10 abril 2015

reciprocidades

As contas à moda do Porto são as certas e aquelas que melhor resolvem as diferentes relações e, acima de tudo, as variadas situações. Como princípio não tenho qualquer reserva em aceitá-las como a melhor forma de entendimento social. São justas, equitativas, não permitem melindres, nem ressentimentos e mantêm as simetrias relacionais - "cada um paga a sua despesa". O problema é que mesmo habituado a elas desde o berço, o ethos que me chega de para lá dos montes, impele-me para o pagamento da despesa de um amigo que me acompanhe, sem nunca, penso eu, ter prejudicado essa relação ou ter melindrado esse amigo. Até porque sei que numa outra qualquer situação similar será ele a pagar. São assim as contas à transmontana e eu sinto-me confortável com o seu princípio e a sua prática - "agora pago eu, depois pagas tu, depois pagará ele".
Esta reflexão comparativa entre dois diferentes sistemas de reciprocidade económica e social, acontece depois de várias situações em que não adequei o modo de retribuição à circunstância em que me encontrava. Passo a explicar: Tendo pago uma, duas vezes, seria expectável que numa outra vez esse alguém se disponibilizasse para pagar. Isso não aconteceu e o "modo" tripeiro impôs-se. Experimentei então não me adiantar no pagamento e ficar na expectativa, mas no momento de pagar apenas fizeram pagar a sua despesa. Muito bem, digo eu, aprendendo e servindo-me de lição, mudei de atitude. Continuo a fazer gosto em pagar aos meus amigos e a quem me merece, e nem por isso deixei de o fazer, mas apenas quando e onde sei que haverá, ou houve, reciprocidade. Adivinham, com certeza, o sistema que mais se adequa à minha personalidade?! Pois é, recordo com prazer as filas de Superbock em cima do balcão da taberna, à espera de serem consumidas, porque cada um dos convivas fez questão de pagar uma rodada. Bonita e eficaz forma de reforçar os laços de reciprocidade.

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