A propósito do que poderá ser ou não a minha iliteracia, já aqui escrevi sobre aquilo que considerava ser a minha inépcia literária, naquela altura motivado pela incompetência sentida em ler Lobo Antunes. Nesse mesmo texto referi-me a Virginia Woolf, cuja leitura se me apresentava, desde a juventude, interdita. Pois bem, acabei de ler Momentos de Vida de Virginia Woolf, livro composto por cinco ensaios autobiográficos, encontrados entre os seus papeis após a sua morte, em 1941, mas apenas divulgados em 1976 e inéditos entre nós até esta edição (2017) da Ponto de Fuga. Já conseguira ler da mesma autora, num passado recente, "As Ondas" e "Flush: uma biografia" e agora estes Momentos de Vida, que nos propõem uma viagem pelas memórias e pensamentos da autora.
Com esta leitura confirmo, uma vez mais, a minha preferência pela dimensão biográfica dos escritores em detrimento das suas obras literárias. Por outras palavras, cada vez mais procuro conhecer a história de vida dos autores, sinto curiosidade pelas suas experiências de vida, independentemente de gostar ou não da sua literatura. Enquanto leitor, privilegio as polifonias sociais, familiares, psicológicas e físicas daqueles que, por diferentes razões, leio e admiro.
A determinado momento, no seu último ensaio deste livro, a autora questiona-se:
- Sou snobe?
Logo depois escreve:
- O Snobe é uma criatura desmiolada e cabeça de vento tão pouco satisfeita com o seu estatuto que, com o propósito de consolidá-lo, esfrega a todo o momento um título ou uma honra na cara das outras pessoas para que estas possam acreditar, e o ajudem a acreditar, naquilo que ele mesmo, na realidade, não acredita: que ele ou ela é, de alguma forma, uma pessoa importante. Este é um sintoma que reconheço em mim mesma. (Virginia Woolf, 2017:238)
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