25 dezembro 2009

21 dezembro 2009

a máscara e opções políticas

Porque vem referido neste documento e porque foi algo que aconteceu há poucos dias, gostaria vos trazer uma pequena reflexão acerca da Bienal da Máscara, dos caretos e das diferentes iniciativas organizadas pela autarquia sobre esta temática, isto é, sobre a Máscara. Isto porque, sendo uma iniciativa da Câmara Municipal será uma opção política e por isso mesmo considero importante partilhar convosco o seguinte:
Começo com uma afirmação pela qual assumo total responsabilidade: NUNCA COMO HOJE, EM BRAGANÇA E SUA REGIÃO, A MÁSCARA TEVE TANTA IMPORTÂNCIA, TANTO PROTAGONISMO, TANTA CENTRALIDADE.
Bem sei e, concerteza, saberão os demais aqui presentes que nos últimos tempos e por esse mundo fora, assim como em Portugal, temos assistido a uma forte tematização como forma de estruturar e gerir os territórios (patrimónios mundiais ou reservas naturais são alguns exemplos que todos conhecem). Um bom exemplo, concreto e bem próximo, será o do município de Sabrosa, que não satisfeito com a sua inclusão num território protegido pela UNESCO, não satisfeito pela produção de vinhos de qualidade, adoptou uma personagem - Fernão de Magalhães, cuja origem, envolta em polémica, alguns afirmam ser em Sabrosa, como ponto de partida para uma circum-navegação de imaginários globalizantes, ou seja, a associação global de um personagem ao seu ponto de origem, que por acaso é em Sabrosa, que por acaso é em Portugal. A isto se dá o nome de tematização.
Aquilo que o município de Bragança faz com a Máscara poderia muito bem ser também uma tematização, mas pelo que me é dado a perceber pelas narrativas, pelos discursos e pelas actividades não é isso que se trata. E também importa salientar que aquilo que está em questão, no meu entender, não é a realização da Bienal da Máscara ou o Museu da Máscara (que considero um excelente equipamento) nem os inputs de outras geografias. Aquilo que me preocupa são as narrativas, os discursos repletos de lugares comuns produzidos pelos mesmos de sempre e que, ano após ano, vão-se repetindo na elegia ao objecto como o sacrossanto da região, numa folclorização exacerbada que até poderá levar as pessoas para as ruas e que reunirá os grupos de máscaras ou de caretos, consoante a sua origem (e vejam como a própria designação do grupo já nos remete para algo folclórico…), e que mais não fazem do que uma actuação para os outros verem e que alguém paga. Aliás, mesmo na nossa região assistimos ao aparecimento e à organização de muitos desses grupos no lugar dos velhos rituais que em muitos lugares e aldeias há muito tinham desaparecido.
Não me parece que a folclorização revivalista seja a melhor forma de dignificar a Máscara, nem me parece que a médio ou longo prazo possa ser uma mais-valia para a região e para o município de Bragança. Importante era estudar, recolher e perceber junto daqueles que têm essa memória.
Agora para finalizar, regresso à minha afirmação inicial, para vos dizer que ela tanto mais me parece verdade, que a Máscara nos seus ambientes originais, rurais, nunca teve tantas honras e tanta serventia. A sua utilização era sempre ritual, com data e hora marcada, num tempo de excepção, num tempo dentro do tempo, devidamente enquadrado pelo ciclo anual agrícola e pelo ciclo anual litúrgico. Tempo oportuno para alguma redistribuição (géneros alimentares, adereços, etc) dentro das comunidades, como a antropóloga Paula Godinho defende, e tempo de uma maior tolerância social que poderia funcionar como descompressor das tensões existentes nas comunidades. Tudo isto, durante meia dúzia de dias em cada ano. É por isto e mais, que me desagrada ver toda esta parafernália discursiva e de legitimação forçada de algo que querem que seja aquilo que nunca foi. Mas há muito para fazer e esta é só uma opinião.

(intervenção na Assembleia Municipal de Bragança, em 18/12/2009, a propósito da IV Bienal da Máscara)

17 dezembro 2009

ausência

Como custa viver num dia assim. Não estar bem em lugar nenhum, não saber o que fazer, ainda que se tente disfarçar com o trabalho. Repetir rotinas sem razão e ir aos lugares comuns para tentar aliviar a ansiedade foi estratégia que não resultou e a amargura perdurou. Não saber o que pensar, mas sentir que o futuro estará a ser decidido sem eu poder participar, sem eu poder intervir, deixa-me angustiado.
Sem uma única noticia tua. Sem, que seja, um sinal. Diz-me, não importa o quê, mas liga-me. Fala-me.
No fim deste dia talvez saiba algo mais, mas a incerteza já terá durado o suficiente para saber que te amo verdadeiramente. Fala-me.

14 dezembro 2009

páginas da vida num guardanapo abandonado numa mesa de café. a higiene das vidas que nos rodeiam e se (des)organizam em índices vagabundos


sarau medieval

Foi no passado Sábado em Bragança que a convite do meu amigo António Afonso reuni com os elementos do grupo de teatro de Bragança e com o grupo de teatro de Zamora. Foi noite muito aprazível e divertida. Com direito a um momento "epifánico" de âmbito pessoal. Com programa cultural variado e de excelente qualidade, do qual destaco os momentos de representação de ambos os grupos. Deste momento sobra este único registo (sei que outros existirão) da entrada no cenário e do papel ao qual me prestei. Pena é que não se veja a dama que trazia pela mão, pois seria bem mais interessante: bem vestida e muito gira.

09 dezembro 2009

07 dezembro 2009

destes dias e dos outros

- BENJAMIM, Walter, 2000, A Modernidade e os Modernos, Rio de Janeiro, Edição Tempo Brasileiro;
- MATTELART, Armand e NEVEU, Érik, 2006, Introdução aos Cultural Studies, Porto, Porto Editora;
- FORTUNA, Carlos (org.), 2001, Cidade, Cultura e Globalização, Oeiras, Celta Editora;
- VÁRIOS, 2005, O Rio, Porto, PANMIXIA - Associação Cultural;
- PEREIRO, Xerardo, RISCO, Luís e LLANA, César, 2006, As Fronteiras e as Identidades Raianas entre Portugal e España, Vila Real, Sector Editorial dos SDE;
- AFONSO, Nuno, 2009, O meu povo em gente, Porto, Papiro Editora;
- DUARTE, Alice, 2009, Experiências de Consumo - estudos de caso no interior da classe média, Porto, U. Porto Editorial;
- VÁRIOS, 2009, Dicionário do Judaísmo Português, Queluz, Editorial Presença;

em jeito de balanço anual, relatório anual de actividades ou lista de compras, aí (aqui) está


05 dezembro 2009

gratuitidade da qualidade

Se gostam e querem ler qualidade, o meu conselho de amigo é visitarem este blogue. A 1 dia do paraíso é, digo eu, estar perto desse paraíso, mas ter a consciência que esse dia jamais chegará, e por isso, que o paraíso nunca será alcançado. Apropriada metáfora para a nossa imperfeita condição.

