Hoje entrei no café Mon Ami em Vila Nova de Gaia, depois de mais de vinte anos sem lá ir. Apesar da sala ser a mesma, tudo está diferente daquilo que guardo na memória desse café, desde a disposição da sala (mesas e cadeiras), empregados, balcão, serviço, movimento, clientela, gerência, etc., apenas o quiosque lá se mantém mais ou menos como o recordo no canto direito, junto à entrada e em frente à escadaria que dá acesso ao primeiro andar.
Pedi uma bebida e lá estive numa contemplação comparativa e retrospectiva com o início da década de noventa, altura em que quase diariamente lá ia, lá estava e lá ficava. Nesse tempo, em que era apenas estudante e em que não tinha carro, nem sequer carta de condução, e me deslocava de autocarro entre casa e as escolas que frequentava em Gaia - a Escola Profissional de Soares dos Reis e a Escola Secundária Almeida Garrett, e as muitas horas de espera pelo transporte que eram passadas no Mon Ami à conversa com colegas e amigos, ou sozinho a ler. Recordo bem as noites de sexta-feira, em que comprava e lia o saudoso semanário Independente e delirava com a perspicácia e acutilância de Miguel Esteves Cardoso e Paulo Portas, assim como me deliciava com as boas francesinhas que lá havia. Depois, o regresso a casa no último autocarro da noite, o da uma da madrugada. Mas também era lugar de rotinas a horas diversas, de comprar o jornal, beber um café, dar duas de letra, jogar no totobola e comprar tabaco. Lugar de encontro e de celebração, várias vezes participei em almoços e jantares lá organizados.
Um lugar, no verdadeiro sentido da palavra, ou seja, usado e experimentado pelas pessoas. Agora, agora não sei como vive. Desconfortável não me senti, mas já não é a mesma coisa.
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