09 outubro 2016

mediascape: a morte

Hoje no Jornal Público é publicada uma entrevista ao Padre José Nuno, capelão do Santuário de Fátima, onde, a propósito da Eutanásia e da proposta sobre a morte assistida, se refere à actual erradicação da morte do espaço público e de como a sociedade vive convencida, perante o poder da tecnologia e da ciência (medicina) para iludir a morte, que a vida não contempla a morte. Tem razão, e não só tem razão como apresenta uma proposta, em tese, muito interessante, de incluir o ensino sobre a morte nas escolas. Não importa se estamos ou não a falar da morte "religiosa", ou se ele não está mais do que a defender a manutenção e o reforço da disciplina de Religião e Moral nos programas escolares, mas releva o facto de ser verdade que a nossa sociedade - a família, a escola, as organizações e até as religiões - nos terem vindo a educar de costas para esse momento último da vida. Haverá, com certeza, várias causas e explicações para isso ter acontecido, das quais talvez eu destacasse duas: a 1ª) a alteração do modo de vida, ou seja, a urbanização dos indivíduos e famílias às custas da desruralização do país (reparem como há, ainda hoje, enormes diferenças entre os enterros no mundo rural e nas grandes cidades) e, a 2ª) o paradigma dominante do elixir da eterna juventude, em que as diferentes indústrias apostaram e fizeram acreditar que, nos modos, nos trajes e na alimentação, as idades não contam e a morte, essa, estará sempre bem longe e bem iludida.
Uma das características mais notórias dessa nova percepção da vida e que remete a morte para espaços e tempos de exclusão, é o completo e obcecado afastamento das crianças desses rituais de passagem, dando razão ao referido padre quando sugere "levar a morte" para a escola. Bem sei que quando se é ainda jovem a noção do tempo, a noção desse inolvidável fim é algo muito abstracto e sem importância, talvez por isso também, os adultos queiram proteger as suas crianças e suas consciências desse fatídico momento.
Uma boa reflexão para os próximos tempos.

1 comentário:

ET disse...

Parabéns! Questão abordada com grande objectividade. Um grande abraço