Ao percorrer a paisagem de sempre, por caminhos e canelhas dos lugares que sempre conheci, vou descobrindo as alterações que se vão verificando, aqui e ali, nem sempre felizes ou positivas, mas quase sempre significantes do tempo que passa, ou do desgaste e envelhecimento dos materiais e das pessoas, ou ainda do abandono compulsivo do território. É por tudo isto que o sobressalto é maior quando deparamos com algo como o que está na fotografia... Uma porta com carabelho, bem característica deste lugar, gasta pelo tempo e pelo uso, remendada para a poder perpetuar até um futuro desconhecido e uma imponente soleira, que para além de gasta, partida significa o abandono e a falta de serventia. Uma porta que já não serve nada, nem ninguém, mas ainda assim merece o cuidado da nomeação. Essa eterna preocupação da identidade e, acima dela, a essencialista necessidade de posse da terra e do património, que teima em perseguir o Homem, ainda que seja a posse de um monte de pedras, ou de um pedaço de nada.
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