29 outubro 2009

obtusidades

Atira para aquilo que vês e acerta naquilo que não vês.
Aproveitando o título escolhido para este texto, reconheço em mim algo de obtuso. Donde, a incompreensão perante a padronização dos consumos turísticos, actualmente na moda. Por isso, importará compreender todo o edifício construído pelo lobby do sector que impôs a actual ditadura, coagindo o tempo livre, detendo o poder sobre o nosso tempo livre. Inaceitável. É nas mãos desse poder (sem rosto) que está a informação factual sobre os destinos, assim como a produção e a gestão das expectativas e das representações dos potenciais clientes. Os objectos de consumo turístico adquirem maior visibilidade e protagonismo através das suas representações, do discurso publicitário, do que através das suas qualidades intrínsecas. A experiência turística, não raras vezes, é dissonante das expectativas criadas pelo discurso publicitário, ou, o discurso turístico afirma repetidamente que o turista muda(rá), enquanto que o próprio nativo permanece(rá) sempre inalterado. Depois, é num ambiente adverso que se assumem os compromissos: compra-se através de catálogo, devidamente produzido (cor, lettring, perspectiva, beleza, paisagem, o outro, o monumento), com preços convidativos (exclusivamente imbatíveis...), suportados pela solicitude dos colaboradores da agência de turismo/viagens que, pelo discurso, são uns felizardos e já visitaram todos os destinos possíveis e imagináveis.
Tenho uma enorme dificuldade em compreender como alguém escolhe; repito, escolhe um destino turístico para passar os seus dias de descanso, tendo por critério o "pacote" "oferecido". Compreensivelmente, as pessoas são obrigadas, por constrangimentos ou limitações orçamentais, a escolher destinos mais baratos, mais perto geograficamente e menos dias de veraneio. Agora, férias em pacote, famílias alargadas empacotadas num ditoso programa cultural, recreativo e gastronómico de qualidade duvidosa, isso não. Isso eu não compreendo, nem quero. Seriam demasiados constrangimentos e... I like the freedom to arrive anywhere or anytime off schedule by my way.
Isto está nos livros e eu ando a lê-los.

antes ripávamos folhas dos negrilhos, agora ripamos músicas dos cds

27 outubro 2009

primeira aula de piano

Lembro-me bem das primeiras sensações das aulas de Educação Musical e, principalmente, das aulas de Piano, que frequentei na Academia de Vilar do Paraíso há quase trinta anos. Era um mundo novo que até então a minha infância desconhecia. Já tinha experimentado n actividades, mas a nenhuma me fidelizei. Algures no início da década de oitenta do século passado, por iníciativa dos meus pais,começou uma bonita aventura que me permitiu experimentar sensações únicas e que jamais se repetiram. Agora, passados todos estes anos, estou de volta à Academia de Vilar do Paraíso (entretanto em novas instalações) para levar a Emília à sua primeira aula de Piano (experiência). Ela anda excitadíssima. Eu apreensivo e receoso que ela não goste do instrumento.

24 outubro 2009

aguarela de um lugar

Num resto de parede branca, ou quase, junto a uma esquina e perto de uma janela, uma pequena aguarela, devidamente limitada por pobre moldura castanha. Oferta de um dia normal, nunca terá sido protagonista maior. Muitas vezes dou comigo, tal como agora, quedo a olhá-la: a imensidade dessa paisagem, as rugas de seu relevo e a insistência de suas cores dispõem-me à mais abstracta contemplação (o tempo que já terá sido consumido enquanto eu aqui estou, assim...). Que lugar bonito este. Eu reconheço o lugar. Muitas vezes por lá passei e tantas quero ainda passar. É precisamente nesta altura do ano que ele assim se apresenta, com a força e a ternura das cores outonais. Tenho que lá regressar.

22 outubro 2009

excerto

Não consigo deixar de me tornar permeável aos que me estão mais perto, sofrer com eles, preocupar-me com eles. Não gosto de ter opiniões, quanto mais de as escrever, porque fixar uma determinação é enfraquecê-la. Detesto convencer alguém de alguma coisa, porque já estive convencido de coisas opostas. Mas abomino o relativismo do vale tudo, o egoísmo do não ter nada que ver com isso, a injustiça mesmo quando provém da simples ignorância. Gosto de saber, mais uma vez, que alguns dos meus bons amigos não gostaram nada do que escrevi, porque sabem manter a inteligente e saudável distância entre o que se é e o que se escreve.
Pedro Paixão in "A Cidade Depois", 1999.

20 outubro 2009

três cantos

Sem dúvida uma boa notícia, recebida há uns dias atrás. Desde logo decidi ir assistir ao concerto destes três monstros da cena musical portuguesa, nunca imaginando que houvesse dificuldades na aquisição dos bilhetes para uma das duas datas previstas para o Coliseu do Porto. Bem enganado estava eu, pois hoje quando tentei saber mais e me dirigi a um balcão da Fnac, só já arranjei bilhetes para a segunda data (1 de Novembro) e terei sido dos últimos a conseguir lugares para a Plateia. Enfim, já está.

19 outubro 2009

do arquivo pessoa

A única realidade para mim são as minhas sensações. Eu sou uma sensação minha. Portanto nem da minha própria existência estou certo. Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas.
A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza. Uma sensação minha? De quê?
Procurar o sonho é pois procurar a verdade, visto que a única verdade para mim, sou eu próprio. Isolar-se tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.
s.d. - Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968. - 220.

metáfora

(clicar para ampliar e conseguir ler)



15 outubro 2009

instantes urbanos VII

Distraído, provavelmente a olhar o nada que passa no chão que vou pisando, passo em frente a uma loja Natura, de onde sai um agradável cheiro de insenso, que reconheço e que gostava de voltar a sentir lá por casa. Recuo e entro na loja à procura de uma qualquer funcionária, a quem pergunto:
- Que cheiro é este que se ouve lá fora?
(um momento de silêncio)... - Desculpe!?
- Este cheiro que chega lá fora é insenso. Mas qual?
- Ah, o cheiro de insenso! É sandalo, mas não temos para venda.
- Ok, obrigado.

(dias esquivos estes)

13 outubro 2009

momentos em campanha






LER 84

LER: "Somos um país de brandos costumes ou já mudámos alguma coisa?"
Augusto Cid: "Nunca fomos. A nossa História está recheada de violência e assassinatos. A versão dos "brandos costumes" vem do facto de sermos um país de ignorantes."

"Escrever, no sentido mais original do termo, nós não sabemos exactamente o que seja." Eduardo Lourenço