28 novembro 2009

Siza Vieira e oito milhões de euros





reunião de trabalho a jantar com amigos

Estava agendado há algum tempo, exclusivamente, para discutir pormenores de projecto que se pretende terminar até o mês de Agosto do próximo ano.
O local para o encontro foi o mesmo de encontros anteriores. Em Gimonde e numa mesa redonda éramos cinco pessoas. Supostamente trabalharíamos o formato e o acabamento da edição a preparar para essa data, mas a conversa começou por ser sobre tudo e mais alguma coisa menos aquilo que (me) interessava. Enquanto o bacalhau do chefe Ruca era degustado, aprendi alguma coisa do muito que eles sabem acerca de cogumelos. Impressionante tudo que estes amigos conhecem acerca do mundo dos cogumelos – qualidades, formatos, características, cores, locais, tamanhos, melhor forma de os colher, congelar, consumir, preços, e mais e mais. Eu, para não ficar completamente deslocado, depois de fazer a devida declaração de interesses, na qual afirmei que cogumelos só os enlatados, lá fui colocando uma ou outra questão, mostrando interesse pela conversa, que tanto os entusiasmava. Não será preciso dizer que nada retive e que, neste momento, sei o mesmo que sempre soube, nada.
Depois disto e já depois da refeição, passámos aos cafés e digestivos e então lá começamos a falar acerca daquilo que estava na agenda de trabalhos. A partir deste momento pedi autorização para gravar a conversa e com os seus consentimentos coloquei o gravador no centro da mesa. Fomos falando sobre vários aspectos mas sempre tendo como pano de fundo o culto e a festa da comunidade dos quatro indivíduos. A qualidade do registo sonoro, ainda não verifiquei, mas logo fiquei com a sensação que bom material estaria a ser recolhido - pormenores muito interessantes e importantes para a investigação foram revelados e discutidos.
Noite dentro e já sozinhos no restaurante, depois de mais de duas horas de conversa, alguém se lembrou que os donos do restaurante só estavam à espera da nossa saída para fechar.
Entretanto, enquanto o whisky abundava nos copos e a boa disposição se sentia, um dos rapazes ao falar da sua experiência e relação pessoal com a santa padroeira, não evitou as lágrimas. O que só veio reforçar a ideia que já tinha: a forte e sentida relação entre os indivíduos desta comunidade e sua santa padroeira. Impressionante.
Quando saí, a certeza de que este projecto vai ser um sucesso e terá os apoios necessários.

24 novembro 2009

a propósito de paixão

O apaixonado prefere o presente imediato, sem olhar ao futuro, ou recorda o passado com satisfação, na esperança de o tornar presente. Ambiciona um presente contínuo que torne perpétua a sua satisfação. E pelos vistos desde sempre assim terá sido: Rezam os anais da história que:
Para os hedonistas toda a paixão é boa. Os românticos comprazem-se em exaltar o seu valor emocional e energético e em glorificar todos os instintos. Para os estóicos a paixão é uma doença da alma e uma monstruosidade oposta à razão. Os epicuristas vêem nela o contrário à serenidade. Kant considera-a uma rebelião das tendências contra a autoridade soberana da razão. Para S. Tomás, considerada em si mesmo, a paixão não é boa nem é má.
Como remédios curativos ou paliativos para as paixões são apontados: remédios preventivos - viagens, estudo, divertimentos, novas actividades; remédios repressivos - imaginação, vontade, temperamento, ambientes, sublimação; depois disto, e caso não resulte: flagelação física e psíquica - chicotes, dildos, lubrificantes, bonecas, ceras derretidas, grampos, enfim, a parafernália possível...

20 novembro 2009

leitura de clássicos dá nisto... não paramos de encontrar contemporaneidades

"Acabou para nós a ficção: calculamos; mas para que pudéssemos calcular, tivemos de fazer ficção primeiro" - Nietzsche

"Que necessidade é esta que organiza e guia a experiência humana e a escuda contra os terrores do Caos?"
"De onde veio o impulso que levantou os frios, imóveis e estéreis rochedos da lógica?"
"As ondas murmuram o seu murmúrio eterno,
O vento sopra, correm as nuvens,
As estrelas cintilam indiferentes e frias,
E um louco aguarda a sua resposta."
"E um homem sensato? - Este retomando o seu trabalho na vida, o turbilhão das ficções de hoje, que podem ser a realidade de amanhã, lança um último olhar aos cumes distantes, atrás dos quais se perde a origem do pensamento, e repete as palavras do mestre:
Ainda que a fonte seja obscura, o rio continua a correr. (Poincaré)" - Tobias Dantzig

"A dúvida é a pedra-de-toque da verdade, o ácido que dissolve os erros. Por isso, ser-nos-á necessário torná-la tão forte quanto possivel e duvidar de tudo sempre que possível. só então teremos a certeza de apenas conservar o ouro puro da verdade" - A. Koyré

"O tempo é feito de uma sucessão de instantes em que cada um é uma espécie de nada de duração. Não tem qualquer força nem realidade própria. Não possui em si qualquer princípio de continuidade." - Descartes

"Afinal quem sonha: o mundo, os poetas, ou ele próprio." - Dadognet

"No universo existem duas realidades: a que tem uma forma imutável, que de nenhuma maneira nasce nem perece, que jamais admite elementos vindo de outra parte, que nunca se transforma noutra coisa, que não é perceptível nem pela vista, nem por outro sentido; e outra que tem o mesmo nome, é semelhante à primeira, mas é acessivel à experiência dos sentidos, é engendrada, está sempre em movimento, nasce num lugar determinado para em seguida desaparecer; é acessível à opinião unida à sensação." - Platão

18 novembro 2009

instantes urbanos IX

Sons enamorados na Invicta, de uma tarde em que venceram os beijos e abraços

Ele diz: Gostaste?
Ela diz: Gostei muito de ter estado contigo. Amei ter passeado contigo na baixa. Amei estar na passadeira contigo, amei encostar-me a ti nas escadas. Gostei de te ter beijado.
Ele diz: Eu também. Muito.
Ela diz: Gosto demasiado de ti para conseguir ficar indiferente às outras mulheres que te querem.
Ele diz: Sabes o que me irrita nesta merda?
Ela diz: Não é preciso ficares assim…
Ele diz: Eu podia ter inventado mil desculpas mas disse-te a verdade.
- (silêncio) -
Ela diz: O que é relevante para ti?
Ele diz: Acordar e não sentir a tua falta...perder vontade de te beijar... deixar que alguém ocupe o teu espaço...
Ela diz: Gosto de ti. Tu não existes…
Ele diz: Neste momento nenhuma mulher se atravessa no teu caminho; não deixo…
Ela diz: Eu sei.
Ele diz: …e não quero!
- (silêncio) -
Ele diz: Eu já falei de ti, todo o meu mundo sabe que existes.
Ela diz: Amo-te. Adeus.

No preciso momento em que se cruzam, despedem-se trocando os olhares e desligam os telefones.

doutada

" Exma. D. AAAA

No atinente à solicitação efectuada compete-nos informar a especificidade da situação em causa, isto é, neste momento o funcionário WWWW está sob orientação de estágio - regulado então por essa situação.

Em anexo, remetemos a documentação requestada.

Sem mais de momento, subscrevemo-nos com a mais elevada estima e consideração.

Atentamente,

XXXXX  "

16 novembro 2009

hábito de ti

um conhecimento de ti,
com todo o sentido.
um impulso para ti,
forte e continuado.
um louco por ti,
consciente mas tropeço.
um saber para ti,
bom ou mau hábito.
desejo de ti,
num hábito interior.
nada em ti,
desmente o amor.
tudo em mim,
hábito de afectos.

(de exercícios poetéticos)

às vezes sim

Algumas pessoas devoram os alimentos, em vez de os comerem. Comportam-se como se fossem ladrões a comer vorazmente a presa, ou prestes a serem levados para a cadeia. Metem as mãos nos pratos, mal se acabam de sentar, e enchem de tal maneira a boca que as bochechas lhes incham como foles. Comem e bebem sem fazerem qualquer pausa, não por terem fome ou sede, mas porque não conseguem controlar os seus movimentos de outra maneira. Coçam a cabeça, brincam com uma faca, são incapazes de se absterem de tossir, resfolegar e cuspir. Erasmo

às vezes não

Todos os que sabem escrever com proficiência sabem tão bem como dar forma a cada letra, e conhecem tão bem cada palavra a escrever, que deixaram de ter consciência desse conhecimento, ou de reparar nesses actos específicos de vontade. A escrita é um exercício habitual de inteligência. Paul Connerton

15 novembro 2009

mais cromos...

