27 setembro 2009

descompressão

Em final de noite de eleições e para sair do assunto, começo a arrumar a carteira, onde encontro este cartãozinho. Diz respeito a um sítio simpático onde fui jantar com um grupo de amigos(as) no início do mês de Setembro. Sei apenas que ficava lá para os lados do Bairro Alto, em Lisboa.

26 setembro 2009

olho de Alá

(texto escrito a pedido de um amigo para um "panfleto" de apresentação de uma peça de teatro com o mesmo nome. O resultado não agrada, mas mesmo assim enviei-lho com a indicação de que se não gostasse não o utilizasse)

“a fé na capacidade humana de transcender limitações”
Ana Saldanha

A sociedade ocidental, fortemente influenciada pelo positivismo, ainda hoje vive agarrada à ciência convencional, que na sua pressa pelas descobertas e na sua voracidade pelo conhecimento, objectivo santo e sacro da “boa” ciência, esquece com facilidade tudo ou parte daquilo que a precedeu, fundou ou fundamentou e permitiu evoluir até ao estado presente. Vivemos um tempo complexo, de tal forma especializado que, sem reflexão, vamos reinventando os limites da nossa percepção. Um dos momentos primeiros desta nova ciência, foi como que um acaso, num encontro fortuito de culturas, a curiosidade pelo outro e pelo exótico levou até à velha Europa um estranho instrumento, levado da Península Ibérica nas alforges de um velho comerciante. Diz a lenda que foi o seu peculiar design que despertou o interesse. Já no centro do mundo de então terá chegado às mãos de um mestre, interessado nas ciências do oculto e que na clandestinidade praticava as suas manhas e patranhas. Como estava bem consciente do perigo da sua actividade, era com secretismo que aceitava partilhar os seus conhecimentos e mostrar a terceiros as suas estranhas descobertas. Foi este clandestino que baptizou o tal objecto de “olho de Alá”, pois percebera que este tinha poderes extraordinários, jamais vistos, sem humana explicação ou entendimento e que ultrapassava em muito os limites da percepção de então. Algo semelhante aos poderes divinos ou à visão de um Deus, daí a designação. Nessa pré-época moderna, os paradigmas vigentes estavam nas mãos de um poder instituído fortemente influenciado pela hierarquia da igreja, o que levava a uma atitude persecutória em relação a tudo o que pudesse por em questão essa mesma ordem. O olho de Alá foi o elemento que fundou a crítica e o movimento contestatário ao status quo desse tempo. Foi ele que permitiu conhecer todo um mundo novo, até aí desconhecido, que se nos apresentava através dessas lentes. Mundo esquivo de novas dimensões, que obrigava a uma nova abordagem e, consequentemente, a uma nova ciência que não dependesse sequer do poder da Igreja, mas da arte e engenho do Homem em rasgar com as velhas lógicas e agarrar a vanguarda da descoberta e do conhecimento.

dia de reflexão

Sempre no dia seguinte a um período de campanha eleitoral, este é o dia em que todos devemos reflectir sobre aquilo que queremos para o futuro do país, assim como é o dia de descanso para todos aqueles e aquelas que participaram activamente no trabalho das campanhas eleitorais. Esse período de cerca de 15 dias foi um tempo muito intenso e desgastante, no qual fizemos milhares de quilómetros e visitámos todas as sedes de concelho do distrito de Bragança. Se na generalidade podemos dizer que fomos bem recebidos em todo o lado, também é verdade que há localidades onde a nossa presença é mais notada e criticada. Mas em democracia é mesmo assim: Aplaudidos e/ou vaiados temos que saber continuar e sempre com um sorriso nos lábios. Enfim, foi uma experiência interessante e pessoalmente enriquecedora. Não sei se algum dia a voltarei a experimentar (pelo menos nestas condições e com esta responsabilidade), mas valeu a pena. As expectativas são elevados e a ansiedade pelo resultado de amanhã enorme. Estamos prontos.

