16 novembro 2011

instante urbano xvii

Por razões que não importa aqui referir, tenho frequentado o Fórum da Fnac. Numa dessas vezes, estava eu entretido a fazer fichas de leitura quando me apercebo que alguém se aproxima demasiado da minha mesa. Levantei o olhar e dei com os olhos de uma linda jovem que me sorriu, disse "bom dia" e sentou-se na minha mesa. Aquilo que se seguiu foi mais ou menos isto:
- Olá, és o Luís?
- Sim, sou (?!?!)
- Eu sou a Renata.
(silêncio e troca de olhares)
- Não te importas que eu tome um café rápido?...
(sem esperar pela minha resposta, levantou-se e foi buscar um café ao balcão. Eu, num esforço maior do que o meu cérebro àquela hora da manhã conseguia processar, tentei reconhecer de algum lado aquele rosto, aquele nome, aquela voz... Enfim, um esforço inglório)
(regressou à mesa, a sorrir e a olhar para mim)
- Vais-me desculpar, mas eu não te conheço...
- Pois, nem eu a ti, mas também não é preciso.
- Não é preciso?!...
- Não. Vamos onde quiseres, fazemos o que quiseres e cada um vai à sua vida.
- Desculpa, mas não estou a perceber!
- Não estás a perceber o quê? Vamos lá, pois já estás a pagar...
(eu olho em redor e ela abre a bolsa e saca um creme que passa nas mãos)
(ela é nova, muito nova e com muito bom aspecto, sem grande aparato mas bem vestida)
(eu ainda atordoado pela abordagem dela, percebi então o que estava a acontecer e tentei esclarecer a situação)
- Pois, mas deve haver aqui alguma confusão. Deves ter-te enganado, pois eu não estava à tua espera...
- O quê?.. Então, estás a gozar comigo?.. Ao telefone disseste que te chamas Luís, que usas óculos e tens barba e que estarias aqui com um portátil aberto a trabalhar e agora dizes que não és tu!
(enquanto fala vai olhando à volta procurando alguém que também obedeça a essa descrição, mas de facto não há mais ninguém...)
- Pois, não sei o que te diga, mas eu, de facto, sou Luís, mas não te telefonei...
- Olha, podes até não querer ir comigo, mas agora vais ter que me pagar a deslocação...
- desculpa?!...
- Sim, sim. Paguei um táxi de Matosinhos para aqui e vou ter que regressar, portanto tens que me dar 60 euros.
(quando ouvi isto, não consegui evitar um sorriso, pensando que ela e mais alguém estariam a gozar comigo)
(ela quando viu a minha expressão facial, alterou radicalmente o seu semblante e ficou tensa)
- Bem, não estou para aturar merdas destas. Dá-me o dinheiro que eu quero ir embora...
- Podes ir embora, pois eu não te vou dar dinheiro nenhum.
 (ao ouvir isto, procura o telemóvel na bolsa, levanta-se e sai para o parque de estacionamento)
(eu ainda não queria acreditar no que me tinha acontecido, quando vejo-a a reentrar e, com má cara, a dirigir-se a mim)
- Luís, queira desculpar este mal entendido. Bom dia.
- Bom dia.
(...e foi-se embora sem dizer mais nada)
(eu, muito incomodado, também arrumei as minhas coisas e fui embora...)

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