31 maio 2007

Pés Descalços



Não tivessem sido estes últimos dias chuvosos, de intempéries e arrefecimentos nocturnos, e já este texto há muito tempo - talvez um ou dois meses, teria sido escrito e, aqui, publicado.
Ainda a Primavera não se tinha apresentado e as temperaturas ainda timidamente eram amenas e já muitos e, principalmente, muitas, despuradamente se começaram a despir para em público se apresentarem. O que, de resto, muito me agrada, pois é bem agradável perceber um decote mais acentuado ou um descapotável umbigo, bem no centro de uma barriguinha light, ultimamente e cada vez mais, equipados ou decorados com adereços vários (piercings, alfinetes, brincos, ou mesmo pregos e ferraduras...).
Destes dias primaveris até aos dias finais do equinócio, andarei, andaremos satisfeitos e consolados com as itinerantes e deambulantes esculturas e obras-de-arte que é possível, ao virar de cada esquina, apreciar e degustar. Ao mesmo tempo e, para mim, com uma persistência angustiante, seremos obrigados a conviver, e bem de perto, com os membros inferiores desnudados de terceiros, estranhos e desconhecidos, numa moda e num (des)conforto que não percebo nem aceito.
Objecto de culto pessoal e até de fantasias eróticas e sexuais, o pé, perfeitamente "calçado" por esta, a nossa, sociedade de consumo imediato e narcisista, que previligia o egocentrismo, ou seja, o eu no centro do universo, permite-se a todas as dedicações e cuidados, muitas luxúrias e até a circular desnudado, livre de qualquer censura ou constrangimento. Confesso que convivo mal com essa libertinagem e sinto-me incomodado pela presença de qualquer conjunto de pés, normalmente horríveis, que me obrigam a ver e a sentir...
Bem sei que há algumas excepções e que eles também andam por aí, bem tratados e bem apresentados, portanto bonitos. O problema é que cada um e cada uma arroga-se no direito, diga-se legitimo, de considerar o seu par bonito e por isso, passíveis de passearem publicamente nus. Mas não, não o são!... Lamento desiludir, a esmagadora maioria dos seres humanos têm pés feios, disformes, assimétricos, desconformes, horrendos e mal tratados. Por isso, deveriam ter vergonha e escondê-los dentro de um qualquer calçado, devidamente acondicionados e longe da vista e nariz do resto do mundo. É que para além da implícita questão estética, é, acima de tudo, um imperativo para a saúde pública e para a sã convivência social. Guardemos esse prazer de andar descalços, ou quase, para a intimidade dos espaços privados ou para os locais que a tal obrigam...

Rodapés:

Independentemente de poderem ser considerados bonitos ou não, os meus dois, por todas as razões e algumas mais, raramente apreciam a luz do sol e incomodam terceiros.

Pior, só mesmo aqueles que circulam espectacularmente de sandálias e com meias...

30 maio 2007

O meu corpo já não é, para mim, mais do que um estorvo, um obstáculo, e tanto quanto possível vou-me libertando dele.
Rousseau

26 maio 2007

1973 Agenda

O cheiro a velho, o toque empoeirado e a visão gasta das letras denunciam um tempo longínquo. Curiosa atracção por este volume, jamais visto. De página em página vou gravando, mentalmente, lugares, visitas, nomes, encontros e desencontros. Num desafiar lento do tempo, dia após dia chego a uma animada e colorida data, onde nada encontro registado. Pousada entre folhas, num frágil e fino papel colorido, a imagem da Senhora, amiga nossa nas horas aflitas e ansiosas. Por perto, um post-it amarelo envelhecido que apenas dizia: 227439361. Nasceu o Luís Miguel. EU.

25 maio 2007

Aquisições

Mal soube da abertura de mais uma edição da Feira do Livro do Porto, que este ano e pela última vez se realiza no Pavilhão Rosa Mota, pensei logo em lá ir nos primeiros dias e, de preferência, num dia de semana logo pela manhã, pois assim não encontraria tanta confusão e, nos primeiros dias, concerteza haveria mais livros.
Desconhecendo o horário de abertura, preparei-me para essa missão logo pela manhã do dia de hoje, fazendo contas para lá estar às 10 e pouco... Contudo, para espanto e desilusão minha, o recinto só abre às 16 horas durante todos os dias do certame. Então e todos aqueles que trabalham à tarde e à noite? e aqueles... os desocupados?... que injustiça. Não se faz.
Agora, passo a apresentar os meus mais recentes amigos, dos quais espero companhia e fidelidade até ao fim dos meus dias:
- "Conflitos e Água de Rega" de Fabienne Wateau, Colecção Portugal de Perto - Dom Quixote;
- "A Dimensão Oculta" de Edward T. Hall - Relógio D'Água;
- "Os Devaneios do Caminhante Solitário" de Jean-Jacques Rousseau - Livros Cotovia;
- "A Bíblia Hebraica" de George Steiner - Relógio D'Água;
- "Etnografia Portuguesa" de José Leite de Vasconcelos (volumes V, VI e IX) - Imprensa Nacional Casa da Moeda;

