18 agosto 2011

a coluna do paladino

Escreveu a história que Paiva Couceiro foi um dos mais combativos monárquicos durante os primeiros anos da república portuguesa. Ao ler a sua biografia escrita por Vasco Pulido Valente conheci com detalhe as suas fantasiosas tentativas de restabelecer a monarquia em Portugal. Foi a partir da Galiza que Paiva Couceiro planeou e organizou as suas incursões no país, sempre acreditando que, mais importante do que a força, seria a sua presença quem iria chamar para o movimento as populações e os poderes entretanto estabelecidos e, assim, derrubar a república. Para além disso, Couceiro acreditava no mito da sua invencibilidade e daí surge a ideia de paladino. Foi na noite de 3 de Outubro de 1911 que o seu exército, com pouco mais de mil homens, quase desarmados, famintos, mal vestidos e mal calçados, partiu à conquista de Portugal. Depois de alguma deriva, perdidos e enganados, marcharam durante vinte horas. Couceiro hesitou entre seguir para Bragança ou para Vinhais, mas ao receber informações falsas de que Bragança teria sido reforçada, decidiu investir sobre Vinhais. Apesar de se temer um confronto em Vinhais, tal não sucedeu porque o capitão das forças republicanas estacionadas – 68 homens de infantaria e 10 de cavalaria - previamente avisado da eminente chegada da coluna de Couceiro retirou para uma aldeia próxima. A entrada da coluna monárquica foi triunfal e eufórica, recebida com entusiasmo pela população, rapidamente Couceiro proclamou a monarquia em Vinhais, hasteando a bandeira monárquica no edifício da Câmara Municipal. A Vinhais acorreram muitas pessoas das aldeias vizinhas, chamadas pelo sucesso da “reconquista” monárquica. Paiva Couceiro consciente da delicada situação reuniu os seus oficiais, anunciando que sem verdadeiros soldados, sem armas e sem munições não se poderia resistir a uma investida republicana, manifestou a opinião que a coluna deveria retroceder para perto da fronteira. Assim se fez na madrugada de 6 de Outubro, deixando Vinhais entregue aos populares entusiastas da causa monárquica que, desorganizados e desarmados, tiveram por missão defender a bandeira monárquica hasteada na Câmara Municipal. Como não podia deixar de ser, os republicanos rapidamente, no mesmo dia, reconquistaram a vila de Vinhais.
Estes são os factos históricos de há cem anos que pude conhecer na leitura da referida biografia e que me permitiram contextualizar algumas das histórias documentadas pelos populares e que ainda hoje se contam na região. Um desses momentos diz respeito a antepassados meus. Reza a história que quando as forças de Paiva Couceiro chegaram e tomaram Vinhais para a monarquia, muitos populares de toda a região confluíram para essa vila. Alguns por iniciativa própria, mas grande parte deles instrumentalizados e influenciados pelos representantes locais da igreja católica. Também de Vila Boa partiram vários indivíduos armados de roçadouras e varapaus. Dois desses homens foram os meus bisavôs, o “tio” Graciano, meu bisavô materno (avô paterno de minha mãe) e o “tio” José António Pires, meu bisavô paterno (avô materno do meu pai) e conhecido por Tio Capador. Quando Paiva Couceiro decidiu retirar de Vinhais, deixou a vila entregue a esse conjunto de homens voluntariosos da monarquia. No mesmo dia, 6 de Outubro de 1911, o capitão republicano Rodolfo de São Ventura Andrade e as suas tropas regressaram a Vinhais e quando se depararam com os populares, estes manifestaram vontade de resistir. A chefiar um conjunto desses populares estava o meu bisavô Capador que quando ouviu o capitão republicano dar a ordem: “- Armar baionetas!” Gritou para os seus homens: “- Desarmar cacetes!” E desataram a correr para todos os lados, tentando fugir ao fogo republicano. Escusado será dizer que facilmente o capitão restabeleceu a ordem republicana e os valentes e ingénuos monárquicos locais foram perseguidos e detidos. Esse meu bisavô também esteve detido uns dias em Vinhais e conta-se que quando o questionavam acerca dessa sua condição, ele confiante dizia: “- Não há problema para um homem, pois quer na prisão, quer na igreja, todos temos uma tábua. É o bastante”.

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