14 novembro 2016

baú da memória XIV

Um sabor indeterminado, por semelhança ou aproximação, trouxe-me à memória o abominável óleo de fígado de bacalhau. Só de pronunciar ou escrever o seu nome já fico nauseado. Em criança, isto no final da década de 70 e princípio da de 80 do século XX, fui terrivelmente perseguido pela gordura desse miúdo do bacalhau com sabor aromático a banana. Para me tentarem convencer a toma-lo, os meus pais bem diziam que no seu tempo de meninice era bem pior, pois não havia o aditivo de banana, nem de nada, tomavam-no puro, mas eu nunca queria. Tinha pesadelos com ele, chorava baba e ranho para o não tomar, fazia birras do tamanho do mundo, mas nada adiantava, pois o meu pai, determinado e persuasivo, conseguia sempre enfiar-me a porra da colher pela goela abaixo.
Não sei se ainda existe e se alguém o toma ou dá às suas crianças, mas uma coisa é certa, esse óleo era mau demais, não consigo identificar um sabor pior. Naquele tempo, pelo menos à minha volta, sei que eram várias as crianças que o tomavam e todas esperneavam nesse momento.
Desconheço as suas qualidades terapêuticas, quais os princípios activos e quais as indicações médicas, mas desconfio que se tratava de uma daquelas substâncias omnipotentes que os pediatras, nos anos 70 e 80 (pelo menos), prescreviam amiúde.
Foi, bem sei, pela melhor das razões que os pais me obrigaram a toma-lo, mas o trauma foi forte e cá ficou, e a marca do seu sabor vai-me acompanhar pelo resto dos meus dias.

Sem comentários: