Estou em choque com a comunicação do Presidente da República, realizada hoje para indigitar Pedro Passos Coelho como primeiro ministro. E o choque não diz respeito a essa indigitação que é legítima e constitucional. O choque chegou com os comentários, com as afirmações e declarações de Cavaco Silva acerca da não possibilidade de alguns partidos poderem aceder ao poder, nomeadamente, através do governo. Fiquei hoje a saber que, se dependesse deste senhor que, dizem, é presidente da república democrática de Portugal, o Partido Comunista e o Bloco de Esquerda seriam ilegalizados e jamais poderiam ter sequer representação parlamentar. Aliás, desconfio que durante deste últimos dias, desde 4 de Outubro, Cavaco fartou-se de ter pesadelos com o resultado alcançado pela esquerda. Só pode. As poucas máscaras que lhe restavam, acabaram de lhe cair. Guardou para o fim da sua longa existência política a derradeira revelação: um profundo racismo político e social em relação a parte da sociedade portuguesa. Sintomático desse sentimento foi, na declaração de hoje, a referência à atenção e preocupação para com os credores, as agências e instituições internacionais, e nenhuma referência ou preocupação para com os portugueses, trabalhadores, desempregados e pensionistas. Que não haja dúvida em relação a quem elege e mantém refém esta gente no poder. Cavaco Silva não responde perante os portugueses, mas sim perante esses organismos anónimos internacionais.
Eu já andava desconfiado perante a chantagem e a pressão que a opinião publicada exerceu nos últimos dias. Agora este discurso que desvirtua a lógica democrática. A ver vamos qual vai ser a sua opção de indigitar ou não a alternativa de governo do PS com apoio parlamentar do BE e da CDU, ou se preferirá manter em gestão este governo da PaF.
Esta postura do Presidente da República remete-me para o resgate civilizacional imposto a toda a Europa. Aquilo que aconteceu recentemente na Grécia, foi só o primeiro momento desse torniquete que se vai apertando para as democracias, para os estados, para os cidadãos europeus. Receio bem que estejamos a experimentar o segundo momento.
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