01 fevereiro 2007

Báu da Memória I

Bem lá do fundo desse lugar, numa visita recente, encontrei estas duas relíquias. A primeira lá da prateleira dos fins de 80, de um velho e sempre amigo e a segunda, algo estranho e manuscrito de Setembro, 96 de 1900.

"cinco e meia da manhã e a Porfíria não voltou da casa da Ovelha. - como pode isto acontecer?... - como sim! - como pode isto acontecer?... - como não! - pois é, agora a culpa é minha não é!?... - então? - sei lá, não sei... porquê? (...)

- pois é minha sobrinha, a vida não são duas sem três. Eu conheci-a num dia de Setembro, de um ano qualquer deste século. Sabes? - pois.... - foi uma experiência incrivel. é como quando te vês num espelho e consegues ver algo mais do que as tuas feições. é perturbante, é arrepiante. há sempre algo mais...

- caminhas sem olhar para trás. é que não tens retrovisores. atiras-te de cabeça e se for preciso ainda atas uma corda à cintura na qual, e na outra ponta, está uma pedra para abreviar viagem.

- ando às voltas, sozinho e aparentemente desnorteado. não me importo, pois sei bem onde vou e como vou. para além disso, e acima disso, há sempre alguém... alguém que até poderá estar ausente, mas no espelho aparece, qual Sebastião na neblina. (...)

- nunca quis ser velho, não por ter medo da morte. é cobardia do sofrimento, mas lá no fundo, bem no fundo, até gostava de o ser. e sabes porquê!? - pois, não!... - pois espero (sei) que o que resta da vida dê para engendrar algo mais. se assim não for, também não faz mal, pois sei que algures, alguém se vai lembrar de mim, vai-se lembrar dela... daquela que um dia conheceu e, por mais que fugisse, nunca se conseguia libertar, pois ela está em nós, somos nós. ela é verdadeira, profunda sincera. não é!?... - pois é! AMIZADE"

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