09 abril 2020

enclausurado XXX

tele-ensino

Desde o momento em que se soube, ao final da tarde, que o ensino básico não regressará às salas de aula neste 3º período, o meu filho (9 anos) gosta tanto da escola, que anda pela casa, feliz e contente, a cantarolar the Beatles. Diz-se feliz.
Agora o todo:
Desde essa comunicação ao país, os responsáveis políticos e da educação desdobram-se pelos canais de televisão em narrativas, explicações e justificações que fundamentem esta decisão.
Meus senhores e minhas senhoras, a decisão está tomada e há que aceitá-la. É uma alteração radical de paradigma no ensino e ninguém estava preparado para tal imprevisto. O esforço é e será enorme para todos os intervenientes e para toda a comunidade escolar. Há lacunas, imperfeições e injustiças, pois por mais que se afirme, por mais que se garanta, a equidade e a preocupação em que nenhum aluno seja prejudicado, toda a gente sabe que isso irá acontecer e que serão muitos os alunos para quem o ano lectivo e respectivas aprendizagens terminaram, efectivamente, em Março. Neste momento recordo todos os alunos provenientes de aldeias longínquas, perdidas pela imensidão do interior do país que, já em situação normal, diariamente, são obrigados a fazer dezenas e dezenas de quilómetros para irem à escola, localizada no centro da vila ou cidade mais próxima. Agora imaginem esses mesmos alunos, não podendo ir à escola, sem acesso a sequer um pc, quanto mais internet, algumas vezes, sem televisão e sem energia, assediados permanentemente pelos pais e familiares para contribuírem para o esforço colectivo nas tarefas domésticas e agrícolas. Qual escola? Qual sucesso? Qual igualdade ou equidade? Toda a gente sabe que isto é assim e é preferível omitir. Pior será se não sabem, pois demonstram não conhecer o país e a realidade de tantas e tantas famílias.
No entretanto, faremos todos o melhor por manter as nossas crianças motivadas e concentradas na aprendizagem alternativa dos conteúdos programáticos.

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