15 agosto 2011

psicologia canina

O Sábiu era um cão rafeiro de média estatura e pelo castanho claro. Viveu entre as décadas de oitenta e noventa de mil e novecentos na aldeia de Vila Boa. Temperamental ladrava a todos e a tudo que mexia, parecendo mesmo que só não ladrava ao próprio dono. Vivia no largo da Portela e passava parte dos seus dias nos degraus da escadaria de casa. Também gostava de acompanhar o dono nas suas tarefas e deslocações pelos campos e montes, mas era junto de sua casa que ele demonstrava todo o seu carácter. Sempre que sentia um carro aproximar-se vindo da Igreja, do Casal, do Nubledo ou do Cerdeiro, ele desatava a correr e a ladrar atrás desses carros até que eles desapareciam do largo. Depois vendo que os carros se afastavam, calava-se e regressava triunfante e calmamente aos seus degraus. Se por acaso outro carro se aproximava, novamente ele investia sobre essa viatura até ela desaparecer. A explicação do dono para esse comportamento obsessivo era a questão territorial, pois o Sábiu sempre pensou que os carros fugiam dele e do seu ladrar. O seu esforço era sempre recompensado pela renovação ou reforço do seu domínio sobre o seu território. Cada perseguição implicava também uma marcação urinária numa qualquer esquina desse território. Sábiu era também um animal muito obediente a seu dono e sempre que este queria que ele ficasse quieto, bastava passar-lhe qualquer objecto (um baraço, uma palha) pelo pescoço que ele, de imediato, ficava imóvel sentindo-se preso. Curioso.

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