Ainda no rescaldo dos trágicos incêndios de Domingo, uma amiga comentava que achava impressionante como o fogo chega tão perto das habitações e do centro das aldeias. Ao olhar para as imagens dos incêndios e da permanente invasão do fogo de espaços habitados, não percebia como era isso possível. A essa estranheza mostrei-lhe, através da paisagem que percorríamos de carro, em territórios eminentemente urbanos, de periferia de grandes centros urbanos, como todos nós vivemos rodeados de lixo vegetal, de autêntico combustível pronto e disponível para ser rastilho e alimentador de fogo. Reparem como mesmo em espaços urbanos ou peri-urbanos, espaços com enorme pressão urbanística e demográfica, as pequenas matas, silvados, fetos e outra vegetação selvagem, crescem fácil e livremente, sem qualquer reacção ou medida para evitar esse perigo eminente. Depois queixam-se e não percebem como foi, ou é, possível o fogo aí chegar...
Se olharmos para o interior do país, ou melhor, se sairmos dos grandes centros urbanos e mergulharmos na paisagem rural do nosso país, muito facilmente iremos verificar como as pessoas vivem, literalmente, mergulhadas nesse lixo vegetal, sem qualquer utilidade ou proveito, mas que em situações como as que agora experimentámos, são pasto e autênticas vias rápidas para a gula do fogo devorar tudo o que se lhe apresente pela frente e chegar até ao centro dos povoados. Impressionante. Vejam as imagens que ainda hoje passam nas televisões e poderão constatar isto mesmo. Só que ninguém fala nisto e a pergunta que se impõe é: porquê?
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