07 maio 2016

questão essencialista


No dia em que actua em Portugal a banda australiana AC/DC, partilho algumas questões sobre as polémicas que têm sido veiculadas sobre a vida desta banda e, mais recentemente, sobre a substituição do vocalista Brian Johnson por Axl Rose, ex-vocalista dos Guns n'Roses. Tal como aconteceu já com outras formações, também os AC/DC têm sofrido na pele as consequências da sua já longa longevidade, naquilo que são as capacidades físicas e psicológicas dos seus membros. Sempre foram uma formação muito susceptível e instável na sua constituição, mas eis alguns factos que, nos últimos anos, foram publicamente conhecidos sobre os seus elementos:
O afastamento definitivo do guitarrista Malcom Young por problemas mentais (demência), os problemas com a justiça de Phil Rudd (baterista) que levaram à sua saída dos AC/DC e o risco de surdez total de Brian Johnson, que o afastam dos palcos, obrigando à sua substituição por Axl Rose. Portanto, neste momento, da constituição base, ou pelo menos, daquela que mais tempo fez parte da banda, apenas actuam Angus Young (guitarrista solo) e Cliff Williams (baixista).
Esta última polémica sobre a escolha de Axl Rose para substituir Brian Johnson nas actuações ao vivo, traz consigo a dúvida sobre a continuidade da banda. Aliás, as questões que suscito nestas linhas serão, face ao já exposto, estruturalmente essencialistas. Numa perspectiva estruturalista, tal como os seres vivos, também as organizações têm um estrutura, naquilo que poderemos definir como um conjunto de relações existentes nesse conjunto e que permitem determinada invariância, e que se estabelece por níveis de organização. Assim, neste caso particular, aquilo que deverá ser questionado é se essa invariância se mantém ou foi destruída. Para tentar ilustrar o que pretendo afirmar, trago uma analogia com um caso clássico:
«O navio com que Teseu e os jovens de Atenas retornaram de Creta tinha trinta remos e foi preservado pelos atenienses até o tempo de Demétrio de Falero. Removiam as partes velhas que apodreciam e colocavam partes novas. O navio tornou-se motivo de discussão entre os filósofos relativamente às coisas que crescem: alguns diziam que o navio era o mesmo e outros diziam que não era». (Plutarco)
Tal como na analogia importa questionar: continuarão os AC/DC a existir? A banda que hoje actua em Lisboa são os AC/DC ou será apenas uma actuação de dois dos seus membros sob a sua marca registada e globalizada? Para além de todos os interesses financeiros e comerciais implicados, parece-me muito interessante esta reflexão e não a reduzo à simples substituição do vocalista. Por outros lado, sou levado à especulação sobre a existência ou não de um qualquer projecto musical que tenha sobrevivido à vida de todos os seus elementos fundadores. Assim de repente, não me recordo de nenhum caso, mas pode ser que exista. Recordo, igualmente, outros casos de bandas extintas que, por motivações várias, regressaram mais tarde e já depois do desaparecimento de alguns dos seus membros, para actuações pontuais ou tournées.

1 comentário:

ramon disse...

Assim de repente, os Radiohead... que lançam amanhã disco novo e já têm vídeo novo a rolar.