25 outubro 2012

crise, serviços e qualidade

Não haverá um português que não utilize o termo "crise" no seu dia-a-dia, com propriedade ou sem ela, com informação ou sem ela, com razão ou sem ela, com hipocrisia ou sem ela, ou com sentido ou sem ele. Na realidade esse termo e todos os seus significados vieram introduzir no léxico nacional um conjunto de étimos que até então praticamente desconhecíamos. A par deste fenómeno linguístico, a "crise" proporcionou também o ambiente ideal para o abandono, por parte do capital, na indústria e no comércio, mormente nas pequenas e médias empresas, levando à presente situação dramática de desemprego e de indigência social e cidadã. Uma das consequências mais gravosas deste processo é o desaparecimento de todo um tecido comercial de pequena escala que não aguenta a pressão e se vê obrigado a fechar portas, deixando o mercado disponível para os grandes grupos e exposto à avidez dos monopólios, o que por sua vez traz, quase obrigatoriamente, um decréscimo na qualidade dos serviços prestados e dos produtos comercializados. Naquilo que é a minha experiência de cliente, noto nalgumas das empresas esse prejuízo qualitativo. Dou dois exemplos: A Fnac que quando se instalou em Portugal e durante muito tempo oferecia um serviço de qualidade na venda de livros técnicos (encomendas, prazos, disponibilidade, variedade, entre outros factores), perdeu substancialmente essa qualidade e agora, para além de um atendimento demorado por falta de colaboradores, por norma não tem e não encontra no catálogo, nem se mostra disponível para a encomenda; A Toys"r"us, originalmente, um mundo mágico para a brincadeira e um baú sem fundo de diversidade, tem as lojas "abandonadas", com poucos clientes e com poucos colaboradores. Pedir um esclarecimento ou uma ajuda tornou-se insuportável, seja pelo tempo de espera, seja pela qualidade dessa interacção. Estes dois exemplos dizem respeito àquilo que foi a minha percepção, por estes dias, em situações concretas. Aquilo que aconteceu com a chegada destas duas marcas - entre outras - ao nosso mercado foi o fim de muitas e muitas pequenas empresas concorrentes que não aguentaram o poderio destes gigantes, ou seja, primeiro rebentaram com o mercado ficando em situação de monopólio ou algo parecido e depois, donos e senhores do mercado, puderam desqualificar esse mesmo mercado. O consumidor é passivo, sujeita-se a qualquer preço e vive dependente de cartões e de dias de promoção. O cliente deixou de ter razão e de ser soberano.

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