30 novembro 2020

expectativa, ilusão ou falsa esperança?

Espero, sinceramente, estar enganado e esta percepção ser mais resultante do meu mau feitio e do moderado pessimismo relativamente à pandemia.
Já todos devem ter reparado que de há uma ou duas semanas a esta parte, os media iniciaram uma campanha informativa sobre a proximidade da existência de uma, ou várias vacinas para combater a COVID-19 e avançam já com os planos de distribuição e aplicação dessas vacinas, com previsões de quantidades, estratégias de distribuição, locais de vacinação, grupos prioritários, entre outros pormenores, que me parecem extemporâneos. A verdade é que os próprios governos de vários países europeus, e não só, embarcaram nesta lógica de antecipação informativa, transmitindo ideias contraditórias e pouco precisas, que demonstra bem a ansiedade de toda a gente face à possibilidade de uma eminente cura para esta terrível doença.
Eu não sei o que vai acontecer, nem quando vai acontecer, mas precavido que estou, desconfio desta vertigem informativa. Estarão mesmo as vacinas em vésperas de serem aplicadas à população? Essa distribuição e vacinação irá iniciar neste curto espaço de tempo que tem sido anunciado? Estarão criadas as condições logísticas suficientes e capazes de dar resposta à dimensão desta operação? E por último, será a vacina eficaz e capaz de derrotar definitivamente o raio do vírus? Como vêem são demasiadas as perguntas e dúvidas que ainda não vi satisfatoriamente respondidas e esclarecidas na polifonia das televisões, dos jornais, dos opinadores e afins.

22 novembro 2020

vamos LER


Já está nas bancas a revista LER nº 157, correspondente ao período Primavera/Outono 2020. Em vários momentos percebi as dificuldades que esta publicação foi tendo em ser publicada. Não conheço os pormenores, mas percebo que o facto deste número compreender o intervalo "Primavera/Outono" é sintoma de que algo não estará bem. Sempre espero estar enganado e que a LER possa manter-se viva e interessante. Vamos então LER.

acasos, por vezes, felizes

Partilhei aqui há dias a minha história da PlayStation5. Pois bem, dia 19 essa história teve o seu epílogo e foi mais ou menos assim:

a) Nas vésperas desse dia consegui chegar à conversa com alguém que trabalha na Fnac (será razoável não identificar a pessoa), expus a minha situação e os esforços desenvolvidos para conseguir uma para o meu filho. Sem poder prometer, disse-me que caso houvesse a mais, reservaria uma para mim;

b) No dia 19 saí de casa por volta das 10 horas para tratar do assunto. Conduzi até ao Gaiashopping e ainda antes de ir à Fnac, dirigi-me ao quiosque para registar o Totoloto e o Euromilhões, o que faço semanalmente e sempre às quintas-feira, desde que existem esses dois "jogos sociais". Quando a menina conferiu o primeiro talão (do Totoloto) a máquina deu sinal de prémio, e ela exclamou que tinha um prémio grande. Como eu nunca confiro os resultados e só quando vou registar o da semana seguinte é que sei se tenho prémios ou não, não fazia a mínima ideia. Foi com satisfação e a pensar na feliz coincidência que caminhei para a Fnac;

c) Ao contrário do que esperava, não havia confusão na Fnac. Caminhei por entre os livros, procurei novidades e promoções, dei a volta pelo sector dos jogos e informática e dirigi-me para o bar onde tencionava tomar um café e deixar-me ficar a ler um texto que estava em atraso. Mal me sentei, a pessoa amiga, veio ter comigo e disse-me que já tinha uma consola reservada para mim. Apesar de ter vontade, não lhe pude dar um abraço de agradecimento;

Bem, não eram ainda as 11 horas da manhã e já eu estava a regressar a casa com a PlayStation5 e sabendo que o Totoloto me tinha pago o caro presente. Há acasos que não se conseguem explicar e, neste caso, a coincidência ainda é mais expressiva, porque em tantos anos a jogar, jamais me calhara na sorte mais do que meia-dúzia de patacos. Continuarei a jogar.

a cultura, sempre a cultura


Ontem, no jornal Público, Pacheco Pereira com mais uma pequena reflexão sobre a importância das humanidades e do humanismo para as democracias, tal como as conhecemos até hoje.

16 novembro 2020

desejos próximos


Dois dos livros que quero comprar nos próximos dias. Claro que ao saberem disto, poderão surpreender-me e presentear-me. Eu agradeço sempre e retribuo.