20 setembro 2009

forwarded message

Caro sr. Luís Vale,
Gostei muito da sua proposta sobre a Regionalização, mas você parece-me estar sózinho em relação aos líderes nacionais do BE ou aparenta ser uma voz a pregar no deserto do BE. Parece-me que o BE continua a seguir o modelo burocrático, seguidista e desregionalizador da direita. É ser-se de esquerda propor ou concordar com a regionalização burocrática da regiões-plano artificiais e burocráticas como propõe o PS e os outros partidos de direita do do bloco central?
Então qual é a diferença em votar no BE ou nos partidos da direita incluindo PS?
Em termos de regionalização, NENHUMA!
Por causa da política oficial do BE em relação à Regionalização (não confundam a verdadeira regionalização ao serviço dos povos regionais de Portugal com a DESREGIONALIZAÇÃO que o PS e a direita agora propõem) este ano nas Legislativas de 27 Setembro, eu não voto BE! Não sei se vote CDU, POUS, PCTP-MRPP ou outro de esquerda que apareça, mas BE até proporem uma verdadeira Regionalização, não voto mais!
Então o BE e a esquerda portuguesa estão tão preocupados com a autonomia ou a liberdade dos povos regionais de outros países, galegos, bascos, chechenos, corsos, escoceses, morávios, etc, etc. mas não ligam nenhuma aos povos regionais de Portugal?
Os ribatejanos não existem? Os galaicos ou minhotos também não existem? Os estremenhos não existem? os lusitanos ou beirões também não existem?
Eu aconselhava era toda a Direcção Nacional do BE a darem uma olhadela no site de uma Associação regionalista lusitana que defende a distinção entre os portugueses e os outros povos regionais de Portugal e a regionalização de todas as regiões étnico-culturais e a provincialização das regiões históricas como entidades regionais secundárias, para ver se aprendiam alguma coisa sobre as culturas étnico-culturais dos povos regionais e nativos de Portugal e as tradições que ainda sobrevivem (embora ameaçadas) neste país atrofiado e ignorado até por alguns camaradas de esquerda.
Amigo e camarada Luís Vale , eu sempre fui um homem de esquerda (nunca votei PS nem direita), posso dizer-lhe que a sua proposta é a melhor que vi até agora (é quase perfeita), embora seja necessário, na minha humilde opinião pessoal, preservar a existência da região do Ribatejo e do Grande Porto independentes, e a região das Beiras poderia ser uma só embora subdividida em três ou quatro províncias também oficiais, e porque não devolver outra vez o nome original da BEira, que sempre foi Lusitânia e que ainda hoje é habitada no seu interior montanhoso por um povo com tradições culturais únicas que sempre se chamou de lusitano?
Obrigado pela sua atenção.
PS- Espero que este humilde cidadão português não seja alvo de censura, porque há dois meses +-, enviei uma carta semelhante a manifestar a minha preocupação em relação à posição oficial de alguns lideres nacionais do BE sobre a Regionalização e a denunciar a Desregionalização, mas a minha carta, não só não foi publicada na página do partido na internet como também não obtive até hoje resposta. Pelo Socialismo e o poder popular!
José Silva.

design inteligente

Andava eu entediado sem saber muito bem o que fazer. Tudo me aborrecia e não estava bem em lado nenhum. Passeava-me pelo cosmos sem destino, tropeçava num cometa aqui e numa estrela acolá, deambulava daqui para ali e de além para aqui sem qualquer destino ou propósito e, de vez em quando, para acrescentar adrenalina, lá me atirava para a centrifugação de um qualquer buraco negro. Mas tudo acontecia muito depressa e logo regressava à anterior monotonia. Acima de tudo, aquilo que mais me enfurecia era o facto de não precisar de qualquer esforço para conseguir o que pretendia. Um pensamento bastava para me transportar para essa realidade. Chatice. Algo novo e diferente precisava urgentemente.
A resposta veio em forma de mundo, imaginado, projectado e construído num tempo que precisei de organizar e chamei dias. Porque gostei e me deu imenso prazer, gastei sete desses tempos. Agora que o recordo, foram os melhores tempos da minha intangível existência. Tanto tempo já passou e tanto fiz depois, mas esse momento primeiro foi o mais belo e perfeito. O cuidado e a atenção a que me obriguei, permitiu-me desenhar tudo ao mais ínfimo pormenor, experimentar e testar antes de fazer e, depois de tudo montado, por a funcionar. Com omni-atenção consegui ir corrigindo alguns erros congénitos e pequenas falhas técnicas e assim, já no final do sexto tempo, pude com deleite apreciar o sublime. Ao sétimo momento, exausto descansei.

13 setembro 2009

colecta no congresso da APA

Aproveitando os preços (incrivelmente) reduzidos dos livros à venda numa pequena feira do livro promovida pela organização do IV Congresso da APA, trouxe alguns títulos que estavam em falta, ou seja, que eu queria e precisava comprar. Mas só para que se perceba a grande redução de preços, comprei um livro por 8 euros, quando nas lojas custa 24 euros. Só podia aproveitar.
- Medeiros, António, 2006, Dois lados de um rio - nacionalismos e etnografias na Galiza e em Portugal, Lisboa, ICS;
- Guimarães, Ana Paula, 2008, Nós de Vozes, Lisboa, Edições Colibri;
- Revista Etnográfica, vol. 12 nº1, Maio 2008, Lisboa, Centro de Estudos de Antropologia Social;
- Espírito Santo, Moisés, 1989, Fontes Remotas da Cultura Portuguesa, Lisboa, Assírio & Alvim;
- Raposo, Paulo, 1991, Corpos, Arados e Romarias, Lisboa, Escher;
- Guimarães, Ana Paula e Barbosa, João e Fonseca, Luís (org.), 2004, Falas da Terra - natureza e ambiente na tradição popular portuguesa, Lisboa, Edições Colibri;
- Balsa, Casimiro (org.), 2006, Relações Sociais de Espaço, Lisboa, Edições Colibri;

06 setembro 2009

é como voltar a casa

Este último ano que passei na televisão não foi feliz, sem culpa nenhuma para Manuela Moura Guedes, que me tratou com inalterável generosidade. À parte a minha má imagem (um understatement), a minha má voz, geral incoerência e péssima dicção, sucede que escrever (um ofício em que me eduquei) é exactamente o contrário de falar. Quem fala improvisa; quem escreve calcula, planeia, emenda, substitui. Os dois processos são contrários. Pior, são incompatíveis. Verdade que a prosa acabou por me levar à televisão: um compreensível acidente. Só que "um homem de letras", mesmo medíocre, nunca, no fundo, se transforma. Voltar a este privilegiado canto é, para mim, como voltar a casa.
Vasco Pulido Valente, Jornal Público, 06/09/2009

04 setembro 2009

como eu gostava, como eu quero estar enganado

Bem sei que ainda falta algum tempo para o dia das eleições legislativas e que muita água turva e revoltada vai passar por baixo desta ponte, mas hoje foi o dia em que me apercebi, me convenci que o caso do Jornal Nacional da TVI e o afastamento de Manuela Moura Guedes e demais equipa foi a machada final nas hipóteses de José Sócrates e do PS ganhar essas eleições. Bem dizem que as eleições não se ganham, mas perdem-se e este será mais um exemplo desse lapidar sentimento. Se assim for, e eu não quero que seja, nos próximos anos ou décadas o "reinado" de Sócrates será um case study nas melhores academias (da gestão e administração pública, do direito, da criminologia e investigação judicial, da comunicação, da política, do marketing, etc.). O seu maior legado será esse, o de contribuir para o avanço da ciência em Portugal e, quiçá, no estrangeiro (seja isso onde for...).