24 maio 2010

memória

Na minha aldeia, nunca houve cemitério. As sepulturas estão espalhadas pelo meio das casas, por vezes nos promontórios, por vezes num olival - como no caso do meu pai -, no vinhedo dos eirados, ou sob uma árvore centenária. Há também campas muito antigas escavadas em rochas e pelas quais se interessaram os arqueólogos...
No que diz respeito ao meu avô, garantiram-me que ele tinha sido enterrado não longe de sua casa, num campo de amoreiras - sem mais precisão; fui então à sua procura com dois anciãos da aldeia, que o tinham conhecido na infância, que tinham assistido outrora às suas exéquias, e que me indicaram uma fila de velhas campas dizendo que seria "provavelmente" uma daquelas. A ideia que eu quisesse saber exactamente qual era parecia-lhes meritória, mas absurda - e para falar verdade, um capricho de emigrante.
Amin Maalouf

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