novilingua portuguesa

Eu respeito todas as pessoas, homens, mulheres e indefinidos. Não tenho qualquer pré-conceito em relação aos géneros e suas nuances, naquilo que agora se denomina "não-binários". Aceito e compreendo que haja quem não se reconheça no sistema "binário" (géneros masculino e feminino), e isso não poderá ser factor de discriminação ou menorização na nossa sociedade. Não há, portanto e para mim, qualquer questão em relação a esse assunto.
Mas ao mesmo tempo, não consigo perceber a obsessão com esta coisa nova chamada "linguagem neutra em género" como exigência para uma língua e sociedades inclusivas. Agora surgiu a notícia de um novo sistema, chamado ELU, que pretende ser um conjunto de propostas sobre como referir-se, na língua portuguesa, às pessoas não-binárias ou cujo género é desconhecido ou indeterminado, assim como a grupos com diferentes géneros, sem recorrer ao uso do "masculino genérico". Assim, este sistema ELU (elu é a substituição dos pronomes ele e ela...) propõe, entre outros dislates:
Elu em vez de ele ou ela;
Delu substitui dele ou dela;
Nelu no lugar de nele ou nela;
Aquelu para substituir aquele ou aquela;
Outros exemplos:
Menino/a. → Menine.
Todos/as. → Todes.
Esposo/a. → Espose.
Obrigado/a. → Obrigade.
Pintor/a. → Pintorie.
Cidadão/Cidadã. → Cidadãe.
Irmão/Irmã. → Irmãe.
Ladrão/Ladra. → Ladrãe.
Há tolinhos para tudo e mais alguma coisa. Mas que raio, quem sofre sempre é a língua portuguesa. Não param de mexer com ela. Que porra! Ela não carece de decretos ou de modas para se transformar e evoluir. Deixem a língua portuguesa em paz. 

15 novembro 2020

património e metamorfose

O património como um museu ou como uma tradição, é um lugar de consolação, também porque é onde encontramos objectos ou referências antigas ou novas que amamos, mas sobretudo porque perdemos a noção de tempo. Falo de um tempo fugaz e imediato, porque ganhamos o conceito de duração. E desejamos também a procura melancólica do diálogo entre hábitos, afectos, tradições e culturas e isso leva-nos a considerar hoje o património cultural como uma permanente metamorfose.
(Guilherme d'Oliveira Martins, in Jornal de Letras nº 1307, Novembro 2020)

dia da Regueifa

Sei que não é um elemento gastronómico transversal à totalidade do nosso território e que há quem nunca a tenha provado, mas para mim, Domingo significa obrigatoriamente sair de casa pela manhã para comprar Regueifa, e houve até Domingos que tive que sair uma segunda vez para comprar mais. A que costumo comer não será das melhores, nem esta região é famosa na sua confecção. Das famosas conheço a de Penafiel e a de Famalicão, mas não me queixo, nem deixo de a comprar. Hoje foi dia de Regueifa com manteiga.

"Outono triste em cárcere"

Parou agora de chover mas sopra um vento terrível. Caminhar para o Inverno parece-me invariavelmente encurtar o futuro. Desta vez, mais ainda. Muito mais. Tão perto de haver vacinas, este será inevitavelmente o fim do mundo para tantas pessoas. Sobem os números. Não dobram os sinos. Já repararam? Este ano há boicote aos sinos para que ninguém se aperceba do que é morrer tanta gente.
(Valter Hugo Mãe, in Jornal de Letras nº 1307, Novembro 2020)

11 novembro 2020

carneiro me sinto

Conseguirei contar a história em poucas palavras. O meu filho quando fez nove anos, em Março de 2020, queria como presente a Playstation. Andou meses a falar no assunto e nós, pais, tentámos explicar-lhe que não fazia sentido comprar nessa altura porque estaria a sair a nova Playstation5. A custo lá o conseguimos convencer, não recebeu nenhuma prenda e, ainda por cima, o seu 9º aniversário coincidiu com o início do primeiro confinamento e não pudemos festejar. Neste entretanto manteve sempre a pressão e não deixou morrer o assunto, até que soube que a nova Playstation seria lançada dia 19 de Novembro. Escusado será dizer que anda numa ansiedade...
Avisado que sou, ou julgo ser, desloquei-me a uma Fnac para me informar. A loucura está instalada, pois a cerca de 15 dias do dia 19 de Novembro, já não aceitavam encomendas. Conselho do funcionário que me atendeu: dia 19 venha logo às 9 horas para tentar conseguir uma das poucas que teremos à venda...
Hoje, a 8 dias do lançamento, recebi uma mensagem da Fnac a aconselhar-me um agendamento para os dias que se aproximam e, assim, evitar filas... Agendei para esse dia, logo pelas 9 horas da manhã. O agendamento foi aceite, vão-me contactar em breve.
Tudo isto deixou-me a pensar...
a) que porra, não nos conseguimos desligar da máquina...
b) que porra, os gajos sabem-na toda e têm-nos presos pelos beiços...
c) que porra, não posso, nem quero, desiludir o miúdo...
Enfim, lá irei eu.

07 novembro 2020

finalmente!


Resisti, nestes últimos dias, vir aqui escrever sobre o processo eleitoral, ou melhor, sobre a contagem de votos nas eleições dos EUA, porque achei por bem, desta vez, esperar pela declaração oficial da eleição para reagir. É que em 2016 dei como certa a eleição de Hillary Clinton e jamais imaginei que os americanos iriam eleger uma personagem como Donald Trump. Elegeram e tiveram o que mereceram. Quem perdeu foram eles e, claro, o resto do mundo. Foram quatro anos inacreditáveis, de uma indigência política e social como jamais aconteceu.
Finalmente, o desqualificado e ignóbil Donal Trump foi rejeitado pelos seus concidadãos. Não foi preciso um impeachment, uma revolta ou revolução civil. Democraticamente, ainda que com tremenda polarização, mas com urbanidade, os americanos votaram maioritariamente em Joe Biden. Trump e os seus cães de fila poderão estrebuchar, gritar por fraude eleitoral, recorrer aos tribunais ou até, irresponsavelmente, incitar à violência dos seus indefectíveis apoiantes. Com tranquilidade, tal como o recém-eleito 46.º presidente afirmou ao longo desta semana, no fim foram eleitos.
Não serão dias tranquilos, nem será um mandato fácil, mas um passo de cada vez. Neste momento, celebremos a derrota da besta e sua prole.

