Nas horas que antecedem a partida para aquilo que toda a gente denomina de férias e que para mim, espero, possam ser horas, dias e semanas de algum descanso, leituras e algum trabalho de campo, ocorre-me a falta que sinto do café Lexinho. Há dois, talvez três anos a família resolveu fechar definitivamente a antiga taberna, agora café, deixando-me órfão de lugar para estar e socializar na pequena aldeia, que apesar de não me ter visto nascer, é a ela que eu me sinto pertencer.
O Lexinho, alcunha do seu proprietário, o Sr. Mário dos Santos, entretanto falecido, era uma personagem peculiar, reconhecido negociante e conhecido por toda a região. Amigo do seu amigo, era um conversador nato e contador de histórias inacreditáveis e caricatas. Quando o recordo lamento não ter conversado mais com ele, não ter aproveitado a sua fantástica memória e sabedoria. Enfim.
A taberna para onde eu diariamente ia, onde eu estava e onde toda a gente me conhecia, era o meu lugar em Vila Boa no Verão, no Natal, Carnaval e Páscoa, assim como em muitos fins-de-semana. Mais tarde, por razões maiores, só a espaços ia à aldeia, mas foi lá que passei as melhores tardes de Domingo, à conversa ou, de preferência, a jogar à Blota - jogo de cartas importado há muitas décadas e adaptado pelos locais, jogado com baralhos de cartas espanholas. Recordo também os finais de tarde em que regressando da escola de Vinhais onde leccionava, me sentava na sua pequena esplanada a beber cerveja e a contemplar o horizonte a poente e a conversar com os poucos que apareciam ou passavam.
Agora só pontualmente vou à aldeia e para além de visitar um ou outro familiar, recolho-me em casa e por lá fico nas brincadeiras com os miúdos ou nas minhas actividades de sempre. Com tristeza a aldeia perde centralidade na minha vida e essa nostalgia que me acompanha, relembra-me sempre como o tempo passa célere e como as referências, apesar de todas as distâncias, se mantêm. Faz-me muita falta esse lugar.
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