Na última revista LER, que por falta de tempo, ando a ler muito devagar e a espaços, Maria do Rosário Pedreira, editora e poetisa, fala sobre a sua vida e, essencialmente, sobre livros e edição. Porque já a leio há muito tempo, visito regularmente o seu blogue, li com atenção as suas palavras e reconheci-me em muitas delas...
Acredito que haja um público que se interessa por poesia. Acho é que há menos público para a literatura em geral porque se minou a edição com livros que não valiam nada e se educou o gosto por uma bitola muito baixa e é muito difícil trazer essas pessoas que estão habituadas a esse tipo de livros para a verdadeira literatura, que exige atenção, esforço, concentração, cultura, exige uma data de coisas que hoje os leitores provavelmente não têm. E isso é que é problemático.
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Isso hoje é que não se faz nas escolas. Duvido que numa escola primária os miúdos leiam poemas a sério. Devem ler as quadrilhas dos livros infantis, da girafa e do elefante, mas não sei se se dá, hoje em dia, às crianças poesia a sério. Mesmo que não compreendam tudo, é importante.
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Não consigo desistir desta minha vontade de dar visibilidade a quem tem talento. Não posso demitir-me da minha responsabilidade de publicar uma pessoa que pode fazer a diferença e ser lembrada daqui a muitos anos. Embora fosse mais fácil para mim, para fazer os meus números, fazer livros maus de pessoas conhecidas. Mas não é isso que me move. O que me move é aquilo que pode ficar. Obviamente, só daqui a 50 anos é que saberemos se estes autores novos que foram lançados já no século XXI ficaram, mas eu gostava que alguns ficassem. Sei que não acontecerá com todos.
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O que eu gostava é que as pessoas lessem um livro e o livro não fosse mal escrito, não fosse estúpido, não fosse manipulador, que também há, como aquele tipo de "literatura Paulo Coelho", que é sobretudo manipuladora porque aquilo nem sequer está mal feito mas é horrível, as pessoas vão atrás daquilo.
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O que mais me irritou nestes últimos anos foi a quantidade de gente que se convenceu de que era mais importante pagar uma dívida externa do que alimentar os filhos. Isto irritou-me muito porque acho que é mais importante dar de comer a quem tem fome do que pagar a conta ao merceeiro. Claro que é importante não fazer dívidas, mas há coisas que acho que estão acima de outras.
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