tinha piscina. Era aqui que morávamos quando nasceu a nossa primeira filha. Curiosamente, no mesmo prédio viviam vários jovens casais que, tal como nós, haviam adquirido aí a sua primeira casa e cujos passos coincidiam com os nossos. Isso contribuiu para uma aproximação com alguns desses casais, acabando por se transformar em sólida amizade.
Apartamento na rua Dr. Ferreira Alves, em Francelos. Casa onde vivi até aos trinta e três anos.

Mais tarde, algures na Primavera de 2006, recebemos uma proposta para vendermos a nossa casa, o que rapidamente aconteceu e nos levou por meio ano, e com as tralhas às costas, para casa dos meus pais. Foi um tempo complicado, de readaptação e de incerteza quanto ao lugar onde iriamos morar. Interessante neste processo foi ter percebido na minha filha sentimentos semelhantes, até na argumentação, àqueles que eu senti quando os meus pais promoveram a mudança da Madalena para Valadares.
Enfim, no final desse mesmo ano, a casa que escolhêramos e havíamos comprado, ficou pronta para a habitarmos. Nova mudança, novos desarranjos, novas rotinas e novo filho, para mais rápido ocuparmos todos os cantos e recantos da casa e, assim, termos de novo a sensação de que já não cabemos nela. Ainda lá estamos e estamos bem. Na verdade, sinto sempre a necessidade de mudança, simpatizo com a ideia de mudança e gostaria muito de poder mudar de casa nos próximos tempos, mas não sei se será possível. No entretanto, importa salientar que a minha casa, a nossa casa, é uma excelente casa, confortável, espaçosa e nela, julgo, habita uma família normalmente feliz.
Apartamento na avenida António Coelho Moreira, em Valadares. Casa onde actualmente vivo.

Posfácio
Sincero agradecimento ao Google Street View pela experiência confortável, acessível e barata, ao me permitir viajar pelos lugares da minha memória e assim enriquecer este exercício.

20 fevereiro 2016

Umberto Eco (RIP)


A notícia já é de ontem à noite, mas só agora tive tempo para aqui vir e dedicar-lhe este pequeno texto. Tal como milhões de pessoas por todo o mundo, o primeiro contacto que tive com ele e com a sua obra, foi através do romance "O nome da Rosa" de 1980, entretanto adaptado ao cinema. Aliás, vi primeiro o filme e só depois li o romance. Mas foi muito mais tarde que passei a conhecê-lo e a admirá-lo. Foi a Antropologia e seus arrabaldes que me levaram aos seus escritos - artigos, ensaios e livros. Foi com gosto e com respeito pelas suas ideias que passou a ser uma das minhas referências, naquilo que é o contexto e o enquadramento teórico, em muitos dos meus trabalhos, investigações e escrita. Ainda agora tenho andado com um dos seus trabalhos sobre semiótica... Na minha humilde "biblioteca" tenho alguns títulos da sua vasta produção:
- O nome da Rosa;
- Baudolino;
- Pêndulo de Foucault;
- O conceito de texto;
- Sobre o espelho e outros ensaios;
- História do feio;
- Como se faz uma tese em Ciências Sociais;
- Dizer quase a mesma coisa sobre tradução;
- Semiótica e Filosofia da Linguagem;
Foi sem qualquer dúvida um dos grandes intelectuais da segunda metade do século XX e do início deste século. Fica o pensamento civilizacional mais pobre com a sua morte...

