Esta tarde foi dedicada à conferência que Manuel Castells veio proferir, por convite da Câmara Municipal de Gaia, às Conferências de Gaia, realizada nas Caves Ferreira. Não tendo grande expectativa, nem sendo um seu leitor atento, na medida em que os assuntos sobre os quais versa não me excitam a amígdala, havendo esta oportunidade para o ouvir ao vivo, aproveitei.
A conferência versava sobre "uma cidade inteligente num mundo global e em rede" e, de facto, Manuel Castells é um entendido globalizado dessa conexão em rede que é a sociedade actual. Num tom agradável e, a espaço, com sentido de humor, apresentou a sua perspectiva sobre as sociedades actuais e de futuro, relevando a importância da conexão dos territórios, das instituições e dos indivíduos, alertando para o facto de o futuro estar já captado ou colonizado por aqueles que conseguirem manter-se em rede. Sua visão é, aqui, radical, afirmando que só existem duas possibilidades: ou estamos conectados e sobreviveremos, ou estamos desconectados e seremos dispensados pelos processos globalizantes.
O que percebi, estando perante um "guru" à escala mundial destas matérias, é que a sua perspectiva, a sua opinião, o seu pensamento, estão perfeita e completamente dominados e ajustados pelos paradigmas vigentes e, foi curioso, no período final de perguntas, terem sido várias as questões colocadas sobre a dimensão humana relacionalmente: as implicações deste novo habitat no ser humano; onde fica o Ser ontológico, etc. e ele, habilmente, não deu resposta directa a nenhuma dessas questões, afastando-se de qualquer perspectiva humanista da sociedade.
Relembrando aquilo que foi o seu percurso, o seu brilhante percurso académico até ao estrelato, hoje pude confirmar como evoluiu o seu pensamento, desde os primeiros tempos em que questionava o sistema, os paradigmas e os dogmas, numa atitude que poderíamos considerar anti-sistema, até à actualidade em que se percebe nitidamente o seu à-vontade nos meandros dos poderes, sistemas e instituições do mainstream liberais e capitalistas, naquilo que é a sua apologia da tecnologia, dos sistemas de informação e das redes comunicacionais.
Hoje fiquei a saber que para este ilustre pensador não há possibilidade de existência, não haverá possíveis futuros sem ser em rede, sem ser em permanente e eterna comunicação. Para além de não aceitar este determinismo, acredito que poderemos sempre estar e viver desconexados, desligados da rede. É ainda uma questão de opção.
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