18 março 2013

em cadeia...


farsa democrática

Aproveitando o amanhecer soalheiro deste Domingo, fui dar um passeio pelo centro cívico e histórico da cidade de Bragança. Depois de percorrer várias ruas e vielas da cidade fui tomar um café e aí encontrei vários amigos e conhecidos com quem fiquei à conversa. Entre os vários assuntos e temas, bem típicos de conversas de café, fiquei a saber que circulava na internet e nas mãos de alguns cidadãos, um documento assinado pelo Presidente da Câmara de Torre de Moncorvo e também responsável pela concelhia do PS local, assinado pelo responsável da concelhia do PSD e também assinado pelo responsável da concelhia do CDS, onde se pedia aos cidadãos do concelho que não se manifestassem durante a visita que o Presidente da República iria fazer ao concelho. Estranha forma esta de promover a democracia. Estranha forma esta de admitir o bloco central de interesses no estado. Hoje, ao visitar o blogue de Joana Lopes - Entre as brumas da memória - encontrei uma cópia desse documento. Não sei se o rei vai nu, mas poucas dúvidas me restam que a democracia assim vai.

cobardia

Neste último fim-de-semana fomos surpreendidos com as notícias que nos chegaram do Chipre a propósito do resgate financeiro a que o estado Cipriota vai estar sujeito. A medida mais extraordinária desse programa de apoio, ou se preferirem de resgate, e até aqui desconhecido nos demais países resgatados, é o imposto sobre todas as contas bancárias no país. Todas as poupanças da população foram sujeitas a imposto que variou entre 6,75% e os 9,99%. Mas o mais impressionante nesta medida foi o oportunismo da sua apresentação pública. No final da tarde de 6ª feira, já depois dos bancos terem encerrado e num fim-de-semana prolongado; hoje é feriado nacional no Chipre. Os bancos só 3ª feira abrirão portas e aí, já o dinheiro correspondente a esse imposto foi retirado ou pelo menos cativado pelo Estado. A cobardia do Estado e das instituições europeias em todo o seu esplendor. Quando são os próprios Estados a roubarem o produto do trabalho dos seus cidadãos o que se pode fazer para podermos continuar a viver nesse Estado e a acreditar que de um Estado se trata? Para onde poderemos sair se todos os Estados actuarem de igual forma? Vivemos tempos difíceis, é verdade. Mas vivemos sob a governação de gente que não tem competências para esses mesmos tempos. Tudo aquilo que demorou décadas a construir, será destruído num abrir e fechar de olhos. Nunca sequer sonhei que no tempo de vida a que tive direito, pudesse assistir à desconstrução deste projecto europeu. Nasci e cresci nele, pelos vistos irei morrer fora dele. A ver vamos até onde a estupidez e a ignorância das elites e das lideranças europeias poderá ir.

no bom caminho...

O desalento, a frustração e o sentimento de incapacidade pessoal, levaram-me a decidir não trazer para aqui questões relacionadas com a actualidade económica e financeira do país. Mas, depois do que aconteceu na passada 6ª feira, dia 15 de Março, era impossível ficar quedo e calado. Como é possível um governo, através de um dos seus Ministros de Estado e respectivos Secretários de Estado, virem a público, a propósito da 7ª avaliação da Troika, apresentar os números que foram apresentados e não haver consequências políticas do total fracasso da sua governação. Ninguém se demite, ninguém é demitido. Já passaram quase 72 horas e tudo continua impávido e sereno. Há algo de errado, de muito errado na nossa sociedade. É que estes senhores que nos andam a pedir sacrifícios, que nos retiram direitos sociais, que nos reduzem às básicas condições de sobrevivência, que forçaram todo um estado de excepção e que afinal de excepcional nada tem, não acertam uma previsão, não conseguem construir um orçamento válido, não têm um projecto para o futuro nem para o país. A constatação clara de toda essa incompetência é o quadro que o jornal Público apresentou este fim-de-semana com os factores da previsão para 2013 e onde se pode verificar o bom caminho pelo qual estamos a ser conduzidos por estas iluminárias. RUA!
Fonte: Jornal Público