"Fazer progredir o pensamento não significa necessariamente refutar o passado: significa por vezes revisitá-lo, não só para compreender o que foi efectivamente dito, mas o que se poderia ter dito, ou pelo menos o que hoje pode dizer-se (talvez apenas hoje) relendo que então se disse."
- in Eco, Umberto (2001), Semiótica e Filosofia da Linguagem, Lisboa, Edições Instituto Piaget;

18 fevereiro 2016

mediascape: os gatos esperam por Cesariny


A história vem hoje contada no jornal Observador e diz mais ou menos isto...
Mário Cesariny faleceu no dia 26 de Novembro de 2006, aos 83 anos e foi sepultado num gavetão anónimo (o número 29) do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa. Quando faleceu deixou mais de um milhão de euros depositados nos bancos e no seu testamento, como não tinha descendência, deixou esses valores à Casa Pia de Lisboa. Em vida, o poeta tinha manifestado a vontade de não ser cremado, nem enterrado. Assim, para além de se lhe fazer a vontade, a Casa Pia comprou-lhe um jazigo nesse mesmo cemitério, para onde ele seria transladado mais tarde.
Só que passados nove anos continua tudo na mesma, ele sepultado num gavetão anónimo, no talhão dos artistas, e a Casa Pia sem resolver a situação do jazigo comprado no outro lado do cemitério... Segundo o Observador, o problema está num conflito entre a Casa Pia e Manuel Rosa, amigo, editor e também testamenteiro do poeta. A Casa Pia diz que aguarda projecto e orçamento para a requalificação do jazigo, que Manuel Rosa ficou de apresentar. Manuel Rosa diz que a Casa Pia não mostrou interesse em ver os planos, nem em financiar as obras necessárias.
O jazigo de Cesariny fica na ponta oposta do cemitério, longe do gavetão onde foi sepultado. É um jazigo modesto, construído “talvez nos anos 40”, com uma “porta de jardim”. “Fica num lugar simpático, onde existem muitos gatos”, salientou Manuel Rosa. “O Mário gostava muito de gatos.”
Entretanto, na outra ponta do cemitério, os gatos continuam a guardar aquela que deveria ser a última morada de Mário Cesariny. Deitados ao sol, observam indiferentes a passagem dos estranhos. É como se continuassem à espera.
Mais pormenores desta história podem-nos encontrar acima, no link do jornal Observador.

presente...


...da minha criança com a indicação que era o desenho do carro do pai.

14 fevereiro 2016

tédio e má consciência

É verdade que quando cumpria horários de segunda a sexta-feira, detestava os dias de Domingo, principalmente as suas tardes e noites, mas depois, quando passei a ser quase-dono do meu tempo, esse sentimento desvaneceu, transformando-se o tempo numa sequência de horas, dias e semanas, às quais eu dava, ou tentava dar, resposta, mas sem qualquer importante distinção entre manhã ou tarde, entre semana ou fim-de-semana. Importava e ainda importa aquilo que tenho em mãos ou em projecto e aquilo que tenho para fazer.
Acontece é que, ultimamente e neste preciso momento, sinto um profundo tédio, sem vontade de fazer o que seja, mas consciente de que o tempo não para e tenho aqui ao lado muito trabalho à espera. O desespero aumenta ao perceber que as horas estão vazias e continuo sem nada fazer... Caminho dum lado para o outro, ando às voltas por aqui e acolá, pego num livro que quero ler, mas pouso, abro o portátil para recomeçar algo, mas logo o fecho, projecto a semana que aí vem, mas depressa me arrependo, porque vai começar com uma viagem que não apetece fazer, olho as horas e tento fechar os olhos na esperança que o tempo passe...
Assim foi esta tarde de Domingo, vazia e de má consciência.

em jeito de esclarecimento

As histórias que tenho aqui publicado nos últimos dias, foram retiradas do livro "histórias de escano e soalheira", que publiquei em 2008 nas edições Cosmos. Relembrei-me delas porque continuo a encontrar fontes e relatos de momentos experimentados e vividos num passado mais ou menos longinquo e que vão sobrevivendo na memória individual e colectiva das e nas comunidades e que deveriam ser recolhidas e registadas. Não sei se algum dia voltarei a esse registo, mas gostaria muito, pois estamos a falar de etnografia vadia ou indigente, ou seja, de material que, normalmente, é desvalorizado e pouco importa aos etnografos ou académicos. Entretanto, vou coleccionando.

