07 maio 2016

finalmente, A4 mata IP4

(fotografia retirada da capa do jornal Público, 7 Maio 2016)

Com a sua inauguração e abertura agendada para as zero horas deste Domingo, o túnel do Marão conclui todo o trajecto da auto-estrada número quatro. Foram nove anos de longa obra, foram mais de vinte anos de desastres e mortes estúpidas nesse enorme monte, conhecido pelas gentes locais como o gigante Marão. Finalmente, podemos decretar a morte do IP4 e, se por um lado, não foi justo traçar a auto-estrada por cima do traçado desse itinerário principal, por outro lado, o custo em vidas humanas jamais será saldado.
Viajei muito pelo antigo traçado, conhecia-o como a palma das minhas mãos e sou ainda capaz de o reconstruir mentalmente. Assisti a alguns momentos dramáticos, umas vezes de longe e em filas intermináveis, outras vezes de muito perto e com muita sorte. Eu próprio tive problemas nesse traçado, nomeadamente, no cimo do Marão, perto da Pousada, quando no Natal de 1995, era eu ainda um jovem condutor, um outro menos jovem, que seguia no mesmo sentido, adormeceu ao volante e veio para cima de mim, provocando o despiste dos dois automóveis. Felizmente, sem danos físicos, mas com um processo em tribunal que durou quase dez anos. Sobrevivi ao IP4, conheci algumas pessoas que não tiveram essa sorte. Também é nelas que penso neste momento e pensarei quando atravessar pela primeira vez esse túnel.
Serve o presente para manifestar a minha satisfação pela conclusão desta obra e, em simultâneo, decretar a morte do IP4, pois não pretendo mais circular nesses poucos quilómetros que sobreviverão. A viagem entre o Porto e Bragança, centenas de vezes outrora realizada pelas nacionais e pelos IPs, passará a ser realizada com outra tranquilidade, outro conforto e rapidez. Das mais de cinco horas que demorava, encurtaremos a distância entre as duas cidades para menos de duas horas e isto sem cometer crimes de velocidade. Brutal.

3 comentários:

ET disse...

Subscrevo inteiramente este comentário. Embora sem ter necessidade de recorrer tantas vezes a essa estrada são gritantes os riscos que existem em percorrê-la. Pena é, no entanto, que ao fim de todo este tempo, não se considere ser mais do que justo (se justiça pode existir para vitimas inocentes de acidentes de viação), este não ser obrigatoriamente um torço da A4 livre de portagens. Claro, em nome da segurança vale tudo... Mas, e o ISV que pagamos na aquisição do automóvel? ISV, IUC, ISP... Enfim. Finalmente temos túnel do Marão. Cumprimentos

Luís Vale disse...

Obrigado pelo comentário. Concordo inteiramente com as suas palavras, mas depois de tantos e tantos anos de espera e adiamentos, o facto de ser portajado é o mal menor. Importante mesmo é a segurança.

Anónimo disse...

Viva novamente! Pois, infelizmente sempre chagamos a essa conclusão... "em nome da segurança vale tudo". Ou seja, não é um dever do Estado garantir a segurança? Qual a alternativa válida que existe ao túnel do Marão? Para que servem então os impostos que pagamos relacionados ao automóvel? Ah, mas é melhor pagar 1,95€ do que ter uma probabilidade grande de sofrer um acidente... Pois... Conheço um professor que muito prezo e respeito que há pouco tempo me disse... o que conta é o principio... não é se se poupa muito ou pouco... Nesse caso, porque não 3,00€? Ou 5? Não sei muito bem, mas presumo que quem more em Amarante e trabalhe em Vila Real e aufira um chorudo vencimento de 600,00€ (sim, bem acima do salário mínimo nacional!) e perceber que gastará na utilização do túnel do Marão cerca de 80,00€ mensais, não concordará que ser portajado é um mal menor. Vale a pena arriscar e talvez um dia, daqueles dias mesmo em que não se devia sair de casa, possa ser vitima de um grave acidente na "alternativa" não portajada ao túnel do Marão. Mas, concordo que o sistema condicional... "Importante é a segurança, ser portajado é um mal menor", importa mesmo é a estabilidade do sistema financeiro, pagarmos 400,00€ cada um para recapitalização da CGD é um mal menor... a juntar a tantos "males menores" que em nome de princípios maiores continuamos a aceitar de cabeça baixa e às vezes com regozijo. Um grande abraço! ET