12 fevereiro 2016

do escano e da soalheira (11)

Até meados da década de 60, eram muitas as pessoas que se deslocavam à feira de Bragança. As tecedeiras e os fuseiros eram certinhos na esquina, em frente à praça do mercado e ao portão por onde entravam e saíam as alunas do liceu.
Num desses dias a caminho de Bragança, entre outras pessoas, iam a tia Cândida d’às Portas e a Felicíssima, as duas já falecidas. Uma das características da Felicíssima era ser boa conversadeira e ter um vocabulário maior e mais fluente do que era normal nas pessoas da aldeia. Ora, no decorrer da conversa, aplicou o termo repugna-me, o que meteu confusão à tia Cândida, pois não conhecia esse termo. Contudo, não o esqueceu e fixou-o...
De regresso à aldeia e nos dias seguintes, por tudo e por nada, a tia Cândida aplicava esse termo no seu discurso:
– Ó Riaga, repugna-me aí as tenazes!... ou: – Ó Júlio repugna-me aí a tua malga!... – mas ninguém reagia. Andava cada vez mais intrigada com o significado dessa palavra, até que um dia lá perguntou o que queria dizer. Depois de ouvir a explicação desabafou:
– Áh... atão é por isso que o meu Riaga não me repugna as tenazes!...
(in Sardão nº 13)

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