Dos últimos dias:
- Lourenço, Eduardo, 2005, Heterodoxia I, Lisboa, Gradiva;
- Lourenço, Eduardo, 2006, Heterodixia II, Lisboa, Gradiva;
- Silva, Luís, 2009, Casas no Campo - etnografia do turismo rural em Portugal, Lisboa, ICS;
- Almeida, Onésimo T, 2009,  De Marx a Darwin - a desconfiança das ideologias, Lisboa, Gradiva;
- Baudelaire, Balzac, D'Aurevilly, 2009, Manual do dândi - a vida com estilo, Belo Horizonte, Autêntica Editora;

desconfiar das ideologias



Conheci o autor, Onésimo Teotónio Almeida, através das (dia)crónicas que mensalmente assina na revista Ler. Pouco ou nada sabia dele, a não ser que está radicado nos EUA onde dá aulas, numa qualquer universidade. Precisamente, na revista Ler deste mês de Novembro, Francisco José Viegas no "Diário de Ocasião" faz a apresentação deste livro e do autor, dizendo: "o que mais me surpreendeu foi a diferença do método, comparado com o pobre debate universitário em Portugal; depois, o ritmo de trabalho e a qualidade da discussão, longe de lugares-comuns e de opiniões banais".
Comprei e rapidamente o li. Aliás, uma das últimas leituras que fiz. De fácil leitura, opta por uma escrita pedagógica, conseguindo percorrer a história das ciências modernas. Do próprio autor ficam as palavras:
"De repente Darwin faz anos, e Portugal, descobrindo-se modernaço e europeu, põe-se em bicos de pés a celebrá-lo com entusiasmo, esquecido já do avozinho Marx a quem ainda há pouco beijava ternamente. (Neo) darwinistas explicam-lhe o comportamento humano, pois a ciência justifica agora a nossa animalidade, visto verdade e ciência serem, na sua percepção, irmãs gémeas, ou sinónimas, para usarmos mais rigorosa linguagem."

13 novembro 2009

a minha dislexia

Num qualquer dicionário de bolso, de ensino primário, ou semelhante: s.f. (med.) perturbação patológica caracterizada por dificuldades na leitura (erros, lacunas, distorções) e na compreensão das palavras.
Vem isto a propósito da minha recorrente dificuldade em responder a determinadas questões. Nas situações mais irrelevantes do dia-a-dia, quando em contacto com "outros" e/ou quando confrontado com alguma questão inesperada, a probabilidade de dizer asneira é enorme. E não raras vezes, ainda estou a pronunciar as últimas sílabas de um qualquer dislate e já o meu cérebro está a processar a censura a si próprio. Serei a personificação dos alhos com bugalhos.

10 novembro 2009

por um beijo mais

Numa noite de Inverno, escura e fria, de há muitos anos atrás. Nem o álcool nem o aconchego da taberna evitavam a saudade, que ainda mal teria começado. Era a última das muitas noites passadas nesse lugar. Na manhã seguinte haveria hora marcada para o regresso à cidade. As voltas e os vícios consumiram todos os escudos e, nos bolsos, pouco mais restaria do que o valor para um bilhete de camioneta, mas num impulso irreflectido e não premeditado, embalado pelas dinâmicas etílicas, procura um táxi que, naquele lugar e naquele final de noite, jamais existiria.
- Eu vou lá. Eu vou lá.
Algum tempo depois e depois de muitas voltas, encontra um taxista encostado numa outra taberna. Cansado de beber, não se mostra interessado em fazer tal serviço. Depois de muita insistência lá acabam por viajar em direcção à vila vizinha, por estrada de montanha e com má sinalização, o que provocou náuseas até ao próprio motorista. Obcecado com o seu propósito, nem se apercebe da aventura e do dinheiro que não tem. Depois de uma hora de viagem, as luzes da urbe fazem-se sentir e, num ápice estão no destino. Sem delongas, a ordem ao taxista é para aguardar dez minutos.
Um toque de campainha, uma voz grave que se ouve do outro lado, um porquê, um silêncio, uma luz que se acende, uma porta que se abre, uma surpresa, um sorriso… do tamanho do seu mundo.
Foi, apenas por mais um beijo.

oferta de hoje. bonita.


05 novembro 2009

instantes urbanos VIII

(na recepção de um hospital privado e enquanto eu e mais 524 pessoas éramos atendidas. A determinado momento, ao meu lado esquerdo e bem perto, é a vez de uma senhora, que pela aparência arriscaria dizer que teria cerca de 50 anos, ser atendida. A conversa foi mais ou menos a que se segue.)

- Bom dia, em que posso ajudá-la?
- Queria marcar estes exames (entrega-lhe a prescrição médica), mas tenho urgência nos resultados.
- Muito bem, vamos ver. (a meninda do atendimento, simpática e gira, passa a olhar para o monitor do pc) - A senhora quer fazer os exames hoje?
- Hoje, agora?..
- Sim... Já comeu alguma coisa hoje?
- Já.
- Então não pode ser hoje. Deixe-me ver outra data. Na 4ª feira pode ser?
- 4ª feira... não posso. É dia de feira.
- E na próxima 6ª feira, dia 13?
- 6ª feira dia 13!?.. isso não menina. Eu não vou fazer exames num dia desses. Sabe menina, são as superstições...
- Então... e dia 16, 2ª feira, às 11:30 horas?
- 11:30!.. não pode ser mais cedo?.. é que estar sem comer até essa hora não é fácil...
- Assim deixa de ser urgência, mas deixe ver...
- Pois é menina, veja lá o que pode fazer...
- E no dia 20, 6ª feira, às 8 horas?
- Mas eu não consigo estar cá a essa hora. O melhor era mesmo por volta das nove, nove e meia...
- A essa hora só poderá ser no dia 30 de Novembro.
- Está bem, pode ser. Pode marcar menina. Obrigada.

LER


03 novembro 2009

triste(s) t(r)ópico(s)


Epitáfio a Claude Lévi-Strauss (28/11/1908 a 31/10/2009) - humilde e justo reconhecimento pelo seu trabalho, pelo seu pensamento e pelo seu contributo para a construção do edifício das ciências socias que hoje conhecemos.

29 outubro 2009

obtusidades

Atira para aquilo que vês e acerta naquilo que não vês.
Aproveitando o título escolhido para este texto, reconheço em mim algo de obtuso. Donde, a incompreensão perante a padronização dos consumos turísticos, actualmente na moda. Por isso, importará compreender todo o edifício construído pelo lobby do sector que impôs a actual ditadura, coagindo o tempo livre, detendo o poder sobre o nosso tempo livre. Inaceitável. É nas mãos desse poder (sem rosto) que está a informação factual sobre os destinos, assim como a produção e a gestão das expectativas e das representações dos potenciais clientes. Os objectos de consumo turístico adquirem maior visibilidade e protagonismo através das suas representações, do discurso publicitário, do que através das suas qualidades intrínsecas. A experiência turística, não raras vezes, é dissonante das expectativas criadas pelo discurso publicitário, ou, o discurso turístico afirma repetidamente que o turista muda(rá), enquanto que o próprio nativo permanece(rá) sempre inalterado. Depois, é num ambiente adverso que se assumem os compromissos: compra-se através de catálogo, devidamente produzido (cor, lettring, perspectiva, beleza, paisagem, o outro, o monumento), com preços convidativos (exclusivamente imbatíveis...), suportados pela solicitude dos colaboradores da agência de turismo/viagens que, pelo discurso, são uns felizardos e já visitaram todos os destinos possíveis e imagináveis.
Tenho uma enorme dificuldade em compreender como alguém escolhe; repito, escolhe um destino turístico para passar os seus dias de descanso, tendo por critério o "pacote" "oferecido". Compreensivelmente, as pessoas são obrigadas, por constrangimentos ou limitações orçamentais, a escolher destinos mais baratos, mais perto geograficamente e menos dias de veraneio. Agora, férias em pacote, famílias alargadas empacotadas num ditoso programa cultural, recreativo e gastronómico de qualidade duvidosa, isso não. Isso eu não compreendo, nem quero. Seriam demasiados constrangimentos e... I like the freedom to arrive anywhere or anytime off schedule by my way.
Isto está nos livros e eu ando a lê-los.

antes ripávamos folhas dos negrilhos, agora ripamos músicas dos cds

27 outubro 2009

primeira aula de piano

Lembro-me bem das primeiras sensações das aulas de Educação Musical e, principalmente, das aulas de Piano, que frequentei na Academia de Vilar do Paraíso há quase trinta anos. Era um mundo novo que até então a minha infância desconhecia. Já tinha experimentado n actividades, mas a nenhuma me fidelizei. Algures no início da década de oitenta do século passado, por iníciativa dos meus pais,começou uma bonita aventura que me permitiu experimentar sensações únicas e que jamais se repetiram. Agora, passados todos estes anos, estou de volta à Academia de Vilar do Paraíso (entretanto em novas instalações) para levar a Emília à sua primeira aula de Piano (experiência). Ela anda excitadíssima. Eu apreensivo e receoso que ela não goste do instrumento.

