30 setembro 2010

provinciano

O ridículo e a cagança de um provinciano que pode também ser um valente azeiteiro.

25 setembro 2010

paisagens do eu em viagem

Gosto de viajar de comboio porque, ao contrário de outros meios de transporte disponíveis (acessíveis), o tempo de viagem não representa para mim um tempo morto ou desocupado, pois posso sempre aproveitar esses tempos-espaços para ler, escrever, reflectir, dormir, etc. Já nos restantes e alternativos transportes isso não me é possível, uma vez que no automóvel ou vou ocupado com a condução ou vou atento à condução de quem me conduz e no avião, o stress e o medo tolham-me qualquer faculdade mental e racional. O tempo de viagem num comboio também me permite usufruir das paisagens exteriores, tal como me permite observar o ambiente interior. Ocupação à qual, com prazer voyeurista, me dedico durante longas horas de viagem. Tudo isto apenas para poder partilhar uma dessas etnografias...
Numa viagem de ida e volta entre Vila Nova de Gaia e o Entroncamento, utilizando o serviço Inter-Cidades da CP, pude observar com miudência a viagem daqueles que bem perto se instalaram. Viagens repletas de jovens... e tantos que eles(as) eram por todo o comboio. Sozinhos(as) ou em grupos, sentia-se no ambiente a vida recheada de mochilas às costas e auriculares nos ouvidos. No meu sentado e curto horizonte visual, viajavam quatro rapazes, estupidamente adolescentes, que descontraidamente trocavam conversas: enquanto um lia atentamente o Memorial do Convento de José Saramago, outro jogava um jogo de carros no seu telemóvel, um outro lia, na revista Sábado, um, concerteza interessante e cativante, artigo sobre sexo e as suas cambiantes anal e oral... de vez enquando e de certo motivado pela leitura, lá ia comentando com os companheiros de viagem acerca das qualidades étnicas do sémen e as consequências do seu uso(!?). O último elemento deste quarteto, pura e semplesmente, dormia.
Imediatamente atrás destes quatro e ao meu lado esquerdo, sozinha, viajava uma jovem, morena, esguia, bonita, com não mais de 20 anos de idade que, entre trocas de sms no seu telemóvel e um nervoso mascar de chiclete, ia escutando atentamente a conversa daqueles petizes e, a espaços, denunciava-se com brilhantes sorrisos. Reparei na sua inquietude, não parando um momento: ora deitava-se, ora virava-se para um lado, ora virava-se para o outro, ora cruzava e descruzava a perna, ora levantava-se e espreitava para ambas as extremidades da carruagem, ora voltava a sentar-se...
Mais à frente, chegou e sentou-se ao lado da jovem morena um rapaz negro que trazia na cabeça um barrete e que, de imediato, começou a conversar com ela. Se já se conheciam ou não, não deu para perceber, mas a determinada altura escuto-a a perguntar-lhe o seu nome. Depois de mais umas dezenas de minutos e quilómetros, ao aproximarmo-nos de mais uma estação, ela deu-lhe um beijo nos lábios, levantou-se e foi-se embora. Saiu nessa estação. Mal o comboio retomou a sua marcha ele também se levantou daquele lugar e desapareceu para outra carruagem.
Eu, que me sentara sozinho e desde logo começara a ler, depressa me desconcentrei e os meus sentidos reféns ficaram dessas paisagens. Quis escrever aquilo que presenciava, mas a excessiva trepidação do movimento do comboio apenas permitiu escrevinhar e rabiscar. Servi-me da memória e assim se escreveu.

21 setembro 2010

improvisação

A dada altura, a mãe de Christie conta-lhe como Adão e Eva comeram o fruto da árvore. Evidentemente, diz ela, toda a história é absurda, pois Deus, sendo omnisciente, podia tê-los interrompido em qualquer momento: «Mas não: Deus tem andado cá a improvisar desde o início, como alguns romancistas...
James Wood

18 setembro 2010

constatação

Hoje, ao abrir e ler o jornal diário Público, pude verificar como a vida política nacional tem, por estes dias, andado fervilhante. Mesmo reconhecendo o anátema generalizado da opinião pública em relação à classe política, não posso deixar de salientar a actividade parlamentar destes últimos dias. Desde logo com a chegada ao parlamento da proposta de revisão constitucional do PSD que apesar de polémica e nada consensual, obrigou os restantes partidos a manifestarem as suas intenções de apresentarem, também eles, as suas propostas. Depois, foi com agrado que registei a proposta do CDS e do BE para a criação de uma rede autónoma de cuidados paliativos, que apesar de chumbada pelos votos contra da bancada do PS e das abstenções do PSD, PCP e PEV, teve o mérito de obrigar à reflexão acerca da realidade dos cuidados continuados existentes nas unidades hospitalares. Também importante é a iniciativa do BE que levará, pela primeira vez, à Assembleia da República um projecto de lei do testamento vital. Sem confundir com a questão da eutanásia, o BE quer regular os direitos dos cidadãos quanto à decisão sobre a prestação futura de cuidados de saúde, nos casos em que houver incapacidade de exprimir a sua vontade. Muito bem. Por fim, uma nota para a vergonhosa atitude das bancadas do PS, PSD e CDS que chumbaram um voto de condenação da expulsão dos ciganos em França, proposto pelo BE. Salvo um ou outro deputado destas bancadas, a disciplina de voto imposta pelas direcções dos grupos parlamentares demonstra bem a atitude subserviente para com a França e seu Presidente, como também e acima de tudo, manifesta uma concordância com a atitude racista e xenófoba desse estado que, enquanto membro da União Europeia não pode impor barreiras à livre circulação de pessoas. A intenção de etnicizar o crime e a violência não pode ser aceite pelos restantes países do espaço europeu – exceptuando a Itália, que já procedeu de igual forma… sob pena de regressarmos a um tempo de ensimesmamento e de esquizofrenia social. É por estes exemplos, e outros, que eu continuo a considerar o BE o meu espaço ideológico e, acima de tudo, o enquadramento ideal para a minha intervenção cívica desassombrada.

agendamento

15 setembro 2010

O Filme do Desassossego



O Filme do Desassossego estreia em Lisboa no próximo dia 29 de Setembro. Entre 7 e 9 de Outubro estará no São João no Porto e depois em digressão por todo o país, exceptuando claro, Bragança... A responsabilidade pela exibição é da própria produtora que, segundo parece, quer evitar o circuito comercial das grandes salas de cinema. Onde não sei, mas irei vê-lo.

10 setembro 2010

uma ideia original

Em 1969 o escritor inglês BS Johnson publicou "The Unfortunates", um livro cujas folhas eram colocadas soltas dentro de uma caixa, obrigando os leitores a organizá-las livremente e segundo os seus critérios. Original, de facto. Imagino a confusão e a quantidade de histórias diferentes que essa liberdade permitiu.

01 setembro 2010

lançamento em Carção

(fotografias da Associação Almocreve) - ver mais fotografias