A propósito da instalação definitiva(?) da colecção Miró na Fundação Serralves da cidade do Porto, apanhei um pequeno comentário do colunista do jornal Público, Manuel Carvalho, sobre declarações de um tal Nuno Vassalo Silva, director-adjunto do Museu Gulbenkian. Desconhecendo essas palavras fui à sua procura e lá acabei por encontrar isto:
“É uma decisão lamentável, a ceder ao imediato, e que só demonstra como em Portugal é difícil implementar um programa de cultura, porque a tentação mais imediata é seguir os caminhos mais fáceis e atractivos”;
“Se expor a colecção em Serralves é uma boa ideia”, decidir que ela fique depois na cidade manifesta “uma visão provinciana”, acrescenta Vassalo e Silva, descrendo que ela faça “desviar os turistas que vão a Barcelona, a Madrid ou a Nova Iorque” ver os Mirós.
Que raio de mania desta elite da metrópole de considerar que o mundo centrifuga à volta de Lisboa e que o país se esgota para lá dos seus arrabaldes. Meus senhores, há muito país, muita gente, muito conhecimento, arte e cultura para além dos Pastéis de Belém e dos pseudo-cosmopolitas da capital. O problema destas afirmações é que são o espelho da real perspectiva que estas personagens têm da cultura, do seu acesso às comunidades e aos indivíduos e do próprio país; o problemas destas personagens é que são elas que estão no poder ou no seu círculo e determinam ou influenciam as políticas culturais não só para a cidade capital, mas também para o resto do país que, provavelmente, não conhecem.
Mas regressemos ao comentário de Manuel Carvalho, bem mais acertivo na crítica a Nuno Vassalo Silva:
Alguns intelectuais da capital não resistem ao disparate sempre que no ar há um ténue perfume de descentralização cultural. A história repete-se com a colecção Miró, cuja instalação no Porto levou Nuno Vassallo Silva, director-adjunto do Museu Gulbenkian a falar de uma “visão provinciana” que denuncia a tentação do poder político em seguir “os caminhos mais fáceis e atractivos”. Bom, que se saiba, “os caminhos mais fáceis e atractivos” são os que levam ao umbigo dos agentes culturais lisboetas, uma constatação do corporativismo da elite que não vale mais do que um vintém. Mas, agora, dizer que a instalação de uma colecção de arte do Estado fora de Lisboa se sustenta numa “visão provinciana” da cultura já expressa com exuberante luminosidade o que pensam e que ideia projectam estes cérebros sobre o país. Para a oligarquia cultural lisboeta, na qual o responsável pelo museu Gulbenkian se inclui, o mundo só existe se rodar em torno da pequena corte do Terreiro do Paço. Ó doutor Nuno Vassallo Silva, haverá algo mais provinciano do que essa mundivisão? (2/10/16)
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