11 julho 2007

Dia Mundial da População

Não conseguindo contabilizar, nem sequer alcançar a dimensão da população do nosso mundo, mas atento aos pormenores, que aqui e ali, pelas melhores e/ou pelas piores razões, são notícia. Hoje, em qualquer órgão de omunicação social, poderemos encontrar aspectos posítivos e negativos da evolução da população mundial. Mas como não poderia deixar de ser, reflicto sobre a lusitana situação e os seus evidentes desiquilibrios.

O litoral português devia formar uma província à parte, esguia, fresca e alegre, só de areia e espuma.
(acerca do interior) (...) Um nunca acabar de terra grossa, fragosa, bravia, que tanto se levanta a pino num ímpeto de subir ao céu, como se afunda nuns abismos de angústia, não se sabe por que telúrica contrição. (...) Léguas e léguas de chão raivoso, contorcido, (...) serras sobrepostas a serras. Montanha paralelas a montanhas. (...) Dentro ou fora do seu dólmen (maneira que eu tenho de chamar aos buracos onde vive a maioria) estes homens não têm medo senão da pequenez. Acossados pela necessidade e pelo amor da aventura, aos vinte anos, (...) alguns emigram para as Arábias de além-mar. (...) Deixam um rasto luminoso por onde passam, e voltam mais tarde, aos sessenta, de corrente ao peito... (...) e continuam a comer talhadas de presunto cru.
Os que ficam, cavam a vida inteira. E, quando se cansam, deitam-se no caixão com a serenidade de quem chega honradamente ao fim dum longo e trabalhoso dia.

Assim escrevia, já em 1950, Miguel Torga acerca das etnográficas clivagens portuguesas. Salvaguardando as devidas evoluções e distâncias, muito provavelmente, hoje, Miguel Torga não alteraria muito do seu texto ao observar a realidade portuguesa.

Neste momento, recordo também o clássico e fundador trabalho de Thomas Malthus, que em plena Revolução Industrial Inglesa, pensa, analisa e reflecte sobre a demografia e a economia "mundiais". O Ensaio sobre o Princípio da População, publicado em 1798 é uma obra notável pela sua presciência da realidade do planeta nos séculos seguintes e até aos dias de hoje. Um trabalho que deveria ser lido pelos nossos governantes, principalmente por aqueles que pensam e decidem o país e gerem o território.


1 comentário:

Ramon disse...

Embora tenha sido importante e de certa forma visionário, os estudos de Malthus sobre a população acabaram por não se confirmar, e poderíamos apelidá-lo de um certo "catastrofismo". Malthus previu que o crescimento populacional não iria ser acompanhado pelo aumento da produção de géneros alimentares. Na altura, a população da Inglaterra, França e Alemanha estava a duplicar de 25 em 25 anos, enquanto não havia a certeza que os recursos alimentares pudessem aumentar, repetidamente, à mesma taxa. Malthus previa que o fosso entre as necessidades alimentares da população e a capacidade da terra para as satisfazer fosse cada vez maior. O resultado, receava ele, seria o aumento da fome, da privação, das mortes em massa pela fome e pela doença e a ruptura da estrutura social.
Este pessimismo de Malthus foi bastante contestado na altura. Na verdade, as profecias de Malthus acabaram por não se concretizar, embora por outras razões que não aquelas que os seus críticos lhe apontavam. Malthus esqueceu-se de alguns factores importantes, nomeadamente as Migrações, as melhorias significativas que a Inglaterra conheceu na agricultura, e passadas uma ou duas décadas da obra de Malthus ter saído, a Inglaterra entrava na primeira fase da Revolução Industrial, conhecendo um forte crescimento na produtividade.
Malthus cometeu o pecado de não acreditar no Homem...