Não sou muito dado a formalismos ou a sociais formalidades, mas o oposto, pelo menos o extremo oposto, também me desagrada, deixa-me desconfortável e sem saber como me comportar. Isso mesmo, não sei como posicionar-me fisicamente e a reacção, irreflectida, é sempre a contracção corporal e expressiva. Passaria muito bem e melhor sem esses momentos, sempre inesperados e imprevistos, de contacto e interpelações.
Serve este prefácio, em jeito de declaração comportamental, para contextualizar a descrição de uma situação que ocorreu há poucos dias.
Participante numas jornadas sobre memória, património, arte e museus, em que se falava essencialmente do papel dos museus e das casas-museu para a preservação da memória dos indivíduos e das comunidades, assisti a uma intervenção de um ilustre autarca do norte. Enquanto o ouvi-a decidi tentar falar com ele. Aguardei-o à saída do auditório. Depois de o cumprimentar e de me identificar, comecei por fazer referência à sua intervenção e à nota por ele dita sobre a famosa empresa de turismo que opera no rio Douro. Apenas lhe referi a impressionante dimensão dessa empresa quando aquilo que vende é paisagem, um produto que existe desde sempre e que é de todos... Num tom descontraído, ele não só concordou com a minha nota, como aproveitou-a para uma inusitada e surpreendente opinião pessoal sobre as actividades praticadas por esse tipo de turismo, qualificando-as abjectamente e utilizando um vocabulário boçal e desqualificador, revelador do carácter, da estrutura e da manjedoura de onde provém. Procurei bem depressa mudar de assunto e por-me a caminho. Não me arrependi de o interpelar, mas vim embora, reflectindo sobre esta desagradável informalidade que alguns sujeitos teimam em impor na dialéctica social. Mas que raio, era a primeira vez que falava comigo; sabia lá ele quem eu era! Nada urbano este momento.
Sem comentários:
Enviar um comentário