14 março 2013

delactores em rede

No dia 12 de Março recebi um email de um tal José António de Azevedo Pereira, que eu não conheço, nem ele me conhece a mim, mas deve ser gente importante, pois diz-se "Director Geral". Escreveu-me para me informar, melhor, anunciar que a partir de agora, eu, enquanto contribuinte, poderei aceder ao portal e-factura e consultar as facturas que foram passadas com o meu número de identificação fiscal. Caso detecte alguma anomalia, erro ou falha, poderei eu mesmo inserir essas facturas no sistema e assim contribuir activamente para que outros paguem não sei que impostos. Ora bem, gostaria muito de poder responder a esse email, mas através do mesmo sou informado que não poderei responder ("no reply"), pois afinal trata-se de um qualquer processo informático e não, para infelicidade minha e nossa, do próprio José António de Azevedo Pereira. Assim, agradeço a atenção e até o pormenor da personalização da missiva, mas infelizmente não acredito nesse sistema, nem acho que o problema da evasão fiscal esteja naqueles(as) que não facturam a totalidade do seu negócio. Tenho para mim, enquanto cidadão e pessoa de bem, que devo pagar os meus impostos e é isso que, ano após ano, tenho feito. É responsabilidade de cada um assim fazer. Não me compete a mim, nem a nenhum outro cidadão, andar a fiscalizar, vigiar ou denunciar os vizinhos do lado. Num estado democrático e de direito, existem entidades que têm por missão garantir essa justiça fiscal. Sejam competentes e vão buscar o dinheiro que é do Estado onde ele anda volumosa e verdadeiramente a fugir. Escusam de nos tentar co-responsabilizar pela vossa incompetência. Obrigado.

13 março 2013

"foram buscar-me quase ao fim do mundo"

Estas foram algumas das primeiras palavras que o novo Papa disse aos católicos que o saudavam na Praça S. Pedro. De facto, terem escolhido um Cardeal argentino para o lugar foi surpreendente. Face aquilo que aconteceu nos últimos exercícios e, principalmente, nos últimos anos, sempre pensei que os verdadeiros poderes da Santa Sé escolhessem um cardeal italiano. Homem jesuíta, com simplicidade e humildade, começou por dizer à multidão: "fraternidade". Agrada-me a ideia, o conceito e a vontade. Esperemos que o mundo possa contar com a Igreja Católica para essa realização. Por outro lado, e depois de tantos Papas europeus, não posso deixar de associar esta escolha aos tempos de carência e de crise que a civilização europeia experimenta. Assim, também aqui assistimos à afirmação das periferias face aos centros, ou por outras palavras, das colónias face às metrópoles. Com Francisco I "habemus papam"?!

06 março 2013

dia de LER

De novo com a direcção de Francisco José Viegas, sem Carlos Vaz Marques mas com Ana Sousa Dias nas grandes entrevistas, com um conjunto de textos sobre Fernando Pessoa e o Iberismo e com os cronistas de sempre. Excelente número.


03 março 2013

(des) (in) formação

Num destes dias, depois de mais um dia de aulas, a criança chega a casa com este papel na mão e diz: "- Papá, olha o que nos deram hoje na escola."

02 março 2013

manifestação

Há muito tempo sabia que não poderia marcar presença na manifestação que hoje ocorre um pouco por todo o país. Infelizmente, a minha debilidade física, o meu debilitado sistema imunitário e o verdadeiro receio do surto da gripe A que anda por aí a matar gente, levaram-me a optar por ficar na minha zona de conforto, embrulhado em manta e com os pés em pantufas. Sinais dos tempos e das idades. Resta-me a televisão e a internet para saber o que as ruas vão dizendo. Entretanto, aqui vou cantarolando e desafinando mais uma versão da "Grândola".


«morreu»

Pela primeira vez comprara um automóvel com algum conforto, equipamento e potência. Planeara uma vida de largos anos com esse carro, pois para além da sua inequívoca qualidade, era um carro espaçoso, adequado às exigências de sua família. Viajaram quilómetros e quilómetros, horas a fio, de norte a sul do país, pelo estrangeiro e arredores. Sempre na sua potente e capaz viatura. Pois bem, pensara ele que tinha ali máquina para durar, mas não, não teve. Enganou-se e não quis acreditar quando o médico especialista, depois de lhe pedir umas centenas de euros pelas intervenções, lhe disse que o carro morrera. Não tinha qualquer possibilidade de sobreviver. Demorou algum tempo a interiorizar esse veredicto, ainda procurou outras opiniões, mas derrotado pela despesa e pelos evidentes sinais de uma vida que se esvai, desistiu. Entregou as chaves e nem sequer se despediu dele.

07 fevereiro 2013

eu vou lá estar


06 fevereiro 2013

LER

Num número dedicado a Ruy Belo, destaco também o texto de Pedro Mexia acerca das autobiografias.

28 janeiro 2013

24 de Janeiro

(por manifesta indisponibilidade)

Apurriados, umas vezes mais outras vezes menos, continuaremos.
Obrigado.

08 janeiro 2013

agora o filme...

Sendo um apreciador da escrita de Leo Tolstoy, não poderia deixar de ver a adaptação feita ao cinema do seu grande clássico Anna Karenina. Sendo o original uma narrativa densa e enorme, compreende-se a necessidade de escolher apenas alguns dos momentos marcantes da história para apresentar na versão filme, mas a sensação com que fiquei depois de o ver foi como que tivesse lido uma sebenta resumo da versão original. Gostei do desempenho dos actores, da beleza da actriz Keira Knightley que representou o papel de Anna e destaco a personagem Aleksei Aleksándrovitch, num desempenho magnífico de Jude Law (para mim, o melhor personagem desta adaptação). O ambiente teatral e a recriação fantástica da Rússia Imperial, onde se desenvolve toda a narrativa, numa sucessão de cenários e cruzamento de actores e a própria realização, fizeram-me recordar o filme "Fabuloso destino de Amelie".