24 outubro 2009

aguarela de um lugar

Num resto de parede branca, ou quase, junto a uma esquina e perto de uma janela, uma pequena aguarela, devidamente limitada por pobre moldura castanha. Oferta de um dia normal, nunca terá sido protagonista maior. Muitas vezes dou comigo, tal como agora, quedo a olhá-la: a imensidade dessa paisagem, as rugas de seu relevo e a insistência de suas cores dispõem-me à mais abstracta contemplação (o tempo que já terá sido consumido enquanto eu aqui estou, assim...). Que lugar bonito este. Eu reconheço o lugar. Muitas vezes por lá passei e tantas quero ainda passar. É precisamente nesta altura do ano que ele assim se apresenta, com a força e a ternura das cores outonais. Tenho que lá regressar.

22 outubro 2009

excerto

Não consigo deixar de me tornar permeável aos que me estão mais perto, sofrer com eles, preocupar-me com eles. Não gosto de ter opiniões, quanto mais de as escrever, porque fixar uma determinação é enfraquecê-la. Detesto convencer alguém de alguma coisa, porque já estive convencido de coisas opostas. Mas abomino o relativismo do vale tudo, o egoísmo do não ter nada que ver com isso, a injustiça mesmo quando provém da simples ignorância. Gosto de saber, mais uma vez, que alguns dos meus bons amigos não gostaram nada do que escrevi, porque sabem manter a inteligente e saudável distância entre o que se é e o que se escreve.
Pedro Paixão in "A Cidade Depois", 1999.

20 outubro 2009

três cantos

Sem dúvida uma boa notícia, recebida há uns dias atrás. Desde logo decidi ir assistir ao concerto destes três monstros da cena musical portuguesa, nunca imaginando que houvesse dificuldades na aquisição dos bilhetes para uma das duas datas previstas para o Coliseu do Porto. Bem enganado estava eu, pois hoje quando tentei saber mais e me dirigi a um balcão da Fnac, só já arranjei bilhetes para a segunda data (1 de Novembro) e terei sido dos últimos a conseguir lugares para a Plateia. Enfim, já está.

19 outubro 2009

do arquivo pessoa

A única realidade para mim são as minhas sensações. Eu sou uma sensação minha. Portanto nem da minha própria existência estou certo. Posso está-lo apenas daquelas sensações a que eu chamo minhas.
A verdade? É uma coisa exterior? Não posso ter a certeza dela, porque não é uma sensação minha, e eu só destas tenho a certeza. Uma sensação minha? De quê?
Procurar o sonho é pois procurar a verdade, visto que a única verdade para mim, sou eu próprio. Isolar-se tanto quanto possível dos outros é respeitar a verdade.
s.d. - Textos Filosóficos . Vol. II. Fernando Pessoa. (Estabelecidos e prefaciados por António de Pina Coelho.) Lisboa: Ática, 1968. - 220.

metáfora

(clicar para ampliar e conseguir ler)



15 outubro 2009

instantes urbanos VII

Distraído, provavelmente a olhar o nada que passa no chão que vou pisando, passo em frente a uma loja Natura, de onde sai um agradável cheiro de insenso, que reconheço e que gostava de voltar a sentir lá por casa. Recuo e entro na loja à procura de uma qualquer funcionária, a quem pergunto:
- Que cheiro é este que se ouve lá fora?
(um momento de silêncio)... - Desculpe!?
- Este cheiro que chega lá fora é insenso. Mas qual?
- Ah, o cheiro de insenso! É sandalo, mas não temos para venda.
- Ok, obrigado.

(dias esquivos estes)

13 outubro 2009

momentos em campanha






LER 84

LER: "Somos um país de brandos costumes ou já mudámos alguma coisa?"
Augusto Cid: "Nunca fomos. A nossa História está recheada de violência e assassinatos. A versão dos "brandos costumes" vem do facto de sermos um país de ignorantes."

"Escrever, no sentido mais original do termo, nós não sabemos exactamente o que seja." Eduardo Lourenço

27 setembro 2009

descompressão

Em final de noite de eleições e para sair do assunto, começo a arrumar a carteira, onde encontro este cartãozinho. Diz respeito a um sítio simpático onde fui jantar com um grupo de amigos(as) no início do mês de Setembro. Sei apenas que ficava lá para os lados do Bairro Alto, em Lisboa.

26 setembro 2009

olho de Alá

(texto escrito a pedido de um amigo para um "panfleto" de apresentação de uma peça de teatro com o mesmo nome. O resultado não agrada, mas mesmo assim enviei-lho com a indicação de que se não gostasse não o utilizasse)

“a fé na capacidade humana de transcender limitações”
Ana Saldanha

A sociedade ocidental, fortemente influenciada pelo positivismo, ainda hoje vive agarrada à ciência convencional, que na sua pressa pelas descobertas e na sua voracidade pelo conhecimento, objectivo santo e sacro da “boa” ciência, esquece com facilidade tudo ou parte daquilo que a precedeu, fundou ou fundamentou e permitiu evoluir até ao estado presente. Vivemos um tempo complexo, de tal forma especializado que, sem reflexão, vamos reinventando os limites da nossa percepção. Um dos momentos primeiros desta nova ciência, foi como que um acaso, num encontro fortuito de culturas, a curiosidade pelo outro e pelo exótico levou até à velha Europa um estranho instrumento, levado da Península Ibérica nas alforges de um velho comerciante. Diz a lenda que foi o seu peculiar design que despertou o interesse. Já no centro do mundo de então terá chegado às mãos de um mestre, interessado nas ciências do oculto e que na clandestinidade praticava as suas manhas e patranhas. Como estava bem consciente do perigo da sua actividade, era com secretismo que aceitava partilhar os seus conhecimentos e mostrar a terceiros as suas estranhas descobertas. Foi este clandestino que baptizou o tal objecto de “olho de Alá”, pois percebera que este tinha poderes extraordinários, jamais vistos, sem humana explicação ou entendimento e que ultrapassava em muito os limites da percepção de então. Algo semelhante aos poderes divinos ou à visão de um Deus, daí a designação. Nessa pré-época moderna, os paradigmas vigentes estavam nas mãos de um poder instituído fortemente influenciado pela hierarquia da igreja, o que levava a uma atitude persecutória em relação a tudo o que pudesse por em questão essa mesma ordem. O olho de Alá foi o elemento que fundou a crítica e o movimento contestatário ao status quo desse tempo. Foi ele que permitiu conhecer todo um mundo novo, até aí desconhecido, que se nos apresentava através dessas lentes. Mundo esquivo de novas dimensões, que obrigava a uma nova abordagem e, consequentemente, a uma nova ciência que não dependesse sequer do poder da Igreja, mas da arte e engenho do Homem em rasgar com as velhas lógicas e agarrar a vanguarda da descoberta e do conhecimento.

dia de reflexão

Sempre no dia seguinte a um período de campanha eleitoral, este é o dia em que todos devemos reflectir sobre aquilo que queremos para o futuro do país, assim como é o dia de descanso para todos aqueles e aquelas que participaram activamente no trabalho das campanhas eleitorais. Esse período de cerca de 15 dias foi um tempo muito intenso e desgastante, no qual fizemos milhares de quilómetros e visitámos todas as sedes de concelho do distrito de Bragança. Se na generalidade podemos dizer que fomos bem recebidos em todo o lado, também é verdade que há localidades onde a nossa presença é mais notada e criticada. Mas em democracia é mesmo assim: Aplaudidos e/ou vaiados temos que saber continuar e sempre com um sorriso nos lábios. Enfim, foi uma experiência interessante e pessoalmente enriquecedora. Não sei se algum dia a voltarei a experimentar (pelo menos nestas condições e com esta responsabilidade), mas valeu a pena. As expectativas são elevados e a ansiedade pelo resultado de amanhã enorme. Estamos prontos.