04 novembro 2020

distopia

Deveríamos viver tendo por ambição um futuro utópico, ou seja, a ambição de uma realidade sempre melhor do que aquela que agora experimentamos. Contudo, a verdade é que vivemos tempos (e já não é de hoje) em que apenas conseguimos vislumbrar distopias para aquilo que há-de vir. Não é ser pessimista, nem tão pouco derrotista, mas olhando à nossa volta, não poderemos deixar de estranhar tudo aquilo que vai sucedendo, um pouco por todo o mundo e, principalmente, na Europa, que nos remete para esse ambiente que julgávamos pertencer ao mundo do imaginário e da ficção. Não, é real e estamos a experimentá-lo. Vivemos de facto num mundo distópico.
Vem isto a propósito da leitura que terminei esta madrugada, enquanto ia espreitando o desenvolvimento da contagem dos votos nos EUA. Submissão, de Michel Houellebecq, é um bom exemplo daquilo que atrás referi. Publicado pela primeira vez em 2015, remete-nos para uma França em 2022 e conta-nos a vida de um professor universitário num país polarizado pelas religiões e suas culturas. O livro foi recebido com várias críticas, entre elas a adjectivação de ser uma distopia e algo impensável numa república como a francesa. Pois bem, estamos em 2020 e a realidade não anda muito longe daquilo que é proposto pelo autor. Aconteceu, também, a triste coincidência de o ter começado a ler no dia em que o professor francês, Samuel Paty, foi barbaramente assassinado à porta da escola onde leccionava.

03 novembro 2020

in memoriam

Acabadinha de chegar à caixa do correio. Até o humor se altera e ficamos mais bem dispostos. Prioridade na pilha de leituras.

um dia importante

Hoje é um dia importante para todos nós. Todos nós que vivemos neste mundo. Bem sei que é um lugar comum, mas as eleições presidenciais nos EUA foram, são e serão sempre um momento relevante para a nossa existência e têm repercussões globais. Espero e desejo ver o desqualificado inquilino da Casa, que dizem ser Branca, corrido de lá para os seus domínios do Show Business, habitado pelas fake news, pela junk food e pela trash people, de onde nunca o deveriam ter deixado sair. Não é tarefa simples e até ao lavar dos cestos será sempre vindima. Joe Biden não me entusiasma a amígdala, mas será a única escolha possível se os americanos quiserem regressar a uma qualquer normalidade que este analfabeto e inábil tem vindo a destruir desde 2016. God bless America.

02 novembro 2020

no fio da navalha

A propósito da declaração do Primeiro-Ministro no final do Conselho de Ministro, no passado Sábado, e as posteriores reacções e comentários que, incessantes, se vão ouvindo nos media, eu, que assisti em directo a essas declarações, não consigo ser crítico do comportamento e do discurso de António Costa e seu Governo - foi explícito e, principalmente, foi pedagógico. Claro que tem havido erros de gestão da pandemia, má comunicação, informações contraditórias, mas caramba, estamos numa situação impossível de gerir. Já aqui o disse e vou repetir: respeito e admiro muito aqueles(as) que têm dado a cara e estão ao leme desta situação desde o início da pandemia, pois sendo uma realidade extrema, nova e de uma intensidade tal, é de uma injustiça gritante estar sempre a criticar, ainda por cima, sem apresentar alternativas. Percebeu-se nas palavras de António Costa uma tremenda incerteza sobre o que aí vem, foi notório o desconforto com a atitude irresponsável de muitos portugueses e foi perceptível o fio da navalha em que o Governo e demais instituições responsáveis se encontram neste momento. Serão sempre decisões difíceis que implicarão consequências gravíssimas para a nossa sociedade. Respeito.

01 novembro 2020

Sean Connery

Faleceu ontem aos noventa anos o actor Sean Connery. A julgar pelas reacções que foi possível encontrar um pouco por todo o lado, o actor irlandês era reconhecidamente uma figura maior da sétima arte. São muitas as referências à sua ligação à mítica personagem de James Bond, mas para mim Sean Connery foi referência numa fase mais avançada da sua carreira. Nunca tive paciência para o 007 e por isso foi em filmes como O Nome da Rosa, O Rochedo, Lancelot - o primeiro cavaleiro, ou Caça ao Outubro Vermelho, que o reconheço como uma figura carismática, com uma presença magnética e imponente. Ainda hoje, quando em zapping, encontrando-o no ecrã é razão para ficar a ver. Sean Connery envelheceu muito bem.