03 janeiro 2013

dia de LER

dia primeiro, primeira vez...

Acordar preguiçoso para o novo ano. Com calma e a caminho da mesa posta para almoçar, recosto-me ao sofá. Na TV a missa transmitida pela TVI e rezada pelo Cardeal de Lisboa. Igual a tantas outras, mas naquele mesmo espaço onde me encontrava, havia quem assistisse e estivesse de facto a participar na liturgia. Chegado o momento da paz, houve quem se cumprimentasse, o que originou uma cadeia de cumprimentos entre todos os presentes nessa sala. Surpreso e impreparado lá fui obedecendo ao ritual e desejando que a paz esteja com eles e com elas. Aqui está uma formulação diferente - pouco utilizada - que poderia e deveria constar do nosso cardápio verbal: que a paz seja em ti.

31 dezembro 2012

2013 para mim

Pois cá está um novo ano e este terminado em três, o que significa para mim o completar de mais uma década de existência. Pois é, será o ano em que completo quarenta anos. Dependendo do ponto de vista, poderão dizer que ainda só, ou então que são já..., ainda assim prefiro o pragmatismo do tempo que passa por mim e por todos os outros. Para este próximo ano e num contexto como aquele que vivemos, será avisado apenas solicitar a mesma qualidade de vida que tenho tido até aqui. Sem grandes ambições e sem grandes planos, pois percebi já que não mudarei o mundo, viveremos aquilo que pudermos. Vamos lá.

instante urbano XXII

No regresso do almoço, entro na sala onde tinha estado nos últimos dias a recolher dados e encontro a técnica do Arquivo Distrital de Bragança a auxiliar outra pessoa que procurava informação. Pela conversa percebo que se trata de uma jovem brasileira que veio a Portugal em busca das suas origens, dos seus antepassados. A dificuldade é que apenas sabia um nome e o ano em que nascera (1901). A técnica lá a foi ajudando até que, através dos registos paroquiais, lá conseguiu encontrar esse seu antepassado. A alegria e satisfação da descoberta manifestou-se num choro incontido que lhe turvou os sentidos e a obrigou a pedir ajuda na leitura. À medida que foi ouvindo a informação a comoção aumentava, até ao momento em que também já era a técnica do Arquivo quem soluçava e tentava segurar as lágrimas. E eu ali ao lado, fazendo de conta que estava concentrado no meu trabalho e na minha música. Por fim, exclarecida, pede uma cópia do documento e uma certidão. Ligou para a Avó (que seria a filha desse seu familiar) e conta-lhe o que conseguiu descobrir. Prometeu-lhe que a iria visitar para lhe mostrar os documentos e desligou. De imediato faz outro telefonema, julgo que para o Brasil, e conta a sua aventura. Quando desligou já tinha à sua frente as cópias e a certidão. Agradeceu e disse que iria de imediato à procura da aldeia, lugar onde esse seu antepassado nasceu, viveu e morreu. Mesmo tendo consciência de que esta é uma experiência idêntica a tantas outras, não deixa de ser impressionante a força de determinados sentimentos. Aquela jovem, descendente de portugueses, jamais conheceu esse senhor, mas a sua referência concerteza terá sido uma presença constante na sua vida e na vida da sua família. Impressionante, para mim, é a importância da memória e a necessidade de a estudar. Aqui, ali ou acolá, ontem, hoje ou amanhã, queremos pertencer a algo ou a alguém.

11 dezembro 2012

o coronel

Ouço as birras da minha criança, daquelas típicas de alguém que não sabe ainda nada de vida e de quem pensa que podemos e devemos ter tudo e ter mais e ocorre-me ao pensamento esta imagem. O "Coronel" junto de uma das suas habitações - pegava-lhes fogo e abandonava-as sempre que era visitado por uma cobra ou lagarto. O "Coronel", assim era tratado e assim ficou na memória daqueles que o conheceram, viveu grande parte da sua existência no monte e pelo termo da aldeia de Vila Boa, em Vinhais, sozinho e, com a excepção do vestuário, despido de qualquer caracter de civilização. As suas casas eram as casarolhas que os lavradores construíam para abrigo nos terrenos longe da aldeia. Viveu com fome e frio. Comeu, bebeu, fumou e vestiu apenas o que lhe deram. Só aparecia na aldeia quando tinha muita fome e o fim veio, assim, com uma dor forte de barriga, daquelas que nos últimos tempos o importunavam e de que ele se queixava. Viveu e morreu só.

Le Monde


Mais um excelente número do Jornal Mensal.