20 setembro 2009

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Caro sr. Luís Vale,
Gostei muito da sua proposta sobre a Regionalização, mas você parece-me estar sózinho em relação aos líderes nacionais do BE ou aparenta ser uma voz a pregar no deserto do BE. Parece-me que o BE continua a seguir o modelo burocrático, seguidista e desregionalizador da direita. É ser-se de esquerda propor ou concordar com a regionalização burocrática da regiões-plano artificiais e burocráticas como propõe o PS e os outros partidos de direita do do bloco central?
Então qual é a diferença em votar no BE ou nos partidos da direita incluindo PS?
Em termos de regionalização, NENHUMA!
Por causa da política oficial do BE em relação à Regionalização (não confundam a verdadeira regionalização ao serviço dos povos regionais de Portugal com a DESREGIONALIZAÇÃO que o PS e a direita agora propõem) este ano nas Legislativas de 27 Setembro, eu não voto BE! Não sei se vote CDU, POUS, PCTP-MRPP ou outro de esquerda que apareça, mas BE até proporem uma verdadeira Regionalização, não voto mais!
Então o BE e a esquerda portuguesa estão tão preocupados com a autonomia ou a liberdade dos povos regionais de outros países, galegos, bascos, chechenos, corsos, escoceses, morávios, etc, etc. mas não ligam nenhuma aos povos regionais de Portugal?
Os ribatejanos não existem? Os galaicos ou minhotos também não existem? Os estremenhos não existem? os lusitanos ou beirões também não existem?
Eu aconselhava era toda a Direcção Nacional do BE a darem uma olhadela no site de uma Associação regionalista lusitana que defende a distinção entre os portugueses e os outros povos regionais de Portugal e a regionalização de todas as regiões étnico-culturais e a provincialização das regiões históricas como entidades regionais secundárias, para ver se aprendiam alguma coisa sobre as culturas étnico-culturais dos povos regionais e nativos de Portugal e as tradições que ainda sobrevivem (embora ameaçadas) neste país atrofiado e ignorado até por alguns camaradas de esquerda.
Amigo e camarada Luís Vale , eu sempre fui um homem de esquerda (nunca votei PS nem direita), posso dizer-lhe que a sua proposta é a melhor que vi até agora (é quase perfeita), embora seja necessário, na minha humilde opinião pessoal, preservar a existência da região do Ribatejo e do Grande Porto independentes, e a região das Beiras poderia ser uma só embora subdividida em três ou quatro províncias também oficiais, e porque não devolver outra vez o nome original da BEira, que sempre foi Lusitânia e que ainda hoje é habitada no seu interior montanhoso por um povo com tradições culturais únicas que sempre se chamou de lusitano?
Obrigado pela sua atenção.
PS- Espero que este humilde cidadão português não seja alvo de censura, porque há dois meses +-, enviei uma carta semelhante a manifestar a minha preocupação em relação à posição oficial de alguns lideres nacionais do BE sobre a Regionalização e a denunciar a Desregionalização, mas a minha carta, não só não foi publicada na página do partido na internet como também não obtive até hoje resposta. Pelo Socialismo e o poder popular!
José Silva.

design inteligente

Andava eu entediado sem saber muito bem o que fazer. Tudo me aborrecia e não estava bem em lado nenhum. Passeava-me pelo cosmos sem destino, tropeçava num cometa aqui e numa estrela acolá, deambulava daqui para ali e de além para aqui sem qualquer destino ou propósito e, de vez em quando, para acrescentar adrenalina, lá me atirava para a centrifugação de um qualquer buraco negro. Mas tudo acontecia muito depressa e logo regressava à anterior monotonia. Acima de tudo, aquilo que mais me enfurecia era o facto de não precisar de qualquer esforço para conseguir o que pretendia. Um pensamento bastava para me transportar para essa realidade. Chatice. Algo novo e diferente precisava urgentemente.
A resposta veio em forma de mundo, imaginado, projectado e construído num tempo que precisei de organizar e chamei dias. Porque gostei e me deu imenso prazer, gastei sete desses tempos. Agora que o recordo, foram os melhores tempos da minha intangível existência. Tanto tempo já passou e tanto fiz depois, mas esse momento primeiro foi o mais belo e perfeito. O cuidado e a atenção a que me obriguei, permitiu-me desenhar tudo ao mais ínfimo pormenor, experimentar e testar antes de fazer e, depois de tudo montado, por a funcionar. Com omni-atenção consegui ir corrigindo alguns erros congénitos e pequenas falhas técnicas e assim, já no final do sexto tempo, pude com deleite apreciar o sublime. Ao sétimo momento, exausto descansei.

13 setembro 2009

colecta no congresso da APA

Aproveitando os preços (incrivelmente) reduzidos dos livros à venda numa pequena feira do livro promovida pela organização do IV Congresso da APA, trouxe alguns títulos que estavam em falta, ou seja, que eu queria e precisava comprar. Mas só para que se perceba a grande redução de preços, comprei um livro por 8 euros, quando nas lojas custa 24 euros. Só podia aproveitar.
- Medeiros, António, 2006, Dois lados de um rio - nacionalismos e etnografias na Galiza e em Portugal, Lisboa, ICS;
- Guimarães, Ana Paula, 2008, Nós de Vozes, Lisboa, Edições Colibri;
- Revista Etnográfica, vol. 12 nº1, Maio 2008, Lisboa, Centro de Estudos de Antropologia Social;
- Espírito Santo, Moisés, 1989, Fontes Remotas da Cultura Portuguesa, Lisboa, Assírio & Alvim;
- Raposo, Paulo, 1991, Corpos, Arados e Romarias, Lisboa, Escher;
- Guimarães, Ana Paula e Barbosa, João e Fonseca, Luís (org.), 2004, Falas da Terra - natureza e ambiente na tradição popular portuguesa, Lisboa, Edições Colibri;
- Balsa, Casimiro (org.), 2006, Relações Sociais de Espaço, Lisboa, Edições Colibri;

06 setembro 2009

é como voltar a casa

Este último ano que passei na televisão não foi feliz, sem culpa nenhuma para Manuela Moura Guedes, que me tratou com inalterável generosidade. À parte a minha má imagem (um understatement), a minha má voz, geral incoerência e péssima dicção, sucede que escrever (um ofício em que me eduquei) é exactamente o contrário de falar. Quem fala improvisa; quem escreve calcula, planeia, emenda, substitui. Os dois processos são contrários. Pior, são incompatíveis. Verdade que a prosa acabou por me levar à televisão: um compreensível acidente. Só que "um homem de letras", mesmo medíocre, nunca, no fundo, se transforma. Voltar a este privilegiado canto é, para mim, como voltar a casa.
Vasco Pulido Valente, Jornal Público, 06/09/2009

04 setembro 2009

como eu gostava, como eu quero estar enganado

Bem sei que ainda falta algum tempo para o dia das eleições legislativas e que muita água turva e revoltada vai passar por baixo desta ponte, mas hoje foi o dia em que me apercebi, me convenci que o caso do Jornal Nacional da TVI e o afastamento de Manuela Moura Guedes e demais equipa foi a machada final nas hipóteses de José Sócrates e do PS ganhar essas eleições. Bem dizem que as eleições não se ganham, mas perdem-se e este será mais um exemplo desse lapidar sentimento. Se assim for, e eu não quero que seja, nos próximos anos ou décadas o "reinado" de Sócrates será um case study nas melhores academias (da gestão e administração pública, do direito, da criminologia e investigação judicial, da comunicação, da política, do marketing, etc.). O seu maior legado será esse, o de contribuir para o avanço da ciência em Portugal e, quiçá, no estrangeiro (seja isso onde for...).

