14 maio 2009

instantes urbanos IV

De regresso a casa, no final de mais um dia longo e, gostaria de poder dizer, proveitoso, escolho mentalmente o percurso que julgo ser o mais rápido. Indeciso guio em direcção à VCI, para então aí optar por uma das pontes. Puro engano! VCI parada, os dois lados com uma densidade automobilistica impressionante. Já não estou habituado a estas andanças... as do engata, acelera, trava, desengata, pára... Engata, acelera, trava, desengata, pára... sem fim! A minha escolha é, quase sempre, atravessar o Douro a nascente pela ponte do Freixo e hoje não foi excepção. Ao ritmo a que circulam os dois sentidos da Via Circular Interna consigo sentir cada metro do alcatrão que me levará para a outra margem.
Entretanto, aproximo-me do viaduto da Av. Fernando Magalhães e, sempre no mesmo ritmo (sempre muito parado), enquanto vou pensando na morte da bezerra, ou seja, em nada, reparo num indivíduo que mais à frente, em cima de um outro viaduto que, da dita avenida, dá acesso a um conjunto de torres habitacionais. Àquela distância pude ver no rosto desse homem, que se debruçava ligeiramente sobre a VCI, uma mescla de intriga e prazer. E foi precisamente isso que terá despertado a minha curiosidade. Como bom miúpe, só à medida que me fui aproximando é que pude perceber o que de facto ali se passava.
Quando isso aconteceu, estupidamente ou não, mas desalmado comecei a buzinar e a bracejar com o braço esquerdo fora do carro, chamando a atenção, digámos assim, dos vizinhos que me acompanhavam naquele movimento. Como não tinham ainda visto aquele sujeito, esses vizinhos olharam-me desconfiados, uns de lado, outros pelos retrovisores, mas olharam. Eu para lhes comunicar aquilo que pretendia comecei a apontar no sentido do tal indivíduo. Logo de imediato o trânsito naquele sentido, o meu, susteve-se... e o coro de buzinas foi imediato. Então não é que o fulano estava, entretida e alegremente, a aliviar a bexiga para cima dos automóveis que passavam. Ele há cada um!?.. Impávido e sereno terminou o seu serviço e, recompondo-se, seguiu seu caminho, com aquele ar desiquilibrado, mas concerteza, ar de satisfação e realização. Eu e os outros prosseguimos viagem. A Sul, o destino.

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