11 julho 2011

instante urbano XIV

Tarde dedicada a acompanhar a criança ao cinema. Tal como tem acontecido nas últimas vezes, eu já não preciso entrar na sala com ela, pois felizmente ela já se emancipou nesse aspecto (afinal, ela tem já quase dez anos... dez!!!). Esta nova circunstância é-me mais favorável, uma vez que para além de não ter que ir assistir a filmes de animação, que por defeito não me atraem e não ter que gastar o valor do respectivo bilhete, permite-me transformar esse tempo em tempo útil para algum trabalho.
Sentado, num lugar fronteiriço à porta do cinema, vou controlando quem por perto se vai instalando. Duas mesas à minha frente e virada para mim, está uma mulher que, diria eu, terá entre os quarenta e os cinquenta anos. Está sozinha e vai lendo algo que as costas dos bancos que nos separam me impedem ver. Nestes últimos, sei lá, vinte minutos esteve entretida, ou melhor, esteve ocupada a decorar a cara. Todos os pormenores foram minuciosamente revistos num pequeno espelho que transporta numa pequena bolsa (talvez num necessaire, como agora lhe chamam...). Pintou os olhos e retocou as pestanas, pintou os lábios e catou com uma pinça dois ou três pelos do buço, borratou as maçãs em tons de laranja e, depois disto tudo, ficou a contemplar-se longamente no reduzido espelho. Pareceu-me satisfeita com a resposta obtida... Que beleza encontraria ela nesse reflexo? Pois claro, é preciso estar bonita para o que vier. E veio. Passados alguns minutos, um senhor abeirou-se, os seus rostos tocaram-se por duas vezes e saíram.

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