12 fevereiro 2016

do escano e da soalheira (11)

Até meados da década de 60, eram muitas as pessoas que se deslocavam à feira de Bragança. As tecedeiras e os fuseiros eram certinhos na esquina, em frente à praça do mercado e ao portão por onde entravam e saíam as alunas do liceu.
Num desses dias a caminho de Bragança, entre outras pessoas, iam a tia Cândida d’às Portas e a Felicíssima, as duas já falecidas. Uma das características da Felicíssima era ser boa conversadeira e ter um vocabulário maior e mais fluente do que era normal nas pessoas da aldeia. Ora, no decorrer da conversa, aplicou o termo repugna-me, o que meteu confusão à tia Cândida, pois não conhecia esse termo. Contudo, não o esqueceu e fixou-o...
De regresso à aldeia e nos dias seguintes, por tudo e por nada, a tia Cândida aplicava esse termo no seu discurso:
– Ó Riaga, repugna-me aí as tenazes!... ou: – Ó Júlio repugna-me aí a tua malga!... – mas ninguém reagia. Andava cada vez mais intrigada com o significado dessa palavra, até que um dia lá perguntou o que queria dizer. Depois de ouvir a explicação desabafou:
– Áh... atão é por isso que o meu Riaga não me repugna as tenazes!...
(in Sardão nº 13)

11 fevereiro 2016

do escano e da soalheira (10)

Noite de Inverno. Nos idos anos setenta, o Mâncio ia, como fazia quase todas as noites, belar para casa do tio Xenxo. Taberneiro amigo, pois deixava que toda a gente que quisesse, fosse para sua casa, para junto dos tições, aquecer-se e cavaquear durante essas longas beladas das noites de Inverno.
O Mâncio, como bom vizinho, era sempre dos primeiros a chegar, tomando o seu lugar no escano junto à lareira. Consoante iam chegando outras pessoas, iam-lhe pedindo:
– Chega-te um pouco para lá Mâncio!...
Depois chegava outro e repetia:
– Chega-te um pouco para lá Mâncio!...
Depois de uns tantos terem entrado, diz o Mâncio, já chateado:
– Ora... ando eu a aquecer o cu para todos!?!...
(in Sardão nº 6)

10 fevereiro 2016

do escano e da soalheira (9)

Nos tempos de miséria, o Marloco, um senhor de Ousilhão, que era muito amigo do Pitês, foi a Vila Boa na tentativa de conseguir um empréstimo de 5 mil escudos, naquele tempo, uma soma avultada. A conversa entre os dois, foi mais ou menos assim:
– Ó Pitês... desenrasca-me 5 contos, pois preciso deles!?...
– Se tibesses bindo onte... é que fui a Bragança ao banco e meti-o lá.
– Ladrão de mim, estibe p’ra bir!!!
(in Sardão nº 4)

09 fevereiro 2016

do escano e da soalheira (8)

Certo dia a Zufina, mulher do Luís Bouça, precisando de mercearia pediu ao marido para ir à taberna saber das coisas em falta. Lá chegado, o Luís Bouça faz o seu pedido e, atento, vê o taberneiro formar as parcelas dos preços das compras. Ao somar o taberneiro ia dizendo:
– ...e vai um... e vão dois...
Sem deixar o taberneiro acabar a sua conta, o Bouça atira o seguinte comentário:
– Com essa do vai um e do vão dois é que tu me fodes!...
(in Sardão nº 5)

08 fevereiro 2016

epistemologia

A ler...

do escano e da soalheira (7)

Aqui há uns anos atrás, fui fazer uma operação ao coração, pôr uma pilha para que a máquina não pare. Estava lá eu a preparar-me, quando uma enfermeira vira-se para mim e diz-me:
– O Senhor vai ter que tirar o ouro todo que tem, vai ter que tirar o relógio e vai ter que tirar os dentes!...
– Bô!... Caralho!... Tiro agora os dentes!?...
– Vai ter que tirar!
– Tiro o caralho!!!
Por fim a enfermeira lá se apercebeu que os dentes eram os meus e lá me deixou ir com eles...
(Novembro, 2007)