30 outubro 2015

dia dos vivos

Quando me preparo para embalar a pequena trouxa com as necessidades de um fim-de-semana fora de casa, lembro como, num passado até bem perto do presente, estes eram dias de referência para nós e cuidadosa e antecipadamente preparados. Era o fim de semana dos santos e dos finados todos, o que obrigava meio país e a nós a viajar, numa romaria singular. Se bem recordo, nesse tempo pré-IPs e ICs, estes eram os dias de maior confusão nas estradas nacionais e de caos para entrar e sair das grandes cidades. Eram sempre dias de partir e chegar tarde, eram sempre dias de muita estrada. O regresso ao lugar de origem para homenagear aqueles que já não vivem, com toda a parafernália necessária e florar para os rituais e celebrações era e, provavelmente, ainda é para muitos, um tempo-espaço extraordinário e obrigatório. Liberto dessas amarras ao sagrado, continuo a viajar nesses dias, mas sem o mesmo propósito. A idade e, acima de tudo, outros valores e interesses, levaram-me a uma outra visão do fenómeno. Respeitando sempre quem se mantém, vou acompanhando de longe e percebendo com clareza que eles e também nós, através da recordação desses que já não estão cá, não fazemos mais do que celebrar a vida de todos e de cada um de nós.
Como parecem longínquos esses dias.

Sem comentários: