10 julho 2015

constatação geo-estratégica

Na revista LER, edição de Junho 2015, Eduardo Lourenço, a propósito do papel da Europa no mundo e do seu protagonismo actual e num futuro próximo, afirma:
"Assistimos à crise na Ucrânia sem saber o que fazer. A Europa tem um problema, desde que existe: não saber lidar com o Outro, o não-europeu. Aconteceu no tempo de Alexandre, e sobretudo quando surgiu outro fenómeno que conquistou uma dimensão planetária: o islão. Vivemos séculos lado a lado, sem que os víssemos, ou eles nos vissem a nós. O Império Turco foi, para a Europa, uma espécie de União Soviética, desde 1453. Agora toda essa massa emerge, fruto da descolonização, numa espécie de sonambulismo histórico. Mas a Turquia europeizou-se e partes da Europa islamizaram-se, ao ponto de ter surgido esta ideia de que a Turquia pode fazer parte da coisa europeia. E como podemos imaginar a integração do islão, que representou durante séculos a não-Europa, e não sabemos o que fazer com a Rússia? Como pode a Turquia entrar na União Europeia e a pátria de Tolstói e Dostoiévski ficar de fora? A Europa não é o nome, a Europa é a sua própria História.
(...)
Não podem ficar fora de jogo só porque achamos que não são democratas como gostaríamos que fossem. Temos de relacionar-nos com eles, pelo menos com uma parte da sociedade russa. A Rússia teve o seu iluminismo e conheceu períodos de grande fascínio pelo Ocidente. E ao mesmo tempo sempre desconfiou que os padrões do Ocidente não convinham ao seu messianismo intrínseco, à sua religiosidade de tipo mítico". (pág. 36)

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