26 maio 2009

concurso cronistas - 3º desafio

Desafio:
Prezado Cronista,


São oito fatos que escolhemos e, de 2 a 3 participantes, terão a incumbência de falar de cada um deles. Se está achando que vamos comparar, acertou em cheio! Vamos sim! Por isso, no mínimo 2 falarão de cada notícia.
Escolhemos esses fatos por serem inusitados e curiosos, interessa-nos não o fato em si, mas a capacidade do cronista, do bom cronista de transcender o óbvio e ver, atrás da notícia, o humor que não vimos, o lirismo que escapou de nossa observação, a simbologia que não decodificamos, a filosofia que não adivinhamos, a comparação habilidosa com outros fatos que não soubemos ver.
Como é nosso interesse olhar para o resto do mundo, não há fatos de Portugal e Brasil.
Como sempre, feito o sorteio, aguardo suas palavras.
O Editor

Sorteado - fato 2 -
Balconista expulsa ladrão com gargalhadas
Origem: Wikinotícias, a fonte de notícias livre.
10 de Março de 2005
O empregado de uma loja na cidade de Cranberry nos Estados Unidos da América frustou um assalto a mão armada com gargalhadas.
Por volta das 21h45, um ladrão mascarado entrou no mini-mercado Gordon's, localizado na rodovia Rochester. A loja estava para fechar e dentro dela havia apenas um balconista.
O ladrão, que vestia uma máscara do cão do
Mickey, Pluto, sacou um revólver e exigiu que lhe fosse entregue dinheiro da caixa registradora. Foi nesse momento, que o balconista desatou a rir.
O ladrão não reclamou, desistiu do assalto e fugiu.
O oficial de polícia de Cranberry, sargento Dave Kovach disse:"Este é o nosso primeiro encontro com o bandido Pluto".O policial também advertiu que embora tenha funcionado, não se deve esperar que essa estratégia funcione sempre. Segundo ele, pode acontecer de o bandido ser uma pessoa perigosa, viciada em heroína, por exemplo.
Crónica:
Gargalhadas e Lambidelas
Assim, confortavelmente instalado, Fred Rowe ausenta-se, diariamente, em viagens fantásticas pelo mundo que não conhece, a não ser pelas imagens da TV e da internet. Herói principal dessas aventuras, tem direito a inúmeras vidas extras que lhe permitem experimentar momentos épicos e ultrapassar obstáculos inimagináveis, que acabam inevitavelmente com o estridente despertador, que lhe lembra que tem novo dia pela frente. O seu quotidiano é constituído por uma mão cheia de rotinas que o entediam cada vez mais: de casa para o trabalho, do trabalho para o bar e do bar para casa, às vezes, cada vez mais vezes, bêbado; outras vezes, do bar para um qualquer quarto de Motel de estrada, com alguém que nunca fixa o nome ou sequer o rosto.
Fred tinha sido um jovem e promissor consultor de uma companhia de seguros, sediada em Philadelphia. Aceitara o desafio de vir para esta pequena cidade – Cranberry, do interior do estado da Pennsylvania, como responsável comercial dessa seguradora. Já lá iam mais de dez anos e aquilo que começara como uma aventura, com perspectivas de evolução na promissora carreira, acabou por se revelar um desterro eterno. Com o passar dos anos foi desanimando, acomodando-se, a sua ambição foi cedendo às comodidades e ao conforto da pacatez característica das pequenas cidades do interior dos EUA. Ultimamente, sempre que a empresa o solicitava para uma viagem para fora da cidade, era um problema que enfrentava com bastante resistência e sofrimento.
Fred vivia sozinho num pequeno, mas confortável apartamento alugado. Com um emprego estável e com um ordenado acima da média que dava para os gastos, sentia que tinha tudo quanto poderia ambicionar com a excepção da companhia de uma mulher, de quem gostasse verdadeiramente e por quem se sentisse amado também. A sua instabilidade emocional resultava dessa falta e isso, por vezes, tornava-se demasiadamente perigoso para Fred que, confundindo a realidade com a ficção, embarcava em viagens rumo ao desconhecido. Não se importava, desde que pudesse experimentar sensações que o fizessem ausentar-se da sua amargurada vida, qualquer coisa servia.
Num dia igual a outros, no seu escritório, recebe um simpático convite para ir, num final de um dia próximo, a uma festa em casa de um colega de trabalho, igualmente solteiro, mas com fama de má companhia e de gostos alternativos. Sem aceitar imediatamente o convite, deixa em aberto essa possibilidade, pois o convite sugeria algo diferente e desconhecido. Foi para casa convencido que, tendo em conta o seu estado psicológico, seria melhor não ir, pois lá encontraria um ambiente alegre e ele sentia--se imensamente deprimido. Com esse pensamento, encharcado em xanax e vodca, adormeceu.
No dia seguinte novo reforço do mesmo convite. Aí, muito ao seu jeito, lá acabou por aceder e garantir a sua presença. Condição obrigatória para poder participar na festa: levar uma qualquer fantasia animal vestida que o encobrisse totalmente, tornando-o anónimo. Mesmo achando estranho tal predicado, concordou. À falta de melhor, encontrou numa loja da cidade uma fantasia de Pluto, famoso canino e fiel companheiro do Rato Mickey.
