No momento em que acabo de ler o livro de Henrique Manuel Pereira, recentemente lançado e que diz respeito à sua tese de doutoramento - ao qual já me referi aqui - resolvo verter para o papel algumas ideias que me assaltaram durante essa leitura.
Mas antes, quero começar por uma manifestação de condição: não conhecia, até ao presente, qualquer aspecto da vida ou obra deste ilustre transmontano de Freixo de Espada à Cinta. Este foi o primeiro contacto que fiz com o seu universo, mas posso afirmar, desde já, que não será o último e que apesar de não estar habilitado para ajuizar a obra, posso confessar que a sua leitura me motivou para conhecer melhor a personagem e procurar a sua obra.
Como é hábito nestas andanças e também pelo que atrás referi, não posso deixar de felicitar o autor, conhecido e reconhecido investigador do mundo Junqueiriano, pela obra realizada. Num trabalho de mais de 500 páginas e recheado de notas, referências e citações, somos conduzidos pela clara escrita do autor, com mestria no pormenor e/ou detalhe, com oportunismo nas etnografias e com bom gosto estético, ao longo da existência de Guerra Junqueiro. Parabéns Henrique.
Tal como já referi, não me atrevo sequer a comentar o que seja deste trabalho. No entanto, há um conjunto de ideias manifestadas e que, provavelmente, por ignorância, me chamaram a atenção e despertaram em mim aquela vontade de me pôr a caminho de...
É referida por mais do que uma vez a possibilidade de Guerra Junqueiro ser judeu. São apresentadas as opiniões de autores que ao longo dos anos reflectiram sobre essa possibilidade. Como é o caso de António Sardinha (p.245), que fazendo uma leitura ou interpretação da sua fisionomia (fenótipo), da sua moral e remetendo-o para a condição de "outro", tenta justificar a sua atitude anticlerical. O Henrique Manuel Pereira prefere relativizar a questão, pois não dispõe "de elementos probatórios que nos permitam afirmar ou negar o alegado semitismo de Guerra Junqueiro" (p.246), e logo a seguir: "sem declarada ligação aos genes..." (p.247). Associando esta dúvida aos referidos motes, chacotas, chistes, alcunhas, caricaturas ou nomeadas que visavam Guerra Junqueiro e o associavam a essa tipologia social, estereotipada, ao facto de ser oriundo de uma região que foi refúgio de várias gerações de judeus, expulsos de outros territórios, nomeadamente daquele que agora conhecemos por Espanha, não me parece de todo impossível haver uma ascendência judaica, depois convertida em Cristãos novos, vulgarmente conhecidos por Marranos, mas também por perros (dada a sua origem espanhola). Depois, acrescento a esta possibilidade a coincidente atitude "peliqueira" de Guerra Junqueiro, também característica desses povos e indivíduos Marranos (almocreves, negociantes, vendedores e regateadores nómadas que percorriam a região a comprar e a vender de tudo).
Tendo em conta a minha ignorância relativa ao universo de Junqueiro e o desconhecimento de outras obras biográficas dele, de momento não tenho como esclarecer esta questão. Pedindo desculpa pela ousadia deste raciocínio, felicito uma vez mais o meu amigo Henrique Manuel Pereira. Com a certeza que um dia destes, assim que se proporcionar, hei-de trocar estas impressões com ele.
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