31 agosto 2009

internacionalização

Dear Paulo Castro Seixas, Luís Vale, and Jorge Morais Sarmento,
The Scientific Committee of the I International Conference on Intercultural Studies is glad to inform that we have accepted your essay "Culture as Translation: An ethnographic exercise on dialogue" for publication in the collection "From Here to Diversity:Globalization and Intercultural Dialogues", with Cambridge Scholars Publishing, scheduled for 2010.
Soon we will be sending the respective contributor agreement and further instructions.
Congratulations for the quality of your essay.
With our very best regards,
The Scientific Committee of the I International Conference onIntercultural Studies

24 agosto 2009

dias de festa

Eram dias de nomeada na vila, recheados de festivas actividades e sacros momentos que terminavam, invariavelmente, madrugada dentro com aparatosos arraiais, repletos de luz e som que inundavam grande parte da vila. O palco da festa era sempre o mesmo, porque único com capacidade para acolher os milhares de foliões que vinham, ano após ano, de todos os recantos do concelho e redondezas. Nesse recinto não faltava qualquer ingrediente, daqueles que tradicionalmente animam os santos e seus fíeis: do algodão-doce aos carrinhos-de-choque, das farturas aos Rayban's magrebinos, sem esquecer, claro, a banda ou artista que animavam cada noite da festividade. E porque de uma grande festa se tratava e o dinheiro aparentava abundar, eram chamadas várias celebridades, tentando assim cuidar de todos os gostos. Por fim, um parágrafo para aquilo que nunca, mas nunca, faltou: a zaragata ou escaramuça que animavam aqueles, os pândegos, que se deixavam ficar por ali e para o fim da festa. Destes, havia aqueles que acabavam a noite na urgência do hospital local, enquanto que os outros, a grande maioria, acordavam no dia seguinte perdidos num qualquer lameiro ou num qualquer palheiro, esquecidos daquilo que acontecera e prontos para mais um dia de festa.

17 agosto 2009

rostos difíceis

As voltas que já dei para recuperar o teu rosto. O esforço que continuo a fazer para o localizar. Há rostos assim, difíceis de encontrar: seja pela sua beleza, pela sua singularidade, pela sua estranheza, pelo seu recorte, pelo seu exotismo, etc. De tão bem que os guardámos na memória, a custo os conseguimos resgatar. O teu foi um dos tais, mas finalmente consegui colocar-te num espaço e num tempo passados.
Conheci-te há uns anos atrás num café que nunca cheguei a saber o nome. Era final de Verão. Fui levado até ti num grupo de amigos que, ritualmente, saltavam de café em café, de consumo em consumo até à exaustão da madrugada. Concerteza, iríamos a caminho de outro lugar e essa foi apenas mais uma paragem para ingerir quantidades estúpidas de alcool…
Foi o estado ébrio de então e a posterior amnésia que me fez remeter o teu rosto para o fundo da memória O que sorrimos, o que dissemos, o que pensámos não guardei. Nem sequer o teu nome. Daí saímos para acabar a noite, essa noite, num qualquer bordel da cidade, enroscados em sabores vulgares vindos, a soldo, dos trópicos.
Encontrar-te passados todos estes anos, obrigou-me a suplementar diligência e, apesar de ainda ter procurado nas tuas expressões um sinal de que eu estaria algures na tua memória, também aí nada consegui. Esse instante passado nada mais foi do que um breve e bonito espaço-tempo da nossa vida.

12 agosto 2009

agora é oficial

Hoje, por volta das 15 horas fomos ao tribunal de Bragança oficializar a candidatura do Bloco de Esquerda às eleições legislativas. À entrada do tribunal conversámos com a Comunicação Social Regional, que aparentemente está também (e merecidamente, digo eu) na sua Silly Season. Fica o agradecimento ao amigo João Cunha que aceitou o meu convite para mandatário da lista, ao José Soeiro da Comissão Política do BE por ter vindo apoiar a nossa candidatura, aos jornalistas que estiveram presentes e a todos os restantes membros da jovem lista. De resto, enquanto cabeça desta lista, assumo todas as responsabilidades inerentes ao desafio e em relação àquilo que viermos a fazer e a conseguir.

Espelhos outros (em actualização):
- http://tinyurl.com/ntfb78

- http://tinyurl.com/lmyrqs

- http://tinyurl.com/m3ycwn

- http://tinyurl.com/lsva3x

instantes urbanos VII

Mal acabado de parar o carro em frente a casa, depois de uma noite inteira a ordenar listas, nomes e certidões para os processos eleitorais que se avizinham, estou à conversa com um amigo com quem a espaços convivo. Somos abordados por um casal de idosos que, num tom sofrego, nos questionam se algum de nós tem carro. Não alcançando desde logo aquela abordagem, com algum receio dizemos que sim. A explicação vem logo de seguida:
- Sabe, eu estou muito mal. Os senhores podiam levar-nos à urgência? É que não temos carro e eu não consigo chegar lá a pé... - diz-nos a senhora, visivelmente incomodada com uma qualquer dor.
- Concerteza, vamos lá. - Respondo eu, surpreso pelo pedido.
Durante o curto percurso e já quase a chegar ao hospital, resolvo aconselhá-los para, em situações semelhantes, chamarem uma ambulância. Só que a sua resposta foi completamente esclarecedora:
- Mas nós não temos telefone. Ainda tentamos ir ao café, mas já estava fechado.
- Pois. - Digo eu desarmado. - Assim é mais difícil.
Lá chegamos à porta da urgência e os deixámos. Agradeceram a amabilidade e já no regresso o meu amigo diz-me que acabáramos de fazer a nossa boa acção do dia (noite).
Despedimo-nos no mesmo sitio.
Na manhã seguinte, e tal como faço diariamente, abro a porta traseira do carro para pousar a pasta e dou de caras com um nota de 20 euros cuidadosamente pousada (mas visível) no chão do outro lado do carro. A boa acção da noite anterior afinal foi uma prestação de serviço e, por sinal, bem paga. Obrigado.