Depois de algumas hesitações de última hora, ao ver projectada a ridícula figura que o espelho lhe devolvia e depois de uns valentes goles na garrafa de Whisky, lá encarnou a personagem e saiu de casa.
À chegada e mesmo antes de tocar à campainha, nova e derradeira hesitação, mas escutando o som vindo do interior daquela habitação, depressa se abstraiu e carregou no botão. À porta, num ápice, surgiram três silhuetas animais que, dançando e emitindo uns sons imperceptíveis, para seu espanto, roçaram seus corpos contra o seu, puxando-o para dentro de casa. Aí, o ambiente que conseguia perceber através de sua fantasia, e porque a iluminação era algo psicadélica, era loucamente irreal. Inúmeros corpos, todos disfarçados de animais, mexiam-se e remexiam-se ao som de uma música envolvente, mas hipnotizante, numa massa uniforme de movimentos que indiciavam algo que não podia acreditar ser real. Deambulou pelo meio daquela multidão, sentindo-se permanentemente olhado, tocado e amassado, por patas e garras anónimas e desconhecidas. Conseguiu chegar a um canto onde uma gata, de contornos bem vincados, servia bebidas. Pediu um Gin Tónico e na resposta recebeu não só a dita bebida, como um monumental abraço de corpo inteiro e com direito a afectuosas lambidelas. A mescla de sons, cheiros e sabores impregnavam o ar, produzindo uma atmosfera extremamente afrodisíaca e a cadência dos movimentos corporais erotizavam por demais o ambiente. Era já impensável retroceder e à medida que o dia dava lugar à noite, Fred sentia-se cada vez mais confortável e desinibido. A par de uma enorme mistura de consumos, acedia e retribuia os avanços corporais. De tempos a tempos, como que para refrear os ânimos, vinha até à rua apanhar ar e aliviar-se do ambiente saturado dos espaços interiores. Sentia-se bem, um tanto ou quanto eufórico e consideravelmente ébrio, mas a excitação sensorial levava-o a querer mais. Contudo, pouco depois e num desses momentos de recuperação, apercebeu-se que uma pequena cadela se aproximava, cheirou-o insistentemente e, colocando-se de quatro, simulou urinar bem perto de si, levantou-se, arranhou-lhe o focinho e, de seguida, afastou-se em direcção à rua. Sem conseguir perceber de imediato o que aquilo significava, resolveu seguir aquela cadela com cio, cuja bonita silhueta ia aparecendo e desaparecendo nas sombras da noite, em direcção aos carros estacionados. Num pulo, inverteu o sentido e agarrou-se ao Pluto com tal vontade, que caíram redondos num pequeno relvado de jardim. A excitação já não cabia naquela confusão de pêlos, depois de se esfregarem num abraço desajeitado, resolveram sair dali. Enquanto ela conduzia, ele não parava de mexer nela. Pouco tempo e poucos quilómetros depois, ela encostou o carro e, obrigando-o a recompor-se no seu lugar, pediu-lhe para ir a uma loja comprar bebidas, pois queria continuar a beber. Ele, mal refeito daquilo que lhe ocupava os sentidos, disse-lhe que não tinha dinheiro e que, assim vestido, não saía do carro. Ela insistiu e, fazendo chantagem, lá conseguiu convencer Fred, na pele de Pluto, a ir lá, mas continuava sem dinheiro. Descontraidamente, a cadela abre o porta-luvas e saca de lá uma arma, dizendo-lhe para a usar na loja como forma de conseguir dinheiro para comprar as tais bebidas. Ele, inicialmente não acreditou nas palavras dela e pediu-lhe para guardar a arma. Depois, incomodado pelo ousado desafio, questionou-a se falava sério e a resposta veio em forma de carícia. Pluto agarra na arma, respira fundo e, desalmado, corre em direcção à loja, onde entra com aparato, empurrando a porta com força e, verificando que a loja está vazia, aponta a arma ao empregado e exige-lhe o dinheiro que está na caixa. O empregado surpreendente e inexplicavelmente desatou em desbragadas e incontroláveis gargalhadas, o que deixou o atónito Fred desarmado e incapaz de resolver tal situação. Perante a ameaça suprema de uma arma de fogo, aquele rapaz tinha-o desmascarado apenas com gargalhadas. Naqueles instantes como que caiu em si, viu-se reduzido à sua insignificância e da mesma forma que entrara, precipitado saiu da loja. Aquelas gargalhadas, aquela humilhação deixaram-no completamente de rastos. Entrou no carro e, sem dizer palavra, devolveu a arma, despiu-se da personagem e, sem mais, regressou apressado a casa.
Encharcado em whisky e noutras coisas mais, vou eu, também, dar por terminada esta crónica e embarcar numa viagem que me levará directamente para outro dia, o de amanhã.
Avaliação e comentários: (até 10 valores por júri)
Betty Vidigal - É um conto, né? Personagem simpático, bem construído, texto bem escrito, mas definitivamente não é uma crônica! Para um conto, o tamanho tá ok. Pra uma crônica, tá enorme. (como conto daria 9). Nota: 9,0
Cida Sepúlveda - Gostei muito Mas é conto. Nota: 9,0
Lorenza Costa - Conto inspirado no fato. Nota: 6,0
Luci Afonso - Neste conto bêbado, faltam parágrafos e sobram incoerências. Nota: 7,5
Marco Antunes - Conto! Nota: 6,0
Oswaldo P.Parente - Usou a idéia para construir o conto, em vez de usar o conto para comentar a idéia. Nota: 7,5

total - 45

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