24 maio 2007

Momento Primeiro

Considerada a primeira fotografia onde aparece uma figura humana (descubram-na!...). Em chapa de prata representa o Boulevard du Temple em Paris, fotografado em 1838 por Daguerre da janela do seu estúdio.

23 maio 2007

O Presente é Abençoado

...e porque o resto será sempre recordado...
(a pensar na minha amiga, Fátima)

um homem junta folhas
num monte no seu quintal, uma pilha
e apoia-se no ancinho e
queima-as todas.
a fragrância enche a floresta
as crianças param e sentem o
aroma, que se tornará
nostalgia em alguns anos.
jim morrison in Abismos

22 maio 2007

Muito Bom



Como é bom ser surpreendido e encontrado por um desconhecido espécime... qualquer seu pormenor nos poderá atrair, seja um nome, um título, uma imagem, uma fotografia ou um grafismo, é indiferente. Será sempre uma agradável surpresa. Neste caso, manifestamente foi o título que me atraiu, mas desenganem-se pois nada no seu interior está directamente relacionado com o seu atributo. No seu índice encontramos textos variados sobre: Genius, Magia e Felicidade, O Dia do Juízo Final, Os Ajudantes, Paródia, Desejar, O Ser Especial, O Autor como Gesto, Elogio da Profanação, Os seis minutos mais belos da história do cinema.
Ensaio que é, descobriu-me um destes dias, deambulante no Sr. FNAC (tal como o meu irmão lhe chama...). Sem os mesmos o trouxe comigo. Lendo estou.

15 maio 2007

Lets look at the trailler

Até pode não ser especialmente fantástica. Pode até nem ser genial. Mas é uma ideia, e minha. Sei que em contacto com as pessoas certas, vingaria e poderia esperar um relativo sucesso. Mas não, não conheço essas certas individualidades que com o seu cunho garantem e certificam a melhor das qualidades às ideias.
Esta é a conclusão, triste diga-se, à qual anualmente me resigno, quando vejo o calendário de concursos do ICAM. Todos os anos por esta altura, este instituto apresenta um programa de apoios: à criação, à produção, à realização, à distribuição, à exibição e à promoção de obras de cinema, curtas e longas metragens, documentários, animação, entre outros. É muito dinheiro que alguns conseguem cativar para os seus projectos e ideias... eu não! A ideia minha continuará, assim, mais uns tempos na famosa gaveta... entretanto, se por um mero e infímo acaso, algum dos ilustres leitores for "expert" nestas "cousas" de Hollywood, clique no Correio, mesmo aqui do lado direito do monitor, e fale-me. Será com o maior dos prazeres que mostrarei uma trailler... Obrigado.

10 maio 2007

Dona Picolé

Assim me foi apresentada esta palhaça pela minha filha de 5 anos.
Agora, já refeitos e estavelmente instalados na nova habitação, é tempo de conhecer os novos co-habitantes dos mesmos espaços comuns. Através de encontros imediatos ou fortuitos, pequenas conversas e algumas reuniões de condóminos, lá vamos reconhecendo nas boas horas e cumprimentos os demais…
Apenas e só pelo facto de residir no mesmo prédio e ser nossa vizinha, esta personagem tornou-se mais próxima e familiar, mesmo sem saber muito bem porquê, como e quando, houve uma aproximação ao nosso agregado familiar: o fascínio da menor é por demais evidente e em casa já existe um cd da mesma, por si oferecido e devidamente autografado e dedicado; já houve uma sessão de “dança privada” e até, uma participação privilegiada no programa televisivo Praça da Alegria da RTP.
Aproveitando este tipo de reflexão importará dizer que até então a figura da palhaça Picolé, a do olhar piscante, negro e profundo, apesar de conhecida, era uma perfeita desconhecida. Mas agora, é figura incontornável para observação e para participação, ainda que ausente, em conversas de amigos e família (…muito à frente!... - dizem-me alguns amigos). Despida da personagem, tal como a conheci e não reconheci, descobri uma “miúda” interessante e simpática, de conversa acertiva e esclarecida. Assumidamente despenteada mental, é uma mulher de esquerda e tem por nome próprio Ana Paula.