05 abril 2011

urbanidade

A propósito de alguns debates transmitidos pelas televisões nos últimos tempos, apercebi-me da utilização recorrente do termo "urbanidade", enquanto locução adverbial qualitativa, ou seja, "com urbanidade" dos seus intervenientes. Essa insistente verbalização incomodou-me, até porque não me era familiar e soava-me a anacronismo. Logo parti para os dicionários disponíveis e encontrei: "(do latim urbanitas), enquanto substantivo: qualidade do que é da cidade, da urbe, do que é urbano; diferente da ruralidade; delicadeza requintada, observação das boas maneiras no relacionamento com os outros, acompanhadas geralmente de finura e elegância na linguagem, distinção no porte, nas atitudes; Parecido com civilidade, cortesia, polidez; diferente grosseria, rusticidade. Enquanto adverbio, modo polido, delicado, atencioso."
Num tempo em que as ancestrais oposições entre o rural e o urbano se esbateram e em que assistimos a uma permeabilidade social e demográfica entre estes dois, cada vez menos, distintos "universos" parece-me que a utilização deste qualificativo se cingirá a uma qualidade essencialmente social, verificável numa espécie de esteticismo social com certo sabor a dandismo, bem característico de determinados ambientes urbanos e com laivos de elitismo ou pseudo-elitismo. Considero assim que a atribuição desse virtuosismo não poderá ser um exclusivo desse reduto da condição urbana e ofenderá todos os demais.

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