12 agosto 2011

o couto de ervedosa

Foi à hora de almoço, num restaurante em Vinhais, que se falou das minas da Ervedosa como um lugar muito interessante para visitar. A conversa tida com o nosso informador casual versava a guerra civil espanhola e como Vinhais foi um porto de abrigo para muitos "vermelhos" (comunistas) e ponto de passagem para muitos fascistas que fugiam para a América do Sul. Pelos vistos, ainda hoje são muitos os episódios e as histórias desse período que sobreviveram na memória das gentes deste concelho raiano. Durante o almoço foi com muita atenção e avidez que ouvimos contar como Vinhais e alguns dos seus habitantes foram protagonistas nesse enredo terrível da guerra civil em Espanha. Uma dessas histórias está directamente relacionada com as minas de Ervedosa e seus donos. Contaram-nos mais ou menos isto:
Naquele tempo os "vermelhos" fugiam para Portugal e escondiam-se das autoridades nos montes, nas fragas e nos buracos e minas que encontravam, tendo o apoio das populações locais para os alimentarem e avisarem dos perigos. É que a GNR tinha ordens superiores para perseguir e executar todos os indivíduos que fossem capturados. Pelos vistos no termo de Nuzedo de Baixo existe um lugar recôndito e de difícil acesso que lhe chamam as fragas amarelas, onde estariam escondidos alguns espanhóis. O Tenente do posto da GNR de Vinhais, tendo tido ouvido rumores dessa presença e porque sabia da extrema dificuldade de verificar o terreno, pediu ao sócio-gerente das minas que o levasse no seu pequeno avião para um patrulhamento aéreo e confirmar a presença de qualquer espanhol. Dizem que Carlos Lindly, sócio e então gerente da empresa, concordou. Tinha comprado um pequeno avião a um indivíduo a quem o avião saíra numa rifa do Jornal O Século e que não sabendo pilotar quis vender o avião. Carlos Lindly também não tinha licença para voar, não tinha muitas horas de voo e aprendera a pilotar sozinho, através de um manual de pilotagem. Dizem também que o Tenente da GNR era um homem grande e pesado e que quando tentaram levantar voo, a pista foi pequena e o avião não conseguiu evitar o choque com uma árvore, despenhando-se e provocando a morte aos dois ocupantes. O corpo de Carlos Lindly foi sepultado em frente à sua casa de então, bem sobranceira ao complexo das minas e à aldeia de Nuzedo de Baixo. Consta também que a morte deste sócio terá sido o início do fim das minas...
Esta e outras histórias foram o suficiente para nos fazer ir à Ervedosa e à descoberta do complexo mineiro, agora em ruínas e devorado pela vegetação. Lugar impressionante, sombrio e, ao mesmo tempo, belo. Um mundo passado, impregnado de vestígios de vidas difíceis e miseráveis. Soube que em tempos um arqueólogo com responsabilidade concelhia propôs e apresentou um projecto para a preservação e musealização deste complexo industrial, mas a Câmara Municipal de Vinhais não acolheu tal iniciativa. É pena.
(Vila Boa, 6 de Agosto de 2011)
Deixo aqui dois links para imagens desta mina, que aconselho verem sem som...
http://www.youtube.com/watch?v=t2qbSUqEfkM
http://www.youtube.com/watch?v=YX4vb9m94Dg&NR=1

3 comentários:

Anónimo disse...

Aconselho a leitura do livro intitulado: Minas de Ervedosa 1906-1969, da autora Celina BUsto Fernandes, editora âncora. para um aprofundamento da história desta mina.

Anónimo disse...

Nuzedo de Baixo, a aldeia das minhas férias de verão, a aldeia da minha vida, a minha primeira casa. O livro tem uma entrevista ao meu avô Carlos, foi trabalhador na mina. É de lamentar o estado de abandono, pensar que aquela aldeia já teve tudo...

Anónimo disse...

Não se trata das fragas amarelas (a montante de Nuzedo) mas sim das fragas da torca (a jusante).
Existem outras imprecisões mas menos graves.