Num café, faço horas para ir buscar a minha criança à escola. Concentrado na leitura que trago, só a espaços levanto o olhar para o horizonte à minha disposição. Na mesa contígua vem sentar-se uma jovem, sozinha, traz um semblante triste. Pede algo à empregada e, reparo, pelo seu rosto caem-lhe lágrimas pesadas, que a custo vai sustendo com um lenço. Desvio o olhar no momento em que me olha. Percebo-lhe o incómodo por alguém já ter percebido a sua tristeza. Mergulho de novo na minha leitura, mas já não consigo abstrair-me do seu rosto sofrido. Mesmo sem a olhar, percebo que chora e que sofre. Hesito se devo abordá-la e confortá-la... penso, precisará falar, desabafar com alguém?... precisará apenas de um ombro amigo para continuar a chorar?... num momento seguinte, a dúvida é como a abordar... levanto-me, vencendo toda a resistência inata, seja timidez, seja cobardia, e dirijo-me a ela: - a menina está bem? - precisa de alguma coisa? Algo atrapalhada, segurando o lenço, responde-me: - muito obrigada. Não, não estou bem. Morreu-me um amigo e não sei como vai ser... Agora o embaraço é meu e apenas consigo pronunciar um lamento. Ela agradece e o seu rosto desaparece por trás da chávena de chá. Regresso ao meu lugar.
Isto foi o que imaginei ter podido acontecer se lá tivesse ido, mas não consegui vencer a inércia e deixei-me ficar sentado, atento aos sinais que lhe percebia, apenas fiz aquilo que costumo: pûs-me a escrever.
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