08 agosto 2016

rotas e gastas, que raio de moda

Não consigo perceber o sentido estético ou a beleza que as pessoas, nomeadamente as mulheres, encontram nas calças rasgadas ao longo das pernas. Ainda mais me custa perceber como é que elas conseguem gastar euros, por vezes muitos, a comprar calças já rasgadas. Claro que nada tenho com isso e cada um faz o que quer com o dinheiro e cada um tem o seu gosto e sentido estético, mas a confusão no meu cérebro é real e justificada pela memória que teima em recordar-me o conceito de roupa nova, ou se preferirem, a ideia de comprar roupa nova. Não é birra de idade adulta ou má vontade, é mesmo uma questão de racionalidade e de bom senso.
Não será preciso recuar muitos anos ou décadas para encontrarmos aquilo que acontecia com a maioria da roupa e o cuidado que ela merecia por parte de quem a vestia ou comprava. Comprar ou usar roupa nova significava usar peças impecavelmente bem feitas, sem qualquer defeito e com garantia. Aos olhos desse tempo, as peças de hoje têm todas defeito e não são passíveis de qualquer garantia por parte dos fabricantes, pois já estão acabadas, rotas, descosidas e afins. É a perversão completa dessa ideia. Por outro lado, essa mesma memória leva-me até ao tempo em que as nossas mães e avós, viviam agarradas à linha e agulhas ou à máquina de costura para coser e recoser a roupa, para fazer remendos, para tentar dar longevidade às peças que teimavam em desgastar-se.
Esta questão ganhou relevância na minha vida a partir do momento em que a adolescente que lá tenho em casa começou a olhar para essas calças e a dizer que também gostava de ter calças assim. Claro que não, disse eu. Nem pensar em gastar dinheiro em calças já gastas e todas cortadas. Não faz sentido e fere-me a memória. Uma coisa são as calças que naturalmente se vão gastando e depois poderão ser utilizadas para mostrar pedaços das pernas, outra coisa é investir em roupa rota e gasta.
Não e não.


3 comentários:

ET disse...

Boa tarde!

À que modernizar! Afinal a ideologia política de Esquerda não é progressista e vanguardista?
Citando o autor do blog (que muito prezo e respeito), uma coisa que me faz confusão é a maneira como foi capaz de se adaptar com facilidade à "normalização" do relacionamento entre pessoas do mesmo sexo e tem dificuldade em adaptar-se à moda da "roupa rasgada"!

Enfim, mais uma para eu registar no meu livro intitulado "as coisas que nunca entenderei" (sim, é inspirado num dos títulos de Nicholas Sparks).

Com estima.

Luís Vale disse...

Fico esclarecido: usar calças rotas e descosidas é sinónimo de modernização;
Confusão 1: relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo não são passíveis de normalização, mas sim passíveis de respeito e de igualdade;
Confusão 2: a moda, os usos e os desusos, não são uma questão de esquerda/direita, mas sim uma questão de gosto, de sensibilidade e de senso;
Esclarecimento: o meu problema com as desgraçadas calças, tal como tentei escrever, não é apenas uma questão de sensibilidade e gosto, mas sim e principalmente, uma questão de memória e da aparente falta dela. Apenas e só.
Obrigado.
Cumprimentos.

ET disse...

Boa tarde.

Sim, são sinónimo de uma nova geração, a geração Y que marca efetivamente uma nova era. Nova geração que daqui a 30 anos ficará "chocada" provavelmente com o uso da calças "à boca de sino" ou outra coisa qualquer que surgirá diferente da roupa rasgado usada na juventude deles em que usaram roupa diferente da nossa juventude em que usamos roupa diferente da juventude dos nossos pais (por exemplo, o uso da ganga no fabrico de roupas, matéria prima pura e dura usada inicialmente no fabrico de roupa de trabalho).
Quando à conclusão 1, respeito e igualdade não significa necessariamente ser obrigado a achar "normal" o relacionamento ou o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Pelos visto, peço desculpa se percebi mal, o conceito modernista de esquerda é considerar como igual o relacionamento entre pessoas do mesmo sexo (por exemplo, por como uma bela hipótese na educação do filho ter um namorado ou namorada do mesmo sexo, dizendo-lhe que é absolutamente "normal").
O respeito e igualdade é não discriminação das pessoas pela sua escolha sexual e não a obrigação de "formar" os filhos, por exemplo, partindo do principio que agora, por força da Lei tudo vale...
Quanto à confusão 2, bem, estou surpreso... "a moda, os usos e os desusos, não são uma questão de esquerda/direita, mas sim uma questão de gosto, de sensibilidade e de senso"...
Ui, não são sinais identificadores de uma época, de uma geração? Não percebo... então nunca vi o ilustre amigo de cartola... porque será? Ah, porque tem bom senso e bom gosto, ou... porque não vive em 1910...

Despeço-me com amizade!