07 agosto 2009

04 agosto 2009

Novas Ruralidades

Nos passados dias 20, 21 e 22 de Julho estive em Ortigueira (na Corunha) – pequena e isolada localidade do norte da Galiza encostada ao oceano Atlântico, de onde (crê o povo) nos dias mais claros se consegue avistar a Inglaterra. Ortigueira é, principalmente, conhecida por aí se realizar, anualmente, o maior festival do mundo de música inter-céltica. Durante esses dias participei num encontro promovido pela Universidad Internacional Menéndez Pelayo, subordinado ao tema “Novas Ruralidades na Galiza”, onde técnicos e investigadores de várias áreas do saber reflectiram e discutiram os territórios rurais galegos, analisando a sua história, percebendo a sua actualidade e tentando perspectivar possíveis futuros. Regressado ao lado de cá, dou de caras com a notícia do “Estudo sobre a Pobreza na Região Norte de Portugal” elaborado pelo Centro de Estatística da Associação Nacional das PME e pela Universidade Fernando Pessoa para a Comissão Europeia, que indica Trás-os-Montes como a Sub-Região mais pobre dos 27 países da União Europeia.
Mais do que discutir este documento, gostaria de reflectir acerca da ruralidade que sempre vivemos, da ruralidade que actualmente existe e daquela que nos querem impor. Devemos partir do princípio que o rural se distingue do urbano (espaços, lugares, tempos, espaço-tempos e modos de vida) e que a questão principal será determinar os limites de uma e outra realidade. Esta limitação permitirá perceber as diferentes construções imaginárias de identidades, nomeadamente: a ideia de prestígio associado à vida nas cidades, o fascínio das luzes da cidade, o prestígio de ser migrante: comodidades, dinheiro e aparência, o atraso e a estática rural por oposição à dinâmica da cidade. Portanto, para podermos falar de ruralidade(s) teremos que ter sempre em consideração os processos de urbanização e, mais recentemente, os de metropolização – enquanto capacidade de atracção de indivíduos (rotinas, hábitos e consumos) por parte das cidades e suas regiões. Em Portugal e segundo João Ferrão e Duarte Vala (2002), existirão 4 cidades/regiões com potencial de metropolização – Lisboa, grande Porto, Algarve e região triangular entre Viseu, Aveiro e Coimbra, o que remeterá o restante território para uma existência sem grande capacidade de atrair novos indivíduos e novas actividades. No que a Trás-os-Montes diz respeito, todos já sabemos, por experiência própria e pelos constrangimentos históricos, a situação de extrema periferia em que vivemos e que agora o PROT N vem relembrar e, acima de tudo, legitimar e prolongar por mais algumas décadas.
Falar do mundo rural na actualidade é falar de um mundo em profundas mutações, cujas actividades económicas, dinâmicas sociais e valorizações materiais e simbólicas têm evoluído em vários sentidos. Para além disto, assistimos nos últimos anos a um crescente consumo dos símbolos rurais: a explosão do turismo rural foi o expoente máximo desse consumo; a “descoberta” dos certames temáticos de cariz local (feiras de fumeiro, de caça, de pesca, de produtos da terra, etc) que valorizam aspectos e produtos tradicionais locais; a folclorização de certas actividades agrícolas (matanças, ciclos de produção, etc) e recreativas (grupos de caretos e grupos de gaiteiros, ressurgimento de tradições sagradas e/ou profanas) revivalistas de tempos idos; a destradicionalização, ou seja, a procura de novas formas de expressão em cada momento/actividade (alheiras de Bacalhau, grupo de pauliteiras ou experiências gourmet com o fumeiro) que ao mesmo tempo que mantêm a referência cultural procuram a inovação e a diferenciação; a agricultura biológica que se vende à custa de uma imagem vegetariana, naturalista e saudável; o turismo da natureza (normalmente associado à prática de desportos de aventura e de conhecimento); a preservação e reconstrução de património construído – arqueológico (castros, fornos de telha).
Para um melhor entendimento do imaginário rural será preciso também ter em conta os actores sociais que permitem este novo cenário. Hoje em dia podemos identificar diferentes tipos de indivíduos no espaço rural, que se caracterizam por interesses divergentes, mas que se manifestam num mesmo território. Utilizando uma classificação de Paulo Castro Seixas, diria que temos: a) os sobreviventes – aqueles que apesar de tudo permaneceram e trabalham no rural (…que nos remetem para o conceito de resistência); b) novos pendulares – aqueles que apesar de trabalharem no sector secundário e terciário e num espaço urbano, optaram por viver no espaço rural e no seu dia-a-dia viajam entre os dois “mundos”; c) os regressados – aqueles que depois de uma vida de trabalho noutras geografias e noutros contextos laborais, regressam à comunidade rural de origem; d) consumidores rurais – todos aqueles que, tal como vimos atrás, procuram os símbolos rurais como divertimento, férias, descanso, aventura, etc; e) investidores rurais – aqueles que apesar de urbanitas procuram o rural e adquirem um espaço, que adoptam como sendo “seu”. Uma casa, uma quinta, uma propriedade, etc. Muitas vezes trata-se de puro investimento; f) novos rurais – a chegada de estrangeiros que no país de origem tinham um modo de vida urbanizado e cá optam por se estabelecer numa comunidade rural. Outro exemplo são os novos povoadores que saem das cidades e procuram novas oportunidades no interior rural do país (até existe uma empresa que fomenta e incentiva essa movimentação).
Os habitantes das comunidades rurais, ao contrário do que possam pensar, não têm o poder e a influência de decisão na construção dos seus futuros. Por muito que se inventem novos programas e incentivos para o desenvolvimento local, por muito que se venda o discurso da valorização dos recursos naturais e culturais, serão sempre interesses exógenos a ditar o presente e possíveis futuros. Interesses que não são mais do que respostas procedentes de certas classes urbanas e grupos sociais que, utilizando diversas estratégias, se sentem legitimadas para decidir o futuro das comunidades rurais, sem ter em conta, normalmente, a opinião dos locais do mundo rural.
Por último, assumir que os dados aqui apresentados mais do que certezas serão dúvidas e, por isso, mais do que afirmações, devem ser entendidas como meras hipóteses que importa estudar e/ou explorar. Serão ou não novas ruralidades? Serão ou não, sequer, ruralidades? Não creio. O rural está na moda, vende-se e por isso, actualmente, valoriza-se. Apenas.
(texto enviado para o Jornal Nordeste e publicado hoje, dia 4 de Agosto)

29 julho 2009

a conta do tempo do patrão da barca

É por textos como este (Terra Alta) que eu admiro J. Rentes de Carvalho e acompanho diariamente o seu blogue pessoal (Tempo Contado), onde assiduamente deposita a sua prosa, sempre bem escrita. Nada mais dele conheço, mas vou conhecer, isso eu sei. Já recolhí o que importa. Fica o compromisso. Certo.

27 julho 2009

costa norte e rias altas na semana passada






frase, pensamento e raciocínio de um ser menor

"Nenhum dos figurantes sai bem nesta ópera bufa: Sócrates jurou e toda a gente duvidou, Louçã fez escarcéu a mais e JAD [Joana Amaral Dias] deveria saber que há convites que não devem ser vozeados para a praça pública".
Carlos Abreu Amorim, jurista, "Correio da Manhã", 27-07-2009

Não lí o Correio da Manhã deste dia, aliás, nunca lí esse jornal. No entanto, esta frase destacada pelo jornal Público online é reveladora da construção mental de seu autor. Tenho tido a oportunidade de ouvir este senhor no programa da RTPN, se não me engano, chamado "directo ao assunto" no qual interage com Rui Tavares e Emídio Rangel. Diga-se de passagem que o seu discurso é, normalmente, neo-liberal e fascizante, portanto, nada ou quase de novo há a registar. Contudo, este estado mental implicito na última parte da frase - a que diz respeito ao que Joana Amaral Dias deveria saber, é bem revelador do sistema imundo, conhecido e mantido por todos os seus intervenientes, que não gostam de que estas "coisas" se comentem na Comunicação Social, pois só perturbam o normal funcionamento do núcleo central de interesses estabelecidos. Este senhor jurista personifica bem, também através desta frase (ainda que retirada do seu contexto), o que de pior a nossa democracia produziu. O lixo tecnocrata e burocrata que reina pelo esgoto do poder em Portugal.

24 julho 2009

os dos últimos tempos

Mais alguns livros que foram chegando:
- Barthes, Roland, 2006, O Grau Zero da Escrita, Lisboa, Edições 70;
- Barthes, Roland, 2009, O Prazer do Texto, Lisboa, Edições 70;
- Barthes, Roland, 2009, Ensaios Críticos, Lisboa, Edições 70;
- Revista Antropológicas (nº 11), 2009, Porto, Universidade Fernando Pessoa;
- de Rota, José Antonio Fernández, 1987, Gallegos ante um espejo, A Corunha, Ediciós do Castro;

20 julho 2009

aquilo que disse na apresentação da candidatura aos órgãos autárquicos do concelho de Bragança no dia 18 de Julho

Desde 2005, quando elegemos pela primeira vez um membro para a Assembleia Municipal de Bragança, que temos procurado intervir, dar resposta e contrapor aquilo que consideramos ser uma política e uma gestão errada da cidade e do concelho de Bragança.
Conscientes estamos que a nossa intervenção poderia e deveria ter sido mais consistente e, por vezes, mais incisiva, no entanto, o balanço dessa intervenção neste mandato é francamente positiva. Face ao cenário e ao desequilíbrio representativo nos órgãos autárquicos do nosso concelho, resultantes das eleições autárquicas de 2005, dificilmente a oposição conseguiu marcar a agenda política municipal, mas isso não nos impediu de marcar posição face a essa mesma agenda do PSD, partido que detém larga maioria nesses mesmos órgãos...
Alguns exemplos:
· Parque natural de Montesinho e a teimosia deste executivo em viver de costas para esse imenso património que deveria ser uma aposta.
· Gestão da água e seu abastecimento – cuja política ou estratégia não existe, enquanto se insiste em Veiguinhas e no entretanto, se entrega a exploração e a distribuição ao sector privado. Somos liminarmente contra a privatização da água.
· Impostos municipais directos e indirectos – apesar de considerarmos que a propriedade e a sua posse devem ser tributadas, não concordamos com as percentagens aplicadas pelo município, que penalizam a fixação das famílias.
· Tantas são as parandongas em relação às conquistas e à atribuição do conceito de eco-cidade, mas o que se alterou nas rotinas dos cidadãos de Bragança? Só por exemplo, continua a haver um défice de eco-pontos na cidade, actualmente e segundo informação fornecida pelos serviços da CM o rácio destes é de 1/358 habitantes.
. Requalificação urbana – para nós o maior erro deste executivo, que persiste em apostar na expansão da cidade e vai abandonando o seu centro e zona histórica. Não somos nós a dizê-lo. É a realidade que todos podem verificar não muito longe daqui…
. Numa cidade como Bragança, inserida numa paisagem como esta, a aposta na construção habitacional vertical é um erro. Erro esse que serão as gerações que hão-de vir quem vai ter que suportar.
. A difícil situação do pequeno comércio e a indústria inexistente.
A candidatura do BE em Bragança assenta, tal como no resto das autarquias, num programa que procura dar respostas à urgência da crise social. É um programa que tem por base o conceito de Justiça: justiça económica, justiça social, justiça financeira, justiça no acesso à saúde, justiça no acesso à educação, justiça no acesso à justiça.
A candidatura do BE em Bragança protagoniza essa justiça e levará até aos cidadãos um programa intencional e pragmático de respostas concretas aos problemas do dia-a-dia em Bragança.
É preciso defender o emprego – através da criação de gabinetes municipais de apoio à criação de emprego local.
São necessárias infra-estruturas básicas – dar prioridade aos investimentos em infra-estruturas e serviços públicos destinados às nossas populações no âmbito do QREN 2007/2013.
É urgente cuidar da pobreza e da exclusão social, principalmente agora: por exemplo, a criação de um gabinete municipal que sinalize e acompanhe os casos graves, ou mais graves, em parceria com a Segurança Social e IPSSs locais.
É fácil aliviar a pobreza real das pessoas:
- Isenção das tarifas sociais nos serviços básicos e transportes,
- Rendas apoiadas ou habitação social,
- Equipamentos sociais como cantinas públicas,
Garantir a reabilitação do património arquitectónico construído: nas aldeias e no centro histórico da cidade.
É preciso responder à crise cuidando do lado social da cidade, do lado que é tantas vezes o lado invisível – onde não se fazem inaugurações, nem corta-fitas, nem beija-mãos!..
É por isso que aqui estamos, é por tudo isto que lançamos desde já o desafio aos Bragançanos. Se querem um outro futuro, vamos todos colaborar para que possa ser possível e possa acontecer. Para evitar mais do mesmo, vamos apostar forte no reforço da nossa representação política no concelho de Bragança. Por Bragança e em Bragança uma esquerda socialista, alternativa e de futuro está presente.
alguns reflexos:

16 julho 2009

etnografar-te

Várias vezes reparei em ti. Há muito te conheço e contigo me cruzo no mesmo lugar de sempre e arredores. Apesar dos imensos olhares nunca as palavras cruzámos. Nem sequer o teu nome sei. Não importa. Conheço-te a voz nos outros e sei-te mais nova, bem mais nova. Afirmas-te quando chegas e partes, quando entras e sais, marcando tua presença com esse ar esguio e altivo, afirmativo de quem tem um mundo à espera. Houve até o momento em que te vi, de tal modo, que o perpetuei e para mim guardei. Foi o nosso momento. Sem mais, dizer apenas que se sente, nos dias todos, esta permanente tensão de possíveis narrativas que não acontecem. A vertigem da proximidade é real. E se?.. A mim, a ti, a nós… um toque, uma palavra. Tudo ou nada e a etnografia seria outra.

15 julho 2009

a não perder


14 julho 2009

por falar em orgulhos...

Ainda hoje de manhã me indignava com a alegria e o orgulho das palavras da ministra da educação, relativas aos resultados dos exames de Português e Matemática do 9º ano, quando recebo por email um exemplo claro daquilo que é a mediocridade da produção do referido ministério.
A imagem reproduzida diz respeito ao exame de Geografia A do ensino secundário - 2ª fase, exame que os alunos realizaram na manhã de hoje. Convirá referir que, apesar de parecer um pequeno ou insignificante erro, estes exames foram feitos com muita antecedência e por equipas especializadas de professores. Tanto tempo, tanto esforço, tanta reforma dedicada à educação das nossas crianças e jovens para, ao fim e ao cabo, ser o próprio sistema a insistir no ERRO - e aqui não há a desculpa do software de uma qualquer empresa vir de uma qualquer Espanha... Vergonha.

(agradeço a quem teve a gentileza de me enviar esta imagem)

10 julho 2009

imagens que não se esquecem


(no dia em que o BPP foi comprado por um euro (!?), relembro o momento de João Rendeiro) - sei que há melhores perspectivas deste momento - agradeço o seu envio.

em busca de uma identidade (perdida) que nos permita encontrar o norte, ou tenaz crítica ao desnorte da governação socialista


Acutilante ensaio de José Gil que, através de uma linguagem impaciente, mas simples e acessível, desconstrói os esquemas da governação socialista e faz um retrato da actualidade nacional. Aconselhado para quem ainda tenha alguma dúvida sobre o desgoverno que reina em Portugal, ou para quem ainda esteja indeciso em relação ao sentido de voto nas próximas eleições legislativas.
A leitura rápida porque fácil da excelente narrativa, levou-me a sublinhar quase todo o texto, por isso em vez de estar a citar qualquer uma dessas passagens, transcrevo o resumo ou apresentação da contracapa.

o desnorte
José Gil prossegue neste livro a sua investigação sobre os processos individuais e colectivos de subjectivação em Portugal. Quais são esses processos neste período marcado pela globalização, a crise económica e a hegemonia política do PS? Que formas assume essa subjectivação quando «a falha de sentido que as promessas por cumprir do 25 de Abril não conseguiram colmatar» foi suprida por antigos hábitos e «mentalidades»?
Reinventando conceitos de Frenczi e Foucault no sentido de uma abordagem original, José Gil mostra como os portugueses tentaram conquistar «formas de subjectivação individuais em desfasamento ou inadequação aos quadros de vida colectiva que se iam edificando progressivamente».
O autor de Portugal Hoje: O Medo de Existir considera que «fizemos da identidade o território da subjectividade» e «esforçamo-nos por resistir ao "fora" que aí vem, do exterior ou do interior, que ameaça destruir as nossas velhas subjectividades». Em sua opinião, a única maneira de remover o obstáculo da "identidade" é «deixarmos de ser primeiro portugueses para poder existir primeiro como homens».
É à luz dessa preocupação que se analisa o discurso dos actuais governantes que consideram que Portugal entrou «num processo irreversível de modernização», um discurso «anti-ideológico e de via única» em que a avaliação «surge como método universal de formação de identidades».
José Gil aborda em particular o «chico-espertismo" enquanto fenómeno que atravessa todo o «tipo de subjectividade da nossa sociedade, sendo transversal a todas as classes, grupos, géneros e gerações».

08 julho 2009

B:MAG

Nova publicação online gratuita acerca dos livros, da escrita e da publicação. Projecto da Booktailors e coordenado por Nuno Seabra Lopes e Paulo Ferreira. Com uma vasto leque de colaboradores implicados, de alguma forma, com a edição e a escrita em Portugal. Já desfolhei e já acrescentei o link para a edição um, em pdf, aqui ao lado direito na secção "para que se saiba".

07 julho 2009

lida está

Não raras vezes apetece dizer que este número foi, para mim, o melhor número da revista LER. O problema dessa vontade é o seu carácter efémero, pois a cada novo número existe essa possibilidade. Contudo, posso afirmar que a revista nº 82 tem muita qualidade. Surpresa desagradável foi a entrevista de fundo de Carlos Vaz Marques a Vasco Pulido Valente, que muito prometia, mas que não passa de um exercício de permanente recalcamento do ego e do seu alter... Comprada e lida numa fracção pequena de tempo, deixo alguns apontamentos ou excertos daquilo que gostei:
"...pelas novas tecnologias, que tanto facilitam a vida como a morte." (Francisco José Viegas, in Editorial)
"O bom leitor é o que valoriza o livro que não lerá, bem mais do que o livro conhecido: e valorizando-o, quer possuí-lo!" (Abel Barros Baptista)
"Ler por ler é um erro crasso. Para ler coisas que nos fazem mal mais vale tomar um Ben-U-Ron e sentarmo-nos a ver os jogos do Sporting..." (Jorge Reis-Sá)
"O nosso, aqui, e homens assumidamente de esquerda democrática, num tempo de aparência pouco propício, é o de lembrar que esse espaço de diálogo intra-humano é o da esperança, não apenas meramente conjectural e política, mas de uma esperança histórica, de uma solução plausível para um mundo de paz armado até às estrelas, para uma humanidade dividida em duas pela presença numa delas dos espectros medievais da fome, da ignorância e da repressão, e na outra pelo triunfo de uma Disneylândia de pacotilha, onde já não distinguimos com um mínimo de senso o que nos perde e o que nos salva." (Eduardo Lourenço)